Disse que não queria ir e ele me pela primeira vez ficou nervoso.
– aff, a gente nem se vê direito e você diz que não quer me ver?
– não disse isso Rico. Disse que não vou aí, vem você pra cá.
– assim fica difícil.
– é você que está dificultando.
– E VOCÊ QUER QUE EU FAÇA O QUE?
– não fala assim comigo, não estou gritando com você. Nunca gritei, tenha respeito com a nossa relação.
– que relação?
– Ricardo, eu te amo, mas vou desligar. Quando você se acalmar amor, me liga e a gente conversa. Eu já disse, não vou a esse churrasco, quero ficar contigo, mas só nós dois.
– não quero mais discutir contigo amor. Mais tarde a gente se fala.
Ele desligou sem se despedir, mas eu sabia que era birra. Deixei ele quieto.
Eu não sabia mais o que fazer e sentia uma falta desgraçada dele. Fiquei arrasado por ele ter gritado comigo e por nada. Queria ele pra mim, queria ele comigo. Peguei uma bolsa e coloquei umas roupas dentro e decidi ir pra fazenda do meu avô, seria só três horas de viajem. Liguei pro Robson e deixei avisado que não trabalharia aquele dia, só na quinta.
Quando estava na estrada o meu celular tocou, era o Ricardo.
– oi amor.
– aonde você está?
– na estrada, indo pra fazenda do meu avô.
– e ia me contar quando?
– quando chegasse lá.
– fala sério. O Robson me ligou aqui querendo saber se tinha acontececido alguma coisa contigo, fiquei igual bobo. Porque está indo pra lá?
– você me ama? Quero que me diga do fundo do seu coração.
– Eduardo, não tem pessoa que eu ame mais nesse mundo do que você. Me desculpe por ter gritado, por ter sido um idiota e por não respeitar nossa relação. To morrendo de saudade de você. Diz que me perdoa.
– Eu não quero falar com ninguém, nem com o mano. Estou quase chegando já, me liga a noite.
– tudo bem, mas você está bem?
– estou.
– faz eu chorar não. Volta logo por favor.
– volto sim.
Cheguei a fazenda e o Administrador do meu avô veio me receber, me levou até a sede e vi meu avô fazendo ginástica.
– se não é o velho mais atlético desse mundo.
Ele se virou e abriu os braços vindo ao meu encontro.
– atlético sim, velho jamais. O que trouxe o meu neto favorito a esse fim de mundo?
– kkkkk, que fim de mundo vô? Ta doido?
– há quanto tempo heim?
– hahah, deixa de ser folgado velho, nos falamos todos os finais de semana, mas me perdoe por demorar a vir.
– te desculpo, mas vai ter que tomar uma cachaça comigo.
– sabes que não gosto de pinga, mas bebo a branquinha só pra te deixar feliz.
– por isso que te amo garoto. Venha, vamos conversar.
Deixei minha mala na sala e fomos andar pela fazenda. Me emocionei com o que via, tudo no mais absoluto cuidado.
Meu avô tinha o maior amor por aquelas terras, assim como eu e o Breno. Quando era criança levava o Breno até as baias e mostrava a ele os cavalos, contava estórias e dizia ao meu avô que queria cuidar da terra assim como ele. Tomei outro rumo na vida, mas ainda tinha o mesmo amor e respeito por todo aquele lugar.
Passamos a tarde toda conversando e bebendo cachaça, dado momento já não sentia mais o fígado kkkkk.
Na hora do jantar ele me contava cada detalhe de tudo e como andava a administração. Pediu que eu desse uma olhada em alguns documentos, jantamos e o ajudei. Sabia que ele estava preocupado se alguém estava lhe passando a perna. Tirei cópias de alguns contratos e disse que ia estudar melhor tudo aquilo. A fazenda sempre foi produtiva, além da produção de leite, soja, e ortifuite, meu avô queria produzir laranja.
– vô, posso ser indiscreto?
– seja.
– pra quem vai ficar tudo isso?
Ele me olhou e deu uma risada sacana.
– acha que não sei o seu interesse?
– vou ser sincero, tenho sim. Mas não é pelo dinheiro. Sei que se deixar isso tudo para nós quatro, o Flávio e o Sergio vão querer vender, e eu o Breno não teremos capital pra comprar a parte deles. Vô, quero continuar com tudo isso, quero cuidar dessas terras, lembra que eu sempre dizia isso? O Breno ama tudo isso tanto quanto eu, vem aqui mais que eu. Sei que estou em falta com o senhor, mas vô, não divida entra os quatro. O Breno me respeita como pai, ele sabe o quanto respeito esse lugar e não vai querer desfazer da parte dele por mim.
