Hellen chegou junto com o namorado em casa. Fiquei um pouco receoso, pois minha casa é humilde, no subúrbio da cidade. Mas eles ficaram bem a vontade em minha residência. Convidei-os para estudar sobre o surrealismo.
Dividimos o tema em partes. Eu fiquei sobre a explicação do estilo, Juan ficou com os principais expoentes do estilo e a Hellen ficou de falar sobre Salvador Dalí e se existe surrealista brasileiro.
Depois de definidas as atividades de pesquisa, eu falei:
EU: Hellen, eu preciso de uma grande ajuda. Preciso que me ajude com um plano.
HELLEN: Claro! O que precisar.
Então contei pra ela da visita de Sávio na faculdade, do comportamento do Bira agora e da minha ideia para o pedido de desculpas. Ela amou a ideia e disse que vai me ajudar com a execução do plano.
Agora preciso falar com o Sávio. Eu não tenho o contato dele, por isso eu teria que falar com ele amanhã, mas sem o Bira perceber.
Tinha que falar com o motorista para me ajudar nesse plano doido meu.
Mas parece que tudo conspirava ao meu favor. Eu passo pelo final de linha do ônibus do meu bairro e olha que eu vejo comendo um cachorro quente? Um doce para quem pensou em Sávio! Me aproximei dele e disse:
EU: Sávio. Eu preciso falar com você.
SÁVIO: Oi Paulo. O que quer comigo?
EU: É o seguinte: eu vou perdoar o Bira, mas vou fazer isso com uma ideia doida que tive. E preciso da sua ajuda.
SÁVIO: Da minha ajuda? Pra quê?
Então contei a ele do meu plano e da minha ideia. Quando acabei de relatar, ele abriu um sorrisão e falou que toparia entrar nessa. Tudo indo melhor do que o esperado. Mas eu estava preocupado com o Bira.
EU: Sávio, como é que está o Bira?
SÁVIO: Olha Paulo, ele tá muito mal ainda. Pense que naquela viagem que você pegou para voltar pra casa, você o olhou com desprezo. Então assim que chegou aqui ele veio até mim e me abraçou e chorou muito. Cara, ele está sofrendo muito por ter errado contigo. Eu sei que foi ele que errou, mas ele está profundamente arrependido.
EU: Eu imagino... Por isso que eu quero que você o leve no sábado no local que combinamos. Para animá-lo um pouco, vou dar pelo menos um bom dia e irei olhá-los nos olhos dele amanhã. Mas lembre-se que isso é segredo. Ele não pode nem desconfiar do nosso plano. Ok?
SÁVIO: Tudo bem, vou guardar segredo. Bote o plano em prática. Agora faça-o logo, pois não gosto de ver o Bira sofrendo como ele está agora.
Me despedi do Sávio (agora com o seu telefone) e voltei pra casa para comprar algumas coisas e pedir outras para fazer o plano funcionar.
Pareço um bobo apaixonado, mas na verdade gosto da amizade do Bira. Ele é um cara legal que fez uma burrada sob efeito da bebida; ele merece ter uma segunda chance (todos merecem ter uma segunda chance).
Bom, ajudei minha vó nos afazeres domésticos e após isso fui dormir. Esse dia foi esgotante, mas este sábado (hoje é quarta) vai ser excelente. Acabei dormindo.
No dia seguinte, fiz minhas necessidades básicas, meu desjejum (ninguém usa essa palavra :-O) e fui ao ponto de ônibus pegar a linha para a faculdade.
Ele chegou e eu entrei. Então tive que entrar no personagem para não dar bandeira pro Bira. Então abaixei a cabeça, dei o dinheiro da passagem e passei sem ao menos olhar pra ele. Sentei na frente, perto do motorista. Ele falou sem produzir som "Espero que a sua ideia dê certo". Eu assenti com a cabeça.
Sávio me chamou para perto dele e disse:
SÁVIO: Se aproxime mais dele. Ele parou de chorar, mas ainda está triste.
EU: Eu sei, mas não posso dar bandeira que o perdoei agora.
SÁVIO: Tive uma ideia. Entregue esse ROV (Registro de Operação Viária, um pequeno relatório das viagens que o ônibus faz na linha em que foi designada) a ele. Ele vai perceber que fui eu que o fiz se aproximar dele e vai ficar com uma dívida de gratidão comigo.
Então vou usar isso para fazê-lo ir para o local combinado no sábado.
EU: Nossa Sávio, vocé é mais esperto do que eu pensei. Fechado!
Eu peguei o ROV da mão dele e fui andando rápido para o local em que Bira está sentado. Tento não passar nenhum sentimento no ato. Ele me olha e por um instante e um projeto de sorriso é desenhado no seu rosto. Eu coloco o papel na bancada do cobrador e sem olhar pra ele eu disse: "O motorista pediu para te entregar". Dei as costas para ele e voltei para o meu lugar.
Eu não vi como ele reagiu com esse ato. Mas mandei um torpedo pra Sávio perguntando como ele reagiu. Quando o ônibus parou numa sinaleira, ele leu o texto e respondeu. Eu recebi a mensagem dizendo que ele sorriu quando eu me aproximava dele e quando eu dei o ROV e voltei pro lugar, o sorriso se desfez e que ele tentou me segurar, mas parou no ar, voltando para o clima triste que estava antes da cena.
Soltei no ponto da faculdade e entrei no prédio. Mal chego na cantina encontro Hellen, Juan e Michal me esperando, assim como tinha combinado por torpedo