O mês de novembro estava acabando e fazia duas semanas que Ricardo tinha ido a boate. Eu tentei não pensar nele durante esses dias foi em vão, mas já havia perdido as esperanças de um novo contato.
Como sempre, acordei e fui pro trabalho. A vigilância sanitária ia fazer uma inspeção na boate e eu como gerente tinha que estar lá.
Cheguei e fiquei pelo bar, me sentei e fiquei organizando uma papelada. O rapaz da vigilância chegou e mostrei a boate pra ele.
Estava tudo perfeito, como ele mesmo disse. Ficamos conversando um pouco e ele foi embora.
Já era horário de almoço e pedi ao restaurante que me entregasse uma marmitex. Almocei e fui pro meu escritório. Deitei no sofá e fiquei ressonando.
Meu assistênte chegou e me acordou, eu estava cansado e pedi a ele que fosse ao banco fazer alguns depósitos.
– mais alguma coisa além dos depósitos Edu?
– passa na contabilidade e entrega esses papéis. O contador sabe do que se trata.
– tudo bem então.
Assim que ele saiu o telefone tocou.
– alô?
– oi, eu poderia falar com o Eduardo?
– é ele, quem fala?
– oi Edu, é o Ricardo. Ta lembrado?
Respirei fundo e de forma aliviada. Confesso que sorri pra mim mesmo. Era como se meu dia ganhasse cor.
– sim, claro que me lembro. Como você está?
– estou bem, e você?
– tudo bem também. Então, o que seu amigo resolveu?
– pois bem, eu queria te pedir desculpas por ter demorado a ligar. Essa semana eu tive prova na faculdade e o Leandro também. Enfim, ele decidiu que a despedida será aí. Você acha que dá pra organizar pra quarta que vêm?
– que bom que ele aceitou e não precisa se desculpar. Bem, pra semana que vêm está tranquilo. Você me passa por telefone a relação de tudo e eu mesmo organizo, pode ser?
– sim, mas você se importa se eu falar com você pessoalmente? Eu acho melhor, sei lá.
Senhor, não faz isso comigo. Eu estava feliz por ter a chance de falar com ele de novo, mas eu não podia criar espectativas.
– pode ser. Eu estou aqui a semana toda, me avise quando vir.
– que bom. Tudo bem então, eu ligo te avisando. Obrigado pela atenção Edu.
– imagina, eu estou a sua disposição. Se precisar de qualquer coisa, é só ligar.
– eu ligo sim, até.
– até Rico.
Rico, Rico,Rico. Era o nome que ficou ecoando na minha cabeça durante a tarde toda. Não era possível, eu não parava de pensar nele e pensar na diferença de idade, como se pudesse rolar alguma coisa. Afastei o Ricardo da minha cabeça e enfiei a cara no trabalho. Meu assistente chegou e terminamos o espediente.
Antes de fechar a boate o telefone tocou. Eu pensei em não atender, mas podia ser o algum fornecedor. Eu havia feito o pedido de algumas bebidas e estava esperando a entrega. Atendi e fiquei supreso.
– Eduardo, pode falar.
– oi Edu, desculpa te incomodar, é o Ricardo.
– oi Rico, não é incômodo algum. Pode falar.
– eu posso ir aí pra gente conversar?
– agora?
– sim, se não for incomodar é claro.
– então, eu já fechei meu espediente aqui e estou indo pra casa.
– hum, poxa.
– seus pais estão viajando ainda?
– não, estão em casa já.
– olha, meu prédio fica a duas quadras da boate, é bem pertinho. Se você quiser, a gente pode conversar lá.
– eu não vou te atrapalhar? Seu companheiro não vai se importar?
– rsrs, não vai me atrapalhar não. E eu sou solteiro.
– tudo bem então. Me passa seu endereço, lá pelas oito eu chego.
Passei o endereço e não seria difícil ele achar.
Desligamos e eu fui correndo pra casa, literalmente. Como eu morava perto, eu nunca ia de carro. Cheguei e fui direto pra cozinha lavar a louça. Não tinha muita coisa pra lavar, mas não me custava nada deixar tudo arrumadinho.
Guardei umas roupas no closet e fui tomar um banho. Coloquei na água fria e deixei a água correr sobre minhas costas. Era evidente minha ansiedade. Eu comecei a prestar atenção em mim e notei que nunca em toda minha vida havia tão preocupado em receber alguém em meu apartamento. Se fosse outra ocasião, eu nem teria me dado trabalho de lavar a louça e arrumar tudo. Eu levava o cara pro ap, fodia como queria e mandava o cara embora, simples assim.
