Após alguns minutos ouvimos passos no corredor, era o Lipe com o Bill. Tão logo o Bill abriu a porta eu já me encolhi na cama a um mero sinal do Ferndinando.
- Meu chefe, desculpa o problema. - Falou Bill. - Esse garoto é meio problemático mesmo, nem devia ter aceitado ele aqui.
- Conversa aí com ele, que meu tesão tá quase perdido. - Falou Ferdinando com cara amarrada.
Logo o Lipe entrou também e fechou a porta. O Bill veio até mim e tentou me virar para encarar meu rosto.
- Meu lindo, se acalme. Está envergonhando o Tio Bill. Você. O que é isso? - A mudana brusca na voz me Bill me fez virar e encará-lo.
O Ferdinando estava segurando uma adaga no pescoço dele.
- A casa caiu Tio Bill.
- Que é isso, patrão? O rapaz vai te atender, só espere um pouco.
- Vai para a casa do caralho com teus atendimentos, seu cachorro da moléstia. A tua hora chegou alemão. Quer morrer rápido ou devagar?
Bill me encarou furioso e com muito medo. Ele devia estar com a arma dele, mas nunca reagiria antes do Ferdinando cortar sua garganta.
- Vamos negociar isso, cara. Eu tenho muita grana.
- Você tinha quando pertencia a esse mundo. Pode se considerar morto, loirão. Diz aí onde está o macho desse aí. - Falou me apontando com o queixo.
- É isso que você quer, Dee? O Thor de Volta? Eu trago ele, deixo vocês dois irem e ainda dou uma grana. Pode mandar ele tirar essa faca do meu pescoço.
- Responde ele Bill. - Falei friamente.
- Eu trago ele de volta agora, com um telefonema. Um só, me deixem ligar. Resolvi isso num instante. Isso não é necessário, minha gente. - Falou ele ensaiando um sorriso mas em visível desespero.
- Pega o celular dele. - Ordenou Ferdinando ao Lipe. Eu não podia me mexer porque o Bill estava praticamente por cima de mim.
O Lipe muito ágil, apaupou o Bill por toda parte e tirou a arma que ele levava na cintura, pegando junto o celular.
- Guarda essa arma aí. Diz o número pro garoto discar, loirão. - Ordenou Ferdinando.
- Não sei de cor. - Gemeu Bill. - Procura Carlos Palmiro na agenda Lipe.
O Lipe mexeu no celular e logo encontrou o número.
- Qualquer gracinha e você vai ajustar tuas contas com lucifugo antes da hora. - Ameaçou Ferdinando quando Lipe encostou o celular no ouvido do Bill.
- Alô, Carlos. É Bill, meu chefe. - Falou Bill com o interlocutor com voz amedrontada. - Escuta, traz o meu garoto de volta. Te devolvo em dobro, precisa trazer ele. É vida ou morte. Agora. O mais rápido possível. Certo, aguardo. - Ele fez sinal que acabou a ligação e o Lipe se afastou com o celular.
- E aí? - Indagou Ferdinando.
- O garoto já está voltando. - Falou Bill confiante, meu coração deu um pulo de alegria.
- Quanto tempo ele chega aqui?
- Eles estão vindo do Mucuripe, já iam entrar no navio. Em meia hora estão aqui, no máximo.
- Ótimo. Você tem religião Bill? - Indagou Ferdinando.
- Não. Porque?
- Porque se tivesse ia te dar um tempo para rezar. - Falou passando lentamente o fio da adaga na garganta de Bill.
Em um único instante, vi o olhar de surpresa e dor do Bill arregalado, suas mãos correrem ao pescoço tentando conter o sangue que escorria farto. Eu pulei de lado senão teria tomado um banho com o sangue dele.
O Lipe pulou para trás horrorizado. Fui até ele e o abracei. Por mais que odiasse o Bill, ver alguém sendo morto era algo muito chocante. Ele estrebuchou em cima da cama alguns segurandos, apertando o pesçoco, mas logo parou. Ferdinando não vacilou em nenhum momento. Após cometer o assassinato, simplesmente pegou uma das rosas do seu bolso e colocou na mão do morto.
- Que Deus o tenha no lugar merecido. - Falou.
- Que é o inferno. - Falei. - Não acredito que esse miserável morreu.
- Quer que eu role o pescoço para garantir?
- Não. - Respondi horrorizado. - Como vamos sair daqui agora?
- Agora eu vou dar uma volta lá fora. Fazer reconhecimento de terreno. Vocês ficam aqui.
- Com o cadáver? - Indagou Lipe.
- Preferia ele vivo?
- Não, é que. Isso é bizarro.
- Bizarro é um homem deixar outro escravizar seu corpo e não matar o infeliz pra lavar a honra. Vocês são uns frouxos. Se fosse eu estaria agora arracando os olhos desse fi duma égua com as mãos.
- A gente não é acostumado a isso, Ferdinando. - Respondi. - O Samuel disse que a gente poderia ficar com o dinheiro que houvesse na casa.
- Acho justo, mesmo vindo de outro frouxo a ideia. O defunto tinha um confre?
- Tinha. - Respondeu Lipe. - Ficava no quarto dele.
- Acho que deveríamos ter perguntando a senha a ele antes de realizar seu passamento. - Falou Ferdinando entediado. - Isso vai dar um pouco mais de trabalho. Não saiam daqui ou não respondo pelos seus traseiros. - Completou saindo pela porta.
Ficamos eu e Lipe lá parados feito duas estátuas com o corpo do Bill próximo.
- Vamos guardar essa arma do Bill com a gente, Dee. Pra gente se defender né? - Falou Lipe.
- É.
- Meu Deus, não consigo olhar para ele. - Falou apontando o corpo.
- Nem eu. Mas o miserável mereceu, ele faria pior com a gente se saísse vivo disso.
- Verdade.
Não ouvimos um único barulho vindo de fora. O quarto tinha uma janela mas dava apenas para a parte de trás, não havia como captarmos nada por ela. Eu estava muito nervoso, se algum segurança do Bill matasse o Ferdinando ia acabar achando a gente e nos matando também, para vingar a morte do patrão. Eu e Lipe ficamos o tempo todo segurando as mãos um do outro para nos acalmarmos, mas não adiantou muito. Eu fiquei imaginando também que estava se aproximando a hora que o Thor deveria chegar, minha vontade de sair para ver o que estava acontecendo era quase irresistível.
Separei do Lipe e fui até a porta para dar uma pequena olhada e quase caio para traz quando ela abre deu uma vez.
- Menina. Vamos sair daqui rápido, que tá rolando magia negra da grossa. - Falou Nicole me puxando pela mão
Continua. ..
Daqui a pouco tem a última parte da Noite de São Bartolomeu.