- Dona Yolanda, isso não vai dar certo!- Olga falou- ela não vai nem lhe receber! Pode dar merda, isso, hein?
- Mas eu preciso tentar! Vou apelar pro coração de mãe dela!- minha mãe falou- você viu meu caso? Não aguentei ficar uma semana sem notícias do meu bebê!
- Minha mãe está certa! Temos que tentar de tudo!- e falei- eu preciso falar com a Paula e com o Gehardt! Eles têm que parar com esse disparate!
- Eu quero você bem longe desses dois, especialmente do seu primo!- falou meu pai- isso ainda pode piorar a situação, pode ter certeza!
- Mais do que já está? Pois eu duvido! Eu sei o que a Paula quer, pai- falei- e seu o que o Gehardt quer! Ele me disse que faria um inferno na minha vida com Otávio se eu não o deixasse pra ficar com ele!
- Mas que loucura é essa? Puta que pariu, que esses meninos são todos gays?- falou meu pai- onde esse mundo vai parar...
Ele saiu andando pois o tal amigo atendeu e ele foi passar informações e pedir auxílio.
- De uma forma ou de outra, seu pai está certo, bebê- minha mãe falou- se você chegar perto desses dois, a coisa pode ficar bem feia! Olga, nos leve em casa, deixamos as malas e vamos seguindo de lá!
E assim fizemos. Olga nos levou até em casa, que fica no bairro do Marex, coladinho ao aeroporto. Não dá dez minutos de carro. É periferia, mas é lar de gente decente. Papai nos disse no carro que o amigo dele estava viajando e só voltaria no fim do mês, mas passaria em pouco tempo uma lista de nomes e números dos melhores advogados da área por mensagem pro meu pai. Isso complicaria as coisas, pois com o amigo, papai poderia pagar aos poucos, teria desconto... Mas com um desconhecido, teríamos que cobrir todas as despesas sem essas vantagens. Assim que chegamos em casa, meu irmão veio me abraçar. Ele já sabia, pois Olga tinha ligado mais cedo pra confirmar o voo. O caso só não estava na mídia por causa de Gehardt, tenho certeza. A mãe deve ter influenciado pra que não vazasse.
Sentamos e ligamos para os advogados cujos nomes meu pai recebeu na lista. O segundo ou terceiro aceitou o caso, acho. Então decidimos nos dividir em três grupos, pra agilizar as coisas: meu pai iria até a delegacia encontrar com Otávio e o advogado, um tal dr. Renato Figueiredo; minha mãe iria com a Olga até a casa dos pais dela pra tentar convencer pelo menos dona Úrsula a nos ajudar; e eu pegaria o carro da minha mãe e iria até o apartamento pegar documentos e mais roupas do Otávio, as coisas do Tavinho, minhas coisas, e passaria também no apê da Olga, pra pegar o pobrezinho. Ele provavelmente ficaria muito só lá, e já bastava esses dias que a vizinha tinha ido dar comida e água, mas ele tinha ficado só.
Agora, o que vou narrar, vai ser narrado a partir do meu ponto de vista e do que me foi contado. Eu não vou ousar tentar escrever em primeira pessoa como se fosse minha mãe ou meu pai, não daria certo. Vou contar em primeira pessoa, como eu mesmo, como eu sei do que aconteceu, pelo menos.
(Minha mãe e Olga)
Minha mãe foi com a Olga até a casa dos Mello Franco, onde iria tentar falar com os pais de Otávio. Se não conseguisse falar com seu Gedeão, pelo menos dona Úrsula estaria lá naquele horário. Olga foi o caminho todinho tentando dissuadir minha mãe da ideia de falar com a mãe dela. Mas eu conheço dona Yolanda, minha mãe não desiste fácil das coisas, não. Elas entraram no condomínio e Olga falou com o porteiro pra avisar que ia com uma amiga, o que não deixava de ser verdade. Assim que entraram no terreno da casa dos Franco minha mãe ficou impressionada com a opulência do local, mas nada falou. Elas desceram e foram até a sala, mas não havia ninguém lá.
