Colar de Pimenta chama Atenção...
–Fala...
– Você não deve mandar seus pacientes “falarem”, que feio Christian!
–Ok... Como você quer que eu fale
Enzo? – Um suspiro cansado... Hum.
–Sei lá... Não estou me sentindo á vontade. Já notou que esse é o cumulo da cara de pau, eu seu amigo de infância, tendo sessões com o psicólogo só porque você precisa de mais pacientes!?
–É... Olhando por esse lado... – Nos
olhamos e rimos.
–Mas começa a me falar sobre a sua vida Enzo, vai que achamos algum ponto que podemos trabalhar!
–Eu acho... – Lembrei daquele colar de pimenta... – Que meu problema é a sexta-feira.
–Ok, mas porque você teria problemas com sexta-feira Enzo? Você sempre as amou! Aliás, o seu lema desde o ensino médio era “Sexta, sexo e vodka” –
Inconveniente...
–Ok, será que dá pra fingir que você é um psicólogo comum que não em conhece a mais de vinte anos e sabe quase tudo sobre a minha vida e meus hábitos?
–Ahn tá.
–Enfim, tudo começou na terça...
–Ué, terça? Mas seu problema não era sexta? – Caraaamba....
–Vai me deixar contar?
–Tá ok.
–Na terça-feira estava chovendo, chovendo muito, eu estava na galeria, e tive a brilhante ideia de ligar para o Apolo...
Terça-feira
–Apolo? –Ele atendeu e o barulho forte de chuva invadiu o celular... Meu coração se angustiou.
–Oi amor!
–Você está bem? – Já eram nove da noite... – Porque eu estou saindo agora da galeria e posso passar aí para te buscar no hospital, você quer?
–Não Enzo! Que isso, eu estou bem,
posso pegar plantão hoje.
–Tem certeza? Você não queria pegar
plantão, estava cansado, e eu posso
aproveitar e voltamos juntos...
–Não, estou bem mesmo, vai para
casa e jante amanhã nos vemos.
–OK então... Quando chegar em casa
te ligo.
Sai da galeria e entrei correndo no carro, as chuvas de verão castigavam o início da noite. Eu sou fotografo, há algum tempo abri uma galeria na qual faço exposições de tempos em tempos, e onde trabalho também. Sou formado pintor, mas pintura não dá dinheiro.
Esse com quem eu falei ao telefone é o meu amor, Apolo, somos casados há três anos.
Cheguei em casa depois de pegar o engarrafamento típico de temporal no
Rio de Janeiro. Tomei banho, troquei de roupa, liguei o ar. Arrumei nossa cama e coloquei os dois travesseiros dele na horizontal, eu sei, estranho, mas é uma forma de me sentir próximo ao Apolo, afinal ele é médico e ficar de plantão não é algo tão raro.
Arrumei a mesa, sentei e enquanto tomava a sopa peguei o celular que
tocou...
–Apolo?
–Enzo... – Sua voz chorosa... Hum? –
Vem me buscar? – Ahn não...
–Apolo eu perguntei se você queria vir...
–Por favor, eu não peguei plantão, notei como estou cansado... Vai. – Suspirei com força.
–Você podia ter avisado antes...
–Você não quer vir? Iiih deixa então!
–Não, eu não vou te deixar dormir no
hospital... Eu estou indo Apolo!
–Humf... – Desliguei o celular.
Fechei os olhos e suspirei... Por que ele parecia um adolescente mimado as vezes? Eu deveria parar de fazer suas vontades...
Quando vi o loiro com jaleco branco me esperando já na porta, notei que ele sabia que eu viria... Eu deveria tê- lo mandado voltar para casa de táxi, afinal, não era a primeira vez!
–Se não queria vir podia ter avisado...
– Ele fez bico e eu suspirei...
– OK. – Me controlei para não entrar
em uma briga.
– Ok... Poxa eu só pedi para você vir, mas eu sempre estou errado. Eu trabalhei a semana toda Enzo! –
Continuei olhando pra frente.
–E eu também... – Apertei o volante.
–Mas você... – Ele se calou e eu aproveitei o sinal e olhei bem para o rosto dele.
– Eu o quê?
– Nada.
–Fala Apolo! – Ok, estava ficando
estressado...
– Pra você é mais fácil!
–Ah então pra mim é mais fácil trabalhar! Qual a diferença? Você ser médico, é isso?
