Você gosta de quê, seu cretino safado? Estou falando com você, isso, você mesmo, tem mais alguém aqui além de nós dois? Você que vê em mim uma simples puta, uma vadia, uma qualquer, o que pretende? Acha que pode, simplesmente, me comer, e vai ficar por isso mesmo? Acha que pode vim logo enfiando o dedo no meu cu, e que vai ficar barato? Pensa que é assim? Não é, te digo que não é. Eu estou cansada de você, o seu agir por interesses, a sua liberalidade sexual fingida. Acha que tem mais valor do que eu apenas por conta de um mísero pênis? Numa fisgada, eu posso acabar com tudo, e aí? O que vai sobrar de você? Nada! Quase nada! Pobre de você, tanta virilidade, tanta força, e tudo não passa de um pedaço de carne, um movimento diferente de pernas, um eriçamento muscular pela manhã. Basta uma abocanhada minha e... Só de pensar em tudo aquilo que você ainda poderia ter sido e se negou... preferiu me chamar de puta, continuar com a mesma imundície de sempre.
Você não deve estar me entendendo, não, claro que não. Você não entende nada. Daqui a pouco vai me oferecer algum dinheiro, ou meter os olhos nas minhas nádegas, ou fazer qualquer tolice que te livre de imediato das minhas tristes inconveniências. Mas você não pode, chegou a vez da minha desforra, quero cobrar dívida por dívida. Quero fazê-lo ver que o meu corpo, apesar de luxurioso, não pode mais ser seu. Você só queria fazer de mim o seu leito passageiro, só queria transformar o meu calor em brandura, só queria a superfície dos meus rios caudalosos. Do meu riso desatado, você só queria a imobilidade das fotografias. Da minha ceia repleta, você só aceitava as refeições que já viessem prontas. De mim, você não queria nada, em absoluto, nada.
Nada, puta, nádegas! Inferno! Meu ou seu? Quem nos colocou nesses abismos? Ser puta, e não ter mais o direito de ser mulher. Por que ao adentrar nos meus palácios você resolveu implodi-los? Eram tantos os líquidos que eu havia guardado, os fulgores, as noites de brasa, os ardores... E você, e as suas mãos furtivas, e a sua boca insana, e essa mania de querer desfazer tudo com frases tolas.
Você não poderia ser capaz de compreender a minha entrega, o meu corpo sem arranjos, sem galas, sem querer saber de gentilezas. Eu queria apenas amar como os animais amam. E eu queria que nada disso pudesse comprometer o meu ser mulher. Eu queria que o meu corpo nu fosse tão gracioso como o de uma santa. E isso você nunca compreenderia. Porque, para você, o corpo será sempre um pedaço de vida, um existir às escondidas, um objeto sem luz. É por isso que você me ofende com as mesmas manchadas palavras e faz do sexo uma condenação, uma repetição mecânica, a mera confirmação das nossas misérias.