- Mãe, sou eu, Olga! Onde a senhora está?- Olga gritou na direção das escadas que levavam ao segundo andar- trouxe uma visita! Mãe...
- Eu estou aqui, Olga, pare com essa gritaria- ela vinha descendo as escadas e estava com o rosto meio inchado, talvez estivesse chorando- bom, e quem seria a nossa visita? Boa noite, sou Úrsula Franco, mãe dessa moça sem modos.
- Mãe, essa senhora se chama Yolanda- Olga falou- Yolanda Absche Freire. Ela é mãe do Donovan.
- Então ponha-se daqui pra fora, que eu não quero gente da sua laia na minha casa!- ela falou pra minha mãe- e você, Olga, pensei que fosse mais ajuizada que seu irmão, vou falar com seu pai!
- Pra que? Pra que ele a deixe sem emprego, sem casa, sem amparo na cadeia à mercê de bandidos?- minha mãe falou- é esse o tipo de pais que vocês são? Quando os filhos não são como vocês sonhavam, os descartam?
- Quem você pensa que é pra vir na minha casa e me dizer o que fazer com meus filhos- ela disse se aproximando- vocês são os culpados por tudo isso, se não fosse seu filho, o meu Otávio não estaria enfeitiçado e se perdendo no mundo!
- Não seja ridícula! Vai me dizer que acredita em macumba? Faça-me um favor!- minha mãe estava perdendo a paciência- não pense que eu estou aqui porque quero, vim porque vocês têm obrigação moral e religiosa de cuidar do filho de vocês. Ele precisa do colo de mãe, ele precisa do braço forte do pai, da presença de vocês.
- Vocês estão armando isso pra tirar dinheiro do meu marido, isso sim- ela falou- eu já dei um cheque ao seu filho, ainda querem mais?
- Nunca encostamos um dedo no seu dinheiro- minha mãe falou- seu filho precisa de um bom advogado! Nós estamos pagando, mas não sei quanto tempo isso vai levar, quanto vai dar. Não estamos em condições de levar isso adiante por muito tempo! Vocês são pais dele, pelo amor de Deus!
- Ah, mas eu não falei que era coisa de dinheiro?- dona Úrsula retrucou- e você, minha filha, ainda se deixa enganar por esses golpistas!
- Mãe, a situação é séria! O Otávio foi preso por estupro, um estupro que ele não cometeu!- Olga falou- se ele for colocado na cela com outros presos, vão violenta-lo e surra-lo! Pensa, é isso que a senhora quer?
- É capaz até de ele gostar! Deve estar fazendo barbaridades com o filho dessa zinha aí- falou apontando minha mãe- foi a senhora que ensinou os truques ao seu filho? Como roubar a decência de um rapaz de família?
Minha mãe não aguentou mais e estalou um tapa seguro no rosto da jararaca. Eu daria um ano do meu salário pra ter visto essa cena!
- Você respeite meu filho e me respeite, sua mal amada, mal comida!- minha mãe falou- prefere ver seu filho ser trucidado na cadeia a ajuda-lo num momento como esse? Você nunca foi mãe, deve ter um pedaço frio de pedra no lugar do coração! Uma mulher que abandona o filho à própria sorte numa prisão não passa de um arremedo de mãe, de um imitação barata de ser humano. Você é pior que o lixo, se vai abandonar seu filho!
- Ah! Você ficou louca! Está me agredindo dentro da minha casa!- ela estava com a mão no rosto- Olga, como você vê essa mulher me agredir e não faz nada?
- Não faço nada porque a senhora é minha mãe, e seria muita falta de respeito agredi-la também- ela falou séria- vamos embora, dona Yolanda. A senhora tem razão, ela nunca nos amou. Por isso é tão fácil pra ela virar as costas pra um filho em extrema necessidade.
