Cap. 39
Acordava um dia depois daquela nossa noite no sitio, ainda com medo daquele sonho. Será mesmo que qualquer dia desse, alguém tentaria me sequestrar, e se eu não tivesse tanta sorte como no sonho. Logo estava indo pra aula. E pensando, será se vai acontecer tudo aquilo. Pelo menos cheguei no colégio, e ninguém me assustou no meio do caminho...
Eu: Oi Manu
Manu: Lucas, fez aquele exercício.
Eu: Esquece isso, quero falar com o Tony.
Manu: Ele está ali.
E fui andando. Passei pelo pátio principal. Virei, e não o vi. Iria subir a escada, quando ouvi som de choro. Desci a escada de novo, e comecei a procurar. Até que vejo um garoto, que não tinha visto ainda no colégio. Ele era loiro, olhos azuis, cabelos lisos, bem branco, e estava sentado num lado do colégio, jogado, chorando. Deu até pena. Fui chegando mais perto, e ele parecia ter a mesma idade da minha. Até que quando ele me viu, olhou, pra mim, e se levantou de uma vez.
Ele: Fica longe...
Eu: Calma, porquê você está assim, eu não vou te fazer mal não, calma ai...
Ele parecia estar desesperado...
Eu: Porquê você está assim- ele voltou a chorar, e se sentou de novo- anda, fala qual é o seu nome, já que eu nunca vi você por aqui.
Ele: Sou Fábio, ou Fabinho, o que você preferir. Olha, eu não sei se devo contar isso pra você. Alias quem é você.
Eu: Eu sou Lucas
Fábio: Lucas, mas, o Lucas, presidente.
Eu: EX, mas sim, sou eu mesmo, agora me fale o porque disso.
Fábio: Ai- ele começou a chorar de novo- meu pai morreu, e além disso, eu sou gay, e tem uns garotos que ficam rindo de mim, me xingando. Eu não aguento mais. Eu não sei o que fazer- estava chorando muito, e com as mãos sobre os olhos- você não sabe o quanto dói, perder um pai, e ainda mais quando você todo dia, é chamado de bicha, veado. E ainda mais quando a nossa família se afasta da gente, eu tô tão sozinho, minha mãe não tá nem ai, e pra completar ainda diz que eu sou um demônio, por ser assim. Será que eles não entendem, que eu não escolhi ser assim. Minha família quase toda se afastou, eu não tenho amigos. Eu preferia morrer, a continuar a viver assim. E a única pessoa que ainda me entendia era o meu pai, mas agora ele morreu, e eu não sei mais o que fazer. Não tenho mais apoio nenhum, ninguém me entende. Ninguém me alegra, ninguém me ajuda. Eu só sozinho praticamente. É como se eu não tivesse ninguém, ninguém mesmo- e continuava chorando, a essa altura já estava com a cabeça no meu colo, contando, quanta intimidade hahaha- me desculpa o desabafo, eu sei que você não é obrigado a escutar meus problemas.
Cara, eu estava a ponto de chorar. Como uma pessoa pode viver desse jeito. Sozinho. Sem amigos, com a família contra. Chegava a dar um aperto. Ele sofria muito. Tinha certeza. Mas tudo podia ser bem diferente, se não houvesse esse preconceito bobo. A sociedade faz com que pessoas como o Fábio, se suicidem todo o ano, por ser sozinho, e ser humilhado todo o dia. Ninguém se coloca no lugar da gente, quando fazem essas coisas. Ninguém imagina “nossa, o que ele deve sentir”. Imagina assim “viado tem que morrer, sofrer”. Tudo culpa de uma sociedade que não sabe aceitar as diferenças. E eu ainda estava mais indignado, de ainda existir isso no nosso colégio, porque eu era assumido pra todo mundo, e nunca tinha sofrido nada disso. Será que era por causa do poder, ou de eu ser popular demais. Ai ninguém nunca tentou fazer nada. Mas não ia ficar barato.
Eu: É um prazer ouvir as pessoas, massageia o ego, e a partir de hoje, não se considere mais sozinho, você acaba de ganhar um amigo. E mais, deixa esse povo pra lá. Eu sei muito bem o que você passa.
Fábio: Como você pode saber disso...
Eu: Ué, você não sabe não. Eu sou gay garoto, achei que todo o colégio soubesse, pelo visto não.
Fábio: Como é, você. Mas porquê eles não fazem isso com você...
Eu: Vai saber, mas pode deixar comigo, essas pessoas vão parar de fazer isso com você, eu garanto.
Ele sorriu pra mim com uma felicidade surpreendente. E me deu um abraço forte.
Fábio: Eu não acredito que eu tenho alguém pra conversar de novo.
Eu: Hahaha, tá bom, ou você vai me espremer.
Fábio: Ah desculpa, mas é que você não sabe o quanto eu tô feliz.
Eu: Imagino, preciso saber onde você estuda, você faz qual ano
Fábio: 2º, estou no segundo ano.
Eu: Ótimo, posso conseguir que você troque pra nossa turma, sou do 2º Ano também.
Ele novamente abriu um sorriso, e de novo me abraçou...
Fábio: Você não sabe o quanto eu tô feliz.
Eu: Tá bom, vamos logo, já vai bater, e diga para os palhaços que andam te fazendo isso, que se eles continuarem, vão se ver comigo, e que eles não vão gostar nada.
Fábio: Tá bom, vamos.
Fomos até a sala dele...
Eu: Então é aqui que você estuda, limpa os olhos.
Fábio: Estudo aqui, valeu, você não sabe o quanto é bom sentir que tenho novamente um amigo, que não sou mais um monstro.
Eu: Você, monstro, tá de brincadeira, você é lindo, não tem como ser monstro, e a partir de amanhã, vá pra turma do 2º1, lá ninguém vai te fazer mal, e não se esqueça do que eu te falei viu.
Olhei pra dentro, e vi o safado do Leo, ele tinha trocado de turma...
Eu: Agora me diz, quem é desses aqui que faz isso com você.
Fábio: São eles- falou apontando justamente pra ele.
Eu: Eu estou de olho em você Leo, se não quiser ir lá com a Diretora, deixe o Fábio em paz, você sabe muito bem que eu posso fazer isso, e você vai se lascar aqui.
Fui pra sala da Diretora.
Diretora: Entra
Eu: Diretora, a senhora pode trocar um aluno de turma
Diretora: Poder eu posso, mas quem é.
Eu: É o Fábio, do 2º 3
Diretora: Pra sua sala
Eu: É...
Ela pensou
Diretora: Tá Lucas, diz pra ele que amanhã ele pode ir pra sua sala.
Sai
Eu: Pronto Fábio, amanhã, vai pra minha sala, e você vai ser meu amigo.
Continua
E ai, gostaram do Fábio:
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