Recebi a notícia como uma coisa normal, até porque eles já haviam feito isso com meu irmão. Mas depois que parei pra pensar, ia deixar meus amigos, poucos mas mesmo assim muito queridos, pra trás. Tá certo que Belém nem era tão longe assim, no máximo duas horas de viagem mas não os veria até os finais de semana. Principalmente o Kléber, ao qual eu tinha me apegado tanto nos últimos tempos era com quem eu realmente me sentia a vontade para ser "eu mesmo" digamos assim. Só iria levar o tempo de eu terminar o ensino fundamental para me mudar para a casa dos meus tios. Pelo resto do ano não rolou mais nada com o Kléber, a gente só passou a sair mais, ir à praça, eu ia sentir muita falta de nossas conversas.
Chegou dezembro e o ano letivo havia acabado e eu fui aprovado, minha mãe só esperava meu Histórico para fazer a transferência. Nessa época festiva meu irmão mais velho, Eleno, voltava à nossa casa. Eleno é militar da aeronáutica, e naquele mesmo ano havia sido transferido para o Rio. E era ele estar em casa para eu viver grudado nele, sempre fui muito apegado a ele, até hoje. Lembro que o enchi de perguntas sobre como era a Cidade Maravilhosa, ele mostrava fotos e mais fotos do lugar, dele em seus trajes brancos... De presente ele me deu uma câmera digital, 1.3 MP a coitada rsrsrssr Guardo até hoje, foi a minha primeira, até porque na época era sucesso.
Sempre fui meio fissurado em fotografia mas até aquele momento eu só tirava foto na câmera de amigos ou na dos meus pais. Hoje tiro fotos por hobby, mas me ajudou muito a traçar a vida que levo hoje. Tenho um bar/restaurante há três anos, tinha tudo para ir parar numa boa empresa após minha formatura mas o prazer de ter algo seu, tomar as decisões sem ninguém te pressionando e lógico, faturando bem... Não tem preço. E foi nesse meio de baladas e festas, tirando fotos e até me aventurando como modelo certas vezes, que consegui montar meu estabelecimento.
Voltando...
Fiquei todo besta com meu presente, idealizava sobre tudo que iria registrar, das pessoas que serviriam de modelo para o hobby de um jovem e também fez com que eu parasse de pensar sobre a mudança, que ocorreu no meio de janeiro.
Na casa do meus tios moravam a irmã do meu pai, Ruth; o marido dela, Osmar; e os dois filhos: Maria e Marcelo, este mais velho que eu dois anos, já Maria é mais nova quatro anos. Meu pai fez questão de arrumar um cômodo abandonado por eles para que me servisse de quarto, foi a primeira vez que teria um quarto modelado realmente por mim, tava me achando rsrsrsrrs. Enquanto meu quarto não ficava pronto dividi o quarto com Marcelo.
A escola que fui matriculado é católica, extremamente rígida e que até hoje frequentada pela elite podemos assim dizer, filhos de donos de supermercados, advogados, médicos. Não afirmo que eram todos fúteis, apenas que realmente a escola mantém um alto padrão até hoje. Meu maior medo era com relação às amizades, pois sempre estudei no mesmo colégio e ali me vi diante do maior terror até mesmo de jovens, que é chegar numa escola nova. No primeiro dia fomos apresentados aos costumes da escola: orações no início e término das aulas, proibido os “namorinhos” dentro e nas proximidades do colégio (um absurdo), nada de vestimentas e/ou acessório extravagantes, nem pintar o cabelo podia, uso de brincos... Parecia mais um internato, pelo menos a educação era de qualidade. Éramos obrigados a participar de alguma atividade extra, seja ela física e/ou artística. Acabei ficando no vôlei.
Mari, Pedro e Edu foram as pessoas que logo me dei de cara. Mari era a super alto astral do grupo, sempre sorrindo; Pedro vivia na secretaria, ele era bem esquentadinho mas nunca partia pra agressão, mas naquele colégio falar alto já era o bastante; já Edu fazia vôlei comigo e também morava na capital devido aos estudos, morava com o irmão. Nós formamos um grupo realmente quando tivemos que fazer o primeiro trabalho.
- Juntem-se em grupo de cinco e deem-me os nomes até o fim da aula.
Partiu da Mari nos juntar, ninguém veio preencher a outra vaga e ficamos assim.
- O trabalho consiste em uma pesquisa sobre alguma cidade do estado... Cultura, geografia, política, enfim. Tudo o que conseguirem. Vocês têm uma semana para me entregar, nesse dia, vocês passaram o trabalho para a minha avaliação e eu os redistribuirei, assim, cada grupo estudará a cidade do outro grupo. Cada grupo fará cinco perguntas referente ao seu trabalho para o outro, onde cada integrante responderá. Aos que tem menos pessoas, terão menos perguntas.
Entendido o trabalho marcamos de nos encontrar na casa da Mari.
- A gente pode ir pra minha casa, até porque meus pais não me deixam ir a casa dos outros.
Todos concordaram e assim o fizemos. De início eu dei a ideia de falarmos da minha cidade, mas acabamos por escolher a cidade do Edu.
- Vais ficar com raiva? – perguntou Edu pra mim.
- Que nada, rapaz. Normal.
- Eu podia falar com o professor para falarmos das duas...
- Relaxa, Edu rsrsrs Tá tudo bem.
Achei engraçado a forma como ele não queria de jeito maneira “se queimar” comigo, a preocupação dele me despertou uma certa atenção por ele.
Acertamos todas as perguntas do trabalho e a Mari ficou toda feliz porque se sentia insegura.
- Ai, vocês bem que podiam me pagar um sorvete. Eu tava surtando com esse trabalho. – disse ela na saída da aula.
- Nem vem, não fez mais que a sua obrigação. – disse Pedro.
O Edu e eu só riamos da briga deles.
- Você não vai embora, Eli?
- Não, hoje eu tenho vôlei e vou almoçar por aqui.
- Ok. Tchau e até amanhã.
Me despedi do Pedro e da Mari e logo veio o Edu do banheiro.
- Eles já foram?
- já sim.
- Hum. E você?
- Esqueceu que hoje tem vôlei?
- Verdade, começa hoje. Cabeça a minha.
- Mas nem se preocupa, acho que vai ser mais uma apresentação.
- Pode ser. Mas, por que não foi na sua casa?
- Acho cansativo ir em casa e depois voltar. Prefiro almoçar por aqui pelo bairro e me trocar no vestiário.
- Entendi. Se importa de eu te acompanhar?
- Claro que não.
Assim nós fomos a um restaurante no mesmo bairro do colégio. Ele me fez companhia durante todo o almoço, falávamos bastante.
- E por você me aturar hoje, te pago um sorvete.
- Deixa disso.
- Não, insisto.
Achei tão fofo da parte dele e acabei aceitando. E pensar que aquilo viraria nossa rotina.