-...Olga? Onde você vai com essa mulher?- falou dona Úrsula, impositiva- se você sair acompanhando essa suburbana nojenta, não precisa mais voltar aqui!
- Eu não quero mais voltar aqui, mãe!- ela falou saindo com minha mãe- se cair na real e mudar de ideia, sabe como me achar!
E saíram, entrando no carro de Olga.
- Minha cara, me perdoe por ter agredido sua mãe- minha mãe falou- eu perdi a cabeça, não sei o que me deu!
- Eu sei, dona Yolanda! O que lhe deu foi a mesma raiva que eu estou sentindo, junto com essa imensa tristeza que me aflige- ela falou e uma lágrima escorreu- meus pais nunca nos amaram, não da maneira como a maioria dos pais ama seus filhos.
- Isso é tão relativo, Olga. Amor é algo tão difícil de mensurar- minha mãe respondeu- eu não poderia ter julgado sua mãe sem saber o que ela está passando, sem saber o que está no coração dela.
- Gelo. Deve ter gelo no coração deles- Olga falou- eles sabem o que pode acontecer com Otávio, mas preferem manter suas imagens de pais e cidadãos perfeitos diante da sociedade.
Elas acabaram voltando pra casa de mãos abanando, já que dona Úrsula foi perda de tempo.
(Meu pai)
Meu pai foi dirigindo meio perturbado para a delegacia. Ele me disse tempos depois que estava dividido, pois queria ajudar Otávio de todo o coração, mas não queria "passar vergonha" de se apresentar como Tenente coronel da aeronáutica e dizer que Otávio era o namorado/ noivo do filho dele. Afinal, nem por parente de Otávio ele poderia se passar, já que sendo negro, nada tinha a ver fisicamente com o meu magrelo. Tudo ainda era muito novo pra ele, muito recente. A viagem que fizemos ajudou, creio que até ter nos ouvido transar ajudou a ficar menos tenso. Mas ainda assim era muito pedir que ele mudasse de opinião do dia pra noite. Meu pai foi fardado até a delegacia, para impor respeito. Ele combinou de se encontrar com o advogado já na delegacia e assim que chegou procurou por ele, mas ele estava atrasado. Então depois de mandar uma mensagem confirmando tudo, pediu à uma atendente que lhe levasse até o delegado, porém ela disse que o mesmo estava ocupado. Então depois de cerca de dez minutos, o advogado chegou e logo reconheceu meu pai pela farda.
- Tenente Coronel Freire! Eu sou Renato Figueiredo, advogado do escritório que o seu amigo indicou- ele falou apertando a mão do meu pai- o rapaz já foi trazido até a delegacia?
- Boa tarde doutor. Ele já está aqui, sim. Ele precisa ser protegido, tenho medo que o agridam ou coisa pior- meu pai falou- ele é o... Companheiro do meu filho, e eu sei que ele não fez nada disso.
- Ah! Bem, isso é complicado de afirmar, meu caro- o advogado disse- mas é o que eu vou tentar provar, não é?
- Bem, eu tenho certeza que nada disso aconteceu- meu pai respondeu- eu sou militar, sempre fui muito preconceituoso, acha que eu estaria aqui defendendo esse rapaz se não tivesse certeza que ele é integro? Que eu sequer deixaria ele chegar perto do meu filho se não fosse assim?
- Entendo, entendo. Não cabe a mim julgar, só trabalhar- dr. Renato respondeu- mas saiba que não poderemos retirar seu genro daqui hoje, o crime de estupro é inafiançável. O outro é de menos gravidade, o do rapaz.
- Eu sei, também sou formado em Direito, dr. Renato- disse meu pai- o que quero é garantir a integridade física dele. Precisamos falar com o delegado!