Muitos dos caras que levei pro ap, nunca mais voltaram. Era foda de uma noite só. Nunca quis saber de compromisso, namoro então, nem pensar. Sempre foram só ficadas.
Fiquei relaxando no banho e esfriando a cabeça e perdi a noção do tempo. Já era sete e meia. Fui pro quarto e me vesti de forma confortável. Camisa regata, short e chinelo.
Fiz alguns aperitivos e deixei na geladeira. Tinha cerveja, mas nem me dei o trabalho de colocar gelar, cerveja não. Cerveja não seria legal e ele não tinha cara de quem bebia cerveja. Optei em oferecer a ele – vinho.
Terminei de ajeitar tudo e liguei a tv.
Meu interfone tocou e mais que depressa corri atender. Era ele, era o Rico. Pedi ao porteiro que o deixasse subir.
Fiquei no corredor esperando ele chegar e senti minhas mãos suando. Eu realmente estava nervoso com a presença do tal garoto. Sim, garoto. A nossa diferença de idade era considerável, onze anos pra ser mais exato.
O elevador parou e o recebi com um sorriso.
– demorei?
– imagina. Entra.
Ele estava lindo. Um garoto lindo com um sorrido largo. Um garoto lindo com jeito de homem. Era como eu o via.
– senta. Quer beber alguma coisa?
– pode ser água, obrigado.
Fui até a cozinha e servi a ele um copo generoso de água. Eu me senti tenso, mas ao mesmo tempo feliz. Era como se eu tivesse ganho um presente.
– aqui Rico. Se quiser mais alguma coisa, é só pedir.
– obrigado Edu. Olha, eu trouxe aqui a ideia da decoração, é simples, nada extravagante rsrs. E olha que ele é bem extravagante, mas o Rafael é mais contido, então equilibra um pouco.
– haha, eu sei bem como é isso. Deixa eu dar uma olhada.
Enquanto eu olhava umas imagens que ele havia separado, a gente foi conversando. Incrível era olhar pra ele e sentir uma sensação estranha. Uma sensação de bem querer e era como se nos conhecesse a anos. Ele me passou tudo que o amigo queria e eu fui dando dicas do que seria legal fazer ou não. Demos uma pausa no assunto despedida.
– você tem pressa em voltar pra casa?
– quer que vá? Desculpa, é que eu comecei a conversar contigo e...desculpa.
– ei, calma. Eu não estou te mandando embora. Imagina. Eu só perguntei porque queria te convidar pra comer alguma coisa. Eu confesso que por ser final de més, estou com os armários vazios. Mas eu estava pensando em pedir uma pizza. Então, fica?
Ele pensou um pouco e fez graça, como se fosse recusar. Entrei na brincadeira e me joalhei praticamente implorando.
– hahah, me pedindo assim com tanto carinho eu fico.
– rsrs, que bom. Fica a vontade, vou no meu quarto ligar.
– olha, não me deixe muito a vontade, esse é meu defeito, me sentir muito a vontade na casa de alguém.
– não por isso, mi casa é su casa. Eu tenho alguns livros, cds e dvds naquela estante, se quiser – pode mexer em tudo rsrs. Já volto.
Fui no meu quarto pedir a pizza e me sentia bem com a presença do Ricardo em casa. Pra falar a verdade eu estava me sentindo muito bem.
– Edu? – ele gritou.
– diga.
– se importa se for aí?
– não.
Ele veio até o quarto e eu ainda pedia a pizza. Pedi a ele que escolhesse um sabor. Fiz sinal pra ele se sentar.
Ele sentou numa cadeira bem na minha frente. Enquanto eu fazia o pedido, nossos olhares se cruzavam e eu disfarçava meu nervosismo sorrindo de forma cordial.
– pronto. Agora é só esperar.
– olha, eu achei esse cd do Go-Go Dolls, posso ouvir? Adoro essa banda.
– claro, pode sim. Mas eu só tenho som aqui. Tem problema?
– Não. Alí, achei o som. Vou colocar. Sabe, a música Iris é a minha preferida.
– minha também. É tema do Filme Cidade dos Anjos.
– isso mesmo. Eu adoro esse filme, é triste e romântico ao mesmo tempo.
– é meu filme favorito. Sente aqui na cama. Vou lá pegar alguns dvds, a gente pode assistir comendo pizza.
– já te avisei, não me deixe muito a vontade. Vou começar a abusar de você.
– haha, pode abusar. Vou lá pegar.
Aproveitei e peguei na geladeira os aperitivos que eu tinha feito e uns dvds. Voltei no quarto e ele estava deitado de lado, apoiado nos cotovelos. Senti meu corpo vibrar e meu coração se aqueceu de uma forma que eu jamais senti.
