Meus queridos, é com enorme satisfação que venho dizer que esta é a penúltima parte de mais um conto. Mais uma vez, agradeço a cada um, pelo enorme carinho e atenção. Obrigado meus lindos e lindas, por tudo! Dedico a cada um, todos os capítulos aqui postados. Beijos e boa leitura...
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O pai do Ricardo criou tumulto no corredor do hospital, não permitindo a entrada do Daniel. Só que a mãe do seu amado, interveio por ele.
- Ele vai ver o meu filho, porque o Ricardo quer vê-lo, e ponto final!
- Você vai ficar do lado deste pervertido? Se o meu filho escolher a este daí – ele apontou para o Dan – Eu o ponho pra fora de casa, do jeito que ele estiver. Eu não criei filho meu para demonstrar esta pouca vergonha.
- Aquela casa também é minha. Será que não percebe o sofrimento que o nosso filho está passando? Ele pode não voltar a andar mais! – ela gritou aos prantos.
O médico apareceu em seguida, pedindo para que o Daniel entrasse na sala. Antes mesmo da interrupção do Sr. Corrêa, o médico o obrigou a se afastar.
Daniel entrou, e viu o olhar do Ricardo distante... Como se ele estivesse olhando para o vazio. A dor que este sentia, era incalculável. E para ele, ver o seu grande amor, naquele estado, e sem poder fazer nada, o deixava ainda mais angustiado.
- Oi meu amor. – ele o chamou com a voz abafada, e o Ricardo olhou para ele, chorando. Daniel não se conteve, e chorou também. Ele se atirou sobre o corpo do outro, e ambos explodiram-se em lágrimas de dor e desalento. A vida naquele momento parecia estar sendo cruel para ambos.
- O que será de mim agora? Como eu vou jogar bola, dançar, correr...? A minha vida acabou. Eu me sinto sem chão. – o semblante dele, era de uma tristeza tão profunda...
- Eu estou com você meu amor. Eu sempre estarei com você. – Daniel acariciava o rosto dele.
- Eu não sirvo mais pra você, Daniel... Provavelmente, eu ficarei impotente – quando ele pronunciou a última palavra, veio a chorar de novo. – Não é justo com você... Não quero que fique a sua vida toda, cuidando de um cadeirante.
- Meu amor, eu te amo! Você é um pedaço de mim, da minha vida. Eu sei o quanto é doloroso pra você estar passando por tudo isso... Mais eu quero estar ao teu lado em todos os momentos.
- Um homem não é nada, sem a sua potência sexual. Eu nunca vou poder te dar prazer. Nunca!
- Não pense nisso Ricardo... Nós dois estamos juntos.
O Daniel sabia que no fundo, seria difícil para o Ricardo, não poder mostrar a suas habilidades na cama. Aliás, para qualquer um, seria difícil. Ele sempre foi um rapaz cobiçado e desejado. O Ricardo respirava sensualidade, e o seu maior medo, era passar uma imagem de frágil e inútil.
- O médico me disse que você ainda tem dez por cento de chances de voltar a andar. Acredite nesta chance. A vida pode nos surpreender, meu amor.
- Dez por cento? E você acha que isso é possibilidade de recuperação? Eu nunca mais serei o mesmo. Meu Deus! Até para tomar banho, eu vou precisar de ajuda. Acabou! A minha vida acabou.
- Não chora. Se eu pudesse, trocaria de lugar com você. – Daniel não sabia o que fazer, dizer, pensar. A situação era séria e triste. Palavras não eram o suficiente, para expressar o sofrimento que o Ricardo estava passando. Ele precisava buscar força, para vencer aquele desafio.
Daniel saiu da sala, dando a vez para a família dele. Enquanto isso, ele conversava com o Doutor, na lanchonete do Hospital.
- Doutor Fábio, quais são as chances reais de o Ricardo voltar a andar?
- Bom, Daniel... Eu serei sincero com você. São as mínimas possíveis. A coluna do Ricardo, ficou muito comprometida, e talvez ele nunca recupere os movimentos das pernas.
Daniel engoliu as palavras dele com dificuldade, e respirou fundo, para a próxima pergunta.
- E, em relação a...?
- Eu já sei o que você quer saber. Vocês são namorados?
- Sim.
- Ainda faremos mais exames, e só assim, poderemos saber se as vias nervosas que gera a sensibilidade sexual, foi comprometida. Eu te digo que é quase raro, um paraplégico ter uma vida sexual ativa. E sem contar que incontinência urinária ocorre na maioria dos casos.