- Sim, vamos, vamos. Ah, eu já ia me esquecendo- ele virou de volta pro meu pai- meus honorários. Serão R$3000,00 pra acompanhar o inquérito policial, mais R$4000,00 quando o caso for a juízo. Está tudo bem?
- Está, está sim. Vamos indo- meu pai respondeu- preciso falar com ele ainda hoje...
Meu pai ficou desconcertado de dizer que não tínhamos o valor. Seriam ao todo R$7000,00! Ele poderia ter feito um empréstimo, mas já tinha feito, por causa da viagem pra Noronha. E eles não tinham reserva na época. Ele não iria deixar Otávio na mão, mas como fazer pra levantar esse dinheiro? Como garantir a segurança dele num ambiente tão hostil, especialmente no caso dele? Enquanto o advogado foi falar com o delegado, meu pai começou a ligar para meus tios e tias que eram militares ou policiais. Precisava que entrassem em contato com toda e qualquer pessoa que pudesse ajudar, mesmo que um pouco. E, modéstia à parte, o conhecimento e o alcance que minha família tem na área de segurança pública no Pará é muito grande. Isso poderia muito bem ser a salvação de Otávio. Mas somente alguns tios meus quiseram ajudar; alguns se recusaram e meu tio Marcello chegou a chamar meu pai de louco por estar "acobertando um marginal". Mas talvez aquelas ligações que deram certo fariam a diferença. Essa era a esperança de meu pai. E não é que deu certo? Logo o dr. Renato voltou acompanhado de um senhor de cabeça branca e uma pronunciada barriga.
- Tenente Freire, esse é o dr. Hilário Gomes, delegado que está conduzindo as investigações do caso do senhor Otávio Mello Franco- disse o advogado- dr., esse é o pai do companheiro do rapaz, Tenente Coronel Freire.
- Então, é o sogro dele, é?- falou o delegado com uma voz se quem fumava a anos- eu vivo e não vejo tudo... Mas enfim, cada macaco no seu galho, né? Olha, você tem uns amigos influentes, hein? Eu recebi uma ligação de umas pessoas bem poderosas. Eles me
Pediram pra arrumar um local seguro oro rapaz passar a noite. Eu não concordo; acho que lugar de estuprador é lá na cela, com os negões mais roludos que estiverem afim de traçar ele!
- Em primeiro lugar, o rapaz é inocente! Em segundo lugar, se ele for tocado por algum policial, preso ou quem quer que seja, vão se ver comigo!- falou meu pai- você é um delegado, não pode se referir dessa maneira vulgar e inapropriada no seu ambiente de trabalho!
- Calma, Tenente! Eu tenho certeza que o dr delegado sabe muito bem que não se pode fazer ou mesmo permitir que se faça justiça com as próprias mãos- falou o advogado- senão a justiça se voltará contra aqueles que o fizerem! Agora, queremos ver o rapaz!
- Certo, certo! Mas não vão achando que podem entrar e mandar e desmandar aqui na minha delegacia!- ele respondeu- aqui mando eu! E que seja breve, hein!
Meu pai foi então levado até uma sala na lateral da grande delegacia (se você conhece Belém, tem uma ideia de qual delegacia eu falo. É grande e próxima ao terminal rodoviário) e lá, junto ao advogado, esperou mais uns cinco minutos até que um policial trouxe meu amor até eles, algemado. Ele sentou na frente do meu pai e do advogado, mas nada falou e nem olhava nos olhos do meu pai.
- Otávio, meu filho, olhe pra mim- disse meu pai- você por acaso fez alguma dessas coisas que estão lhe acusando? Me diga.
- Claro que não! O menino quer fazer isso pra chantagear seu filho!- ele falou finalmente olhando pro meu pai, começando a chorar- e a vaca da Paula, ela é uma mentirosa! Nós tivemos um relacionamento, sim! Mas ela já era maior de idade, e sempre foi por vontade dela!
