Era um olhar encantador e misterioso, eu poderia ficar páginas especulando o que haveria por trás daquele olhar, expressivo como ele só.
Depois de duas horas me distraindo com a boca e os olhos de Ferdinand, o ônibus finalmente parou.
Corri para o banheiro, me cobraram 1,50 bolivianos para usá-lo, achei um absurdo, considerando o estado deplorável do local. Mas eu não tinha muita opção, então paguei o preço.
Eu devo ter mijado uns 3 litros de urina no vaso sanitário. Quer dizer, eu tinha estado 8 horas dentro de um ônibus, ou seja, 1/3 do dia. A coisa tinha acumulado...
Foi relaxante. Só depois que terminei é que eu fui reparar com mais atenção o lugar onde o ônibus tinha parado.
Era um completo fim de mundo ali, um boteco do boteco do pé do pé da estrada, sujo por excelência, como não poderia ser de outra forma.
Era a parada para o jantar...
Mas eu não janto aqui é de jeito nenhum, eu pensei.
Eu, Ferdinand e Chantelle entramos no “restaurante”. Perguntei ao “garçom” o que eles serviam lá. Ele respondeu algo que eu não consegui compreender de primeira, foi só na terceira vez que eu fui entender que eles serviam uma espécie de caldo para o viajantes ao preço de 5 bolivianos (menos de R$1,50), era como se fosse uma sopa.
Dei uma olhada em um dos pratos que estavam sendo servidos. Um caldo verde escuro, nada apetecedor.
- Temos vários sabores... – falou o “garçom”.
Eu, Ferdinand e Chantelle nos entreolhamos com cumplicidade, não era preciso dizer nada, eu sabia exatamente que eles estavam pensando a mesma coisa que eu. O que faríamos?
- Se vocês não gostam de “caldo”, temos hamburguesas. – falou o garçom.
Chantelle não entendia nada de espanhol, o que a tornava uma refém de mal entendidos.
- Hamburguesa? – ela perguntou com aquele sotaque de inglês.
- Si. – respondeu o “garçom”. – “Hamburguers”, McDonald's.
Obviamente o “garçom” não estava querendo dizer que ali havia um McDonald's. Ele queria dizer que tinha hambúrgueres, “tipo McDonald's”.
Mas é claro que não foi isso que Chantelle entendeu.
Chantelle, ingenuamente, achou que ali havia, de fato, um McDonald's, doce ilusão.
O garçom nos levou até um canto do restaurante onde havia uma chapa, era lá que eram feitas as “hamburguesas”, tão nojento quanto o resto do restaurante.
Não tivemos coragem de comer nada ali, fosse o “caldo”, fosse a “hamburguesa”. Tivemos, então, que improvisar um jantar plastificado com o que tínhamos nas nossas mochilas. Naquela notei jantei Clube Social, barrinhas de cereais, um alfajor gostoso que Chantelle deu para mim e para Ferdinand, biscoito walfer e outras porcarias. Muito estranho jantar daquele jeito, mas não houve alternativa.
Antes de partimos, resolvi usar o banheiro novamente, e lá foram mais 1,50 bolivianos para usar aquela imundice de banheiro. Ferdinand e Chantelle também usaram o banheiro.
Depois de tudo, voltamos para o ônibus, já devia ser lá pelas 21h00min da noite.
Naquele momento da viagem, as luzes do ônibus já estavam apagas e estavam todos quietos, como se quisessem dormir, por isso fiquei meio sem graça de ficar conversando com Ferdinand, apesar da minha vontade de escutar a voz dele e ouvir como que era a vida dele na Áustria.
Praticamente duas horas depois da parada, por volta de 23h00min, eu comecei novamente a sentir vontade de mijar. Eu pensei: Puta que pariu, não é possível! Dá um jeito de controlar essa vontade Marcos, porque agora o ônibus não vai parar tão cedo.
Tentei me concentrar em dormir.
Mas foi alguns minutos depois que escutei um sussurro no meu ouvido. Era a doce voz de Ferdinand, que fazia meu corpo se arrepiar.
- Marcos! – ele murmurou.
Ele esperou alguns instantes para ver se eu estava acordado.
- Quê? – eu perguntei, também sussurrando.
- Será que ainda vai demorar para o ônibus fazer outra parada? – ele perguntou.