Ele ficou sem chão. Tudo aquilo que estava acontecendo, era um pesadelo sem fim.
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Daniel voltou para casa, totalmente abatido. Não quis falar com ninguém. Atirou-se debaixo do chuveiro e as lágrimas se misturavam a água fria. As lembranças, do toque do Ricardo, do cheiro e calor do corpo dele, inundavam a sua alma. Nunca mais teria aquelas sensações com ele. Nunca mais seria invadido pela fúria apaixonante de louca do seu amor. Ele se sentou no chão do Box, e ficou ali, estático, deixando aquela água lavar a dor que ele sentia. Um vazio tomou conta do seu ser.
No dia seguinte, ele nem quis comer, e apenas cumprimentou os pais.
- Meu filho, você tem de se alimentar. Não pode ficar assim.
- Eu não sei se vou suportar mãe. – ele deu um abraço nela, e mais uma vez chorou.
- Você ama tanto assim este rapaz? – ele balançou a cabeça em afirmativa, para o seu pai. – Nós estamos com você meu filho. E o que este rapaz precisar, é só me falar.
- Eu não sei o que seria de mim, sem vocês. Eu me sinto tão sozinho...
- Oh, meu amor... A sua mãe tá aqui.
Ele se sentiu amparado, e a vida continuava. Passaria no hospital mais tarde para ver o Ricardo. Quando ia saindo de casa, encontrou o Kadu. Este, tentou falar com ele.
- Oi. Eu já soube do que aconteceu.
- Pode soltar fogos, você conseguiu, com a sua fofoca, estragar com a vida dele.
- Eu nunca pensei que...
- Pois é, Kadu. A gente nunca pensa, quando quer prejudicar alguém.
- Não foi a minha intenção, Daniel. Eu só quis lutar por você.
- Não importa isso agora. O que está feito, não tem como voltar atrás. Mais uma coisa eu posso te afirmar... O meu amor pelo Ricardo, só aumentou.
- Amanhã eu retorno para Vitória. – ele estava com a voz tímida.
- Boa viagem! Agora, se me der licença, eu preciso trabalhar. – Daniel seguiu em frente, e a grande amizade de ambos, parecia estar quebrada.
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O Ricardo, finalmente recebeu alta, e seguia para casa. Os seus pais tiveram de gastar uma grana, para adaptarem toda a casa. Os banheiros ganharam barras de aço, e por todos os cantos tinham rampas e apoios.
A sua cadeira de rodas era automática, para facilitar suas movimentações. No fundo, ele não era o mesmo. Era como se uma página de sua vida, fosse arrancada de forma brutal.
Naquela sexta-feira, ele recebeu a visita de seus dois melhores amigos: o Mauricio e o Victor.
- E aí cara! Beleza? – o Mauricio tocou na mão dele.
- Eu pensei que meus dois brothers haviam me esquecido.
- Quê isso. Você é nosso parceiro, e estamos juntos. – disse o Victor. Era nítido o olhar de ambos para o Ricardo. Eles se sentiram maus, ao ver o amigo naquela cadeira.
- E como andam as coisas na faculdade? Eu devo voltar mês que vem. – ele parecia mais alegre.
- Tanta coisa acontecendo... – o Mauricio olhou para o Victor.
- O que foi? O que o Victor anda aprontando? – Ricardo deu um sorriso de canto.
- Você sabe Ricardo, que... Eu era um cara muito preconceituoso. Mais sabe quando cai a ficha da gente, que todos nós somos iguais, e que cada um merece ser feliz? – o Mauricio discursava sério. – Eu já sabia que você e o Daniel estavam juntos, mais não queria aceitar. Foi difícil no começo, imaginar que o meu amigo... Enfim, eu passei a enxergar a vida de um jeito diferente. Eu amadureci um pouco e quero que saiba, que estou do seu lado...
O Ricardo ficou emocionado com as palavras do amigo. Ele nunca podia imaginar que o Mauricio, que era tão homofóbico, fosse capaz de mudar tanto.
- Eu fico feliz por dentro de ouvir isso. Ao menos, o apoio das pessoas que eu amo, ameniza a minha dor de estar nesta cadeira. Mas eu não entendi a questão do Victor...
- É que...
- Deixa que eu explico. – o Victor interrompeu o Maurício. – Você sabe que eu sempre fui pegador de mulheres e tal... Só que, na verdade, eu sou bisexual, Ricardo. E escondi este tempo todo, de você e do Maurício. Eu me senti envergonhado e com medo de que vocês me julgassem e parassem de falar comigo. Mas como você assumiu para nós dois, o seu relacionamento com o Daniel, eu me senti no direito de expor isso.
