- Entra aí que eu te levo. - ele abriu a porta do carro e eu entrei. Não pude recusar a carona. O meu tio jamais poderia descobrir onde eu morava.
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- Então quer dizer, que aquele homem é o seu tio?
- Eu não suporto quando ele fica me pressionando. Eu já disse para ele, mais de mil vezes que o corpo é meu e faço dele o que eu quiser!
- Eu fiquei assustado pelo modo como ele te tratou.
- O tio Alberto é assim mesmo. – eu procurei não detalhar o assunto, pois poderia ser muito perigoso. Eu ainda não acreditava na tamanha coincidência de tê-lo reencontrado desde a noite de ontem. Se tivéssemos combinado, o destino não seria tão exato. Ele me encarou de repente, e eu fiquei meio sem graça.
- Você estava fazendo programa àquela hora?
- Claro que não! Por acaso, você acha que, o motivo de eu estar no meio da rua, significa que eu estou fazendo programa?
- Não foi isso que eu quis dizer. É que...
- Você me ofendeu. Apesar de sermos de mundos diferentes... Eu sou ser humano.
- Desculpa se te ofendi. Eu gostei de você cara. Topa ser meu amigo?
- Acho melhor não! Não temos nada a ver um com outro. Eu sou pobre e moro no subúrbio; já você, é rico e mora em bairro nobre...
- Sabe Sandro... Eu nunca me imaginei estar levando um papo com um garoto de programa... Mas te achei tão sincero e divertido, que não vejo nenhum mal em ter a sua amizade. Claro que se você não quiser, eu vou entender!
Realmente era difícil para mim, entender aquela aproximação. Tudo bem que ele não era gay, tão pouco bi, mas confesso que eu me divertia quando estava ao lado dele. Quer saber? Nunca ninguém me deu valor, e já que um cara rico e bonito estava afim de uma amizade, eu estava disposto a aceitar.
- Posso subir? – disse ele, parando em frente ao sobrado onde o Sandrinho morava.
- Não sei se você está acostumado ao ambiente de uma pessoa humilde como eu.
- E desde quando eu ligo para essas bobagens?
Bom, eu e ele subimos. Não sabia o que oferecer. O que me passou pela cabeça, foi uma garrafa de conhaque importado, que eu ganhei de presente de uma cliente. Ofereci e ele aceitou.
- Não repara o lugar. É muito pequeno e você não deve estar acostumado né?
- Você divide este espaço com o seu amigo?
- Rum rum! Eu e o Igor somos mais que amigos, somos irmãos. Moramos juntos há mais de cinco anos.
- Como você mergulhou neste mundo? Seus pais sabem?
- Alexandre... Podemos mudar o assunto? Eu não queria falar sobre isso. – aquele assunto era muito complicado e arriscado. Eu não podia comentar nada sobre o meu passado.
- Sandrinho você nem vai... – desculpa! Eu não sabia que você estava com visitas. – O Igor entrou na sala, e nos pegou de surpresa.
- Oi amigo! Este daqui é o Alexandre,Amigo do Sandro. Prazer! – ele completou a frase.
- Prazer! Desculpa interromper vocês. Eu vou deixá-los a sós.
- Fica aqui com a gente Igor. – eu insisti; afinal ele não estava atrapalhando em nada.
- Vou tomar um banho e dormir um pouco. – ele saiu da sala.
- O sue amigo também é...?
- Se quer saber se o Igor é garoto de programa; sim, ele é! Às vezes acho que isso é um peso para você.
- Não é isso, é que... Acho que existam outras oportunidades.
- E eu posso saber quais?
- Bem... Ninguém precisa vender o próprio corpo, para sobreviver.
- Você por acaso, está me julgando?
- Você sempre me interpreta mal!
- E você não entendeu que eu estou louco para descobrir os seus segredos na cama.
Eu não sei o que deu em mim, mais mandei aquela frase na lata! O Alexandre ficou em silêncio e não sabia o que dizer. Fiquei tão sem graça, que um buraco era o que eu mais queria naquele momento, para enfiar a minha cabeça.
- Como eu te disse Sandro, podemos ser amigos. Não curto homens.
- E você quer ter um amigo prostituto? Você fala isso da boca pra fora!
- E se eu te provar que não? Eu quero ser seu amigo, porque gostei de você.
- Somos diferentes. Você é rico e eu sou pobre.
- Dinheiro não é tudo. Lembra daquele meu irmão que eu te falei?
- O que está morando fora do Brasil?
- Sim. Ele volta esta semana. E a minha mãe que fazer um jantar de boas vindas para ele. A maioria dos meus amigos estarão ocupados no dia... Você quer ir?
- EU? Não. Isso não é o meu mundo.