- Humm... Acho que sim... Não tem nem duas horas que o ônibus parou. – eu respondi. – Por quê?
- Que chato... É que eu estou ficando com vontade de mijar. – ele falou.
- Mas não tem nem duas horas que o ônibus parou... – eu falei hipocritamente, como se eu não estivesse com vontade de mijar também...
- Eu sei... Mas mesmo assim estou com vontade. – ele falou, como se ele fosse uma criança e eu fosse o pai que tivesse que solucionar o problema.
- Bom... Eu posso pedir para o motorista parar o ônibus. – eu falei.
Olhamos em volta, a idéia não parecia muito boa. Parecia que todos estavam dormindo. Além disso, havia “cholas” deitadas no chão. Como que esse pessoal conseguia dormir no chão do ônibus? De qualquer jeito, o corredor do ônibus estava intrafegável, havia toda espécie de gente deitada no chão, a gente iria aborrecer muita gente para conseguir chegar no motorista.
- Não dá pra agüentar? – eu perguntei, ao mesmo tempo torcendo para que ele respondesse que não.
Eu tinha conseguido segurar a vontade de urinar, mas depois que Ferdinand me falara que também estava com vontade, a minha vontade tinha voltado com toda pressão. Eu já não sabia ao certo se eu também seria capaz de segurar.
- Não. – ele respondeu. – Não dá pra segurar.
- Bom, então teremos que ir lá pedir para o motorista parar o ônibus e vamos ter que mijar no pé da estrada.
Ferdinand assentiu com a cabeça.
Ele se levantou primeiro, já que era ele que estava no assento do corredor. Tomando cuidado para não pisar em ninguém, nós dois fomos andando em direção a frente do ônibus, igual dois malabaristas na ponta dos pés. Teve uma hora que eu quase pisei na cabeça de um criança.
- Perdon. – eu falei, quando esbarrei num velho que estava deitado no chão defronte aos assentos de duas crianças e com a cabeça para o corredor.
Finalmente chegamos na dianteira do ônibus. Chantelle, pelo jeito estava dormindo, eu olhei para trás e ela estava assentada no seu lugar sem se mexer e com os olhos fechados.
Explicamos a situação para o motorista e ele parou o ônibus.
Descemos do ônibus e o motorista desceu junto.
Fomos para um canto da estrada.
O motorista ficou um pouco atrás da gente, na porta do ônibus, nos pressionando para fazermos logo nossas necessidades, a viagem não podia atrasar.
O engraçado era que o motorista ali atrás, me apressando, me deixava tenso, eu ficava preocupado em urinar logo para não atrapalhar a viagem. Só que quanto mais tenso eu ficava, mais difícil de conseguir mijar, parecia que aquela ansiedade toda tinha bloqueado a minha vontade de urinar. Com Ferdinand parecia que estava acontecendo a mesma coisa.
Foi então que eu percebi, com o rabo dos olhos, que Ferdinand vire-e-mexe olhava para o meu pau.
Isso deveria ter me deixado sem graça, mas, ao contrário, fiquei excitado.
De certa forma e ao mesmo tempo me fingindo de sonso, tentei facilitar o trabalho dele de espiar o meu cacete. Tirei meu braço que estava tampando parcialmente a visão dele e me virei um pouquinho para a direita. Meu pau foi ficando meia-bomba com aquela situação.
Fique dividido entre a ansiedade que o motorista apressado me causava e a excitação de estar ali do lado de Ferdinand, nós dois com os paus para fora.
Resolvi olhar para o lado, fingindo distração, só para dar uma espiadinha.
Numa fração muito pequena de segundos, consegui ver o pênis de Ferdinand, tinha a estética do jeito que eu gostava, um pau bem bonito e saudável ao que pude perceber naquele rápido instante, um cacete bem lindinho.
Logo em seguida, olhei para o céu, me censurando. Concentrei-me em conseguir mijar.
Depois de alguns aflitivos segundos escutando o motorista do ônibus gritar coisas em espanhol que não consegui entender, mas que certamente era algo para no apressar, eu finalmente consegui abrir a torneira. Um jato de mijo começou a sair do meu pau, formando uma pequena poça na terra. Notei Ferdinand me espiar mais uma vez, observando a minha expressão de prazer em descarregar a bexiga. Pouco depois, ele também começou a mijar e eu não consegui evitar dar uma olhadinha.
