ENTRE HOMENS
CAPITULO 28 – PÁSSAROS FERIDOS (PARTE 1)
Diz uma lenda que existe um pássaro muito lindo, de canto envolvente e maravilhoso, que faz com que todo o universo o olhe quando canta... Entretanto, o mesmo pássaro tem uma flecha mirando o seu coração caso cante. Mas sabe que a sua missão é cantar para alegrar todo o universo nem que isso lhe custe a sua vida.
A vida nos trata assim como pássaros que mesmo feridos por várias mazelas somos intimados a cantar para embelezar ao nosso redor. Tornar a vida um pouco mais leve. No dizer de Santa Paulina: ‘Quando penso eu não posso, aí posso sempre mais.’
Enzo após papear com o seu amigo Dadá vai ao banheiro e começa a chorar após sua tentativa frustrada de seduzir Miguel. Deu-se conta realmente que Miguel é totalmente apaixonado e devotado ao seu primo. Que durante os momentos que os dois se encontraram juntos, sempre o nome que soava da boca do peão era de Taumaturgo. O modelo mesmo com suas intenções percebeu que o seu sentimento ainda estava mesclado de muito tesão ou até mesmo paixão, que de longe era superado pelo amor verdadeiro que envolvia os dois amantes (Taumaturgo e Miguel).
A vida nos prega sempre uma peça de nos apaixonarmos pela pessoa errada ou por alguém que o coração já está tomado por outro amor. Ironicamente esse é o caso do nosso modelo, que lhe foi despertado um interesse afetivo ou sexual por alguém que já tinha o coração tomado por outro amor, e pra piorar sua situação, o amor do seu próprio primo.
Enzo olhava-se no espelho do banheiro e sentia-se o cara mais sujo. Sentia-se uma pessoa inescrupulosa que não teve a mínima consideração pelo seu primo. As lagrimas escorriam no primeiro momento vagarosamente contornando o seu nariz afilado, aos poucos como ia percebendo que algo martelava constantemente na sua consciência, as lágrimas tomavam mais força e começaram a encharcar o seu rosto belo.
Foi duro para o modelo perceber que toda a sua beleza física não foi páreo para conquistar um mero peão, um simples homem do campo. Percebeu-se um homem frágil diante dos limites que a vida impõe a qualquer pessoa. A sua paixão não tinha se transferido ao coração de Miguel ao ponto de lhe despertar interesse pelo modelo.
A noite que passara do lado do peão era um misto de realização sexual, pois sabia que estava ao seu alcance a perfeição masculina bem ali. Por outro lado percebeu que tudo que fazia era sombra do amor do mesmo peão por seu primo, que apenas sabia pronunciar ou balbuciar o nome de Taumaturgo ao longo daquelas horas. Os primeiros beijos e toques corporais foram um êxtase para si, mas que com o tempo fora percebendo que não podia avançar o sinal. Que era confundido com o seu primo, que nada era real, que os toques e beijos nunca eram dispensados pra si.
“Por queeeeê?”
“Por queeeeê?”
Um súbito silencio toma conta do ambiente, apenas o barulho do soluço do modelo interrompiam o silencio vigente e sepucral. Os olhos de Enzo já se encontravam avermelhados, a sua alma suplicava por uma luz. A dor atormentava por demais a interioridade do modelo. Vinha à baila toda a sua história de vida. Era como se passasse um filme a sua frente cujo era visto por seu coração. Enzo se perguntava interiormente onde estava aquele cara simples, amigo e sonhador? O que acontecera para que tudo chegasse naquele ponto, onde se encontrava em total insegurança e desprovido de qualquer valor moral ou ético?
Olhando profundamente para sua imagem refletida no espelho, sem se perder no sonho de Narciso, algo lhe dizia que tudo aquilo tinha um responsável e um nome: Pablo Scobar.
“Você ainda vai pagar por tudo o que você me fez no passado, seu desgraçado. Hei de me alegrar com a sua queda seu monstro. Isso eu juro, nem que seja a última coisa que eu faça nessa vida.”No quarto de Taumaturgo.
Com o avançar da madrugada, a chuva começara a cair para esfriar o pouco o ambiente. O nosso ex-seminarista apenas tentava dormir sem muita sorte no seu intento. Toma o violão e senta-se na soleira da janela. Apenas se notava o reflexo dos relâmpagos que pareciam adentrar pela janela. Num momento em que recordava de seu peão, Taumaturgo começa a dedilhar o seu violão e canta algumas músicas que teimavam inspirar o seu coração apaixonado.
AGAINST ALL ODDS
‘How can I just let you walk away,
Just let you leave without a trace?
