Fiz uma cara de surpresa surreal, minha mente sofreu uma implosão de pensamentos, meus olhos estavam mais uma vez conectados aos olhos de Gabriel, e aquilo tinha sido da forma que eu menos esperava na vida. Não consegui dizer nada, nem queria, ele olhava para mim também com o mesmo espanto no olhar, segurando molemente os pratos com os camarões empanados.
- Não vai servir não? Perguntou rispidamente meu pai, cortando a nossa conexão mágica.
- S-sim senhor. Disse Gabriel com a voz embargada, ainda assim muito linda.
Eu estava em silêncio, minha mãe olhava seriamente para mim, com certeza ela tinha percebido! Eu não conseguia pensar no que dizer, no que fazer. O prato foi servido e Gabriel se retirou tão silenciosamente como chegou. Meu pai opinou:
- Qual é o problema desse Garoto? Disse apontando para o Gabriel.
- Não sei talvez ele tenha se apaixonado. Minha mãe disse isso e riu como se isso fosse à coisa mais absurda do mundo, painho a acompanhou, eu apenas desejava que fosse verdade.
- Não, não, nosso filho é homem. E as namoradas Pedro, por que você não trás elas lá para casa?
- Eu não gosto de namorar em casa... (eu não gostava era de namorar com meninas)
A minha vontade era de dizer que eu não tinha namorada! Que eu não gostava de namorar mulheres! Será que nenhum deles percebera que eu era gay? Será que eles apenas fingiam que não via do que o filho gostava? Eu não disse mais nada naquela noite.
Meu pai conversava sempre sobre os mesmos assuntos, sócios, funcionários, meu futuro brilhante como médico ou advogado, de como o calor de Natal era infernal, e minha mãe sempre reclamava que ele nunca estava em casa... Era sempre assim, até mesmo nos restaurantes.
“Você não precisa ser advogado de bandido”, “salvar vidas (alguém precisava salva é a minha) é uma profissão nobre, e que dá muito dinheiro hoje em dia” era o que ele sempre dizia. Gabriel ainda nos serviu o prato principal e a sobremesa, em todas as ocasiões que ele veio nos servir não olhou para mim, eu fitava-o com o canto dos olhos quando ele se retirava, ele tinha uma bunda muito massa.
Quando o jantar finalmente tinha acabado eu peguei uma caneta que sempre estava no meu bolso e escrevi em um nota de dez reais, que seria a gorjeta de Gabriel. “Entre no Orkut” Depositei sobre a mesa quando meus pais já estava se retirando do restaurante, agora era só esperar.
Segunda-feira veio com as provas das matérias que eu menos gostava Matemática, Química e Física, eu era ótimo em física, mas em Matemática e Química eu era da pior espécie. Falei a Luan que vi o Gabriel no restaurante, contei a ele toda essa história mais uma vez. Luan era heterossexual. Era também magro, alto e muito branco, um típico nerd.
Quando cheguei do cursinho à noite fui direto para o meu quarto, pedi à mainha que fizesse algumas torradas para mim. Abri o msn e vi que havia um e-mail em minha caixa de mensagens, pensei que fosse mais um desses spams, mesmo assim decidi olhar a mensagem. E para minha total alegria era de Gabriel.
(Ele não escrevia bem, via-se que ele não tinha costume de ler ou escrever, nem mesmo de estudar, mas vou transcrever da melhor forma o e-mail que ele me mandou).
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Temos que nos ver de novo pow
Naquele dia eu estava muito triste pow, muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo, é foda... Tinha acabado de brigar com minha boy (exclamei um PEGA PORRA!!! interno nesse momento) e tinha batido com o carro da minha mãe. Eu nunca tinha chorado como daquele jeito, foi foda. Fiquei muito encabulado de chorar na tua frente, meu pai diz que homens não devem chorar, eu sempre acreditei que chorar fosse algo para viados.
Eu não aguento mais a pressão que os garotos lá da escola fazem em cima de mim, eu sempre tenho que ser o bam bam bam. Minha mãe está pensando em me colocar em uma escola pública, mesmo estando no fim do primeiro bimestre. Hei galado queria falar de novo com esse homem, foi massa demais conversar com tu, show de bola. Te add no msn já.
Vlw aew, arrochando muito as doidinhas?
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Eu estava demasiado feliz, não agüentava ficar parado tamanha era a felicidade. Estava me tremendo de excitação, ele tinha falado comigo, tinha respondido minha mensagem no Orkut. Parecia que a idéia de mandá-lo entrar no Orkut tinha dado certo. Agora eu tinha que arquitetar o que parecia ser o melhor encontro da minha vida. E este prometia muitas emoções...
