Meus queridos, eu sei que nem deu tempo de sentirem a minha falta. É que depois de escrever este conto, me ausentarei por tempo indeterminado aqui da cdc. Então, tive que por as minhas ideias em prática o quanto antes. Peço que não deixem de ler nenhuma parte desta história, pois muita coisa vai acontecer e colocarei vocês numa dúvida cruel. Beijosss...
Eu percebi que havia pegado pesado com ele. O cara na verdade, devia estar passando por um problema sério, e só queria conversar. Eu acabei me redimindo, e pedindo desculpas. Afinal, ele também não era o culpado, se naquele dia, eu não havia conseguido um puto de quer. Resolvi ouvi-lo, e parecia que ele era um cara bacana.
*************
- Quer dizer então, que você não é gay? – eu fiquei surpreso, pelo fato de ele ter procurado justo um homem, em meio a tantas mulheres na rua.
- Não. – ele riu. É como eu te disse, queria alguém para desabafar. Às vezes me sinto sufocado pela minha mulher e pelo excesso de trabalho.
Eu me sentei na beira da cama, e ele estava numa poltrona, de frente para mim. Confesso que, ao observá-lo melhor, pude perceber a sua beleza. Os olhos verdes, a boca carnuda, e o sorriso largo... Enfim, era uma pena ele não curtir outros caras. Mas mantive a minha boa educação e escutei tudo que ele tinha para falar.
- Sabe Sandro... Eu gosto da Amanda. Ela tem a suas qualidades. Mas o seu excesso de ciúmes me deixa louco. Se duvidar, ela tem ciúmes da minha própria sombra.
- Eu posso imaginar o quanto deve ser difícil pra você. Fuma? – perguntei a ele, acendendo um cigarro para mim.
- Sim.
- Pega aí então. – joguei a carteira de cigarros para ele. – Talvez você deva ser mais presente na vida dela. Não te conheço direito, mas pela sua cara, com certeza deve mergulhar no trabalho e esquecer-se do mundo.
- Num ponto você tem razão. Mas nunca deixei faltar nada a Amanda. E nem a mãe dela, que mora comigo.
- Sério! – eu me espantei. – Tá explicado o problema. Sogra é pior do que mil demônios juntos.
O Alexandre acabou rindo do comentário dele, e ambos ficaram batendo papo por muito tempo.
- Eu tenho um irmão que mora na Inglaterra. O nome dele é Mauro. A minha família, apesar de ter dinheiro, são pessoas simples e sabem dar valor ao que conquistaram. O meu pai é um homem muito esforçado. Soube erguer a sua empresa, e hoje colhe os frutos com isso.
- Você trabalha com ele?
- Sim. E tenho muito orgulho... Agora me fala um pouco de você.
Eu fiquei meio sem jeito. O que eu iria contar para aquele homem podre de rico? Que eu passei fome a minha vida inteira?
- Bom! Eu... Moro de aluguel, num sobrado perto do subúrbio, e divido o apartamento com o meu amigo, o Igor.
Procurei poupar as palavras, pois não podia contar muito sobre a minha vida.
- E você resolveu fazer programa por falta de oportunidade?
- Não. É porque eu acho divertido. – eu debochei. Era óbvio que eu não queria aquilo para minha vida.
- Você é muito novo. Já pensou em procurar um emprego?
- Você queria desabafar... Agora já inverteu as coisas. Não querendo ser grosso, mais acho que não preciso de conselheiro.
- Desculpe. Você bebe? – ele mudou o assunto.
- Sim. – eu levantei da cama e fui até a janela olhar o movimento. Ele se aproximou e ficou do meu lado, e eu pude sentir o delicioso perfume importado que ele usava. Confesso que bateu uma curiosidade em minha cabeça, de como seria o seu desempenho na cama. Nunca imaginei um dia, desde quando comecei nesta vida de garoto de programa, ter de compartilhar um mesmo ambiente com alguém, e isto não ser levado para o lado sexual.
- Você só transa com homens.
Fiquei surpreso com a pergunta dele.
- Não. Eu não costumo escolher. Apesar de ter uma certa preferência.
- E qual é a sua?
- Bom, as mulheres pagam mais, só que eu prefiro os homens. Eles são objetivos. Sabem o que querem, e já chegam chegando. Deu pra entender?
- E posso saber por que você não beija na boca?
- Se continuar a me fazer estas perguntas, vou achar que o senhor Alexandre hétero, está afim de uma sacanagem. – joguei o meu fogo para ele.
A cara que o Alexandre fez, arrancou longos risos do Sandrinho.
- Eu estava brincando. – ele não conseguia parar de rir.
- Mas por que tanto riso? Tá, e se eu quisesse experimentar pela primeira vez, um homem. Por acaso existe algum mal nisso?
- Calma. Não há mal algum. Você quer? Eu tiro a roupa agora mesmo.
- Não! Eu também estava brincando. Aliás, acho melhor eu voltar para casa.
- Apesar de ter este jeito tão sério, eu te achei divertido sabia?
- E eu, apesar de ter lhe achado...
- Depravado?
- Não. Essa não seria a classificação. Despojado seria o termo correto.
Dois universos tão diferentes e tantas coisas em comum. A vida do Sandro era algo cercado de muitos mistérios, e ele se restringia ao máximo em tocar no assunto. Já o Alexandre, era o braço direito do pai. Uma grande amizade nasceria daquele encontro casual, e muitos problemas também.
- É aqui que você mora? – ele observou o local, um pouco assustado.
- Sim. Valeu pela carona. – eu já ia descendo do carro, quando ele me segurou pelo braço.
- Toma. É uma forma de agradecimento, como prova da sua gentileza em ter me ouvido.