When I stand here taking every breath
With you, hmm hmm
You're the only one
Who really knew me at all
How can you just walk away from me?
When all I can do is watch you leave
'Cause we shared the laughter and the pain
And even shared the tears
You're the only one
Who really knew me at all
So, take a look at me now
'Cause there's just an empty space
And there's nothing left here to remind me
Just the memory of your face
So, take a look at me now
When there's just an empty space
And you're coming back to me
Is against all odds
And that's what I've got to face
I wish I could just make you turn around
Turn around to see me cry
There's so much I need to say to you
So many reasons why
You're the only one who really knew me at all
So, take a look at me now
'Cause there's just an empty space
And there's nothing left here to remind me
Just the memory of your face
So take a look at me now
Still there's just an empty space
But to wait for you is all I can do
And that's what I've got to face
Take a good look at me now
'Cause I'll still be standing here
And you comin' back to me
Is against all odds
It's the chance I've got to take...
Hey yeah
Take a look at me now.’
I Want To Know What Love Is
‘I gotta take a little time
A little time to think things over
I better read between the lines
In case I need it when I'm colder
In my life
There's been heartache and pain
I don't know
If I can face it again
Can't stop now
I've traveled so far
To change this lonely life
I wanna know what love is
I want you to show me
I wanna feel what love is
I know you can show me
Gonna take a little time(take a litlle time)
A little time to look around me (ooh)
I've got nowhere left to hide (nowhere left to hide)
It looks like love's finally found me (oooh)
In my life
There's been heartache and pain
I don't know
If I can face it again
Can't stop now
I've traveled so far
To change this lonely life
I wanna know what love is (Ooooh-oh)
I want you to show me (Meeeeee-ee)
I wanna feel what love is (Feel what love is)
And I know you can show me (Show me, I wanna know)
I wanna know what love is (I wanna know)
I want you to show me (And I feel you so much love)
I wanna feel what love is
And I know you can show me
Oh, let's talk about Love.’
Começo, meio e fim
‘A vida tem sons que pra gente ouvir
Precisa entender que um amor de verdade
É feito canção, qualquer coisa assim,
Que tem seu começo, seu meio e seu fim
A vida tem sons que pra gente ouvir
Precisa aprender a começar de novo.
É como tocar o mesmo violão
E nele compor uma nova canção
Que fale de amor
Que faça chorar
Que toque mais forte
Esse meu coração
Ah! Coração!
Se apronta pra recomeçar.
Ah! Coração!
Esquece esse medo de amar de novo.’
“Eu te amo tanto Miguel. Estou sofrendo tanto com a sua ausência meu peão. Será que eu te perdi pra sempre? Será que eu fui tão intransigente com você Miguel? Por que você tinha que ser tão ciumento?”
Taumaturgo apenas se calava para escutar o seu coração que buscava respostas para suas dúvidas. O ex-seminarista deixa o violão próximo de si, começa olhar o horizonte chuvoso alumiado por relâmpagos que recortavam o céu. O silencio martirizador impulsionava uma fossa que jamais sentira ao longo de toda a sua vida.
“Quero você de volta meu amor. Estou com saudades de quando você me chamava Mor. Estúpido, estúpido, estúpido senhor Taumaturgo. Por você ser cabeça dura pode está deixando escapar de suas mãos o homem mais maravilhoso do mundo.”
Taumaturgo apenas trajando uma cueca box branca deita-se na sua imensa cama que por sinal ficara maior ainda com a ausência de seu peão armário ao seu lado. O seu rosto cansado olhando para o oposto do horizonte iluminado pelos raios, tentava encontrar um bálsamo para o seu sofrimento desolador.
Uma lágrima minúscula teima em cair do olho esquerdo do nosso Anjo. Como se o espírito dele clamasse por carinho, perdão, ternura e amor. Por outro lado, se faz mister os mesmos sentimentos para com Miguel, tendo em vista que a sua intransigência falava mais alto que o amor que sente pelo peão.
No quarto de hóspede onde esta dormindo Miguel; algo de forte apelo interfere no seu sono arraigado a cerveja. Miguel começa a apalpar o outro lado da cama na esperança de que o seu Anjo esteja bem ao seu lado. Como não tem ninguém, Miguel se levanta e senta-se a beira da cama deixando apenas o lençol cobrindo a sua nudez.