- Bem, isso pode vir a calhar, se for verdade- disse o advogado- sua melhor saída é fazer com que esses dois retirem as queixas. E assim que eles o fizerem, poderemos processar os dois por calúnia e difamação. Mas eu preciso saber da história toda!
- Bem, isso é complicado, envolve segredos de família- falou meu pai- o menino em questão é filho da minha cunhada, mas foi dado em adoção...
Então, meu pai contou tudo o que sabia ao dr. Renato e o que ele não sabia, Otávio completou. Pelo que entendi, ele ficou boquiaberto com a história toda. E decidiu falar pessoalmente com uma testemunha chave: eu.
- Agora eu entendo. Ficou mais fácil acreditar na sua inocência, Otávio- ele falou- mas talvez você tenha que fazer uns sacrifícios para sair daqui. Falarei com o Donovan.
- Não envolva o Donovan mais do que ele já está- falou Otávio quase gritando- eu não o quero aqui! Se quiser me deixar apodrecer aqui dentro, deixe, mas ele não pode vir aqui, não pode se sujar por minha conta!
- Calma, meu Genro! Eu não vou deixar que ele fique prejudicado- meu pai falou- mas você acha mesmo que ele vai aceitar isso? Que vai te deixar aqui assim? Ele só não veio agora pois precisava pegar o Tavinho e buscar suas coisas e as dele no apartamento antes que seu primo vá pra lá!
- Não me interessa! Eu já fiz tanto mal ao seu filho, Marcos... Eu não quero fazer mais, nunca mais!- ele chorava e praticamente gritava- eu prefiro morrer, prefiro que todos esses presos me estuprem, do que ver ele passando a vergonha de me ver aqui, nesse estado!
- Otávio, meu filho, você a cada dia mais demonstra o grande homem que é- meu pai falou emocionado- eu vou fazer de tudo pra tirar você daqui, custe o que custar! E se você realmente perder seu apartamento, vai morar conosco, onde será muito bem vindo!
- Acabou a festa, pessoal!- falou o delegado abrindo a porta acompanhado de mais dois policiais- o rapaz aí vai voltar pra cela dele e vocês vão sair da minha delegacia, que acabou a visita. Garanto que por enquanto o tarado aí vai ficar inteiro!
Meu pai deu um abraço apertado em Otávio, e ele levado, praticamente arrastado, de volta pra cela. Então meu pai e dr. Renato foram conduzidos para fora da sala e depois de assegurar que Otávio realmente não seria colocado com outros presos, eles saíram da delegacia. Então meu pai pediu que ele fosse sincero na sua opinião quanto às chances de Otávio no caso.
- Bem, está ou muito boa ou muito ruim. Vai depender do seu filho- ele disse- pelo que eu entendi, esses dois jovens fizeram isso, essas denúncias falsas, para ter tanto Otávio como seu filho nas mãos. O menino quer tirar Otávio do caminho. Se seu filho convencê-lo que ficarão juntos e que Otávio não é mais problema, ele pode retirar a queixa. Já a moça diz estar grávida dele e essa possibilidade existe. Ela não quer ele preso, ela quer punir o rapaz por não ter escolhido ela. É ainda mais fácil de resolver.
- O que você está sugerindo- perguntou meu pai- que eles enganem os dois?
- Precisamos ser convincentes, Tenente. Eles precisam acreditar que deu certo- falou o advogado- seu filho precisa de fato terminar com Otávio. Precisam brigar feio, precisam se odiar.