– aqui. Peguei esses, são os que eu gosto mais e tem esses que eu ainda não assisti. Ah, trouxe uns aperitivos até a pizza chegar.
– nossa, quanta coisa. Devia ter me chamado pra te ajudar.
– não precisava. Fique a vontade.
Me sentei na cabeceira da cama e enquanto ele olhava os dvds, eu o admirava.
Ricardo era um pouco mais baixo, devia ter 1,70. Um corpo bem trabalhado, tinha jeito que malhava.
– esse filme eu nunca assisti.
– esse é bom, mas tem esse aqui também. O que você escolher ta bom.
– qual a tua idade Edu?
– tenho trinta e três.
– não parece. Te dava no máxino 27.
– haha, valeu. Ganhei meu dia hoje.
– rsrs. Desculpa a pergunta, mas ta solteito por opção?
– digamos que sim. Pra falar a verdade, eu nunca me apaixonei por ninguém. Foram só ficadas e eu não sou muito de me apegar, mas sempre tem uma primeira vez né? – sorri e ele se ajeitou na cama.
– sim, sempre tem. Eu namorei uma rapaz no começo do ano mas não deu muito certo. Pra falar a verdade a gente já começou errado. Eu o conheci pela internet e isso não dá certo.
– mas chegou a se apaixonar?
– não. Eu gostava dele, sabe? Mas sei lá, com o tempo o encanto foi acabando e eu decidi terminar.
– quanto tempo durou?
– rsrs, quatro meses. Foi legal e tudo. Mas o engraçado, é que ele tem a minha idade e era imaturo do que eu. Eu sei que sou novo, mas a minha cabeça é de gente com mais idade. Meu pai mesmo diz isso, que eu pareço ter mais idade do que aparento.
– talvez seja pela sua voz. É uma voz grossa, difícil de esquecer.
– é, ele fala isso mesmo.
A gente conversava e começou a tocar Iris, eu disse que ele podia se deitar se quiser e ele tirou os tênis.
Ele se sentou de frente pra mim com as pernas cruzadas e ficamos jogando conversa fora enquanto ouvianos a música.
– essa música me acalma. – ele disse fechando os olhos.
– rsrs. Eu queria muito encontrar alguém um dia.
– você é bonito, com todo respeito. Pra falar a verdade não sei como você está sozinho.
– rsrs, obrigado. Você também é bonito. Mas a vida tem dessas coisas. Eu também não me ajudo muito, sabe?
– olhando bem pra você – parece o tipo de cara que fica uma noite só, acertei?
– hahaha, é tão evidente assim?
– uhum, desculpa a sinceridade, mas eu sou bom observador.
– muito bem Sherloke, o que mais você observou?
– hum, deixa eu ver.... ah, tem um ótimo gosto pra música, mas um péssimo gosto pra escolher roupa de cama.
– você reparou na roupa de cama? Que isso, você não existe hahah.
– rsrs, minha mãe diz que isso é um defeito.
– o que? Observar?
– isso. Lógico que eu não falo pra pessoa o que eu acho. Diferente de você, até porque foi você quem pediu rsrs.
– entendo. Mas eu não acho um defeito. É seu jeito, você observa e tensa extrair o que é bom ou ruim. Digo isso pelas pessoas. Eu por exemplo, apesar de manter somente relaçõea casuais, não quer dizer que não posso levar ninguém a sério.
– isso mesmo. Apesar dos inumeros ficantes, não quer dizer que você seja um cafageste.
– hahah, bem que você me avisou. Já te dei liberdade demais.
Fiz um charme como se tivesse ficado chateado e ele ficou sem graça.
– desculpa, eu não quis te ofender. Eu já falei demais e nem tenho intimidade pra isso.
– não me ofendeu, fique tranquilo. E a questão da intimidade, considere–se intimo. Qualquer um que entra no meu quarto e se senta do jeito que você está sentado, é mais intimo do que imagina.
– então a lista é grande rsrs.
– se 1 é um número considerável, então tire suas próprias conclusões.
– espera aí, ta me dizendo que....
– to te dizendo que eu não transo com ninguém aqui, nunca. Tem outro quarto além desse. Não é tão bem decorado quanto esse, mas tem uma cama de casal.
– fiquei sem palavras.
– rsrs, viu só. Por essa você não esperava.
Meu interfone tocou e era a pizza. Fui abri a porta e o entregador estava subindo.
Peguei a pizza, o vinho e levei pro quarto.
– vinho? Ta querendo me deixar tonto?
– vai dizer que é fraco pra bebida?
– hahah, totalmente. Mas aceito uma taça.
