Mas infelizmente a semana que se passou não foi tão perfeita quanto o final de semana do acampamento. Na verdade, foi a minha pior semana nos EUA.
Logo na segunda feira, eu tive que ficar após a aula na escola para uma entrevista do intercambio. Eu estava na metade do meu intercambio e era necessário fazê-la. Mas essa não é parte ruim. Na verdade, essa segunda feira foi o melhor dia da minha semana.
Estava eu, lendo o mural da escola sobre as noticias, eventos e outras coisas quando alguém, que eu imaginei ser John, passou a mão no meu pescoço arrepiando a minha espinha.
Sem olhar pra trás eu disse:
- Oi, John! Não sabia que você ficaria hoje aqui na escola – E uma voz nada parecida com a de John respondeu:
- John? Certeza? – Levei um susto e gelei, até reconhecer a voz. Era Mark. Deve ter ficado para treinar. Me virei e começamos a conversar.
- Ah.. Oi Mark! Como você está? – Perguntei, passado o susto.
- Bem – Notei um olhar de safado na cara dele. Ele estava planejando algo, ou simplesmente sendo ele.
- Aconteceu algo? – Perguntei pra quebrar o gelo.
- Num aconteceu nada. Mas me alegra muito saber que você quer que eu te coma.. – Nessa hora ele foi chegando mais perto. Assustei um pouco, mas era comum essas brincadeiras entre ele e John, eu já nem me importava e então, resolvi entrar na brincadeira.
- É, gato, mas John não deixa... – Mark estava muito próximo. E definitivamente ele não estava treinando, pois seu cheiro era doce e másculo.
- Ele nem precisa ficar sabendo... Vem cá! – Percebi que Mark não estava realmente brincando quando ele pôs a mão na minha cintura e me puxou. Mas antes de ele me beijar e eu tomar qualquer providencia para impedir, o pior ocorreu.
- Então é isso que você faz quando eu não estou aqui? – Era John, seus olhos estavam cheios de lágrimas. Mark me largou, mas antes que eu pudesse me defender, John continuou:
- Bem quem me falaram que eu não devia confiar em brasileiros... – Ele virou e saiu correndo. Tentei ir atrás, mas Mark me segurou. Quase cai, mas ele impediu e me beijou.
Seu beijo era inegavelmente perfeito. Era forte e doce, suave e impactante. Me livrei dele e dei um murro na cara dele. Creio que ele não esperava isso, ou esperava um murro mais fraco, pois ele me largou e quase caiu.
Aproveitei a deixa para ir atrás de John. Nessa hora eu já estava em lágrimas, correndo pela escola e procurando em vão por John. Fui até o centro, na sorveteria que íamos mas ele não estava lá. Fui até sua casa, mas ele não estava lá. Fui em todos os lugares, mas ele não estava. Só restou um lugar: o local do nosso piknik.
Demorei alguns minutos para chegar lá e quando cheguei, vi ele sentado chorando. Me aproximei com cautela, para não assusta-lo, mas também foi em vão.
- John, desculpa... – Ele levantou correndo, olhou no fundo dos meus olhos, e então eu pude sentir o que ele estava sentindo. Era uma tristeza infinita. Eu já havia sentido isso. Mas antes que eu pudesse dizer mais algo, ele me acertou um murro de direita na cara e disse:
- Nunca mais venha aqui, eu não preciso de outro Peter – Dito isso saiu correndo, mas não pela trilha que subia, ele desceu por outro caminho. Imaginei que não deveria segui-lo.
Fui pra casa, me sentindo culpado e ao mesmo tempo sem ter feito nada. Odiava Mark com todas as minhas forças e fiquei curioso para saber o que Peter havia feito. Chegando lá, só estava Tom em casa. Ele, vendo meu estado, encheu-me de perguntas. E eu expliquei tudo para ele.
- Mas, Mark e minha irmã... – Ele parecia confuso. Eu não o culpava, eu também estava.
- É, eu também achava... Mas Tom, me conte sobre Peter, o que ele fez para John? – Tom deu um suspiro e fez um aceno com a cabeça.
- É uma história complicada. Mas foi assim: Antes de John assumir ser gay, ele era o cara mais pegador da escola. Mais do que eu, Mark e os garotos do time. Você sabe, ele é carismático toca tudo o que faz som e é culto, além de ser um dos mais inteligentes da escola. Com a chegada de um cara, o Peter, ele foi parando aos poucos. Alguns até desconfiaram, mas a explicação mais provável era a falta de “carne fresca”. Do nada, a bomba explode: John se assume gay e namorado de Peter. No principio ele era o cara mais feliz do mundo. Sofreu muito preconceito, tanto dos pais como da escola. Até os professores excluíram ele. Mas o amor e a sua felicidade foi mais forte. Com o tempo, as pessoas acostumaram com ele. Até que ele foi ficando triste gradativamente. Ele dizia que estava tudo bem, mas não estava. Até que ele descobriu que Peter, que ia muito para a cidade vizinha, levava uma segunda vida. Ele traia muito o John. Dava pra qualquer um que pedia e comia qualquer um que deixava. Quando John tentou romper, Peter espancou John. Nós do time, demos uma surra em Peter, jurando morte caso ele voltasse na cidade.
- Nossa... Não sabia que ele sofria tanto assim – Falei consternado.
- É. Demorou muito tempo pra voltar o normal, ai você chegou e ele voltou melhor. Até agora. Eu tenho medo do que ele possa fazer sozinho na mata.
Tomei um banho. Quando sai, vi Tracy chorando. Mark havia terminado com ela. Eu e John entramos em um consenso e decidimos não contar de fato o que ocorreu.
Fui dormir após chorar tudo o que eu tinha que chorar. Nunca durmi tão mal quando esse dia.