(Eu)
Saí de casa, dirigindo o carro da minha mãe morrendo por dentro com a terrível angústia de ter de esperar por uma ligação dela ou do meu pai. Chorei o caminho todo até o apartamento do Otávio, pensando no que poderia acontecer com meu magrelo. Aqueles homens o destruiriam se ele fosse colocado junto com eles, então alguma coisa tinha que dar certo! Eu queria era virar o carro e ir direto pra delegacia ver meu amor, mas ele pediu pra eu não ir. E eu obedeceria, por enquanto. Eu iria assim que conseguisse pegar tudo e que falasse com duas pessoas: Paula e Gehardt. Se preciso fosse, ia arrastar os dois pelos cabelos até a delegacia para retirar as queixas. Cheguei até o apartamento de Otávio e entrei pela garagem, usando o portão eletrônico. Se eu soubesse a surpresa que me aguardava... Cheguei ao apartamento e abri a porta, já puxando a bolsa de viagem que tinha trazido pra levar tudo que precisava: umas roupas do Otávio, outras minhas, documentos, coisas pessoais dele de mais valor e coisas do Tavinho que ficaram pra trás. Comecei recolhendo as coisas que estavam na sala, coisas do Tavinho, na maioria. Depois fui ao quarto onde havia coisas minhas, e depois até o quarto de Otávio. Estava quase terminando de recolher tudo quando ouvi um barulho e percebi que a porta estava sendo aberta de novo. Mas quem seria? Só Otávio tinha a chave, e eu tinha uma cópia, que ele me deu depois que eu fui morar com ele. Então... Ah, claro! Se o seu Gedeão iria passar o apê para o Plínio, deve ter dado um jeito de conseguir outra cópia! Decidi, em primeiro lugar, me esconder. Mas depois pensei: eu não estou roubando, não estou pegando nada que não seja meu e do Otávio, que no fundo era o verdadeiro dono, já que pagava metade das prestações do apartamento... E quem não deve, não teme! Então eu não iria me esconder porcaria nenhuma! Eu sairia de lá de cabeça erguida. Pois então eu respirei fundo e fui até a sala, pronto pra enfrentar o canalha!
Assim que passei pelo corredor, eu o vi deixando uma mala na mesinha de centro, e logo atrás dele estava alguém que eu não esperava: Régis.
- Professor. Plínio. Boa noite- eu falei. Eles se assustaram e viraram pra mim, que estava com a bolsa nos ombros e uma sacola na mão esquerda- eu vim pegar minhas coisas e algumas outras do Otávio, mas já estou de saída.
- Ora, ora, quem é vivo sempre aparece!- disse Plínio- mas que honra ter você no meu apartamento! Onde pensa que vai com essas coisas?
- Essas coisas, como já falei, são minhas e do Otávio, alguns brinquedos do nosso gato- falei- e eu vou levar porque precisamos. E por falar em precisar, onde é que vocês estavam nessa hora de necessidade do Otávio? Porque não estão ajudando?
- Porque isso não é problema nosso, moleque! As cagadas que o Otávio fez, ele tem que assumir!- falou Régis- a começar por esse envolvimento absurdo dele com você! Se isso não tivesse acontecido, ele não estaria preso!
- Não venha me culpar pela falta de amor da família de vocês- eu falei- agora é a hora de vocês demonstrarem que são primos de verdade e ir, pelo menos, apoiar o Otávio!
- Foda-se ele e foda-se você!- falou Plínio quase gritando- pensas que a gente é o que? Acha que vai me manipular com esse papinho família, seu viadinho escroto? Pois não vai! Isso é a vida, não um episódio de Ursinhos Carinhosos!
Decidi sair dali o quanto antes, pois o clima ia esquentar, com certeza; eu, por mim, já tinha levado porrada o suficiente naquele ano por conta do resto da vida! Mas tem coisas que a gente não escolhe...
Eu fui caminhando em direção à porta e nesse momento, Plínio se colocou na minha frente, impedindo minha passagem, o desgraçado. Fiquei puto, mas levei na esportiva. Me movi para a direita para cortar pelo outro lado, mas ele também se moveu e novamente se meteu na minha frente.
- Sai da minha frente, Plínio! Sai ou tiro você a força!- falei- não pensa que está lidando com uma vagabunda do Colégio, não!
