Nada me deixava mais calmo como um longo e quente banho, mas é claro que vinha minha mãe chegando nos meus primeiros 35 minutos de puro bate cabelo e cantoria, quase que derrubando a porta gritando ela diz:
-Tá trocando de pele ai moleque? Não é você quem trabalha pra pagar a merda das contas...
-Ai já vou mãe calma, será que nem banho se pode tomar nessa casa?
Como na vida de todo adolescente crises amorosas e transtornos de personalidades são bem presentes nessa época tão intensa em nossas vidas. Nascido e criado em uma das periferias de São Paulo sempre tive a vida difícil como a da maioria dos brasileiros e já sabia na pele como as coisas realmente aconteciam nessa vida. Entre os três filhos criados por dona Fátima eu Daniel era o filho do meio (que seria eu o mais esquecido) dotado com uma personalidade com mesclas de timidez e descontração recentemente havia me assumido a minha mãe, sendo aceito com os braços abertos para minha surpresa.
Estudava de manhã e precisava de um emprego, me inscrevi em diversas agências que ofereciam empregos a adolescentes estudantes e a maratona de entrevistas começaram. Sabia me comportar e me comunicar com as pessoas, havia concluído meu curso de informática e depois de vários “talvez” e “te retorno brevemente” já estava quase perdendo minhas esperanças e quando numa tarde de sábado mongando com as pernas para alto literalmente falando, ouço o telefone tocar me fazendo cair do sofá com o susto que aquele toque ridículo de telefone tinha. Com a maior má vontade atendi o telefone:
-Quem incomoda...
-Desculpe... Gostaria de falar com o Daniel de Oliveira - Aquela voz rouca e atraente respondia com educação a minha má recepção ao telefone.
-Está falando com ele, o que gostaria?
-Seu curriculum foi selecionado e eu gostaria de conversar com você caso queira trabalhar no meu consultório como assistente.
O cara começou a falar e eu apenas concordando sem entender bulhufas das palavras que ele pronunciava, só fui entender no final quando ele perguntou:
-E então Daniel está interessado na vaga? – É claro que eu não queria continuar naquela situação de pobreza extrema eu precisava de um emprego urgentemente mas nas minhas entrevistas eu nunca era chamado e minhas esperanças estavam quase que inexistentes, mas se eu não fizesse nunca que conseguiria então o jeito seria concordar e fingir que esse tempo de enrolação na hora da resposta seriam de várias propostas de emprego. Concordei e marquei a entrevista para segunda as duas da tarde no consultório de psicologia do Doutor Alexandre Queiroz, pelo nome cafona e meio feio já havia imaginado como seria meu talvez futuro boss.
Eram quinze para as duas da tarde e eu estava vestido casualmente para uma entrevista de emprego e até peguei os óculos do meu irmão pra parecer mais cult (olha o que o desespero faz com você) na esperança de esse emprego ser meu. Já estava sentado na sala de espera do chique consultório de psicologia do Doutor Alexandre, uma moça saiu da sala onde estava escrito o nome do doutor e educadamente pediu pra me levantar pois ele me esperava. Quando entrei olhei meu talvez futuro chefe percebendo que minhas expectativas foram totalmente erradas e injustas com aquele ser. Ele era tão bonito que eu fiquei alguns segundos sem fala que graças a Deus foram prenchidos pelo grande anfitrião a minha frente.
-Olá Daniel por favor sente-se! – Ele disse com calma e firmeza na voz.
Ali a minha frente estava o homem mais lindo que havia visto em toda minha vida, com aqueles olhos verdes que me intimidavam e me prendiam toda a atenção combinados com aquele corpo sarado e esguio tornavam a entrevista muito difícil pra me controlar.
Não sabia mais o que iria dizer, não sabia mais como agir pois todos os meus sentidos estavam inacessíveis naquele momento mas quando começamos a conversar fui começando a me soltar logo a conversa se tornou muito descontraída, com direito a piadas de minha parte e afins. O som da voz dele era grave e rouco mas como ele tinha uns 26 anos a suavidade do timbre de um homem jovem tornava sua voz irresistivelmente atraente, tudo nele era perfeito e tentei ao máximo não demonstrar esse meu interesse pois aquele emprego era mais do que ótimo e não só pelo chefe gostoso que teria mas pelo salário e os diversos benefícios.
-Então Daniel eu gostei muito de você, você é muito descontraído e é isso que eu procuro nos meus funcionários pois não se procura um terapeuta quando se está feliz e eu preciso estabelecer um ambiente agradável, divertido e sereno para os meus pacientes. Você topa trabalhar comigo? – Minha vontade era de responder “Mas que pergunta idiota você tá cego lógico que eu quero seu gostosão” mas como a realidade não é como nos meus sonhos (infelizmente) respondi com um tom tímido:
-Claro, quando começo?
Ele me deu as informações necessárias e eu começaria a trabalhar no dia seguinte as duas da tarde, a felicidade e a empolgação me dominavam dentro daquele metro que até as pessoas me olhavam torto mas eu não estava nem ai. Precisava daquele dinheiro pra preencher meu curriculum e me manter já que minha mãe pagava as contas e sempre que conseguia me ajudava como podia nos meus lazeres.
Dormi ansioso para meu primeiro dia de trabalho pois o Alexandre (ele havia pedido pra chama-lo assim) me ensinaria como trabalhar. Os sonhos foram dedicados a ele e aquela beleza esplendida que aquele homem tinha.