Levanta-se, sai do quarto e começa andar pelo corredor, quando percebe que a porta do quarto do seu Anjo está semiaberta. Para e olha pelo pouco espaço deixando pela porta. Abre a porta e se dirige para perto de Taumaturgo que está repousando finalmente após o seu momento noturno de insônia. Olha o corpo de seu amado totalmente descoberto de qualquer coisa apenas trajando uma cueca box branca. Miguel toma o cobertor e aos poucos vai cobrindo o corpo de seu Anjo que apenas dorme tranquilamente. O peão ainda tenta aproximar sua mão para acarinhar o rosto de Taumaturgo, mas o mesmo é interrompido quando seu Anjo se mexe. Miguel apenas se afasta se dirigindo para a porta. Ao sair fecha bem devagar a porta. Encosta a sua cabeça na porta e começa a chorar por sentir a falta de seu amor. Realmente é um ‘perigo ter você perto dos olhos mais longe do seu coração’.
Mas a partir daquele momento Miguel toma uma decisão drástica que mudaria os rumos de sua vida como talvez de seu AnjoNo Rio de Janeiro.
Pablo está despachando alguns papeis quando adentra o sua sala, Dadá. Aproxima-se e senta-se próximo a sua mesa num sofá.
“Esses dias vou me ausentar. Preciso visitar uma tia. Por isso, preciso de alguns dias pra rever a minha família, ou parte dela.”
“É mesmo a tua tia?!”
“Sim, o porquê da pergunta?”
Pablo se levanta vai até a janela e olha o horizonte, toma um cigarro acende, traga e continua olhando o horizonte.
“Poderia ser alguém em comum a gente, sabe... Desculpa, fui mal educado, aceita um cigarro?”
“Não você sabe que há muito tempo não fumo.”
“Ok! Que tia é essa que nunca ouvi falar.”
“Ora bolas minha família é algo que só diz respeito a mim (risos).”
(Risos).
“Você está certo acho que fui muito indelicado e indiscreto. Mas ainda tenho uma leve certeza que você sabe onde se encontra o Enzo.”
“Cara você nunca vai esquecer o Enzo. Sai dessa querido, afinal você já está em outra, o teu amor não é o Alan?”
“Nunca vou desistir do Enzo... Ele é meu!”
“Desencana dessa. Cuida do outro cara.”
Quando Pablo se aproxima de Dadá para colocá-lo contra a parede a fim de saber o paradeiro de Enzo, eis que surge Alan de volta de Niterói.
“Oi amor, está tudo bem?”
Pablo todo desconfiado acena que sim e se aproxima de Alan, dando-lhe beijo nos seus lábios. Dadá que não é nada otário aproveita-se da situação e sai à francesa da sala de Pablo.
“Bom vou deixar o casal de pombinhos e vou preparar minhas malas pra viagem.”
“Você vai viajar Dadá?” Indagou Alan.
“Tenho que visitar uma tia que mora no interior de São Paulo.”
“Você vai de avião?” Indagou Alan.
“Vou de carro mesmo, quero aproveitar a viagem e curtir um pouco a natureza.”
“Você está certo. Espero que você tenha uma boa viagem.”
“Obrigado. Agora preciso ir, tenho que ir arrumar as malas como eu disse (risos).”
“Como foi a sua viagem gato?”
“Foi muito tranquila. Aproveitei pra matar as saudades dos amigos, de alguns parentes que moram lá. Está tudo do jeito que eu deixei. As coisas não mudaram muito por lá.”
“Que bom já estava com saudades de você.”
“Sério Pablo?”
“Sim meu gato... Lembre-se que você agora faz parte da minha vida.”
“Estou precisando voltar ao batente novamente.”
“Tem alguns ensaios fotográficos pra você. Vou pedir para o Edu te assessorar. Agora preciso fazer uma viagem.”
“Agora... Logo agora que eu cheguei.”
“Sei disso gato, mas negocio é negocio... preciso cuidar do patrimônio.”
“Está certo. Fazer o que né?”
Pablo dá um selo em Alan e se dirige para o seu carro que está estacionado no subsolo do prédio. Adentrando o carro ele liga para o seu capanga e pede que ele fique de olho em Dadá, além de que ele mexa os pauzinhos e descubra nos dados de internet onde Dadá estaria indo e talvez com quem ele está trocando informações.
O capanga apenas disse ok para as ordens do seu patrão. E começou a seguir todos os passos de Dadá a partir daquele momentoPelo Skype.
“Bi estou arrumando as malas. Não vejo a hora de conhecer tudo aí.”
“Amigo preciso muito de você aqui. Saudades de você!”
“Está tudo bem por aí. Já sei tem algo haver com peão magia.”
“Ai amigo você sabe tudo de mim mesmo.”
“Amigo sempre te considerei como irmão. Você sempre foi o meu melhor amigo.”
