Boys don't cry - Meninos não choram! - 29

Um conto erótico de Pedro
Categoria: Homossexual
Contém 1250 palavras
Data: 07/09/2013 09:39:11
Assuntos: Homossexual, Gay

Minha vontade era de chorar. De fugir dali, não aguentaria ouvir mais nada do Gabriel. Depois de uma ou duas horas, quando todos já dormiam e sai do prédio. Eu não tinha carro, o jeito era chamar um táxi, mas eu não poderia ir para casa naquela hora. Caminhei pelas ruas do bairro, até que fui para numa praça cheia de eucaliptos. Sentei-me em um banco, chorei feito louco, gritei para o frio da noite, para as arvores que nunca poderia dizer nada, gritei novamente, mas não obtive respostas de uma possível fada madrinha.

Eu fechei meus olhos. Desejei do fundo do meu coração que tudo aquilo fosse um pesadelo, que tudo aquilo fosse ficção, que acontecesse com outra pessoa e não comigo. Desejei que tudo aquilo acabasse ali e agora. Pedi para qualquer pessoa ou ser que realizasse aquele passe de mágica para mim, mas eu não obtive respostas.

Era o dia que o Gabriel iria embora. Havia chegado o dia da despedida. Desde o episodio ocorrido na casa da Luciana eu não tinha contatado nenhum familiar do Gabriel. Quando amanheceu peguei um táxi para casa e disse ao meu pai que chegara mais sedo por um motivo qualquer. Fui para minha cama, tranquei-me no quarto, era assim que eu ficaria nos próximos meses.

Era o dia do Gabriel ir embora, e minha felicidade iria embora com ele. Luciana tinha me dito a hora do vôo. Que seria durante a tarde. Aguardei a vinda da tarde contabilizando cada segundo que se arrastava nos relógios que via por ai. Cada segundo que se passava preludiava a distancia que separaria (talvez para sempre) o Gabriel de mim. E não havia nada que eu pudesse fazer para impedir isso. Eu não me alimentei naquele dia. Simplesmente eu não tinha forças para mais nada.

Peguei um táxi e fui para o aeroporto Augusto Severo. Que ficava numa cidade vizinha a capital. Cheguei lá em cima da hora da saída do Gabriel. Ele já estava quase pronto para embarcar. Eu fiquei de longe olhando aquela cena. Foi uma das sensações mais horríveis que eu já senti na minha vida. Era como encarar a personificação da desilusão amorosa, e esta sorria maliciosamente para mim.

Gabriel deu o ultimo abraço em sua mãe, chorou eu seus braços e deu o ultimo abraço em sua irmã, também chorou. Eu estava longe, não poderia ouvir o que eles estavam dizendo, apenas via aquilo tudo e chorava muito. Meu amor estava me deixando.

Foi a ultima chamada para o voo do Gabriel, ele entrou no avião e desapareceu. Com ele iam todas as alegrias da minha vida. Com ele ia todos os motivos de eu continuar vivo. Todo o calor do meu corpo desaparecia naquele momento. Eu pensei que iria morrer, mas Morte nunca vêem nos momentos em que a gente clama por ela.

O Avião decolou. E eu sai do aeroporto. Sai para enfrentar os piores meses da minha vida.

*****

“Percorra qualquer caminho no jardim de Destino e você terá que escolher, não uma, mas muitas vezes. As trilhas se bifurcam e se dividem. A cada passo que você dá nesse jardim, você faz uma escolha, e cada escolha determina rumos futuros. Contudo, ao final de toda uma vida caminhando, você poderia olhar para trás e ver apenas um caminho... ou olhar a diante e ver somente a escuridão (...)”.

Sandman, Estação das brumas, Neil Gaiman.

******

Foi uma das emoções mais fores que eu senti na minha vida. Era como se o meu Eu estivesse se partindo em dois. Meu ser tinha se erodido, uma sensação fria tinha preenchendo o espaço vazio gerado pelo buraco dentro de mim. Eu estava mal, parecia que eu sofria de uma grande doença incurável.

