Não posso responder sua pergunta Junnior, se não estrago a surpresa! Mas relaxa, já esta quase no final :D Já foi mais que a metade da história.
Vamos ao conto!
__________________________
Chorei até ficar exausto, e eu alcançava esse estado muito rapidamente desde que estava naquele hospital mais uma vez. Dormir novamente. Sonos sem sonhos.
Acordei apreensivo, não sabia por quanto tempo tinha dormido, não fazia diferença. Olhei para o quarto, minha mãe estava lá. Me senti melhor, percebi que estava melhor.
- Você está bem meu filho?
- Sim. Respondi fracamente.
Ela começou a chorar. Eu sorri, mesmo sem sentir nenhuma vontade de sorri. A história que o André me contou ainda estava na minha mente. Ela me abraçou e disse que eu ficaria bem. Imediatamente eu perguntei:
- E o Gabriel, ele vai ficar bem?
Ela ficou calada.
- Por favor, mãe me conte, eu preciso saber. Meus olhos se encheram de água.
- Ele vai ficar bem - Disse ela muito pouco convincente, e mudou de assunto – Você sai daqui a três dias, sua recuperação foi boa.
- Mas eu quero saber do Gabriel mãe.
Ela ficou calada.
No ultimo dia de estada no hospital Augusto, Saulo, Ricardo, Fabrício e Luan apareceram em meu quarto. Eles chegaram trazendo uma animação que eu não via há muito tempo. Depois de um tempo onde a gente se abraçou muito, riu um pouco e papeamos muito uma enfermeira particularmente bela mandou com que eles saíssem do quarto. Eu relutei, mas ela parecia ser uma mulher de fibra.
A visita dos meus amigos me animou bastante. Fabrício como sempre contou muitas piadas para todos, Augusto sempre procurando em elevar minha auto-estima, Saulo sempre fazendo carinho em mim, Luan era o mais tímido, não falava muito, era da natureza dele e Ricardo dizia que eu ainda teria muito tempo junto ao Gabriel e que se eu mudasse de idéia ainda tinha muito tempo para me descobrir um grande heterossexual (todos riram). Depois de longos abraços, palavras como “eu te amo” e trocas de carinhos eles saíram do quarto, a enfermeira bonitona já estava muito braba. Ela tinha personalidade forte.
Por fim eu sai daquele hospital, minha perna ainda dia muito, parece que um ferro tinha praticamente perfurado minha perna, era um corte razoavelmente profundo, o doutor disse que se eu não tomasse cuidado poderia voltar para terminar o tratamento daquele machucado, mas se tudo corresse bem eu poderia ficar em casa, o corte já estava cicatrizando.
Havia outros arranhões e em dois pontos meu corpo doía, mas eu podia andar (com certa dificuldade mas podia). Entretanto a ferida que mais me doía era a das palavras do André, que ficaram na minha cabeça desde que ele contou aquilo tudo. Pelo que eu tinha notado o Gabriel definitivamente não era à flor de pessoa que eu tinha imaginado.
Tentei esquecer os problemas naquela noite, eu ainda passaria uma semana sem ir a escola, infelizmente, pois eu precisava de uma rotina, eu não conseguia parar de pensar no Gabriel. No meu segundo dia em casa o André veio me visitar.
- Como você está meu amor? Disse o André após ter trancado a porta do carro.
- Estou bem. Menti.
- Eu te amo tanto sabia, não conseguia dormir pensando que algum mal pudesse te acometer enquanto tu estavas naquele quarto. Passei noites em claro, sempre ligando para sua mãe para saber como você estava.
- Obrigado. Agradeci.
- Você quer saber como está o Gabriel? – disse ele lendo os meus pensamentos – Ele está em observação. O choque foi maior na parte do carro onde ele estava, ele está com um problema na coluna, parece que ele vai ter que usar algum aparelho corretor... Se tudo ocorrer bem ele sai em uma ou duas semanas do hospital.
- Obrigado. Falei mais uma vez.
- Ninguém te falou sobre o Gabriel não foi? – perguntou o André – Ele estava muito mau, confesso, e todos tinha medo de acontecer o pior, e que você sofresse, mas ele tem melhorado muito de uns dias para cá.
- Você ainda vai continuar com a chantagem? Perguntei.
- Será melhor para você – ele abaixou a cabeça – você nunca vai entender, nunca, mas será melhor para você.
Ouve um silêncio. Depois o André me deu um selinho e foi embora. Eu voltei a chorar. Pessoas choram, meninos também.
