No dia seguinte estávamos em sala de aula. Percebi que teria que suportar o idiota do Diogo e os meus sentimentos por ele. Teria muita gente nova, mas nenhuma delas me chamava a atenção, exceto o Diogo e o Bruno. Bom... É melhor voltar a realidade porque a professora chegou.
PROFESSORA: Bom dia alunos! Eu sou Fátima e serei a professora de Literatura. Quero que cada um se apresente, dizendo idade, nome e bairro onde mora. Mas antes, arrumem a sala em semicírculo.
Todos os alunos pegaram as cadeiras aonde estavam sentados e arrumaram-nas como a professora havia orientado.
PROFESSORA: (disse apontando para mim, que estava na ponta esquerda do semicírculo) Você pode começar, por favor?!
EU: Olá! Meu nome é Hugo Santana, tenho 17 anos e moro no bairro Carneiro Lopes.
PROFESSORA: Muito prazer Hugo. Agora o próximo...
Essa atividade da professora foi bom para conhecer os alunos ali, e pude saber que o Diogo mora no bairro vizinho ao meu, no Santana Pires.
Depois das apresentações, ela deu a ementa da disciplina, onde continham os conteúdos da disciplina. Ela explicou como será a metodologia da disciplina e veio com uma listinha de perguntas sobre temas do ensino fundamental e médio que seria importante reforçar para o terceiro ano do ensino médio e o vestibular. Bom, não sou de me gabar, mas fechei a atividade. Sou um nerdão, né?! Já pela cara do restante da turma, eles se deram muito mal.
Deu o intervalo e todos comentavam sobre a nota da lista e eu, é claro, era admirado por eles por causa da minha nota, não é qualquer um que pode fechar uma prova realizada no inicio do ano. Sabia que seria procurado em dias de atividade em equipe assim como urubus voam perto de carniça. Mas fazer o quê?! Quem sabe eu não comece a conhecer quem é quem por ali. Todos estava admirados por mim. Todos menos um: o idiota do Diogo. Ele me olhava com uma cara de inveja e raiva por ter me dado bem nesse exercício. Eu não vou dar Ibope para um cara desses.
Lá ia eu saindo da escola rumo a minha casa quando eu sinto de novo uma pancada em meu rosto, mas agora no lado direito. O golpe foi fraco, mas deixou uma marca circular em meu rosto. Percebi uma bola de futebol perto de mim; tava claro quem foi o culpado dessa 'brincadeira' de mal gosto: o Diego.
DIEGO: Você curte de levar bolada na cara, né?!
EU: Você é idiota, Diogo! Como você consegue agir como uma criança? Sabe cara, eu achava que você era mais inteligente, mas agir como você age é o seu atestado de burrice. Olha, eu posso até ser "viado" (fiz aspas imaginárias com os meus dedos), como você diz, mas eu não me trocaria nem por um dedo mindinho do pé seu.
Ele não esboçava reação nenhuma, só ficou calado enquanto eu falava - ele e a trupe dele. Não foram só eles: a escola inteira ficou atenta ao que eu dizia. De alguma forma bem estranha, todos ali pareciam concordar comigo e me apoiar sem dizer uma palavra sequer. Acho que os alunos daquela escola queriam dizer para eles àquilo que eu estava dizendo.
EU: Cara, vocês não veem ou fingem que não veem, mas ninguém gosta das suas brincadeiras; ninguém! E enquanto vocês continuarem a agir dessa forma, vocês podem ser até populares dentro desta escola (apontei o dedo pro chão), mas daquele portão pra fora (meus dedos apontavam para a saída do colégio), vocês são desconhecidos pra todos aqui. Ou vocês já foram alguma vez chamado para alguma recreação fora daqui? (fiz com a cabeça um gesto que parecia que eu tinha me lembrado de alguma coisa) Claro, além das baladas e boates, vocês nunca foram chamados para nada! Eu por exemplo, sou um "viadinho" mas eu já fui chamado para passear com a família de quase metade dessa turma, enquanto vocês NUNCA foram chamados para nada disso. Sabem o por quê? Porque eu me comporto bem e trato bem a todos aqui, sem discriminação, sejam eles nerds, gordos, pobres, ricos, mulheres e homens, e por isso eles me querem por perto. Agora eu pergunto: quantas vezes vocês já foram convidados para alguma coisa fora da curtição adolescente? (ficou um silêncio constrangedor. Acho que se passasse um trio elétrico tocando Chiclete com Banana não seria tão barulhento quanto o silêncio daquele momento) Acho que não preciso dizer mais nada. Vocês já disseram tudo.