– filho, claro que sei que não é pelo dinheiro. Quantas vezes te ofereci ajuda e você sempre negou. Mas acha que não havia pensado nisso tudo? Queria que a fazenda ficasse na família. Meus bisnetos ainda são crianças e é outra geração, mas pensei em vocês dois logo de cara quando conversei com o meu advogado.
– não garanto que vou ter herdeiros, mas o Breno sim, ele adora crianças e sei que vai passar aos seus tudo o senhor nos ensinou. Mas é sério, fico feliz que tenha pensado em nós.
– mas enquanto eu não morro, porque não me manda logo a real e me conta o que está te incomodando? Sei que não veio aqui pra falar de herença, ainda mais você que sempre se virou sozinho.
– kkkkkkkkk, velho esperto.
– sou vivido filho. Se fosse o Sergio, eu já teria dado a ele umas cinco mil cabeças de gado e ele ainda teria ido embora reclamando. Mas é você, você nunca me pede nada, o Breno também é outro que quando vem, só sabe ficar de conversa com o Bravo. Vocês dois são os únicos que se lembram dos conselhos do seu velho.
– hahahah, ele ainda conversa com o Bravo vô?
– se conversa? Passa horas de papo com ele.
O Bravo é o touro reprodutor que tem na fazenda. O Breno adora ele e chego a pensar que realmente o bendito touro fala.
– o senhor se importa se formos dormir? Conto amanhã no café.
– tudo bem meu filho, amanhã você me conta. Seu quarto já está arrumado. Boa noite.
– boa noite vô.
Fui pro meu quarto e me deitei, depois liguei pro Ricardo.
– oi Rico.
– amorrrrrrrrrr.
– rsrs. Ta tudo bem? Não me ligou.
– to bem sim. Liguei sim.
Eu olhei no cel e realmente tinha uma chamada perdida.
– desculpa amor, eu não vi. Ta cansado, quer dormir?
– to cansado sim, mas quero falar contigo. Eu andei pensando e pra você ter ido até aí, significa que você não está bem, nós não estamos bem, não é verdade Edu?
– sim. Mas as coisas vão se resolver, vamos dar um jeito nisso.
– tenho medo.
– de quê?
– da decisão que você vai tomar.
– será a melhor pra nós dois. Independente do que for. Vou dormir. Boa noite.
– tudo bem. Boa noite amor.
Pela manhã tomamos café e saimos pela fazenda. Fomos na horta e meu avô e eu ficamos colhendo tomates com os empregados.
– não sei o que fazer vô.
– sobre o que?
– sobre meu relacionamento.
– com aquele garoto? Aquele que sua falou ser um principe de tão educado?
– hahaha, ela disse isso?
– disse. E olha que pra aquela rabugenta dizer algo assim, é porque gostou dele mesmo. Sabe, sua mãe tem o mesmo gênio ruim da sua avô, que Deus a tenha, mas também tem um coração de ouro.
– eu sei vô. Mas o Ricardo anda muito ocupado e eu também, quase não nos vemos, só nos fins de semana. Antes até que era bom, dava aquela saudade gostosa, aquele fogo, mas agora parece que está esfriando.
– você ama esse garoto?
– demais vô.
– então você já tem a resposta que precisa. Nem precisava ter vindo até aqui.
– rsrs, não vim só por isso. Vim pra agradecer pessoalmente o cheque. Só aceitei porque é um presente seu.
– dia menos dia eu teria que dividir aquele dinheiro, melhor em vida. Fez o que com ele?
– nada ainda. Mas ta na poupança.
– vô, acha mesmo que essa é a melhor solução pro meu problema?
– acho sim. E você já sabia, só não queria aceitar. Filho, a vida é curta. Não pra mim que sou jovem ainda, mas se você ama tanto esse garoto, casa logo com ele porra.
– kkkkkkkkkkkkkkkk, jovem ainda? Essa foi de rir. E o senhor anda com a boca muito suja, desde quando fala porra?
– desde o dia que a sua vô morreu. Tenho feito e falado cada coisa.
– kkkkkkkkkk, velho safado. Anda trepando por ai?