Caminhei furtivamente (para que Lucilene e Luciana não me vissem) e fui até banheiro. Havia uns poucos homens ali, havia também um espelho. Olhei meu reflexo. Vi um eu abatido, desesperado. Aquilo que via era um eu doente, triste e muito abatido. Eu estava desesperado, não sabia o que faria dali em diante, uma parte de mim tinha pegado um avião (odiei Santos Dumont nesse momento) e tinha se debandado para os “states”.

Algumas pessoas percebiam que eu estava triste, elas me olhavam, e depois desviavam o olhar quando via que eu as observava seriamente. Por que as pessoas se sentem tão desconfortáveis com as próprias emoções e as emoções alheias? Por que os humanos sempre procuram reprimir as emoções, para parecerem pessoas normais? Eu estava desesperado, e naquele momento não havia tempo para filosofias.

Os acontecimentos futuros da nossa vida muitas vezes dependem das nossas escolhas. Eu poderia ter visto o Gabriel naquela madrugada na passarela e o deixado sem ao menos trocar palavra com ele, eu poderia rir dele, eu poderia atravessar a rua e não a passarela, eu poderia não ter saído de casa... Eu poderia escolher vários caminhos, mas foi o que eu escolhi fazer que definiu os caminhos futuros.

Todas as escolhas que fiz me levaram a onde estou agora, foram as minhas atitudes que me trouxeram aqui, e minhas próximas atitudes me levariam a algum lugar que eu não fazia idéia de onde seria, levaria a um lugar qualquer. Você pode ver, lá no fundo dos seus olhos você pode ver um Eu que grita em desespero. Do espelho, olhando no fundo dos seus olhos, você pode ver Desespero, que também te olha profundamente. Era o que eu via naquele momento.

Fiquei ali, perdido em devaneios por um tempo indeterminado, até que julguei que Lucilene e sua filha, a irmã do meu amor distante, já teriam ido embora. Uma tristeza sem igual residia agora dentro de mim, e uma vez que a gente abre as portas para ela, ela permanecerá até que sentira desejo de ir embora, eu não sabia quando aquilo ia acontecer.

Peguei um táxi e fui embora para casa do André. A partir dali iniciar-se-ia uma nova era dentro de mim. Ele estava trabalhando naquele momento, então fiquei conversando com os empregados de sua casa, os quais tinham uma grande afinidade à minha pessoa. Liguei para o Augusto, para o Saulo, o Ricardo, o Fabrício e o Luan, para que viessem para a casa do André, eles adoravam ali, havia muitas formas de entretenimento, eu tinha todas as liberdades desejadas naquela casa, todos os empregados de lá sabia que eu namorava o André, mas a ordem era para que eles não contassem a ninguém. Eu não pretendia contar isso nunca.

Ficamos ali, a noite veio fria. Fomos para a piscina, a água estava gélida, eu gostava de estar em piscinas de águas frias quando estava triste. Conversei muito com os meus amigos, eles sempre me aconselhavam da melhor forma possível, mas somente um saberia o que se tinha passado, não que eu não confiasse nos outros, mas naquele momento meu desejo era contar os últimos acontecimentos somente para o Augusto, que tinham uma ótima mentalidade e um admirável pensamento critico.

Eles foram embora momentos antes de o André chegar. Enquanto ele não veio eu chorei na piscina, chorei olhando para o céu muito estrelado, não havia nuvens naquele dia, era um dia muito bonito. Eu chorei olhando para o céu.

Depois o André chegou e me viu na piscina, nesse momento ele tirou as roupas (ficando apenas de cueca) e mergulhou na piscina, viu que eu estava chorando, calado, e ele me abraçou, tão calado como eu estava, eu corei em seus braços. Acalentado pelo seu amor jamais correspondido.

Continua...

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