- Huumm... Agora eu quero ver... Da última vez, foi você e meu priminho querido contra mim- ele falou com um sorriso cínico- agora é você sozinho contra meu irmão e eu!
Eu me preocupei tanto com Plínio que não prestei atenção no Régis. Ele estava bem atrás de mim e na hora que Plínio falou isso, me agarrou por trás, segurando meus dois braços pro alto, imobilizando-os.
- Agora você vai ficar quieto e fazer o que a gente quiser!- ele falou no meu ouvido. Eu não acreditei que Régis estava fazendo aquilo!- você vai acabar curtindo! Aliás, eu acho que era isso que você quer todo esse tempo!
- Me solta, professor! Ficou louco?- eu falei alto- Eu não vou fazer nada com vocês!
- Ah, vai! Vai e vai fazer sem reclamar!- falou Plínio me acertando um soco no estômago- você vai ficar quietinho enquanto isso! Eu não te disse que tudo que é do Otávio e nosso também? Você não vai ser exceção!
- Caralho, seu pervertido! Se encostar um dedo em mim, eu juro que mato vocês- eu gritei e levei um tapa forte no rosto- vocês vão se foder na minha mão!
Levei mais uns tapas socos, mas nada como a surra que tinha levado começo do ano de Michel e companhia. Contudo, foi o suficiente pra me deixar atordoado. Logo Régis me forçou a ajoelhar e segurando meus cabelos me forçou a esfregar o rosto na virilha de Plínio, por cima da calça. Eu estava entrando em desespero. Eles iam me violentar e fariam isso mesmo sabendo do meu namoro com Otávio! Então tudo começava e ficar cada vez mais claro pra mim o que tinha acontecido com Otávio na infância. Mas não poderia ter certeza ainda, poderia?
- Você vai chupar meu irmão e vai me chupar depois!- falou Régis- e se morder ou fizer gracinhas, eu e ele te enchemos de porradas, entendeu?!
- Relaxa, mano! Ele quer! Tenho certeza que vai chupar gostoso!- falou Plínio, já abrindo a braguilha da calça- cai de boca na minha rola, moleque! E chupa gostoso!
Elw então começou a bater com o pau jo meu rosto, de maneira rápida e agressiva. Não era maior que o meu ou do Otávio, mas era grosso. Ia me machucar se ele me comesse, já que eu não ia relaxar nunca com aqueles dois malditos do inferno! E eu tinha dono, com nome e sobrenome: Otávio Augusto Mello Franco. Ninguém, ninguém mesmo, íris por o pau em mim! Então decidir ser frio e comecei a gemer como se estivesse sentindo prazer. Logo Plínio riu e baixou a calças completamente. Eu peguei seu pau e masturbei e logo Régis tinha soltado minha outra mão, a qual usei pra massagear seu pau por cima da calça.
- Até que foi rápido, hein, mano!- falou Plínio- esse viadinho queria dar, não disse? Hahahaha!
- Isso tá é com fogo no rabo!- falou Régis- vou apagar esse fogo com porra de macho!
Nessa hora ele veio pra minha frente e abaixou as calças. Então eu vi. Bem perto da virilha, cheia de pelos escuros envolvendo um pau médio mas também grossos, havia uma tatuagem de um pássaro. A princípio, não conectei uma coisa a outra, mas depois lembrei do surto de Otávio em que ele repetiu várias vezes a frase "não canta, sabiá, não canta"! Ai, me veio do fundo da alma um ódio tão grande, mas tão grande... Se eu pudesse eu teria matado aqueles dois ali, naquele momento, com requintes de crueldade! Agora sim, eu tinha certeza! Foram aqueles dois que violentaram Otávio quando ele era criança! Pois eu decidi que não só ia sair dali sem que eles fizessem o mesmo comigo, como também ia me vingar, mesmo que em parte, do que eles fizeram com meu magrão!