Como Chamas 3x04: VAMOS DAR O FORA!
Eu estava sentado no banco de trás do carros dos meus pais na porta da empresa deles. Desliguei os fones de ouvido e me abaixei, esperando minha mãe voltar para me levar para casa.
- Ele estava totalmente equivocado hoje. Disse a voz de um homem perto de mim.
Me estiquei um pouco e vi dois homens engravatados parados no portão atras de mim.
- Ouvi dizer que está tendo problemas com o filho. Falou o outro que era mais gordinho.
O magro riu e respondeu:
- O filho dele é frutinha e parece que além de bixa, também anda com problemas com a policia.
- Que coisa ne. Um pai tão viril e um filho desviado.
- Prova de que o dinheiro não compra tudo.
Fechei os olhos e respirei fundo. Já era ruim o bastante que meu pai me odeie e agora as pessoas do trabalho dele estavam me criticando também? Não parecia justo, afinal, meu pai não ligava para mim. Mas pelo menos não me chutara para fora de casa. Eu meio que sentia que devia algo a ele. Afundei ainda mais no banco e esperei que aqueles homens saíssem. Minha mãe voltou para o carro e começou a dirigir, quando estávamos em distancia segura, eu disse:
- Como as pessoas da empresa souberam sobre mim? Perguntei me levantando.
- Bem, digamos que nossos vizinhos não sejam do tipo que guardam segredos.
- Que vizinhos?
- Os pais de Jordan. Disseram para todos que você corrompeu o filho deles.
Suspirei, me sentindo triste. Eu me aceitava e me amava, afinal, eu nunca iria mudar, mas não queria que meus pais tivessem que agüentar certas coisas por mim.
- Vocês estão juntos? Minha mãe perguntou.
- Não. Somos apenas amigos.
- Mas sabe, ele é bem bonito.
- Ele é legal mãe, mas parece que sou complicado demais para ele.
Apoiei minha cabeça na janela, pensando. Queria que houvesse algum jeito de compensar meus pais. Afinal, não era culpa de ninguém que eu fosse gay, mas mesmo assim eu me sentia culpado. Meus pais sempre deram tudo o que eu pedi, não me custava nada tentar repara-los.
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Eu cheguei cedo da escola naquela mesma noite. Deixei a mochila no pé da escada e fui direto para o escritório.
Estava vazio, mas eu sabia que meu viria aqui a qualquer momento, ele tinha o habito de sempre trabalhar um pouco a noite. Fui até a mesa e olhei os porta retratos.
Havia uma foto dele com minha mãe, outra de Nick junto deles na varanda e uma de minha avó. Não era surpresa que não houvesse fotos minha ali. Sou o filho que ele queria esquecer.
- O que está fazendo aqui? Perguntou ele entrando no escritório.
Larguei a foto que eu segurava e me virei para ele. Aquela seria uma conversa complicada.
- Eu fui até sua empresa hoje.
- Sua mãe me disse.
- E eu ouvi esses dois homens conversando sobre... Bem, sobre mim. E eu queria me desculpar. Eu falei segurando o choro.
Meu pai se sentou em sua cadeira e olhou para mim.
- Se desculpar pelo o que?
- Por tudo. Sei que tem tido dias difíceis por minha causa.
- Não se preocupe, não foi você que contou para todos a aberração que você é.
Eu não podia ouvir aquela palavra que eu era levado direto para muitas lembranças terríveis. Felipe e seu pai já haviam me dito isso também.
- Tem alguma coisa que posso fazer para compensar isso? Perguntei, me encolhendo cada vez mais.
- Como assim?
- Você sempre diz que tudo tem solução. Conseguiu até um filho melhor do que eu para apresentar para os seus amigos.
Meu pai pareceu pensativo. Ele era igual a meu Avó. Ele faleceu no ano passado, mas havia deixado claro que não queria que eu fosse visita-lo no hospital. Eu era seu primeiro neto e também sua primeira decepção.
