Nesse novo dia, nem eu nem Mark fomos à aula. Seus pais só voltariam a cidade na outra semana e ficamos lá, dormindo juntinhos. No outro dia cedo, ambos acordamos e arrumamos a casa da destruição do dia anterior.
Durante isso, ficamos conversando:
- Edgar, ontem foi a melhor foda da minha vida... – Mark dizia.
- A minha também, você é perfeito! – Ficamos conversando por um tempo, almoçamos, demos uns pegas no sofá, mas nada além disso. Tom me ligou para saber o que eu havia feito lá, mas disse que depois explicaria.
O dia seria muito bom, tendo em vista minha ruptura com John e os acontecimentos dos dois ultimas dias se eu não tivesse cometido uma terrível gafe. Eu e Mark preparávamos um lanche enquanto conversávamos. Ele me contava uma história sobre seu avô, até legal, quando ele me disse:
- Sabe.. Desde a hora que você chegou na cidade eu notei algo de diferente em você... Talvez seu jeito brasileiro, seu modo de olhar, seu modo de falar... Tudo em você me seduziu. Mas, ao ver você com John eu soube que você nunca seria meu. Naquele dia no ginásio, que eu te falei sobre ele, era pra tentar fazer você desistir, mas não deu. E no acampamento, eu vi vocês no rio, eu desejei estar no lugar dele, ou você no lugar da Tracy... Na escola, eu cometi o pior erro da minha vida. Eu acho que isso que eu sinto é amor. Talvez seja... – Se nós não estivéssemos na vida real, eu juraria ser um filme. Nós dois, sozinhos, mesmo em uma cozinha, estava perfeito... Mas eu, com meu incrível dom de estragar tudo, me ferrei ainda mais. Demos um beijo apaixonado e então eu disse:
- Que romântico... Jonh... – Nessa hora Mark me soltou e eu vi exatamente a burrada que eu fiz. Ele me olhou choroso e bravo ao mesmo tempo e disse:
- Saia da minha casa... – Ele respirava forte como quem tentasse conter a calma.
- Mark desculpa... Eu... – Ele me interrompeu e disse:
- Desculpo não! – Ele falava alto, quase gritando – Eu aqui, abrindo meu coração, te contando o que eu sinto por você e você vai e me troca por um qualquer!
- Não é um qualquer! É o John! O cara mais perfeito dessa cidade! É quem eu amo! Quem eu quero – Meu tom de voz foi só diminuindo, até eu sussurrar um “Desculpe”. Nessa hora estávamos ambos chorando. Sentamos nós dois a mesa. Mark abriu uma garrafa de whisky e bebemos. Parece engraçado, mas o clima era tenso.
- Sabe – Disse Mark – eu compreendo o que você sente. Eu prefiro ver você feliz do que triste. Espero que ele volte para você, mas caso contrário, eu estarei aqui. – Ele disse chorando e calmo. Eu também chorava como uma criança.
- Desculpa cara. Amores não somos nós que escolhemos. Mas espero que possamos ser amigos... – Mark ainda chorava, mas calmo.
- Friendzone por um homem. Ano passado isso seria incabível para mim. – Rimos e bebemos mais whisky.
Após beber mais um copo, resolvi ir embora. Na hora que eu abri a porta para ir embora, uma surpresa: John estava na porta, chorando de alegria. Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa ou então falar algo, ele disparou até mim, me beijando como nunca.
Seu pulo foi tão intenso que caímos no chão da sala de Mark. Levantamos e finalmente John me explicou:
- Eu escutei toda a conversa. Ninguém nunca disse algo tão lindo sobre mim antes... – Ele tentou me beijar, mas eu o cortei. Senti uma raiva de John nessa hora. Ele achava que era assim? A qualquer momento ele pode chegar que eu vou estar esperando? Num momento de estouro, joguei tudo em sua cara.
- Ei, ei, ei! Você acha que é fácil assim? Simplesmente chegar e me beijar? Como assim? Você acha que ve algo, toma aquilo como verdade e não me escuta. Dois dias depois sai com uma pessoa qualquer, beijando-a em publico. Depois vem e acha que eu sou seu? – Mark ficou só de longe vendo a cena. John me olhou confuso, ainda processando o que eu disse. Depois de um tempo em silencio, ele disse:
- Edgar, aquele dia pela manhã alguém me disse que viu você ficando com Mark. Eu te procurei para tirar satisfação, e chagando na escola, vi vocês se beijando... Fiquei louco de raiva...
- Abraçados, corrigi. E contra minha vontade – Corrigi John.
- Vocês não estavam se beijando? – Ele perguntou.
- Não. Foi isso que eu queria te falar durante dois dias, mas você não quis escutar – Falei em um tom duro e áspero.
- Desculpa – Disse John começando a chorar.
- Agora pode ser tarde. Mas vai, se você correr ainda consegue alcançar o seu acompanhante...
- Ele foi só um caso de um dia... Por favor... Você acabou de dizer que me ama, que me quer! Por que ficar longe de mim? – Ele implorava e Mark só acompanhando, quase chorando também.
- Bom, confiança é a base. Você não confiou em mim, nem me deu chance de argumentar e já arranjou outra pessoa. Agora quer voltar como antes!? Sim, eu te amo. Sim, você é perfeito... Mas é impossível sem confiança mutua – Eu expliquei calmamente e Jonh chorava cada vez mais.
- Mas você também ficou com Mark... – Ele disse.
- É verdade, mas venhamos, quem perderia essa oportunidade? E eu não falei que errei, mas você errou primeiro, e meu erro foi em consequência ao seu.
- Por favor! Me perdoa? Eu te amo! Eu faço o que for! – John estava de joelhos nessa hora. Mark chorava e ia em direção ao seu quarto. Eu chorava também. Não sei se o que eu fiz foi certo, mas eu fiz.
- Conquiste, de alguma forma, minha confiança. Na hora que eu sentir que minha vida estará segura em suas mãos, eu serei seu – Nessa hora eu sai e deixei John chorando como uma criança no chão.
Me senti um lixo ao fazer isso, mas eu não tenho sangue de barata. Nunca tive. Isso as vezes era ruim. Como agora. Eu havia acabado de jogar fora os dois caras mais perfeitos daquela cidade pela janela.
Pelo menos um estava disposto a brigar por mim. Será que eu estava disposto a aceitar?