Depois de terminada sessão de mijo, cada um guardou seu instrumento dentro de sua cueca. Aquela parada tinha sido salutar. Era um alivio indescritível, até me sentia mais leve. Dei graças a deus por não ter sentido vontade de cagar, porque aí teria sido bem mais complicado. Em todo caso também, salvo engano, acho que é mais fácil segurar coco do que xixi. Mas enfim, é uma discussão que não vem ao caso.
Caminhamos de volta para a porta do ônibus sob o olhar impaciente do motorista. Dei um sorrisinho sem graça e agradeci ao passar por ele:
- Gracias.
O motorista não falou nada, apenas esperou eu entrar no ônibus para entrar em seguida atrás de mim.
Já dentro do ônibus, eu e Ferdinand nos deparamos com uma cena pitoresca nada agradável. Todo mundo do ônibus tinha acordado com aquela parada, inclusive Chantelle, e ninguém parecia exatamente satisfeito por ter tido o sono interrompido por aqueles dois turistas que tinham bexigas fracas.
Ficaram todos os bolivianos e ‘cholas’ nos olhando com caras emburradas. Nem sequer abriram caminho no corredor para que pudéssemos chegar aos nossos lugares. Aliás, discretamente, eles tentaram dificultar a nossa passagem. Depois de uns3 minutos tentando não esbarrar em ninguém, eu e Ferdinand finalmente conseguimos chegar em nossos lugares. Algumas pessoas resmungavam em voz alta, externando toda a indignação que sentiam com aquela parada fora do esquematizado.
Assim que assentamos, as luzes foram apagadas e o ônibus começou a andar. Pouco tempo depois já estava tudo em silêncio de novo.
Eu fechei os olhos e fiquei meditando sobre a minha vida enquanto esperava o sono chegar...
Longos minutos se passaram, eu estava de olhos fechados, mas o sono propriamente não chegava...
Foi então que eu senti o hálito quente de Ferdinand soprar contra a minha orelha:
- Marcos? – ele sussurrou baixinho. – Você está acordado?
Fiquei com preguiça de responder. Eu queria era dormir, não estava com paciência para ficar conversando naquele momento. Por isso, não abri a boca, continuei de olhos fechados como se estivesse em sono profundo.
Ferdinand ficou quieto, achei estranho o silêncio e resolvi abrir os olhos para ver se estava tudo bem.
Olhei para os lados e encontrei Ferdinand com os olhos fechados, ele provavelmente tinha resolvido tentar dormir também.
Fechei novamente os olhos e fiquei pensando em Monise... em Guilherme... as duas pessoas que tinham virado minha vida de cabeça para baixo... Monise tinha sido o grande amor da minha vida, profundo e sincero... Guilherme tinha sido a grande paixão, intenso e inexplicável... De repente, ali dentro do ônibus, a caminho da cidade de Sucre, eu sentia como se eu já tivesse vivido toda a minha vida, me sentia como um velho, como se não houvesse mais nada para ser vivido... Eram tantas coisas que tinham acontecido na minha vida... Naquele momento, era impossível acreditar que um turbilhão de outras tantas coisas mais ainda iria me acontecer ao longo dos próximos 8 meses...
Foi nesse instante que eu senti a mão de Ferninand repousar no meu colo.
Ligeiramente assustado, abri os olhos e olhei para o lado. Ferdinand estava com os olhos fechados e com a respiração pesada de quem estava dormindo. Provavelmente a mão dele tinha caído no meu colo sem querer. Fiquei com pena de tirar a mão dele dali e sem querer acordá-lo, então deixei que mão dele continuasse sobre a minha bermuda, em cima da minha coxa direita.
Vi Ferdinand agitar-se durante o sono e sua mão deslizou um pouco para baixo, indo parar na parte da minha coxa que estava para fora da bermuda.
Senti a suavidade e a quentura da pele da mão de Ferdinand tocando minha coxa. Aquilo, de alguma forma, fez meu corpo se arrepiar. Aquele toque na minha pele estava me fazendo o coração bater mais acelerado, estava me deixando ansioso e ao mesmo tempo excitado.