Meus sonhos tinham se concretizado, finalmente eu ia ter meu digno reencontro com o Gabriel. Eu não me questionava o porquê daquele romance está acontecendo de forma tão repentina, apenas aproveitava aquele momento. Lembrei de uma frase de Morte, de Neil Gaiman. Morte dizia o seguinte: “(...) São os momentos que iluminam tudo, o tempo que você não nota que está passando, é isso que faz todo o resto valer”. O meu segundo encontro com Gabriel deveria ser um desses momentos que a gente não ver o tempo passar, tinham que ser pau!
Marquei de encontrá-lo no próximo sábado, na praça de alimentação do Natal Shopping. Marquei somente no sábado, pois minhas provas estavam me deixando muito cansado. Olhei mais uma vez o Orkut de Gabriel, peguei todas as suas fotos e gravei no meu computador. As legendas que eu editei em suas fotos no meu PC diziam abertamente que eu estava apaixonado por ele. Mal sabia eu que ter feito isso foi uma das piores burradas da minha vida...
A semana foi comprida, muito estudo e ralação para tirar boas notas. Era fim de tarde, eu já tinha terminado a prova, estava andando sozinho num dos corredores da escola, eu era a única alma viva naquele corredor. Quando eu estava passando perto do banheiro feminino vejo sair dali uma figura que eu definitivamente não queria nem ver, era Cristiane, mas conhecida como “Quenga aprendiz”.
Ela já sabia quem era a peça rara, a escola inteira sabia que ela transava com tudo e com todos, fazia de tudo na hora H e era muito malhada dentro da escola, e para piorar, tinha um namorado que morria de ciúme e vivia brigando com os meninos que curtiam com ela. E o pior de tudo dessa “arrumação” é que ela tinha justamente ficado claramente afim de mim.
- Oiêêê. Disse ela com sua voz mais que irritante.
- Oi. Falei sem transmitir nenhuma emoção na voz.
- Como você está em gatinho? Ela alisou o meu peito (Uma vez ela passou a mão nos peitos de todos os garotos que estavam em um corredor).
- Tô bem que só, e você?
Ela foi conversando “lezera” comigo pelo corredor, sempre abraçada comigo, eu tinha que agüentar aquilo?! Lá na escola quem não curtisse com a Cris era chamado de “fresco” e eu não queria ser chamado de viado na escola, por isso tinha que agüentar aquela menina atentando meu juízo. Ela conversava muita abobrinha, e estava me apertando demais, minha vontade era de dá um empurrão nela, mas tinha que prender esse desejo dentro de mim. “Seria até bom derruba-la no chão”
De repente surge de um corredor lateral a “Rádio patroa”, um trio constituído por duas meninas e uma bichinha que sabia de todos os BFs da escola (Babados Fortes). Ninguém gostava delas, mas as pessoas adoravam ouvir historias da vida alheia, não é mesmo?
Eu gelei de medo nesse momento, com a Rádio patroa vendo a gente abraçado daquele jeito com certeza esse “babado” ia se espalhar para a escola todinha, eu só estava desejando que não caísse na boca do chifrudo, ops, quer dizer, namorado da Cris. Perto da saída da escola, mesmo com algumas pessoas vendo a gente ela me deu um sonoro beijo na bochecha, e levantou a perna esquerda. A vontade que eu tinha era de derrubá-la com uma rasteira.
Dificilmente meu pai vinha me pegar no final da aula, por isso eu tinha que caminhar uns quinze minutos até a parada do ônibus que eu usava para ir pra casa, mas naquele dia eu vi uma 4x4 igualzinha à do meu pai fora da escola. “Ele veio me pegar” pensei. Quando cheguei próximo ao carro e abro a porta não era meu pai quem estava ali dentro, mas sim um outro homem.
Ele era alto, moreno clarinho, cabelos nos ombros e usava uma roupa social, parecia ser bem de vida, tinha um rosto mais saudável que bonito.
- Desculpa senhor, pensei que fosse o carro do meu pai. Eu disse isso muito encabulado.
- Problema não pow. Ele sorriu para min. Seu sorriso era bonito, aconchegante até.
- Tudo bem, desculpa mais uma vez o engano. Eu estava vermelho de vergonha.
Ele riu e falou que não havia importância. Fechei rapidamente a porta do seu carro e fui andando para casa, “claro que painho não viria me pegar” falei pelo canto da boca. Andei algumas quadras, as ruas estavam desertas, o céu estava muito bonito, o vento soprava gostoso. Eu adorava quando o dia estava assim, era de uma paz sem igual. Eu estava pensando no Gabriel nesse momento.
O meu devaneio foi cortado quando rapidamente dois garotos passam muito próximo à min em duas pequenas bicicletas (pintas adoram essas bicicletas baixas e pequenas). Eles se trajavam como típicos pintas, eram feios e fortes. Os dois deram meia volta e pararam as bikes na minha frente, para minha surpresa (e medo) um deles era o namorado da Cris.
ContinuaSei que esse ficou meio longo, mas não dava pra parar na metade, enfim, espero que gostem.