- Kauê. Você não está morto não? - Falei espantado. Só me veio a lembrança aquela noite meses atrás em que o Sam parou o carro embaixo do mangueiral e disse que ia me matar.
- Melhor a gente ir para um local mais discreto, pode ser?
- Kauê, cara. Não leva a mal, mas não dá pra confiar em você. Sei nem quem você é. Só sei que foi alguma coisa do Samuel e dele eu quero é distância.
- E se eu disse que vim te livrar do Sam de uma vez por todas, o que você me diria?
- Eu diria que continuo desconfiando e que não vou arriscar minha vida saindo a sós com você. Tá ligado?
- Tô ligado sim. - Ele deu uma risadinha afetada, ele era afeminado. - Pensei que você fosse mais corajoso. Então tá, falar que o Sam anda rondando a tua faculdade conta algum ponto para você me ouvir?
- Não tenho visto o carro dele.
- Ele tem andado em uma Saveiro.
- Hã? - Perguntei assustado.
- Essa é só uma das coisas sobre ele que você não sabe, meu lindo. Mas eu posso te ajudar nisso.
- E qual o seu objetivo? Fazer caridade?
- Não, o Samuel não sabe que estou vivo e provavelmente mandaria me matar se soubesse. Preciso pegar ele antes que ele me pegue.
- Então você quer que eu te ajude na sua vingança pessoal?
- É.
- E o que eu ganho com isso?
- Esqueci que estava falando com um viado que dá o cu por dinheiro. Não sei se você percebeu, mas eu tenho grana. Te dou uma grana para você me ajudar.
- Ótimo. - Falei sorrindo. - Vamos lá então.
Ele me guiou por umas árvores escuras até um carro, vi que era um Honda Civic, fiquei impressionado, pela forma que o Sam falou não achei que o Kauê tivesse grana.
- Poxa, você tá bem hein? - Falei elogiando o carro quando ele sentou do lado.
- Eu trabalho tá, meu lindo?
- Eu também, mas não tenho grana para ter carrão.
- Você chama o que você faz de trabalho?
- Chamo, e porque não?
- Deixa eu ver. Porque você é só um putinho que vende o corpo? Sinceramente né, Dee, dizer que você trabalha é ofender todos os bilhões de trabalhadores desse planeta. - Falou ele rindo de forma bem afetada.
Eu nunca tive nada contra afeminado, pelo contrário, adoro pegar um de jeito, estão sempre cheirosos, com a pele hidratada e são bem carinhosos. Mas o Kauê eu tinha vontade de torcer o pescoço. Mas eu dependia dele, estava mesmo com medo do Sam, então me segurei para não mandar ele ir tomar no rabo e apenas desconversei.
- Se você diz. Mas fala o que tinha para falar.
- Antes de tudo eu preciso dizer sobre minha história com o Sam. Eu sou de uma família rica...
- Eu trabalho, tá, meu lindo? - Imitei a voz dele.
- O que foi? - Indagou ele irritado.
- Você se orgulho de ser trabalhador, mas acabou de dizer que é de família rica...
- Ah, e o que você tem contra rico? Virou puto comunista agora? Meu pai trabalhou antes de mim para que eu pudesse ter o que tenho e...
- Tá bom, brother. Vamos parar com esse assunto chato. Continua sobre teu lance com o Sam.
- Tá bom. Mas para de gracinha. - Falou ele com ar irritado. - Eu tinha um primo que era usuário de drogas e conhecia o Samuel, ele me levou em uma balada e conheci ele. Ele me ofereceu carona para casa dentro da boite e eu aceitei. Acabou rolando algo entre a gente. Aquele homem grande, musculoso, com cara de mal, me apaixonei. Nos encontrávamos três vezes na semana. Comecei a pressionar ele para namorar e ele sempre se esquivando. Um dia entrei em crise porque me senti usado e tivemos uma briga grande. Então deixei escapar que tinha algo com ele na frente de capangas dele. Ele mandou um deles me levar em casa. Eu não sabia, mas tinha ordem para me apagar. No meio do caminho esse cara ligou para alguém e parece que esse alguém deu uma ordem diferente da que o Sam tinha dado. Então ele me soltou no meio da rua, disse que o Sam tinha mandado me matar e falou que se amanhecesse o dia e eu não tivesse sumido, ele iria me matar arrancando um pedaço por vez.
- Como é? Alguém deu uma ordem para não te matar?
- Sim. E o cara obedeceu.
- E você nunca foi atrás de saber quem era?
- Tá me achando com cara de louca? Só pode ser alguém mais perigoso que o Sam. Eu lá quero me meter com essa gente.
- Entendi, continua.
- Eu tenho tios no Rio Grande do Sul. E sempre adorei ir para lá. Tenho horror ao calor horrível que faz aqui. Então me mandei no dia seguinte, com ajuda da minha mãe, que simulou desespero por meu desaparecimento, acionou a polícia e tudo.
- E o Sam acha que você morreu, tipo, ele chegou a me falar de você.
- Então eu voltei há dois meses, para fazer minha vingança, quero andar tranquilo na cidade novamente e só apagando o Sam do mapa e me vingar do puto ter mandado me matar. Contratei uma pessoa para fazer o serviço e essa pessoa falou de você. Pedi para investigar e descobri que o safado estava te fodendo muito e pela cor dos olhos igual aos meus, apesar de você ser ralé, mostra que ele lembra de mim. O que significa que sua vida devia estar em risco, e acertei.
- Então apesar de eu ser um putinho você liga para a minha vida.
- Você até que é um putinho bonitinho, não tem quem diga que é um cafuçu.
- Cafuço é a rapariga da tua mãe, seu viadinho.
- Controla a língua, senão não ganha nada.
- Falando nisso, quanto vou ganhar e o que tenho que fazer?
- Você vai atrair o Sam pro cheiro do queijo. Vai levar ele para o local do abata. Ele vai sozinho porque não leva ninguém quando vai comer cu por aí.
- Sim, eu levo o Sam para o local e quem vai dar cabo dele. Você? - Perguntei ironicamente.
- Não, rapazinho. Quem vai dar cabo dele sou eu. - Falou Ferdinando acariciando uma mecha dos meus cabelos e me dando um susto enorme.
P.S: Logo mais tem outro.
Pessoal, desculpem a demora, estou dodói com um cisto que deu uma infeccionada, deu uma melhorada hoje e voltei para postar, mas só volto 100% depois de operar. Mas a história continua, conto com a compreensão de todos.