–Ah não começa Enzo, lá vem você com essa sua mania de inferioridade!
–Você insinua que o meu trabalho é mais fácil e eu tenho complexo de inferioridade Apolo?
–Tudo isso é porque você ficou puto, porque te fiz vir até aqui! Desculpa se eu achei que o meu MARIDO podia vir me buscar no trabalho!
–Ahn o seu MARIDO, que ligou, perguntando se você queria alguma carona!
–Ok chega Enzo!
E essa era a primeira coisa das cinco que eu odiava no mundo... Quando o Apolo encerrava nossas discussões, simplesmente porque eu nunca pensava em algo a tempo de responder!
Finalmente chegamos em casa e eu joguei as chaves do carro na mesa, fui até a cozinha, lavei a mão e peguei meu prato de sopa... Joguei fora e vi Apolo bufando batendo o pé para o quarto... Larguei a louça na pia e tirei a camisa sentando no sofáApolo voltou!
– Mas que merda! Por que você tem
que me tratar assim? – Já comentei que sou muito mais controlado em brigas que o Apolo? Acho que tem alguma coisa a ver com ele ser sagitariano... Bem foi o que minha mãe disse.
–Assim como? – Coloquei a TV no
mudo.
EU só queria que o meu marido fosse
me buscar feliz no trabalho... – E ele
sempre mudava tudo para que fosse a
vítima da história... Ele começou a chorar com o rosto vermelho de raiva e a pose de briga.
Não é que seu choro não me tocava, a
questão é que eu sei diferenciar quando seu choro é de verdade... E esse... Era cena!
–Porque você ainda esquece que não
está mais na casa dos seus pais Apolo. Não entendo como, em quase quatro anos morando comigo e você ainda é mimado... Eu te amo, mas não vou ficar fazendo suas vontades, não é a primeira vez que digo! – Argumentava com as mãos e ele batia o pé com vontade.
–Ok, eu vou comprar um carro! Aí, vou ser um menininho mimado que não te dá trabalho!
E ele saiu, ahn! Apolo amava saídas dramáticas, e eu raramente corria atrás de alguém. Tirei os sapatos e ele não saiu do quarto, ouvi a porta bater com força, sinônimo de: dormir na sala.
Eu coloquei a televisão no alto para ele poder ouvir do quarto... Apolo amava a novela das oito, mas duvido muito que fosse dar o braço a torcer e vir ver na sala comigo...
Durante a semana, como sempre, ele
saiu cedo para o trabalho mas recusou que eu o levasse, e chegou tarde, de táxi.
Na verdade ele não me ligava para dar satisfações, como eu ia para a galeria pelas dez da manhã sempre ligava pra ele, e o mimadinho se esforçava em parecer frio... Quis rir algumas vezes.
Chegamos à sexta ainda sem nos falarmos, mas já estava planejando levá-lo para jantar, massa, sua comida favorita.
Porém, no momento, eu tinha algo mais importante para cuidar. Jean, um figurão que amava fotografias, dono de uma galeria de muito bom gosto, bastante procurada, viria me visitar, pois queria fotos de um modelo que me apresentaria.
O interfone tocou, eu ajeitei a gola da
camiseta branca que vestia. Abri e os esperei subir.
Quando a porta foi aberta... Vi um
cordão de pimenta, a corrente era
dourada chamava atenção... E quem
usava, quem usava era um menino
moreno, bonito! Não...Lindo...
Um homem lindo, segurando um
cigarro, os olhos eram quase cinzas e
o cabelo muito preto caia na vista.
Tinha um corpo esguio e usava uma
camisa preta justa no braço... A calça
rasgada... E o cordão... Reluzia no peito pela gola da blusa...
– Enzo!
–Oi! – Olhei Jean assustado!
–Estou te chamando a tempo! Gostou
mesmo do Leonardo.
Leonardo...
–É... Ele... Tem porte... Tem porte de
modelo já.
O Leonardo me olhava com os olhos
penetrantes sem dizer nada.
–Então o seu problema de sexta é o
Leonardo!
–Claro que não Christian! Meu problema de sexta obviamente é o cordão de pimenta, foi isso que chamou atenção!
– E eu nasci ontem Enzo...
ESPERO QUE LEIAM, E OPINEM DEIXEM SEUS COMENTÁRIOS...