“Sei disso por isso sempre mantive você a par de tudo o que me acontecia.”
Enzo escuta algumas batidas na porta. “Calma ai amigo, vou ver quem está batendo na porta.” O modelo se dirige até a porta, e ver que o seu primo Taumaturgo o chamando para jantar.
“Oi primo vamos descer para jantar.”
“Depois faço uma boquinha, agora estou sem fome mesmo.”
“Ok então, espero que você esteja bem, Enzo.”
O modelo fica desconfiado olhando sorrateiramente para o seu primo. De fato não conseguia encará-lo como antes. Mesmo sabendo que nada aconteceu com o Miguel e ele; Enzo não sabia olhar como antes para o seu primo.
“Você está bem Taumaturgo?”
“Estou sim, apenas um pouco cansado.”
“E o Miguel...”
“O que tem o Miguel?”
“Vocês ainda vão voltar?”
“Isso é uma boa pergunta. Agora não tenho a resposta. Mas mesmo que a gente não volte, torço para que ele seja feliz.”
“Hum, espero que você mude de ideia.”
“Você mudando de opinião sobre o meu relacionamento com o tal peão. Quem diria, hein.”
“Sei lá talvez eu estivesse enganado. Mas deixa pra lá.”
Quando Taumaturgo se retira, Enzo fecha a porta e respira aliviado. Volta para frente do computador e continua conversando com o seu amigo Dadá.
“Bi daqui dois dias estarei ai com você.”
“Beleza te aguardo viu.”
“Preciso ir agora dormir um pouco.”
“Sei. Cuidado rapaz, juízo hein.”
“Para com isso, parece que arrumei um pai.”
“Não é isso apenas não te quero ver sofrendo e tampouco fazer alguém sofrer por causa de seu egoísmo.”
“Até, vou falar com o meu Tio Fernando. Ele é gente fina, com certeza vai te receber de braços abertos, juntamente com todos daqui.”
“Beijos bi!”Apologia do Amor no pensamento de Taumaturgo.
Sempre acreditei no amor como a expressão maior do ser humano. Um sentimento gratuito que não pede nada em troca, sendo ele mesmo a moeda de troca nas relações humanas. Olhar sempre nos olhos do próximo e acreditar que ele é semelhante a mim em tudo. Perceber que o outro é o fim e nunca o meio. Que se deve amar e respeitar o outro como o outro se apresenta a mim. Procurando respeitar a sua história de vida, suas falhas, seus pecados, seus dons, seus amores e dissabores. Olhar no olho do outro sem o medo de se entregar plenamente. O amor pleno e real nos torna crianças. Sabe aquela criança que aceita a mão de alguém mais adulto e segue o caminho com o mesmo. O amor é assim total confiança.
O amor é uma loucura, se ama sem mesmo se sentir amado. É louco com a suavidade necessária para não queimar e nem se queimar. É um oceano que nos afoga, mas ao mesmo tempo sabemos que não iremos morrer ali. O amor é a respiração que trocamos no hálito, é uma mesclagem de salivas trocadas e que se mantêm intactas. O amor é um furacão que nos tira no chão, nos joga em várias direções, mas não nos deixa sem um norte. Sabe-se que adiante, bem ali além do horizonte pode-se encontrar um porto seguro.
Que sentimento inaudito que tentamos desvendar. Tentamos mensurar sem muito sucesso. Tentamos tocar, como se toca qualquer objeto sensível na natureza. O mais engraçado que podemos tocar o amor, mas na pessoa amada. Quem ama toca o outro no beijo, no abraço, no sorriso, no silencio, na compreensão. O amor é assim louco, terno, simples, complexo, fraterno, amoroso em si mesmo, é ele mesmo, somente ele. O amor é o meio entre o amado e o amante. A relação amorosa entre algo e alguma coisa. Entre o ser adorado e o adorador. O amor nos leva, nos eleva, nos enaltece, mas também nos torna húmus, o amor singelamente nos lembra que somos pó e que ao pó voltaremos. O amor é revelador. O amor é a verdade de quem apenas sabe viver para amar e se apaixonar.
O amor também é a falta de compreensão. É o ciúme desmedido e matador. Diz-se que quando se ama, mata. Realmente o amor é o aval para tirar a vida de quem se ama? O amor distorcido é o maior equívoco da humanidade que ainda não tirou o véu da verdade dos seus olhos doentes e carentes. Quem ama não está pleno de dor, fome, ódio ou medo. Realmente quem ama não tem medo. O medo não existe para quem ama. O amor real e libertador é aquele nos substitui. É aquele que é capaz de sofrer no lugar de outrem. O amor real salva, liberta, nos tira da estupidez da ignorância que sempre queremos mergulhar no cotidiano.
