Depois desse beijo, pude notar seu olhar totalmente despido de qualquer personagem que ela mesma incorporava. Arrogância, autoconfiança, ou outra definição qualquer que outrora encontrei para julgá-la/defini-la não mais existia. Pude realmente enxergar essa mulher como ela era, sem máscaras e sem proteções. Sensibilidade, era só do que ela era feita. A forma como nos entregamos àquele beijos é indescritível. Nada existia naquele momento além de nós duas.
Demos um sorriso puro, ainda tímido pela situação um pouco desconsertante e "inesperada", cheio de sinceridade. Incrível...
Me despedi e me retirei.
No dia seguinte fui trabalhar sentindo um uma ansiedade absurda. Não via a hora do curso começar naquele dia. Queria encontrá-la novamente, ver novamente aqueles olhos que me paralisam. Engraçado é pensar que, embora estivesse vivendo essa expectativa, tinha plena certeza de que ao reencontrá-la não saberia como agir. Contraditório...
Finalmente deu o horário da aula. Acabei me atrasando, em razão dos trabalhos acumulados dos dias anteriores em que estive no próprio curso. Ao entrar na sala, percebi que, além do meu coração bater desesperadamente em meu peito a ponto de sair pela boca, ela abriu um belo e espontâneo sorriso, o que me fez escancarar um em meu rosto, correspondendo-a.
Cris: Boa tarde, Julia! Pensei que havia desistido...
Julia: Boa tarde. Desculpe a demora.
Cris: Tens que prestar bastante atenção para recuperar o que perdeste. (disse isso e continuou o assunto após ver que me deixou sem graça)
Lá pras tantas... ela inventou de dar aula prática de primeiros socorros, mais precisamente da manobra de ressuscitação, respiração cardio-pulmonar, claro utilizando um boneco como vítima. Após demonstração do procedimento correto, me intimou para que eu realizasse o procedimento. Ainda tentei me desviar, mas ela me convenceu argumentando que eu teria que participar mais da aula, para compensar o atraso. Posicionei-me ao lado do boneco e iniciei a manobra, mas fui interrompida por ela, que segurou minhas mãos com a desculpa de ajustá-las na posição correta. Que situação! Fui tomada por um tremor visível em minhas mãos que, a essa altura, estavam extremamente geladas. Percebendo a saia justa em que me colocou, imediatamente contornou a situação solicitando que outra pessoa tomasse meu lugar e tentasse fazer o procedimento adequado.
Final da aula, ainda na algazarra originada pelos mais erros que acertos nossos, sai da sala louca para sumir dali. Lembrar da possibilidade de alguém ter notado o clima que existia entre a gente me deixou angustiada. Dirigi-me ao banheiro para respirar, acalmar-me antes de ir embora. Curvo-me à pia, a fim de molhar meu rosto um pouco e esfriar a cabeça, ouço, então, sua voz surgindo atrás de mim.
Cris: Andas muito displicente! Desse jeito terás que se esforçar mais para passar no curso.
Julia (enquanto enxugava meu rosto): Oh, Cris, sério? Estou tão ruim assim?
Ela então se aproximou e beijou-me. Dessa vez foi totalmente diferente do dia anterior, intenso... com tanta paixão. Segurava-me com uma das mãos minha cintura, puxando meu corpo cada vez mais contra o seu, enquanto a outra mão prendia seu rosto no meu, sua boca na minha. Beijava-me e mordiscava-me o lábio inferior, sugando-o em seguida com um tesão descontrolado. Encostou meu corpo na parede, ainda segurando-me da mesma forma desde o início, aproveitando para entrelaçar seus dedos entre meus cabelos e colocando sua perna direita entre as minhas. Livramos-nos de todo pudor que podia ainda existir. Esfregávamos nossos corpos, pressionando um contra o outro... minhas mãos já estavam deslizando sobre suas costas, por dentro da blusa, causando-lhe um delicioso arrepio.
Cris (sussurrando em meu ouvido e mordiscando minha orelha): Olha, vou me encontrar mais tarde na tua pausada...
Julia (sem acreditar no que estava ouvindo, sem acreditar que ela estava interrompendo esse momento): O quê?
Cris (ainda sussurrando ao meu ouvido): Vai para pousada e me espera. Preciso te ter em meu braços, mas te quero a noite toda.
Olhou em meus olhos, acariciou meu rosto com seus dedos e saiu.
