Estou eu assistindo tranquilamente meu lindo filme da tarde quando ele aparece, todo arrumado e exalando perfume mais que puta de bordel. Contei até cinco e resolvi perguntar:
EU - Diego, aonde você vai?
DIEGO - Sair.
EU - Isso eu já percebi. A não ser que você fosse fazer alguma sessão de descarrego aqui em casa com essa roupa branca e esse perfume enjoativo...
DIEGO - Se sabe, por que pergunta, Mateus?
EU - Por que eu quero saber em que lugar você vai se enfiar hoje. Caramba, hoje ainda é quarta-feira, meu dia de folga, você sai todo dia. Pensei que você iria assistir filme comigo...
DIEGO - Fala sério né, Mat? Tu acha mesmo que eu vou perder minha tarde dentro de casa assistindo filminho que já passou trilhões de vezes? Não é só por que você tem espírito de velho que eu preciso ter também.
EU - Ah é? Pois o “Espirito de Velho” aqui descansa por que trabalha, por que bota comida na mesa e veste o namorado playboyzinho!
DIEGO - Eu não vou discutir agora, Mat. Tenho mais o que fazer. Até mais tarde.
EU - Diego! Diego! Volta aqui! Eu não terminei! Diego! AAAAAH, raiva!!!
Odeio quando ele me deixa falando sozinho. E isso está cada vez mais comum. Quando ele não sai, traz pra casa um bando de marmanjo que ele diz que são amigos dele do quartel. Não, ele não é soldado. Era. Disse que o quartel tava “roubando sua juventude”. Eu mereço. O pior é que eu nem sei por que ainda estou com ele. Não sei se ainda o amo. Na verdade não sei se o amei algum dia.
QUATRO ANOS E MEIO ANTES
De malas prontas, saindo de casa pra transformar minha vida e algo produtivo. Eu tinha dezoito anos e havia passado no curso de medicina na federal do Rio de Janeiro. Eu sou mineiro, de Belo Horizonte. Ali, onde eu vivi toda a minha vida eu deixava as melhores lembranças. Minha mãe e meu irmão se despediram de mim e meu pai pegou o carro pra me levar até o aeroporto. No meio do caminho, percebi que ele estava estranho:
EU – Pai, tá acontecendo alguma coisa? Esse não é o caminho do aeroporto. Aonde vamos?
PAI – Ainda temos tempo filho... (disse meu pai tranquilamente)
EU – Tempo? Tempo pra quê? Tá me deixando nervoso...
PAI – Tempo de ser feliz filho, de ser feliz...
Dizendo isso ele parou em frente a uma casa que eu conhecia muito bem. Com meu pai mandando eu descer, resolvi encarar tudo de frente. Bati na porta e ele abriu:
DIEGO – Então é isso? Você ia embora e não ia me dizer nada? Ia me deixar sofrendo? Por que tá fazendo isso comigo?
CONTINUA...