Os melhores relacionamentos de uma pessoa podem surgir dos locais e contextos mais improváveis. O meu surgiu de dentro de um ônibus. Deixe-me contar como eu descobri esse amor pelo cobrador de ônibus.
Meu nome é Paulo, tenho 20 anos, e estudo design gráfico em Salvador. Aqui existem poucos cursos de design gráfico e a oferta também, mas era meu desejo desenhar e "estilizar" objetos. Consegui uma bolsa e iniciei os estudos.
Meus pais morreram em um acidente de carro quando eu era bem pequeno. Então fui criado pela minha avó, já que meu avô também faleceu. Ela sabia que eu gostava dos homens e eu assumi isso pra mim também.
Eu nunca tinha me relacionado antes, nem com homens, nem com mulheres, por isso aquela pulginha atrás da orelha me indagava se eu realmente gostava dos homens ou se só não havia despertado meu lado hetero ainda.
Vim descobrir a resposta a essa pergunta quando eu tinha 17 anos, assim que comecei a cursar as aulas de desing.
Vó: Paulo, meu lindinho, acorda. Já tá na hora de ir pra escola - falou minha vó, num tom de voz que parecia estar cantando pra mim.
Eu: Aff Vó! - Tentei parecer emburrado, mas não consegui. Minha vó tinha uma interessante habilidade de me deixar desarmado, exposto. Dei um sorriso e retribui o bom dia dela.
Vó: O café da manhã tá na mesa. Venha tomar logo, se não vai esfriar.
Eu: Tô indo, vó!
Então me levantei, fiz a minha higiene pessoal e fui tomar café.
Minha vó é um amor de pessoa. Foi a única que me acolheu quando contei que sou gay; a única que não me julgou nesse caso. A única que me acolheu e me protegeu quando passei pelo pior pesadelo na infância... É melhor deixar essa dor pra lá, o passado no passado está!
Como sempre fui criado em casa, superprotegido por minha vó, não conheço a minha cidade. Os lugares turísticos, os badalados, os mais bonitos... Nunca tive a oportunidade de conhecer. Imagine pegar ônibus! Para mim parecia uma grande aventura. Minha excitação (não sexual, né?!) era evidente no meu sorriso de orelha a orelha.
Eu pesquisei na internet as linhas de ônibus que passavam pela minha faculdade. Com todas as informações e os documentos necessários saí de casa e me dirigi ao ponto de ônibus. Esperei por quase uma hora até que o ônibus chegou (Transporte público no Brasil é uma piada, e das sem graça u_u)
Entrei e paguei a passagem e dei bom dia ao cobrador. Estranho, mas o cobrador ficou sem reação. Parecia que eu o tinha xingado, ao invés de ter sido educado com ele. Ele retribuiu o gesto com um sorriso lindo. Passei pela catraca e procurei um lugar para sentar, achando-o na primeira fileira do lado direito do veículo. Sentei.
Quando olhei para o motorista, eu fiquei paralisado. Não tinha como eu não olhar. O homem parecia uma escultura feita por Michellangelo: Alto, branco,mas bronzeado, corpo malhado, mas não exagerado, olhos cor de avelã e um sorriso lindo. Ele despertou meus desejos por um homem.
Sabe... Eu o olhei e ele percebeu, e estranhou:
Motorista: Ei! Tá tudo bem com você cara?
Eu despertei do transe e vi a bandeira que tava dando; um bandeirão daqueles de torcida seria mais apropriado.
Eu: Desculpa, tô bem sim.
Nossa!! Que bela eloquência e argumentação vinham de mim. Quem dera! Fiquei calado quase a viagem toda enquanto ele dirigia. Quando estava num bairro que tava perto do endereço da faculdade, eu fui até o cobrador e perguntei-o onde era o local. Ele me indicou o caminho e falou que me avisaria quando estivesse lá. Curioso o quão atencioso ele tava sendo comigo, mas imagino eu que ele é assim com todos os passageiros que buscavam informações com ele.
Quando chegou no ponto onde eu devo saltar, eu me despeço do cobrador, e ao passar pela porta, olho fixamente para o motorista, sorrio e lhe dou um bom dia. Ele responde sem muita boa vontade, mas respondeu. Desco e observo o veículo sair do ponto. E sigo para a minha faculdade.