Eu me virei e segui para o portão da escola. Eu me sentia leve, como se fossem retiradas de mim um peso dos meus ombros e costas. Dizer aquelas verdades a eles me aliviada das tantas vezes em que fui humilhado, machucado e maltratado por aqueles bando de miseráveis. Acho que hoje eu irei dormir com a consciência tranquila.
Quando eu ia dar o primeiro passo para sair dali, eu escuto uma palma solitária de um aluno ali; e com ela viam duas, três quatro, cinco, dez, vinte, cinquenta aplausos constante vindo de detrás de mim.
Quando me virei pra ver, eu vi a escola inteira aplaudindo; estavam me aplaudindo por ter dito a Diogo e amigos tudo aquilo que estava preso na garganta de muitos ali. Enquanto isso eles ficaram de cabeça baixa. Eles, os populares da escola, foram humilhado pelo zé-ninguém dali. Eles saíram daquele local de uma forma como nunca saíram antes. Eu não queria virar o centro das atenções daquela situação, mas eles me obrigaram a fazer o que deveria ter sido feito há muito tempo.
Estava tão bem comigo mesmo que eu sustentava um sorriso no rosto desde que eu saí daquela escola até a hora que eu cheguei em casa. Minha mãe ficou surpresa pela alegria que emanava de mim.
MÃE: Meu filho, o que houve para você estar tão feliz? Você viu o passarinho verde?
EU: Não mãe. Na verdade, eu estou me sentido livre por causa de uma coisa que aconteceu na escola.
E passei a contá-la tudo o que aconteceu naquela manhã e o bullying que sofri desde o primeiro ano pelo Diogo e seus amigos. Ela ficou irritada pelo que sofria, mas ela me prometeu que não iria interferir, nem contar para o meu pai sobre isso. Meu pai também sabe que sou gay, mas me ama e respeita do mesmo jeito que me amaria se eu fosse hétero. Ele é super protetor comigo, acha que só porque eu sou gay, eu não sei me proteger. Ledo engano, papi! Posso não brigar fisicamente, mas sei muito bem como ferir o coração de alguém com as minhas palavras e ações.
Eu fui pro quarto e entrei no Messenger. Ora, mal me conecto e Faby, minha amiga e namorada do Bruno, veio 'falar' comigo.
Faby disse: Oi Hugo!
Hugo disse: Oi Fabiana!
Faby disse: Menino, hoje você arrasou com aqueles idiotas na escola. \ó/
Hugo disse: Imagino... Mas eles estavam precisando ouvir. Eles só faziam me humilhar desde o 1 ano, então eu já estava de saco cheio de aturar aqueles idiotas e o seu bullyng idiota.
Faby disse: Eu sei... A escola inteira está comentando esse babado! Acho que a maioria, se não todos, se sentiram vingados naquela sua baixa que deu naqueles inconsequentes.
Hugo disse: Que bom que eu pude dizer aquilo que todos queria dizer ;) Mas isso só foi o início. Para que a realidade mude, todos tem que fazer a parte deles. Sugeriria ignorar socialmente esses doidos até eles agirem conforme manda o figurino. Eles tem que respeitar os outros e parar de preconceito com pessoas como eu. Mas acho que nem todos vão fazer isso.
Faby disse: Mas é aí que você se engana, meu caro. Espere e verá. Mudando de assunto, estou feliz por namorar o Bruno.
Hugo disse: Que bom! Você tem por namorado o sonho de todas as meninas do colégio! Tinha que estar feliz mesmo...
Faby disse: Mas eu não estou, Hugo. Ele quase não conversa comigo, nem quer saber como eu me sinto. Só fica nos amassos e só! É como se eu estivesse falando com uma parede! Mas eu não vou desistir dele agora só porque temos,um problema com a comunicação.
Hugo disse: Vixe! Eu acho bom ver isso logo, pois sabemos que nenhum relacionamento pode durar se não existe um bom canal de comunicação.
Faby disse: Verdade migo! Por falar em relacionamentos, como está o seu coração? Conseguiu esquecer o idiota do Diogo?
Hugo disse: Ainda não Faby! Mas estou começando a desgostar dele aos poucos. Eu vejo que aquele cara por quem estou apaixonado é um grande idiota, preconceituoso e homofóbico. Então meu desejo por ele está morrendo comigo, aqui, dentro do coração. 💔
Hugo disse: Miga, preciso desligar, pois eu vou dormir, tá?! Amanhã conversamos.
Faby disse: Tchau migo, espero te ver amanhã!
Hugo disse: Tchau!
E desloguei-me do Messenger. Fui dormir e tinha que voltar à rotina de estudos amanhã bem cedo.