Eu fazia força para não me mexer. Eu não queria acordar Ferdinand, eu não queria que ele tirasse a mão dali da minha coxa, estava tão gostoso. Então eu ficava imóvel para não arriscar atrapalhar o sono dele e correr o risco dele se virar para o outro lado e levar a mão junto.
Fechei os olhos fingindo que estava dormindo também. Aquela mão naquele ponto da minha coxa estava me deixando de pau duro e me fazendo pensar em coisas indecentes com Ferdinand.
Ele deu mais uma remexida na poltrona e sua mão novamente se movimentou junto, desta vez, subindo em direção a parte de cima da minha coxa, por dentro da bermuda, ficando próxima da minha virilha.
Entreabri as pálpebras, olhando serrado para Ferdinand. Ele ainda aparentava estar dormindo, embora eu já estivesse desconfiando do seu real estado de sono.
Voltei a fechar os olhos, curtindo o calor daquela mão em cima da minha coxa.
Meu pênis pulsava excitado dentro da minha cueca.
A mão de Ferdinand ficou um longo tempo naquela posição. Depois ele se mexeu mais uma vez na poltrona e sua mão começou a alisar a minha perna, se atritando com os pêlos da minha coxa.
Senti a mão dele ir subindo discretamente em direção a minha cueca.
De repente, senti uma coceira no minha canela, porém, se eu mexesse, eu poderia acordar (ou assustar?) Ferdinand, então tive que agüentar a vontade de coçar a canela e continuei fingindo que estava dormindo.
Os dedos de Ferdinand finalmente tocaram em minha cueca e eu fiquei sem ar durante alguns segundos.
Tive vontade de me virar, agarrar Ferdinand pelo pescoço e beijá-lo desenfreadamente, sentindo o doce gosto europeu daqueles lábios de anjo e aquela úmida língua ardente e lasciva que ele carregava dentro de sua boca, a qual prometia ser um santuário perdido de prazeres
Entretanto, me contive. Não consegui criar coragem. Continuei com os meus olhos fechados e com o coração batendo inquieto.
Os dedos dele se rastejaram até subirem onde estava o volume do mau pau. A mão dele ficou repousada em cima da minha pica, apalpando todo o volume que meu cacete formava na cueca.
Eu começava a me contorcer discretamente na minha poltrona, o meu tesão por aquela situação estava ficando fora de controle, eu estava a apenas um triz de arrancar o velcro da minha bermuda e tirar meu pau duro para fora. A minha mente já conseguia imaginar a língua de Ferdinand deslizando pelo meu cacete duro, me pagando a boquete mais gostosa da minha vida.
Eu estava tão excitado que meu pênis começou a molhar a cueca.
Foi então que eu senti a mão de Ferdinand entrar por dentro da minha cueca e eu senti seus dedos envolverem minha pica, que nesse momento estava rígida igual uma rocha.
Ele arregaçou meu pau e, com seu dedo do meio, ficou alisando a cabeça do meu cacete. Meu pênis ficou pulsando excitado igual um doido com aquele carinho na cabeça, babando litros de lubrificante no dedo de Ferdinand.
Eu já não sabia por quanto tempo eu ainda conseguiria agüentar aquela situação. Meu pau estava tão duro que não tinha mais espaço para ele ali dentro da bermuda, ele estava quase rasgando a cueca de tão grande que ele estava.
De repente, o barulho de uma explosão...
Todos no ônibus acordaram sobressaltados. Ferdinand rapidamente tirou sua mão de dentro da minha bermuda.
A primeira reação de todo mundo foi levantar o pescoço para ver o que estava acontecendo.
O ônibus deu uma entortada para a direita, ficando inclinado e, logo em seguida, parou.
O silêncio no ar era cortado pelos murmúrios das pessoas. Eu e Ferdinand nos entreolhamos, fiquei me perguntando se Ferdinand realmente estivera dormindo aquele tempo todo ou não...
- O que aconteceu? – perguntou em inglês uma voz estridente atrás de mim, era Chantelle, obviamente.
Eu e Ferdinand demos de ombros, sem sabermos a resposta.
Uns cinco minutos depois, o motorista entrou no ônibus e veio falar com a gente. Um dos pneus da frente havia estourado. Eles iam ter que trocar os pneus e todo mundo ia precisar sair do ônibus.
