Espaço do Feedback
Leo I AM.., HPD, Augusto3, Edu19>Edu15 - Nesse capítulo vocês irão saber o que ele veio conversar com Paulo e quem o mandou para fazer isso.
Oliveira Dan - Uau! Somos muitos parecidos, quem sabe irmãos de pais diferentes (kkkkkkkkk). Que bom que percebeu isso, mas a influência de Paulo no Michal será maior do que começar uma amizade. E idem o feedback acima para Sávio na faculdade.
Ru/Ruanito - Eu acho que sim #SQN! Essa conversa será um divisor de águas nesse rolo de Paulo e Bira.
Perley - Eu tenho uma sensação que Paulo vai superar esse trauma da infância e o erro do asno do Bira em grande estilo! Aguarde!
Fim do Espaço do Feedback!
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Estávamos sentados na recepção da faculdade Sávio e eu. Estava um pouco surpreso que ele tava ali. Ele era a penúltima pessoa que eu imaginaria que queria falar comigo (a última era o Bira, claro). Se ele está ali na minha frente, era porque o assunto é sério.
SÁVIO: Paulo, né?!
EU: Sim, esse é o meu nome. O que deseja comigo?
SÁVIO: Queria entender o que está acontecendo entre você e o Bira.
Ah não! O Bira não!
SÁVIO: Até ontem ele estava normal, alegre, parecia feliz. E você sempre estava ao lado dele conversando. Sou amigo dele há mais de cinco anos e nunca vi ele tão pra baixo como ele está ontem. Cara, ele está chorando sem parar desde que nos encontramos na garagem da empresa. Ele não conversou comigo em nenhum momento do dia e se isolou na pausa entre as viagens. E hoje ao entrar no ônibus, vi que você se comportava igual a ele quando entrou no carro (os motoristas de ônibus de Salvador chama os ônibus que rodam de carro). Ficou evidente que tem alguma coisa errada entre vocês quando o vi sentando na frente e ele ficou mais pra baixo do que tava cara. Sério, quando um homem chora e não tem vergonha de esconder isso é porque o caso é muito grave!
Eu fiquei calado esse tempo todo, só ouvindo o que ele relatava. Fiquei impressionado com tudo o que ele disse. Imaginar um cara como o Bira passando por tudo aquilo era como sentir a sinceridade do arrependimento de uma pessoa que errou feio. Mas o problema é que com aquelas palavras, ele abriu com uma espada a cicatriz do meu passado e eu ainda não estava pronto para perdoá-lo.
EU: E o que você quer comigo? Quer saber o que aconteceu ou veio fazer a conciliação?
SÁVIO: Os dois, na verdade.
EU: Então deixa eu te contar o que aconteceu, e não me interrompa enquanto estiver falando.
Ele concordou e contei toda a história, desde a ida da boate até o ato de Bira. Sávio só ouvia impressionado os relatos que contava. Quando falei das palavras de Bira, ele ficou sério, como se tivesse uma noção bem precisa do fato. Ao terminar, ficamos em silêncio por alguns minutos; precisávamos desse tempo para absorvermos tudo o qur foi dito e ouvido aqui. Até que o Sávio resolveu retomar a conversa:
SÁVIO: Eu sei que você está magoado com o Bira, mas por favor, perdoe-o. Ele falou aquilo porque estava bêbado e tenho certeza que está arrependido de coração por ter cometido esse ato. Perdoe-o.
EU: Desculpe Sávio, mas o meu coração ainda está machucado com a atitude dele. Espero poder fazê-lo, mas ainda não estou pronto.
SÁVIO: Tudo bem. Você está certo, cara, mas considere perdoá-lo logo. Doi demais ver o Bira tão mal como está agora.
Eu o escutei e nos despedimos. Talvez eu deva perdoá-lo e aceitá-lo como amigo. Mas não estou pronto ainda. E seria insensato fazê-lo com tão pouco tempo. Eu queria que ele sentisse como eu me senti quando fui humilhado naquela noite. Pensando bem, vou seguir o conselho de Sávio e tentar esqueçer isso. O amor não leva em conta o dano.
Pera aí, eu disse amor? É, eu disse. Mas é um amor de amigo. Eu o amo assim como irmãos se amam, assim como um pai amoroso ama seu filho. Devo perdoá-lo.
Meditando em tudo o que aconteceu, eu resolvi voltar pra sala de aula. Tenho o restante do dia para estudar. Ao terminar o dia letivo, eu me dirigi para o ponto de ônibus.
Dessa vez eu não estava tão agustiado quanto estava na ida. Meu coração se aliviou quando soube que Bira estava realmente arrependido. Mas ainda queria que ele sentisse por mais um pouco a culpa dele. Um pouco de pesar não faria mal para ele. Ainda não irei olhar para ele, não falaria com ele e sentaria bem longe dele no ônibus. Quero que pense que ainda não estou pronto para perdoá-lo.
Entrei no espaço do passageiro e dei o dinheiro da passagem sem olhar pra ele. Passei pela catraca e me sentei dessa vez no meio do ônibus, numa cadeira em que poderia vê-lo pelos espelhos que o motoristas usam para olhar o fundo do ônibus e que dava uma visão privilegiada do local do cobrador.
Eu olhei pelo espelho e vi um Bira totalmente diferente do que eu conheci. Um cara aparentemente deprimido, com uma olheira visível. Seus olhos denunciavam que muitas lágrimas já rolaram de seu rosto. Seu olhar estava distante. Seu corpo estava ali, sua personalidade não. Um zumbi o descreveria melhor como ele se comportava. Via que algumas vezes ele olhava para mim. Na última vez que ele olhou pra mim e eu o olhei fixamente pra ele, tentando passar um olhar de nojo. Ele percebeu isso e desviou o olhar e voltou a baixar a cabeça, levantando somente para receber o dinheiro dos clientes que entraram no ônibus.
Apesar de fazer isso, eu me sentia um pouco mal por estar fazendo-o sofrer, mas ele merecia isso por ter feito o que fez. Eu olhei para o motorista e vi que ele ficou triste ao ver a situação de Bira.
Saltei do ponto e entrei em casa. Estava com o coração tranquilo. Eu o desejava dar o perdão ao cobrador. Mas precisava primeiro conversar com a minha vó sobre tudo o que aconteceu.
Entretanto, minha vó não estava em casa. Então resolvi ligar para Hellen, avisando que ela passasse em minha casa para conversarmos sobre o trabalho sobre surrealismo. Aí eu tive uma ideia de como dar o meu perdão à Bira em grande estilo. Era conseguir alguns números e fazer uns preparativos. Tive a sensação de tudo irá dar certo.