E quando saí já anoitecia, o trânsito infernal das avenidas, os faróis aproximando-se e distanciando-se da parada de ônibus, eu invarialmente cansado. Estávamos – ou melhor, estava – no trecho mais movimentado da cidade, ônibus iam e vinham, táxis também, desconhecidos sentavam-se no ponto, alguém ouvia silenciosamente música. Recostando a cabeça, esticando os braços, esperei ali um tempo como que dormindo. Alguém já dormiu acordado? Eu vivo às vezes assim. E eu jurava estar só. Mas não, de fato não estive. Ultimamente venho acreditando que vivemos sob vigilância constante, seja de quem for. Se você acha intimamente que observa sozinho as pessoas, péssimas notícias, elas também te espiam pelo instante de um olhar. E se fazem julgamentos aleatórios, de uma circunstância nem sempre feliz, bem, é meio óbvio que façam, não?
Pois por um milésimo de segundo acreditei que vinha só. Distante no fundo da avenida caótica enxerguei a numeração laranja do coletivo que pegava, e levantando apoiei a mochila nas costas, vi o veículo parar, subi os degraus.
– Você esqueceu isso – alguém repuxa minha mão por trás, eu mal cruzei a roleta. E me virando vejo uma garota do cursinho, dezessete anos, frequentávamos as mesmas aulas da quarta. Não lembrei seu nome, ela levava um caderno nas mãos. Acenei com a cabeça agradecendo, e ela se afastou, não ia subir, apenas assistia atentamente. O motorista acelerou enquanto sentei na cadeira da janela. O vento, sem fuligem, entrando e esfriando a pele. A contemplação da cidade. Não sei explicar. Ver o movimento acelerado, simultâneo e frenético das formas é demais, de dentro das luzes de um ônibus então... É fastástico – e único. Gente que vaga por vagar tá entendendo. Até o tremido da lataria é uma impressão diferentemente boa. Só não compreendo por que das arrancadas. É impossível sair ileso delas, e se for seguindo em pé é pior, e lotado... Uma vez vi uma velha arremessada no fundo. É horrível mas enfim.
Até a hora de abrir brilhantemente o caderno, avistei o topo escuro de um prédio em construção no centro. Os tijolos na escuridão erguiam, estimei, quinze andares. Construíam vários prédios por ali, estabelecimentos comerciais e uma igreja evangélica. Eu li um nome que não era meu no verso da capa, senti alguém me observando. Cruzávamos a avenida ao lado do edifício específico e alguém me toca chamando no banco detrás.
– Você deixou cair – e ergueu minha carteira preta. Engraçado. Ele encarou meio que sorrindo, e desviou. Esse eu conhecia o nome. Vou dizendo sem demora: é ele, ponto final. Entendeu? Do início que bati frente a frente ao toque mão com mão foi ele. E o nome que li era ele. Aí o coração pulsou instantaneamente, o frio na barriga, a ideia de sei lá, fazer o quê?
– Uma menina me entregou achando que fosse você – e passei o caderno, ele segurou.
Gosto do jeito que visualiza algo, perplexidão calma.
– Valeu.
Ele tinha músculo, cabelo preto, pele branca. Dezenove anos. Usava calção carregando um casaco sobre os ombros. O nome tá por aí. E voltei ao momento de voltar à posição e permanecer pensando, só pensando porque é difícil passar disso. Mas ele quer, que eu sei. Sem mais fantasia nesses últimos dias. Estávamos no coletivo parado ao lado do prédio escurecido e eu arriscando fui levantando e passando pelo corredor. Queria um contato visual, um contato de intenções – aí percebi que ele já havia descido no ponto. Eu desci também. Girei a cabeça em várias direções e só via carros no asfalto, trânsito de buzinas e um viaduto adiante. Retornou a sensação de vigiado. Alguém tateou minha mão.
– Vem cá – ele.
Queria que visse a imagem que eu vi. É complicado descrever mas é assim: a parada verde do ônibus, uma avenida urbana transitada, semáforos, árvores pontuais nas calçadas, o prédio construído no escuro, infinitos prédios alinhados, as divisões de metal bloqueando o acesso do edifício em andamento, ele concordando comigo.
– Vem – e apertou minha mão. Por uma entrada descoberta me puxou até o interior da construção totalmente vazia. Me encostou numa pilastra de cimento. Tinha valas abertas e vigas no espaço. Vi bem o seu rosto, assim, perplexamente calmo, e por trás havia o clarão da avenida e do trânsito – daí ele me deu um beijo. Fazia tempo que beijar fosse tão bom. Se aproximando abriu espaço entre as minhas pernas e que havia um encaixe havia. Sem descrições sobre cheiro ou isso vira romance de trezentas páginas. Não sei nem o que dizer. Capturar isso é irrealizável, talvez castigável. Importa? Só sei que nada sei ou consigo escrevendo, tô tentando, apenas. Ele enfiava os braços dentro da minha calça, eu segurava a dele, um ruído estrondoso veio da entrada.
Novamente apertou minha mão.
– Bora subir.
Enxergar do ônibus o prédio é uma coisa. Ver do prédio o ônibus é inteiramente diferente – e imensamente melhor, notei. Andávamos no empoeirado do concreto do piso, sem refino ou mármore algum, a estrutura basicamente nua. Ele já foi tirando a camisa, jogando próximo à abertura na parede, um janelão sem vidraça. Pressentimento de ser observado. O nono andar era uma penumbra por dentro, réstias de luz projetavam minúsculos círculos luminosos no fundo. Ele desabotou o calção, retirou a cueca e afastou com as pernas. Vi tudo através da claridade fraca. Veio me recostando contra a parede, pegou minha mão, aproximou-a. Duro. Largando meu pulso fiz o que fiz e agarrei, massageei no início, ele segurando meus braços de frente, excitado, acelerei, ele já ofegando, bulinei com a outra mão e de repente se espremeu, largou gozando, melou minha camisa e debaixo a barriga.
– Sua vez.
Quando reparei havia retirado do bolso do calção, da carteira no bolso do calção uma camisinha. Já me dando na mão foi até o parapeito do janelão.
– Pode vir – eu fui.
É meio injusto descrever – que ele nunca leia isso – mas a bunda dele é obra divina. É redonda e grande, pelos levemente distribuídos, e pernas cheias que excitam qualquer um. Gosto especialmente do dorso, das costas largas que afinam na cintura e encaixam maestralmente na bunda carnuda, empinada – água na boca. Ele apoiu os cotovelos no parapeito, levemente girou perplexamente calmo e vi meio de lado que queria. Cheguei perto. Descendo as calças abri com os dentes a camisinha, posicionei, cuspi num dedo e num toque giratório lubrifiquei, gemeu baixinho entre dentes. Soltou ar de dor e fui aproximando até encostar e vagarosamente, em movimento circulares, penetrei, ele apertado demais, agarrado à beira do janelão, ia e vinha, cima baixo, gania um pouco, mas eu vi que gostava, ele se jogava contra, segurava minhas costas.
– Mais forte – e eu agarrei sua cintura acelerando, elevei o vigor, até o fim, sentindo dilatar e pulsar quente, ele gostava e pedia mais, perplexo, fazendo cara de dor, a cidade iluminada diante de nós, a impressão de observado – e quando gozei ele gozou pela segunda vez. Escorreram algumas gotas, limpei, ele se virou olhando e passando os dedos.
CONTINUA