O Fernando me mostrava a casa e eu com uma fome ímpar. Mas fui ouvindo tudo nos mínimos detalhes. Via o orgulho que sentia em ter construido tamanho patrimônio.
Andavámos pelo corredor e ele me mostrou o pequeno cinema. Levei um susto quando ouvi meu nome aos gritos.
– Eduuuu, você veio!
Era Miguel se lançando em meus braços. O levantei e o abracei. De repente vejo um homem alto se levantando de uma das poltronas me encarando branco como papel. Quando digo que o mundo é pequeno, é porque ele realmente é.
Miguel me beijou a face e o Fernando me apresentou a seu irmão. A esposa e a filha também se levantaram e vieram me cumprimentar.
– esse é Orlando, meu irmão caçula. – disse o Fernando.
Demos as mãos e o Orlando completamente sem graça mal me olhava nos olhos. Fui educado e discreto não demostrando que já o conhecia. Ele se retirou com a esposa e filha e foram para piscina.
Contive o riso. Minha vontade era de gargalhar, mas não podia. O Fernando me mostrava cada detalhe de tudo e perguntou sobre meu emprego.
– vivo bem, não vou mentir pra você, ganho bem. Tenho uma casa na Vila Adriana e um apartamento no mesmo prédio que moro. Os dois me dão uma boa renda, mas gosto do que faço. Quando saí do banco pensei em fazer uma faculdade de Ciências Contábeis, mas surgiu a oportunidade na boate. Sou feliz gerenciando.
– isso é o que importa. Gostar do que faz e se sentir feliz. Não importa a profissão.
– mas não foi fácil conseguir. Meu pai desde muito cedo me ensinou que as coisas só valem a pena, quando lutamos pra conseguir. Isso eu tomo como exemplo. Mesmo tendo ele uma situação financeira confortável, nunca deu a mim e a meus irmãos nada de mão beijada. Depois que ele me convidou a me retirar de casa só com a roupa do corpo, foi que dei valor em suas palavras. Venci sozinho. Dele não tenho nada além da genética.
– há quanto tempo não o vê?
– há quase nove anos ou mais. Nem lembro, perdi as contas com o tempo. Mas não guardo mágoa. Meus irmãos sempre mantiveram contato comigo mesmo contra a vontade dele. Amo os três, demais. Amo meu pai também. Infelizmente as coisas são assim.
– e sua mãe?
– pensa como meu pai. Que tenho que me casar com uma mulher e dar netos a ela como uma pessoa normal. Mas ficar longe dela é o pior de tudo.
– eu sinto muito.
– obrigado.
O Rico chegou e me abraçou me beijando o rosto.
– vai come Edu, ta azul de fome.
– ja vou anjo.
– me desculpe Edu, estou envergonhado. Te trouxe pra cá e você com fome. Vão meus filhos.
– que isso. Não precisa se desculpar.
Santo Rico! Fomos almoçar e a Marlene, mãe do Rico sentou-se conosco e ficamos conversando. Ela sempre muito educada e gentil perguntava sobre minha vida. Eu repondia a cada pergunta e via em seus olhos uma tristeza. Certamente imaginando como poderiam meus pais ter me expulsado de casa tão jovem?
Ela me acariciou a face e disse que estava feliz por seu filho ter encontrado alguém que se importava com ele.
– eu amo o Ricardo. Desde o primeiro dia. – disse e sorri.
– eu sei que ama e fico feliz vendo vocês felizes. – disse ela nos abraçando.
A mãe do Rico de retirou e meu leke se sentou ao meu lado.
– vou te falar uma coisa, mas se controla Rico.
– o que é? Pela sua cara só pode ser sacanagem.
– kkkkk, aham. Sabe aquelas surubas que te falei?
– sim.
–então. Nunca curti muito macho junto não. Já levei no máximo dois pra casa.
– pare né.
– deixa eu falar?
– ta.
– então. Nessas festas que eu ia e participava, mas sempre metia em dois no máximo, e era sempre os mesmos caras, os dois eram amigos meus. Mas o resto do pessoal se revesavam entre eles. E teu tio participou de várias.
– que? Meu tio Orlando em suruba gay? Você fudeu meu tio Edu?
– fala baixo porra. Claro que não né. Até porque ele é feio demais, não encaro não.
– kkkkk, tarado. Me conta isso direito seu putão.
– então, sabe aquele instrutor da academia, aquele com a tatuagem no pescoço?
– sei sim, tesudão ele.
– leke safado. Então, é ele o cara que teu tio sai. Saem juntos ainda que eu sei. Quando teu pai apresentou a gente ele ficou pálido kkkkk.
– filho da puta, sempre me dando indiretas aqui em casa e tirando onda com a minha cara.
– pois é. E tem mais. Passivinho e submisso. É o mamador da galera.
– que isso, to rosinha claro agora.
– kkkkkk, rosinha claro? Meu leke lindo. Sabe Rico? Eu tenho muito orgulho da gente. Pensa o quanto teu tio sofre em ficar no armário.
– sim, mas não dâ direito de ofender ninguém né?
– da não, mas é jeito dele se defender. Deve ser horrível fingir ser algo que não é.
– pra ele naquela época era complicado. Pra gente ainda é, imagine pra ele? Já comeu?
– já sim e estava uma delícia.
– entra na água comigo?
– entro sim, vou ficar sentado na escada, acabei de comer.
– ta.