O Ricardo ficou pasmo com a revelação, mas ao mesmo tempo, o apoiou em todos os sentidos.
- Ele e aquele nojentinho do Leo, estão namorando.
- O Leo, amigo do Daniel?
- Ele mesmo. – Mauricio ria da cara do amigo.
- Quer parar, filho da puta! O Leo é um cara bacana, e estamos nos conhecendo...
- Quem diria hein? E aí Mau? Quem é o teu macho? Porque só falta você. – eles riram alto.
- Tá maluco? Vocês são meus amigos, mas nem vem, que eu curto buceta!
- A gente também curtia... – o Ricardo zoava ele.
Aos poucos, ele ia se acostumando com a sua rotina. As dificuldades eram grandes, mas tentava driblá-las. O Daniel dava o maior apoio, junto com a sua família, em exceção de seu pai, que não falava com ele, devido a não aceitação do seu relacionamento.
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QUATRO MESES DEPOIS...
- Amor, você precisa ir para fisioterapia. Deixa de ser teimoso! – Daniel insistia com ele.
- Poxa Dan! Eu queria ficar em casa com você. Já não suporto mais, ter de fazer fisioterapia. Já são meses fazendo isso, e não vejo resultado.
- O médico disse que é fundamental!
- Você ainda acredita que eu vou voltar a andar? Eu já aceitei a minha condição, meu amor.
- Não fala assim. A esperança é a última que morre.
- Pois é. A minha já morreu há muito tempo.
- Vou fingir que nem ouvir. Vem, vamos. – ele o levou para fisioterapia. O Ricardo era teimoso,e Daniel dava um dobrado, para ter paciência.
O Ricardo fazia as suas sessões, e o Daniel observava tudo com muita fé em seu coração. Todos os dias, antes de dormir, ele pedia a Deus, por seu amado.
Após o término das sessões, Ricardo o convidou para almoçarem.
- Eu queria agradecer profundamente, por tudo que você está fazendo comigo. Eu te amo muito. – ele olhava o Daniel com cumplicidade.
- É um prazer cuidar de você. E eu também te amo muito, mesmo você sendo cabeça dura.
- Às vezes eu fico preocupado... O fato de eu não estar mais...
- Você vai tocar neste assunto novamente?
- Daniel, todo ser humano precisa ter relações sexuais. É natural da vida e do homem. E eu sei que você sente vontade.
- O mais importante para mim, é te amar. Sexo é detalhe.
- Você sabe que isso não é verdade.
De certa forma, o Ricardo tinha razão. Todos nós temos anseios e desejos, e por mais que a vida nos arrancasse estas condições, ainda sim, esses prazeres permanecem ocultos. Eles se tocavam, se beijavam, dormiam nus, mas o Ricardo não sentia os estímulos do seu parceiro.
Eles almoçaram e o Daniel achou melhor levar o Ricardo para a sua casa. Óbvio que não tinha todo o aparato como na casa dele, mas o Daniel queria dormir com o seu amor naquela noite.
Os pais do Dan bateram altos papos com o Ricardo, e aos poucos ele já se integrava a família do seu amor.
- Tá na hora de dormir. – ele deu o ultimato ao Ricardo.
- Eu me sinto como o meu irmão mais novo. Bom, deixa eu ir para o quarto, senão o filho de vocês vai me bater. – eles riram, e Daniel o levou para o quarto.
- Quando eu olho para você... Para essa bunda suculenta...
- Assim eu fico tímido, Ricardo! – ele se aproximou dele e o beijou.
- Você é tão lindo, meu amor... Tão gostoso. Como eu queria poder penetrar em você.
- Eu sinto dentro de mim, e você pode não acreditar, mais tenho certeza de que tudo voltará como era antes.
Eles se beijaram e Daniel o pôs na cama. Ficou surpreso, quando o Ricardo tirou sua própria roupa.
- Dormi nu comigo?
- Claro! – eles se abraçaram e ficaram de conchinha, com o Ricardo encostando seu pau flácido, na bunda do Daniel.
No meio da madrugada, o Ricardo estava tendo um pesadelo e acabou caindo da cama. O baque foi grande, e o Daniel acordou também.
- Meu amor, o que aconteceu. – disse ele assustado, tentando levantá-lo.
- Ai, tá doendo muito. Ai! Me ajuda.
No auge do susto, eles nem se deram conta de que o Ricardo sentiu a dor em uma das pernas.
- Meu amor, você voltou a ter sensibilidade nas pernas. – dizia o Daniel eufórico e assustado.
CONTINUA...