- Não é como se você pudesse se mudar para bem longe de mim com seus problemas, então não, não a nada que possamos fazer.
Aquilo me pegou de jeito. Então era isso, meu pai me queria fora totalmente de sua vida, só não havia me expulsado por que eu não tinha idade para me virar. Pois bem, se ele me queria fora, ele nunca mais teria que me ver.
- Obrigado por tudo, pai. Falei. Ele nem mesmo se deu ao trabalho de olhar para mim ou responder.
Sai do escritório e corri para o meu quarto. Peguei duas malas de viagem que eu tinha e comecei a encher com todas as minhas roupas. Assim que terminei, troquei de roupa e fui a procura de mim.
Ela estava sentada na varanda lendo um livro, me aproximei devagar e a abracei.
- Obrigado e desculpa, por tudo.
- Tudo bem, filho? Ela me perguntou.
- Tudo sim, é que eu acho que nunca te agradeci por nada.
- Não precisa começar agora. Sou sua mãe.
Dei um sorriso e a apertei mais um pouco. Vou sentir sua falta eu queria dizer.
Me levantei e fui para o quarto de Nick. Ele estava deitado vendo tv, um filme aonde só havia socos e explosões.
- O que foi?
Ele se levantou e eu o abracei também.
- Você foi o melhor irmão emprestado que eu tive.
- Como fui? Dan, você pretende me matar, é?
Eu não ri, apenas o apertei mais um pouco. Nick correspondeu ao abraço.
- Quero que me prometa uma coisa. Que vai ficar com meus pais e ajuda-los em tudo que você puder. Falei.
- Prometo, mas você quer dizer o que com isso? Não estar pensando besteira estar? Vai fugir de casa?
Eu dei uma risada falsa e limpei os olhos.
- É claro que não, acha que vou largar tudo isso aqui? Eu menti.
Nick suavizou seu rosto, e sorriu. Eu sentiria uma falta terrível dele. Mas este era o certo a se fazer. Afinal, se o único sacrifício que eu podia fazer pela minha família seria partir, eu o faria.
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Bati na porta daquele apartamento asqueroso e me afastei um pouco. Havia manchas de infiltração no teto e o elevador dos anos 70 nem funcionava mais.
Mas aquela era minha única chance de conseguir um lugar para ficar a essa hora da tarde, afinal, eu precisava de uma cama aonde eu pudesse desmaiar e tentar esquecer essa confusão que estava minha vida.
O primo de John, o qual eu não conseguia lembrar o nome, abriu a porta para mim. Estava apenas de cueca, exibindo seu corpo forte e um pouco peludo de policial.
- John está aí?
- Não. Ele respondeu rapidamente. Suspirei, pronto Dan, pensei, é só falar e pedir, qualquer coisa implore de joelhos.
- Eu gostaria de saber se você não pode me alugar aquele quarto aonde ele ficava? Eu falei entrando de uma vez na sala.
Ele me olhava de cima a baixo e meu pressentimento não era muito bom sobre isso, mas tentei ignorar.
- Quantos anos você tem?
- O bastante. Falei.
- Garoto, se souberem que acolhi um menor de idade...
- Se você não contar, eu também não. E eu tenho um trabalho, só posso pagar duzentos por mês, tudo bem?
- Se lavar a lousa de vez em quando.
- Beleza.
- Então bem vindo.
Ele fechou a porta e sorriu, eu me arrastei para o quarto aonde tinha visto John. Não acredito que aquele idiota foi embora sem se despedir.
Eu não queria pensar nisso agora. A noite na delegacia estava fresca na minha mente, eu ainda tinha que descobrir mais coisas sobre o lugar para onde queriam que Violet fosse.
Mal havia chegado, já sentia uma falta terrível de casa. Mas eu não iria voltar, se sumir era a única coisa que eu podia fazer pelos meus pais, então eu o faria.