– sério, não precisa aceitar por mim, tem refrigerante na geladeira. Vou pegar.
Eu voltei pra cozinha e ele foi atrás de mim. Juro que minha intensão não era embebedar o garoto, mas me senti na obrigação de não força–lo a beber.
– Edu? Eu aceito o vinho, não vou beber por você. Eu quero.
– você veio como?
– de taxi.
– então eu te levo pra casa e não aceito não como resposta.
–rsrs, tudo bem. Mas volta pro quarto. Olha eu já dando ordens... hahah.
– hahah, não esquenta, você eu deixo.
Voltamos pro quarto e nos sentamos na cabeceira pra comer a pizza. Coloquei um filme pra gente assistir e servi o vinho. Ele bebia devagar, talvez por medo de perder os sentidos.
O garoto era bom de papo e muito engraçado. A pizza já estava acabando e ele na quarta taça de vinho.
– chega de vinho pra você.
– rsrs, chega mesmo. Acredita que já vejo dois de você?
– hahah, acredito. Da essa taça, vou pegar um copo. Você vai beber um pouco de refrigerante pra cortar esse alcóol.
– que isso? Vai dar um de pai agora?
– haha, não tenho idade pra ser sei pai garoto, tá maluco?
– hahah, ainda bem que não. Eu to zonzo.
– deita aí pra assistir, vou pegar refri pra você. E por favor, minha roupa de cama é feia, mas é nova. Se for vomitar, que faça no chão rsrs.
– haha, não é pra tanto. Não estou bêbado.
– que bom. Já volto.
Fui até a cozinha e enquanto eu servia o refri, ouvi ele conversando com alguém pelo celular. Eu estava confortável com toda aquela situação e por mim ele não ia embora nunca. Voltei pro quarto e ele estava deitado de barriga pra cima, mexendo no celular.
– bebe o refri, o açucar vai cortar o efeito do alcool.
– valeu. Minha mãe me ligou e queria saber onde eu estava.
– você falou o que?
– que estava aqui. Disse que estava na casa de um amigo. Ela perguntou seu nome e onde você morava, eu falei. Fiz mal?
– claro que não. Ela está certa e você também em não mentir.
– ela fica preocupada quando eu saio. Ela queria saber seu ia pra casa.
– quer que eu te leve agora?
– quer eu vá?
Quando ele perguntou senti meu corpo pegar fogo. Talvez fosse só impressão, mas penso que ele não queria ir tanto quanto eu queria que ele ficasse.
– você quer ficar? – disse me sentando na cabeçeira.
– posso ficar, Só mais um pouco pelo menos?
– rsrs, pode sim.
Ficamos assistindo e conversando. Dado momento notei um silêncio e quabdo olhei, ele cochilava. Era lindo olhar pra ele e ver seu jeito de menino no corpo de homem. Ele fazia o tipo leke. Um leke que estava dispertando em mim um sentimento que eu desconhecia, um leke que estava me fazendo mudar de um jeito que jamais eu havia pensado que seria possível.
Pensei em acordá-lo, mas desisti. Eu queria ficar olhando pra ele e tentando entender o que ele tinha de tão especial pra ocupar um lugar que mais ninguém havia ocupado além de mim– minha cama.
Olhando pra ele daquele jeito, fiquei imaginado como seria se o beijasse. Mas seria loucura de minha parte apostar tão alto. Seu cabelo cobria seus olhos e num gesto impulsivo afastei a franja de seus olhos, prendendo por trás da orelha.
Levantei e fui ao banheiro escovar os dentes e lavar o rosto. O sono bateu-me como como uma onda. Mas eu tinha que levar o garoto pra casa. Voltei pro quarto e ele havia se virado de lado. Seu sono estava pesado e coçei a cabeça preocupado.
Tirei minha roupa e desliguei o dvd. Fiquei apenas de boxe e peguei seu celular. Na agenda olhei seus contatos e tinha "Mãe". Sorte a minha, pensei – já que não sabia o nome da mãe do Ricardo.
Mandei uma mensagem dizendo que ele ia dormir na casa do amigo e que de manhã o tal amigo o levaria pra casa.
Ela respondeu dizendo boa noite e respondi dizendo o mesmo. Coloquei o celular do Rico no silêncioso e fui trancar a porta da sala.
Voltei pro quarto e tirei seus tênis. Peguei uma manta fininha e o cobri.
Fui pro outro quarto e nem acreditava no tinha feito. Eu poderia ter levado ele embora, mas não o fiz. Sosseguei meus pensamentos e afastei a idéia que ele estava dormindo no meu quarto, fechei os olhos e dormiContinua.....
Obrigado pelos comentários e pela atenção...abrços.