Uma semana depois
- Como você está? Disse Luan quando nos dirigíamos para nossa sala. Os pessoais das outras turmas não paravam de me olhar, ao que me parecia a escola inteira sabia do acidente.
- Estou bem. Obrigado pela visita. Respondi.
- Gabriel está bem? Perguntou Fabrício. Agora só andávamos os três juntos naquela escola.
Contei-lhe tudo sobre o Gabriel, sobre o acidente e sobre como me sentia no hospital, mas não contei o que tinha ouvido do André.
- Tudo isso por causa do André! Disse Fabrício, que falava bem mais que Luan.
Fiquei calado.
- Num foi não por causa daquele galado? Insistiu Fabrício pejorativamente.
- Foi. Disse de forma muito cálida.
A porta da nossa sala estava aberta, quando a abro vejo varias bolas, salgados e doces em cima da mesa e um grandioso bolo com os dizeres:
“Esse é cabra macho!”
Soube logo de cara que tinha sido o Fabrício quem escolhera aquela frase. Ele adorava tudo que remetesse as raízes culturais do nordeste. Em consideração a minha recuperação não haveria aula para o 3ª B naquele dia. Eu me senti muito amando, mas o pensamento nas palavras do André não me escapavam da mente. E isso ainda me deixava triste.
Uma semana e meia depois o Gabriel sai do hospital, eu tinha ido lhe visitar duas vezes desde que sai do hospital. Em todas as vezes eles estava dormindo, em todas ele não podia me ouvir. Quando eu o vi ali todo enfaixado senti uma vontade muito grande de chorar, e assim o fiz. Tinha aprendido a não mais represar as emoções. Um enfermeiro disse:
- Um “homão” desse chorando.
- Homens também choram. Disse eu.
Quando as pessoas irão entender que as emoções não escolhem idade ou sexo?
Durante todo esse tempo eu me questionava, “será que o que o André disse era verdade?”, “será que o Gabriel tinha realmente feito aquilo para que eu pagasse a sua divida?”. Mas infelizmente ninguém poderia me responder.
Quando o Gabriel finalmente saiu do hospital eu fui visitá-lo. Ali estavam Luciana e Lucilene, a família do Gabriel esta muito feliz. E a minha também tinha ido ao hospital para acompanhar a saída do Gabriel. A minha família tinha ficado muito amiga da família do Gabriel durante a nossa estada no hospital, e eu me senti muito feliz por isso.
Quando eu vi o Gabriel ali, sorrindo para todos, meu coração se encheu de alegria, ele estava vivo. Ele andou muito devagar, e antes de abraçar a sua mãe, sua imã ou quem quer que fosse ele veio até mim, me abraçou e chorou em meus braços. Eu não sabia o que pensar. “Eu te amo” Disse ele quase que inaudivelmente.
Eu estava atônito. Ele se desvencilhou do abraço e foi abraçar a sua mãe, depois sua irmã, logo após abraçou a minha mãe e por ultimo meu pai. Todos estavam felizes, contudo eu estava confuso, continuava a amar o Gabriel, meu coração festejava de alegria por tê-lo ali novamente, mas minha mente racional dizia que o que o André tinha falado era verdade. E eu não sabia dizer se aquele “Eu te amo” era factual, ou se era uma grande mentira.
Mesmo com o Gabriel ainda um pouco debilitado a minha família e a sua organizaram um jantar na casa da Lucilene para comemorar a recuperação do Gabriel. Eu fui no carro do meu pai, acompanhado de painho e mainha, deixamos que o Gabriel e sua família comemorassem um pouco dentro do carro deles. Eu estava feliz, mas estava também confuso, tudo aquilo era demais para mim.
O meu pai tinha mudado sua opinião em relação ao Gabriel, agora ele o via como um menino cheio de possibilidades futuras, e com grande potencial de se tornar um ótimo advogado ou medico. Até onde eu sabia o Gabriel, assim como eu, não alimentava nenhuma paixão por advocacia ou medicina. Na verdade eu não sabia nem “o que ele queria ser quando crescesse”.
O assunto no carro foi o Gabriel, meu pai realmente o via como um menino com um futuro brilhante e cheio de possibilidades. Citou três ou quatro vezes sobre eu tentar educá-lo no sentindo de libertá-lo do vicio de drogas e etc. Eu apenas concordava, eu estava distante daquela conversa, ultimamente eu estava distante de tudo.
Continua...