– olha o respeito moleque, mas to saindo com uma coroa aí, muito da assanhada. Tem que ver.
– rsrs, o senhor não existe. Eu precisava vir aqui, ver o senhor, conversar, e ter certeza que isso tudo será meu kkkkkkkk.
– hahahaha. Eu sei que você e o Breno vão cuidadar muito bem disso tudo.
– se não fosse o fato deles não se importarem com a fazenda, eu não pediria. Só acho um absurdo ter que se desfazer disso tudo. O que vamos fazer agora? Não aguento mais de dor nas costas.
– mas é um maricas mesmo.
– kkkkkkkk pior que sou.
– hahaha, falei sem pensar.
Depois dos tomates fomos as baias tratar os cavalos. Se o Breno tivesse junto seria uma graça vê-lo conversando com os animais. Me admira ele nunca ter tentado Medicina Veterianária, mas com um pai como o nosso, fica difícil tomar qualquer decisão sozinho. Andamos mais pela fazenda e no final da tarde resolvi ir embora.
– pensei que fosse ir amanhã.
– e ia mesmo, mas tenho planos. Com essa correria minha e do Rico, esqueci de ir atrás de outro apartamento, mas agora que decidi ter o garoto comigo, penso que não vale a pena sair de lá. Ele tem que ter um eapaço pra ele trabalhar, quero usar um dos quartos e transformar em um escritório só pra ele, assim ele vai poder ter mais privacidade.
– não disse que você já tinha a resposta pro que precisava.
– sempre soube, mas tinha medo. Caramba, e ele vive me mandando cada indireta kkkkk, eu achava engraçado, poxa, já vai fazer um ano de namoro dia.....
Eu me toquei, me lembrei que nosso aniversário de namoro seria no domingo, mesmo dia do churrasco. Por isso ele ficou tão nervoso quando disse que não ia. Como eu pude ser tão imbecil a ponto de esquecer?
Levei meu avô a sede e arrumei minhas coisas. Me despedi do meu avô e voltei pra casa. Cheguei já era oito da noite e a Juli estava me esperando.
– está fazendo o que aqui?
– não vou fazer rodeio filho. Fui ao médico de novo e sua velha aqui está mais velha do que nunca, mas não quero te deixar sozinho.
– você é teimosa, quando disse que ia arrumar uma arrumadeira você brigou comigo, me xingou, agora chega. Se vire e me arrume uma pessoa de sua confiança, mas quero que você continua a cuidar da minha alimentação e de minhas roupas, ah, e do Ricardo também, vou trazer ele pra morar comigo, vai cuidar de nós dois.
– decidiu isso quando?
– hoje. To tão feliz Juli. Quero o Ricardo comigo.
– esqueci até da minhas dores agora. Quero que seja feliz com ele, sabe o quanto amo vocês. Vou cuidar direitinho dos meus meninos e deixa a arrumadeira por minha conta e risco, já sei quem vou trazer aqui. Filho, já que está tão feliz me paga um taxi!
– kkkkkkkkkk, pago sim. Melhor, vou eu mesmo te levar. Só me espera tomar um banho, te deixo em casa e passo na casa do Ricardo, ele já deve ter chegado, vou sem avisar mesmo, pra dar mais emoção.
– rsrs, vai matar o garoto do coração, sabe como ele é dramático.
– kkkkkkk, verdade né? Vou assim mesmo. Já volto.
Fui tomar banho e meu celular tocou, era o meu garoto. Não atendi. Tomei banho e tinha mais cinco chamadas perdidas.
Levei a Juli até sua casa e fui pra casa do Ricardo. Eu estava uma pilha de nervos, mas era mais pela felicidade e pela reação dele. E se ele não aceitasse? Duvido, ele me amava.
Cheguei a portaria e quando virei a esquina, vi ele sentado no jardim. Ele estava me ligando, coitado. Desliguei o carro e fui descendo devagar. Quando eu parei, ele me olhou e veio correndo gritando.
– meu Grande ta aqui.....meu Grandão, ta aqui. Ta fazendo o que aqui? – ele disse meio confuso.
Sai do carro e dei um leve sorriso.
– entra, vamos até o seu quarto? Preciso falar contigoContinuaAchou que seria agora? Não, vão esperar... hahaha..., mas não vou prolongar muito não.
Muito obrigado por tudo gente... fico muito feliz em estar agradando. Beijão. :)