O Sandro ficou perplexo com o convite. Não imaginava que ele fosse capaz de ir tão longe. Conheceu o Alexandre ontem, e ele já estava o convidando para ir a sua casa.
- Eu ficarei muito feliz se você for. – ele deu um sorriso largo e sexy.
- A sua família jamais aceitaria alguém como eu em sua casa.
- Você é ser humano como qualquer um. Não vejo nenhum problema.
- Poxa... Ninguém nunca me tratou tão bem.
- Você é o meu amigo. Esqueceu?
- Claro! – eu sorri para ele.
- Será no sábado. Posso contar com você? Se quiser levar o seu amigo, serão bem vindos. Você vai gostar da minha família...
Era óbvio que eu não iria. Eu sabia me colocar em meu lugar! E além do mais, eu senti que aquela aproximação estava muito perigosa.
- Vou pensar. Ok? Agora preciso descansar.
- Tudo bem. Valeu então. – ele foi me abraçar e eu senti um calafrio, ao ser tocado pelos braços fortes, e ter sentindo o perfume de macho, que ele usava.
Eu não era de me interessar por ninguém, mas aquele homem me causava uma sensação boa por dentro. Ao mesmo tempo, que eu tinha vontade de ir para cama com ele, sentia também vontade de conhecê-lo melhor!
- Eu vou indo. – ele se despediu e eu me joguei no sofá suspirando. Acendi um cigarro e liguei o som. De repente o meu celular toca e atendo. Era um cliente querendo sexo. Pensei em recusar, mais ele pagava bem. Tomei um banho rápido e fui ao encontro do tal cara.
Vida de garoto de programa, não tinha hora, nem momento. O que importava mesmo, era o dinheiro que precisava ser ganho.
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Três dias se passaram, e eu nem lembrava mais do Alexandre, até ele me ligar e me lembrar da volta do tal irmão.
Eu não queria ir e não sabia que desculpa inventar. Estar num mundo que não me pertencia, era arriscado demais.
- Se você não vier, eu vou até aí de buscar. Ah! Como é um jantar, a roupa é algo mais formal.
Hã? Como assim? Por acaso ele achou que eu era brega ao ponto de não saber me vestir? A minha vontade era de ir tão cafona, ao ponto de fazê-lo passar vergonha. Arrastei o Igor para o shopping, e passamos horas tentando escolher uma roupa. Peguei todo o dinheiro que eu havia ganhado da semana, e gastaria na melhor roupa.
- O que acha desta aqui?
- Ah não! Está tá muito sem graça.
- Poxa Igor! Você não gosta de nada que mostro a você.
- Sandrinho... Você via como convidado. Vai conhecer muita gente de família e rica. Tem que se apresentar de forma elegante.
- Eu estou com medo. Maldita foi à hora que eu aceitei esta emboscada. Isto não é o meu mundo. E a família do Alexandre jamais me aceitaria, sendo quem eu sou.
- É só você ficar de boca calada.
- A minha vontade mesmo, era transar com ele. Nossa amigo, como ele é gostoso.
- É mesmo. E tem um jeito tão charmoso. – disse o Igor com brilho nos olhos.
Ele acabou escolhendo a roupa certa, mas antes iria provocar o Alexandre. A noite chegou, e estava chovendo muito. O Xandi combinou de pegá-lo e o Sandro estava com uma capa de chuva, um cachecol e um gorro na cabeça. Parecia mais, um boneco da neve. Meia hora depois, o outro chegou.
- Oi. Você vai assim?
- Sim. Há algum problema?
- Se quiser, podemos desistir, e marcamos um chop num bar.
No fundo, ele estava com medo, pela a minha roupa. Mas eu não quis revelar nada.
- Não. Eu faço questão de ir ao jantar da sua família.
No carro, o silêncio predominava. O Alexandre estava um gato! Numa camisa esporte fino e uma calça de brim bem justa. A barba estava feita, e ele usava um relógio dourado... Um verdadeiro homem! Eu fiquei embriagado por ele. Minha vontade foi de agarrá-lo dentro daquele carro, arrancar a calça dele e chupá-lo todinho. Ai meu Deus! Eu não posso!
- Algum problema?
- Não. – ele me tirou daquele transe.
Enfim chegaram ao condomínio de luxo, onde os pais dele moravam. Pegaram o elevador até a cobertura, e ao entrarem, vários convidados estavam no local. Todos da família. Sandro arrancou aquela capa de chuva, junto ao gorro e ao cachecol, exibindo uma bela camisa cor de cinza, com um blazer preto e uma calça de algodão em tom grafite. Ele estava lindo! O Alexandre ficou surpreso ao vê-lo daquele jeito.
Várias pessoas vieram cumprimentá-lo e ele estava sem jeito e totalmente perdido.
CONTINUA...