- Não precisa. Eu agi de coração. Não costumo cobrar para emprestar os meus ouvidos. – ele riu do que eu falei.
- Eu insisto. Este dinheiro pode ser útil para você.
Num certo ponto ele tinha total razão.
Eu pensei um pouco, e resolvi aceitar. Afinal, eu pagava aluguel, e às vezes, era preciso fazer dez programas, para juntar toda a grana.
- Até um outro dia, Sr. Bonitão.
- Até.
Alexandre arrastou com o carro, e ele apenas observou a poeira que se formou na estrada.
*************
- Igor, você está em casa?
- Oi. Tô aqui na cozinha, tentando fazer alguma coisa pra comer.
- Que bom, porque estou morrendo de fome.
- Que cara é essa? E aí? Conseguiu fazer uma grana legal hoje?
- Você nem vai acreditar. – eu acendi mais um cigarro e abri uma cerveja qu estava na geladeira. – Conheci um ricaço, da zona sul. Ele me pagou 500 reais.
- Uau! Você deve ter feito muito bem o serviço.
- Nem precisou.
- Como assim? E este cara de deu o dinheiro do nada?
- Hoje eu troquei de função. Incorporei o ouvinte conselheiro. Kkkkk...
- Me conta esta história.
Eu contei tudo a ele, do inicio ao fim.
- Agora já temos o dinheiro para o aluguel. Eu só espero que aquele velho nojento não apareça aqui antes do prazo.
- Eu consegui fazer isto aqui pra nós dois. Farofa de ovo com linguiça.
- Pra quem tá com tanta fome como eu, até pão do ano passado eu aceitaria.
- Sandrinho, eu queria te pedir, para que você não traga cliente para nossa casa. Não é por mal, é que aqui é o nosso lar. E sem contar que, se o Seu Juca descobri, estamos no olho da rua.
- Eu sei amigo. Você está certíssimo. Foi só desta vez. Isso não vai mais se repetir.
No fundo o Igor estava certo. Tínhamos tanta liberdade entre a gente, que, quando uma coisa incomodava, a gente colocava tudo em pratos limpos. Talvez por isso, estávamos juntos por tanto tempo.
- O Renan está me ligando. – disse o Igor, olhando o celular.
- Vai. Ele paga bem.
- Hoje não to afim. E isto não é hora de me ligar.
- Igor, o Renan é o seu melhor cliente. Ainda te dar presentinhos.
Aquele ali por sexo é doido. Às vezes não dou conta do recado. E quando penso que acabou... Ele quer mais.
- Nem me fale, que hoje eu sair com um cara peludo.Nossa! Parecia um gorila com tantos pêlos. Minha sorte é que fui para rua e surgiu o Alexandre, para salvar o meu dia.
- Eu vou tomar um banho e me preparar para o Renan.
- Vai lá! Eu vou dormir, pois amanhã o dia promete. – eu estava exausto, e resolvi deitar um pouco. No fundo do meu coração, eu não suportava mais, ter de passar por aquela humilhação. Ser garoto de programa não era fácil. As ruas ofereciam grandes perigos, e a disputa entre os concorrentes era grande.
**********
No dia seguinte, a Amanda mal cumprimentou o marido. Ela nem sequer quis saber onde ele estava ontem à noite. Sabia que ele havia mentindo, pois ela ligou para casa dos pais dele, e este, não passou por lá. O café foi servido em total silêncio, e o olhar dele era dirigido para o jornal. A mãe dela não parava de falar, e acusá-lo de péssimo esposo. Ele pensou, respirou fundo, pegou a sua pasta e saiu para o trabalho.
- Viu só? Depois não quer que eu fique louca. Eu não mereço isso mãe.
- Calma filha. Quer saber? Larga logo este homem. Você não precisa dele.
- Eu amo muito o Xandi. Ele é o meu marido.
- Se ele prestasse, cumpriria ao menos o papel dele...
Ele saiu de duas reuniões e almoçou com alguns empresários no restaurante do pai, que ficava localizado no Leblon, bairro nobre do Rio. Os assuntos eram os mesmos: negócios e investimentos. Quando se preparava para sair do local, viu uma cena inusitada. Ficou surpreso, mais de longe, percebia que a coisa era séria.
- Eu já te falei que não quero saber de vocês. Vão para o inferno! O corpo é meu e eu faço o que bem quiser dele.
- Eu sou o seu tio. Venha comigo Sandro.
- Tio? Engraçado né? Agora todo mundo resolveu bancar o “tio”. Ahhh! Faça-me um favor. Vocês nunca se preocuparam comigo, desde o dia em que eu perdi os meus pais.
- Me fala ao menos onde você está morando.
- Eu te mandei ir para o inferno. E solta o meu braço. – eu já ia armar um escândalo na rua, quando ouço uma voz familiar.
- Solta ele! – era o Alexandre, que falou num tom sério e bem macho.
O tio Alberto me soltou de imediato e ficou encarado o Alexandre. Eu nem acreditava que aquele homem estava ali. Nossa, como este mundo é pequeno – eu disse a mim mesmo.
- Quem é este cara Sandro? Um caso seu?
- Não te interessa! Suma daqui.
- Me respeite seu moleque. – ele me pegou de surpresa, e me deu um tapa no rosto. Eu fiquei sem reação.
- Você ficou louco? – O Alexandre devolveu a bofetada em forma de soco, defendendo o Sandro daquela agressão.
- Eu acho melhor eu ir embora. – eu falei assustado, querendo sair logo dali.
- Entra aí que eu te levo. - ele abriu a porta do carro e eu entrei. Não pude recusar a carona. O meu tio jamais poderia descobrir onde eu morava.
CONTINUA...