Fomos trocar de roupa. Vestimos sungas e fomos pra piscina.
Sentei na escada e o Rico no degrau de baixo. A água estava morna. Por ser horário de verão dava pra ficar na água tranquilo até as sete.
– fiquei abraçado com o Rico e ele ressonava no meu colo. Seu corpo relaxava com meus carinho. Ele se virou e me olhou com aqueles olhos pidões.
– quero te beijar Rico.
– então beija.
– e seus pais?
– o que tem eles?
– sei lá.
– me beija logo amor.
Me inclinei e o tomei pra mim. O beijei com paixão sentindo cada pedaço do seu corpo. Era um beijo calmo, com muito carinho e respeito, minha mão segurava sua nuca e senti ele me acariciando as costas. Senti uma presença e quando olhei era o Miguel em pé nos vendo.
– seu irmão amor. – disse no ouvido do Rico baixinho.
Miguel.
– posso entrar na água com vocês?
– pode sim, vem aqui que o Edu te pega. – disse.
Ele veio até mim se segurando e pediu que eu o levasse até a parte de mais profunda da piscina. Ficamos os três brincando e a prima do Rico se juntou a nós. Realmente ela era muito simpática e até hoje somos grandes amigos.
Alana me perguntou como o Rico e eu nos conhecemos. O Rico contou a ela cada detalhe. O Miguel cansou de brincar e entrou. Me deitei em uma espriguiçadeira e o Orlando sentou-se ao meu lado.
O Rico e a prima ainda na piscina fazendo a maior farra. Fiquei observando ele e como ele é bonito, mas acima de tudo tem um coração de ouro.
– desculpa o incômodo, mas obrigado por sua discrição.
– olha, eu não tenho nada contra você, mas penso que daqui em diante você tem que tomar mais cuidado.
– eu sei cara. Mas não é fácil. Eu olho o Ricardo e adimiro a coragem que ele teve em se assumir. Falando nisso, o que você viu no garoto?
– rsrs. Ta achando que to de brincadeira com o moleque?
– cara, você é uns dez anos mais velho que ele. Tudo bem que ele não é mais criança, mas que graça tem isso?
– olha Orlando, eu gosto muito dele, de verdade. O Rico é incrível, inteligente simpático, engraçado e cara, eu já aprontei tanto nessa vida, você sabe disso, nos conhecemos de festas regadas a bebidas, sexo e drogas. Tirando as drogas, nunca curti, minha vida é saudável, mas o resto fiz de tudo. Chega uma hora que a mente cansa véio. Eu amo teu sobrinho, gosto pra caralho dele.
– poxa Duzão. Foda isso cara. Tanto de leke por aí e você veio cair logo aqui na família rsrs, mundo pequeno porra.
– tem uma coisa. Quero que você trate o Rico com mais respeito. Acho que é o mínimo que deveria fazer. Contei a ele sobre ti. Contei com quem você sai e que é chegado numa mamada. Se ele quiser te ferrar é fácil. Mas ele é um garoto de coração bom, não faria isso. Só que eu sou mau cara, se te pegar desrespeitando o moleke te parto a cara e tu nunca mais vai mamar uma rola na tua vida.
– ta zuando comigo né?
– to não. Fica esperto. Ta vendo aquele garoto alí? É o motivo de eu mudar minha vida, de ser uma pessoa melhor. Trate-o com respeito seu filho da puta.
– calma, não precisa falar assim. Entendi teu recado.
Me levantei e fui até o Rico. Sentei na borda da piscina com os pés dentro d'água e ele ficou entre minhas pernas. Sua prima saiu e nos deixou a sós.
– que cara é essa Edu?
– cara de quem te ama. Vamos?
– sei. To te sacando desde a hora que o tio chegou pra falar contigo.
– não foi nada de mais. Só falei que você ta sabendo das farras dele. E tem outra coisa, falei que é melhor ele te tratar com respeito.
– tem só isso não, desembucha.
– e falei que ia quebrar ele na porrada. Que nunca mais ele ia mamar uma rola. Pronto. Satisfeito?
– kkkkkkkk, muito. Vamos, tenho que pegar meu carro.
Ajudei ele sair da água e ele estava mais sexy do que nunca todo molhado.
– dorme comigo hoje?
– hum, será?
– vai amor. Faço uma massa pra gente.
– quero peixe.
– faço peixe, faço tudo. Minha semana vai ser corrida e a sua também. Quarta tem a despedida do Lê, vou te ver pouco.
– verdade. Eu durmo lá sim. Mas vou na boate contigo. Amanhã você não trabalha esqueceu?
– a noite só. Durante o dia o bar fica aberto igual e tenho que ficar lá. Se troca pra gente ir.
Fomos nos trocar, nos despedimos de todos e voltamos pro meu ap. Tomamos um banho e o Rico caiu na cama.
Como eu imaginava tinha ficado uma poça de água no carpê. Sequei o que pude da água.
Jantamos comendo peixe grelhado e bebendo vinho. Fomos pra boate a noite e ele voltou mais cedo pro meu ap por causa da facul. O Rico teria uma reunião com seus colegas de sala e coordenadores pra tratar dos detalhes da formatura. Depois que fechei a boate voltei pra casa ele parecia um anjo domindo todo aberto na minha cama com o ar ligado, tava peladão. Delicinha. Tomei um banho e me deitei pra dormirContinuaMuito obrigado pelos comentários.. :)