PARTE 7
- Acho que você fez uma coisa certa.
Eu estava no escritório de Roccio no dia seguinte ao meu último encontro com Ângelo.
- Eu sei. – respondi – não quero me envolver agora.
- De certa forma é isso que me preocupa um pouco. – ela rebateu e eu não entendi – Até queria tocar no assunto com você.
- Como assim? - respondi.
- Bem... vejamos... como vou começar. – ela olhou para o ar aparentemente procurando uma maneira. Então se levantou e veio por trás de mim massageando minhas costas. - Olha – começou - não é que eu queria que você tivesse aceitado o convite do Ângelo. Não é isso. Eu já vi acontecer com vários aqui. As primeiras semanas são maravilhosas mas o estigma do garoto de programa dificilmente sai da cabeça do antigo cliente. A relação se torna quase que como uma relação contratual e a medida que o tempo passa, tende a ficar insuportável. Se você não estiver totalmente independente - o que você Fabio, ainda não está - acaba que dando poder demais ao antigo cliente e vivendo a mercê de seus desejos. O que eu quero dizer é que não me preocupa o fato de você ter sido esperto o bastante pra não cair na armadilha, mas é que parece que você está vendo armadilhas em tudo.
Eu definitivamente não estava entendendo nada.
- Pode ser mais clara?
- Claro. - ela pensou mais um pouco – Me diz uma coisa. Com quantos caras você saiu desde que entrou aqui, que não fossem clientes? E qual foi a última vez que gozou?
Eu me pus a pensar: Ricardo? Não! O canalha me deixou na mão. Ramirez? Sim, mas foi há umas duas semanas. E depois dele só veio as duas vezes com o Ângelo e não gozei em nenhuma.
Baixei a cabeça constrangido. Não precisei dizer nada, pois ela foi logo falando.
- Está vendo?! Você está se esquecendo que sexo não é só dinheiro, Fabio. Cuidado com isso.
- Mas não tem problema. Eu posso gozar ainda. Não entendi qual é o problema.
- O problema é que você está transformando uma coisa maravilhosa em apenas profissão. - ela suspirou – Não me leve a mal. Gosto do seu trabalho. Eu tenho família e o dinheiro que você trás aqui pra dentro é muito. Mais até que muitos veteranos. Mas é com você que estou preocupada. Legal fazer os clientes sentirem prazer. Mas você também tem...
- O que você pretende?
Ela riu e falou:
- Primeiro que tire esse fim de semana de folga. Depois, vá para uma boate, encontre um cara bem bonito e transe com ele sem se preocupar. Volte a conhecer seu corpo, suas necessidades. Sinta prazer. Já vi isso acontecer com muitos aqui e não quero o mesmo pra você. Não quero que se torne um objeto de prazer vazio.
- Por que você se incomoda tanto?
- Não sei. Acho que você me lembra meu filho ou como eu gostaria que ele fosse um pouco.
- Como assim?
- Isso não é assunto pra agora. Nisso ela se levantou e abriu a porta pra mim. - Por esse fim de semana está dispensado. Não apareça aqui ou eu te ponho pra fora.
- Você não faria isso – desafiei.
- É verdade. Mas ficaria muito chateada se você continuar nesse tipo de vida. Vai, aprenda e volte.
Eu ri e sai. Dei um beijo em seu rosto e ela ficou vermelha. Depois sai. Não entendi ao certo o que ela queria. Não sabia o que ela tinha pedido. Quando estou na metade do caminho de casa escuto alguém me buzinando. Eu me viro e vejo um belo Vectra parando ao meu lado. O vidro abaixa e em seu interior está Lucas.
- Fala ai cara. Não se esqueceu né.
“De que?” pensei. Depois me caiu a ficha. O aniversário dele era hoje.
- Então, você vai?
- Lógico - comecei a me lembrar do que Roccio havia me dito.
- Que carrão é esse? - perguntei olhando a lataria escura do carro
- Presente de 18 anos - me respondeu feliz da vida.
- Vai dirigi-lo hoje?
- Lógico vou levá-los nele. Entra ai. Te dou uma carona.
Eu entrei no carro e ele saiu. O veiculo ainda exalava um cheiro de novo.
- E então - comecei – quem mais vai?
- Acho que você não conhece. - respondeu me olhando.
Fiquei impressionado de como ele sabia dirigir bem imaginando que ele acabara de tirar a carteira
– São só quatro contando contigo: André, Rodrigo, Thiago e você.
– Legal
- Que bom que você vai.
- Como?
- Hã? Nada - ele tinha ficado vermelho – só que é legal você ir.
- Ah... obrigado – agradeci.
Nisso entramos e subimos no elevador.
- Cara então agente se vê as 22:00 valeu?
- Tranquilo – respondi enquanto nos separávamos. Cada um para seu apartamento. - Ah pêra ai.
- O que foi? - ele se virou surpreso.
Então eu o abracei e falei dando um beijo no rosto:
- Feliz aniversário.
- Valeu. - sua voz era fraca em meus braços, dava para senti seu coração acelerado.
Entrei em casa e vi a hora: 20:00. Então lanchei e fui enrolando até tomar banho e me arrumar. Num dado momento vi que estava excitado. Não entendi porque, então me lembrei de Lucas. Seu corpo esculpido e seu rosto juvenil. Uma combinação perigosa. Lembrei mais uma vez de Roccio. Por algum motivo estava começando a entender o que ela queria me dizerPor hoje é só.
Adoro deixas vocês curiosos, cuecas!
lipesoccer13@gmail.com