Fiquei sem reação. Não sabia se aquilo era uma brincadeira ou ele falava sério. O encarei bem, esperei ele abrir um daqueles sorrisos sonsos e dizer que tinha me pegado. Nada ocorreu, foi então que um sombra terrível caiu por cima de mim. Caramba, a Nicole tinha me vendido para aquele cara.
- O que isso quer dizer? - Perguntei.
Ele me encarou confuso, como se não esperasse perguntas.
- Não tenho paciência pra pergunta de putinho hoje não. - Respondeu. - Você! - Falou apontando o Thor. - Está em um quarto sozinho, vai dividir com ele. Leva ele pra lá e aproveita para dizer como funciona tudo, entendeu? - O Thor confirmou com a cabeça.
- Minhas coisas, estão na Nicole. - Falei.
- Vou mandar alguém lá pagar ela e pegar. Você só sai daqui agora com autorização. E com um bom motivo, entendeu?
Nada respondi, apenas baixei a cabeça. Ele veio caminhando até mim e me puxou pelo queixo.
- Da próxima vez que eu te perguntar algo e você não respondeu, te enfio um cabo de vassoura no rabo até sair pela boca, seu viadinho de merda. ENTENDEU?
- Entendi, Bill. - Respondi nervoso. - Desculpa.
- Precisa de desculpa não. - Falou ele voltando a sorrir. - Precisa de desculpa não. Hoje é dia de festa que temos carne nova no pedaço. Você vai aprender a gostar do Tio Bill e vamos ganhar muita grana juntos. Hoje você deita e descansa, que já levou rola demais, amanha começa a atender.
Ele saiu e me deixou no quarto com os garotos, que foram saindo um por um também. No final, fiquei eu e o Thor. Abaixei pra pegar minhas roupas.
- Te apressa aí, tenho o dia todo não. - Falou ele.
Estava tão em choque que não consegui respondê-lo. Ele me conduziu pelos corredores até um quintal. Era um ambiente bem diferente do luxo da casa grande. Era um corredor a céu aberto com várias kitnetes uma ao lado da outra. Ao final do corredor havia um único banheiro. Ele não deu uma palavra em todo o trajeto. Me conduziu até uma das portas e abriu.
Fiquei impressionado em como era pequeno o lugar. Parecia um banheiro grande e não um quarto. Tinha um comoda velha, notei que um dos pés tinha quebrado e era apoiado por uma lata de leite vazia. Havia ainda um velho colchão de casal jogado no chão e do lado, uma cadeira de plástico.
- A gente vai ficar aqui junto. - Disse Thor. - Você fica com o lado de lá do colchão.
- Só tem um? - Indaguei.
- Você está vendo outro? - Respondeu ele friamente.
- Não. Desculpa. Eu to nervoso cara.
- Ficar nervoso não adianta de nada.
- Você também é tipo, dele?
- Todos nós somos.
- Ele disse para você me explicar.
- Presta atenção que não vou repetir, seu retardado. Ele falou que você é dele para te assustar e não querer sair do esquema, mas na prática é como se a gente trabalhasse para ele. Ele tem os clientes, galera que liga ou vem aqui. A galera paga ele, ele dá 20% do programa pra gente. Mas ai tira a hospedagem, a comida, as roupas, essas coisas. No final sobra uns 10% pra ti. Que dá uns quinze reais por programa que tu faz.
- Quinze reais?
- É, e não pode sair da casa sem autorização. Tem um dia na semana que a gente tem folga, pode ir no shopping, cinema, algo assim. Mas não pode sair, se for embora e fugir do esquema, o Bill manda matar.
- De verdade?
- Ele diz que sim, porra. Tu vai querer arriscar? Tu não faz ideia como ele é ruim.
- Cara, todo mundo é daqui de Fortaleza?
- Não, só tu e o Beto. O Rafa é bahiano, eu sou do Maranhão e o Lipe é do Piauí.
- Como tu veio parar aqui?
- Te interessa não.
- Desculpa.
Percebendo que não ia ter como continuar a conversa com ele, simplesmente sentei na cadeira e fiquei fitando o vazio. O Thor se jogou na cama e fechou os olhos tentando dormir colocando um lençol na frente do rosto. Fiquei observando o corpo dele, era bem bonito. Tinha um rosto bonito também, cabelos negros lisos como o meu, corpo definido. Lembrei de como aquele corpo tinha possuído o meu com violência apenas alguns instantes antes e de repente percebi algo.
- Thor, você estava querendo me ajudar não era? Tentou me avisar não foi?
Ele nada respondeu.
- Adianta se fingir de durão não. Sei que você é um cara legal. Você quis me dizer pra desistir, abrir da transa com vocês pra ver se escapava do Bill, não foi?
- Deixa eu dormir porra.
- Responde só isso.
- Vou responder pica nenhuma, seu viado. Me deixa em paz.
Não sei se era meu estado emocional já alterado, mas aquela forma rude dele me tratar me fez cair em prantos.
- Poxa cara, acabei de saber que vou ficar preso aqui sendo prostituto. Queria ao menos alguém pra confiar. Me ajuda aí Thor.
Ele descobriu o rosto e notei que também chorava.
- Eu morava com minha mãe e um padrasto. Minha mãe morreu e meu padrasto me vendeu pro Bill, faz 3 anos, fui o primeiro garoto dele. To com 19 anos e tudo que sei na minha vida é dar o rabo pros outros se encherem de grana. E sim, eu tentei dizer algo pra você desistir. Mas agora não tem mais jeito não. Para esse choro que tua vida virou uma bosta para sempre.
- Obrigado cara. - Falei contendo o choro. - Obrigado mesmo por …
Minhas palavras foram interrompidas por alguém abrindo a porta.
- Então você fez foi dar dica pro novato escapar do Bill, Thor? - Falou Lipe rindo. - Vou falar pro Bill pra ver se ele quebra essa tua cara sonsa.
Continua.
====
A História de Caio, completa e revisada para leitura on line e download e contos inéditos no meu blog:
http://romancesecontosgays.blogspot.com.br/a-historia-de-caio-leitura-on-line-e.html
===
