Ele não parecia apressado para fazer nada. Com uma calma irritante, puxou mais uma baforada do cachimbo e soprou em minha direção.
- Senta aí, meu xará. Dá uma relaxada. Quer? - Indagou oferecendo o cachimbo.
- Não, obrigado, não fumo. - Respondi permanecendo onde estava.
- Deveria, o fumo é uma coisa que relaxa a gente. As pessoas são muito estressadas hoje em dia. Senta aí. - Falou apontando a cama.
- Fico aqui mesmo.
- Está sendo indelicado com a minha hospitalidade, Dee.
- Porque você quis fazer programa comigo?
- Porque eu posso, você estava na lista, não era?
- Eu estava dispensado de trabalhar hoje.
- Era? Não me avisaram isso, então relaxa e senta aí.
- O que você quer comigo? Vai ficar só fumando e olhando pra minha cara? Se quiser me comer, me come logo que eu quero voltar a dormir.
- Você ganha vida vendendo o corpo? - Indagou ele caindo na gargalhada. - Seus clientes são o que? Masoquistas orais? Gostam de ser xingados?
Não em aguentei e comecei a chorar lembrando o Thor.
- Eu perdi meu namorado hoje, eu estou péssimo. Me dispensa desse programa, pro favor.
- Infelizmente, não posso fazer isso. - Respondeu ele.
- Porque?
- Porque é usando esse programa que eu vou salvar você de morrer.
- Como?
- Permita que eu me apresente. Eu sou Ferdinando, nascido no vale do Jaguaribe com muito orgulho. Uma pessoa me mandou para dar um fim nessa birosca aqui e te resgatar.
- O Samuel?
- Não devo revelar o nome dos meus clientes. Minha profissão é parecida com a sua, exige muito sigilo. A diferença é que a minha não causa nos quartos. - Completou ele rindo.
- Ferdinando, você é um matador de aluguel?
- Eu prefiro removedor de entulhos orgânicos animados, mas sua colocação está correta.
- Qual o seu plano?
- Bem, primeiro, relaxar um pouco fumando. Então você sentar e relaxar um pouco vai ajudar. Não aguento ver gente estressada.
Me apressei a sentar na cama.
- Você acha que dá tempo resgatar meu namorado? Ele foi mandado para o Pará. - Indaguei.
- Isso não faz parte da minha tarefa.
- Eu te pago.
- Quanto?
- Eu tenho trezentos reais.
- Trezentos reais é o preço do meu cachimbo.
- Quanto você quer?
- Primeiro, meu negócio é apagar gente e não achar.
- Me ajuda a ir atrás, força o Bill a dizer onde ele foi exatamente.
- Aí você vai ficar me devendo.
- Eu trabalho, quando sair daqui vou continuar fazendo programa, te dou tudo que ganhar.
- Meus negócios não funcionam assim. E vamos parar que eu detesto negociar com pobre. Fica quietinho aí e me deixa fumar.
Deitei de lado na cama e comecei a chorar.
- Te deixo fazer o que quiser comigo. Com meu corpo. - Falei choramingando.
- Só cala a boca e me deixa em paz que eu vejo o que posso fazer por você. E teu corpo só me serve se for pra usar de bucha que eu sou macho.
Fiquei calado, mas feliz por saber que ele iria me ajudar. Tentei de tudo para controlar meu nervosismo, aquilo era hora de manter a calma. Eu podia jogar bem ali e conseguir resgatar o Thor. Ele desmontou o Buque de rosas vermelhas cuidadosamente, e retirou os espinhos. Então juntou-as todas no bolso da jaqueta que usava, deixando as pétalas de fora.
- Quem aqui você acha que da pra salvar?
- Só o Lipe. Um amigo que faz programa também.
- Desce lá e diz que eu quero ele aqui junto com você. Diz que eu pago o que for preciso.
Sai pela porta e desci apressadamente a escada em caracol. Quando cheguei na sala dos boys estava o Beto e o Lipe, cada um em um canto, sem se falarem.
- Lipe. - Chamei.
- Oi, Dee. - Respondeu ele me encarando. Beto também me olhou, mas com ar de deboche.
- O cliente te quer também, quer os dois ao mesmo tempo.
- Tem que falar com o Bill.
“Pode ir Lipe. Agrade bem o cliente, meu lindo” Ouvimos no sistema de som.
Lipe saiu comigo pela porta. Quando estávamos subindo, expliquei a ele a verdade.
- Meus Deus. - Exclamou ele colocando a mão na boca de surpresa. - Um assassino de aluguel. Caralho, e quem garante que ele vai deixar a gente vivo?
- O Sam que deve ter mandado.
Entramos no quarto e achamos Ferdinando de pé. Ele ajeitava um silenciador no cano de uma pistola.
- Crianças. Entrem rápido. - Falou.
Entrei segurando na mão do Lipe, pois ele tremia de medo.
- Sentem na cama. Já precisarei de vocês.
Após concluir o que estava fazendo com a arma ele esvaziou o contéudo o cachimbo em cima da cama mesmo, tirou um saco de fumo de outro bolso da jaqueta e recarregou. Pegou então um inqueiro de maçarico e acendeu, dango longas baforadas.
- Creio que estou pronto. - Falou olhando para o teto.
Então ele enfiou a mão dentro da camisa e puxou uma correntinha de ouro, deu para ver que haviam duas medalhas na corrente.
- Valei-me meu São Bartolomeu. Valei-me meu Padim Padre Cícero. - Falou ele fazendo em seguida o sinal da cruz e nos encarou.
- Você. - Falou firme apontando o Lipe. Tô confiando na palavra do rapaz aí que você pode ser salvo. Vai chamar o Bill e diz que teu amigo tá chorando tanto que eu pedi para você buscar ele. Se vacilar em fazer issso, vai pro saco junto com o patrão. Firmeza?
- Tá certo. - Resondeu o Lipe levantando e saindo pela porta.
- E eu Ferdinando, o que faço? - Indaguei.
- Fique no teu canto, que tu ficando quieto já me serve muito. Muito ajuda quem não atrapalha.
Continua....