Todo mundo murchou com preguiça. Sair do ônibus, ter que esperar os pneus serem trocados, quiçá ter que ajudar a trocarem os pneus. Enfim, a idéia toda era bem desanimadora. Eu estava tão confortável ali na minha poltrona com a mão de Ferdinand no meu pau... Por que agora eu tinha que sair dali? Que saco... Que incoveniência.
Aos poucos, saíram todos do ônibus. Do lado de fora, uma noite fria e escura, ali na estrada tudo se ditava perigoso, parecia que ia surgir algum grupo de indígenas loucos vindos do meio do mato para nos assaltar. Os passageiros ficavam próximos uns do outros, como se sentissem excessivamente expostos ali no meio da estrada na calada da noite. Eu, Ferdinand e Chantelle estávamos juntos, colados um no outro. Se acontecesse algo comigo, aconteceria com nós três... bem, não era a melhor forma de se consolar, mas era bom saber que eu não iria me fuder sozinho... por mais que esse fosse um pensamento ultra egoístico.
No meio de tanto medo repreendido, os faróis do ônibus, que estavam ligados, traziam algum conforto no meio daquela escuridão aguda.
Eu, Ferdinand e Chantelle resolvemos ficar na frente dos faróis, como se aquela luz trouxesse alguma espécie de imunidade para gente...
Apesar de tudo, a imagem do céu compensava todo o desconforto de estar ali em pé no meio da madrugada na estrada de terra. Era um céu estrelado, que as noites na cidade jamais me deixaram presenciar. Ali, fora das luzes da cidade, o céu se mostrava gigantesco e com uma quantidade absurda de estrelas. Eu gastaria mais de cem anos para poder contar todas as estrelas que estavam ali no céu, naquele dia. Eram muitas, um céu purpurinado de azul prateado, era lindo e eu fiquei com vontade de chorar diante de tanta beleza na frente dos meus olhos.
O meu ‘intimo’ com o céu foi bruscamente interrompido quando algum boliviano me cutucou e falou que eu e Ferdinand precisaríamos ajudar na troca dos pneus.
De fato, todos os homens que estavam no ônibus tiveram que se mobilizar para a troca dos tais pneus. Na minha particular opinião, algo totalmente desnecessário, três homens davam mais do que conta de fazer o trabalho, mas imagino que lá na Bolívia exista algo cultural de que todos devem dividir o trabalho ou algo do gênero, ou algum machismo exacerbado, em que só as mulheres podem ficar paradas, ou sei lá, vai entender qual era o raciocínio por trás de ter que todos os homens auxiliarem na troca dos pneus... Mas enfim... É como dizem: “Quando em Roma, faça como os romanos”...
A troca dos pneus demorou efetivamente 30 minutos, várias pessoas, dentre elas, eu, aproveitaram a parada para fazerem as suas necessidades fisiológicas. Não que eu estivesse apertado para mijar, mas “just in case”... Nunca é demais se garantir...
Depois de toda a confusão para se trocar os pneus do ônibus, voltaram todos para as suas respectivas poltronas e a viagem continuou.
Não demorou muito e eu logo fingi que já estava dormindo, criando toda uma expectativa de que Ferdinand voltaria a investir sua mão pra cima da minha perna.
O tempo passou e a mão de Ferdinand não se fez presente. Senti-me um pouco frustrado. Continuei na esperança de que a qualquer hora eu sentiria a sua mão macia tocar na minha bermuda, fiquei sonhando com aquelas mãos... Sonhando... Sonhando...
Abri os olhos e uma claridade campestre invadiu a minha retina, já era de manhãzinha, o sol nascia grande, eu tinha dormido sem perceber, um ar de tranqüilidade pairava no interior do ônibus, um silêncio gostoso, me senti um velho camponês aposentado, que não tem pressa pra viver, que gosta de ficar horas admirando a mesma paisagem, assim estava eu, perdido na contemplação daquele cenário montanhesco que eu via pela janela do ônibus.
Ao meu lado, Ferdinand, tive vontades de abraçá-lo como se fosse um ursinho de pelúcia, ele ainda dormia, tão meigo.
Fiquei apreciando o panorama que a janela me propiciava, só depois de uma hora é que Ferdinand acordou.