‘Ame e fazes o que queres’, nos diz Santo Agostinho. Ame e faça o bem. Ame e faça o amor brilhar para todos. Ame e saia da ilha do egoísmo que nos leva para o efêmero, o passageiro e o transitório. Ame e revele o outro que ele é importante sim, mas que se deve amar em plena aceitação da liberdade do outro. Ame realmente e sejas feliz.
Taumaturgo toma o seu violão, começa a dedilhar uma música que sempre era tocada entre os jovens da pastoral da juventude que acompanhou durante alguns anos, uma música do grupo da Legião Urbana:
‘Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor eu nada seria
É só o amor! É só o amor
Que conhece o que é verdade
O amor é bom, não quer o mal
Não sente inveja ou se envaidece
O amor é o fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor eu nada seria
É um não querer mais que bem querer
É solitário andar por entre a gente
É um não contentar-se de contente
É cuidar que se ganha em se perder
É um estar-se preso por vontade
É servir a quem vence, o vencedor
É um ter com quem nos mata a lealdade
Tão contrário a si é o mesmo amor
Estou acordado e todos dormem
Todos dormem. Todos dormem
Agora vejo em parte
Mas então veremos face a face
É só o amor! É só o amor
Que conhece o que é verdade
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor eu nada seria.’Durante o café da manha na Fazenda Paraíso.
“Oi senhor Fernando”, diz Miguel tomando o seu café ainda em pé.
“Meu filho se senta aí, tome o seu café direito. Assim você vai ter um treco quando estiver por ai.”
“Seu Fernando preciso ir, tenho muito afazeres hoje.”
“Miguel senta ai, sei que você não está apressado por causa dos afazeres da fazenda. A tua pressa tem um nome. Sei que é por causa do meu filho.”
“É verdade seu Fernando. Eu amo demais o seu filho. Nunca amei alguém como amo o seu filho. Contudo, a indiferença dele nesses dias está me matando por dentro.”
“Não se preocupe meu filho vou ter uma conversa com ele. Sei que ele é cabeça dura. Mas não acredito que ele vai acabar uma relação com você por causa daquele filho da mãe do André.”
“Seu Fernando tenho uma gana pra quebrar a cara daquele filho da p...”
“Você está certo meu filho, pode até me chamar que ajudo você na surra naquele cara.”
(Risos).
O riso da dupla é interrompido com a chegada dos primos para tomar café: Taumaturgo, Enzo e Humberto. Cada um procura sentar em alguma cadeira. Preparam seus respectivos cafés da manha. O silencio é interrompido com o pedido de açúcar por Humberto.
Taumaturgo passa o leite em vez do açúcar.
“Onde você está com a cabeça meu irmão.”
“Desculpa. Você pediu o que mesmo?”
“Açúcar cabeça de vento.”
(Risos).
“Bom pessoal tenho que ir cuidar das coisas lá no curral e ver outras coisas pendentes.” Despediu-se Miguel de todos sem tirar o olhar de Taumaturgo. Por outro lado de forma velada, o seu Anjo correspondia aos seus olhares.
Humberto logo em seguida termina o seu café e segue o seu companheiro na lida diária.
Enzo aproveita para se retirar, pois como já tinha acertado sobre a vinda de seu amigo, Dadá para a fazenda. Deixando apenas o Taumaturgo e seu Fernando tomando café.
“Meu filho já está na hora de você conversar com o Miguel e fazer as pazes.”
“Pai, ainda não sei se realmente quero voltar para o Miguel. Ele me deixou inseguro. Não sei se realmente eu conheço o Miguel.”
“Filho, o Miguel te ama muito. Agora você vai deixar ele escapar de você por causa de um capricho de santidade.”
“Não é capricho pai.”
“É sim, aquele homem deu provas que te ama. Além do mais aquele tal de André bem que mereceu uma surra. E fique avisado na próxima vez que ele se meter com você eu vou ajudar a dar uma surra nele.”
“Essa violência gratuita que eu não aceito.”
“Que violência, não tem nada de violência. Aquele filho da mãe mereceu sim. Outra coisa você tem que parar de pensar ainda como padre. O mundo aqui fora pede amor, mas também pede justiça.”
Após tomar seu café e levar um sermão de seu pai, Taumaturgo se despede e vai na direção da escolinha Monteiro Lobato.
Passado algum tempo logo após o almoço Miguel se dirige para o quarto de Taumaturgo e deixa uma carta para o seu amado. Sem saber que estava sendo observado de longe, logo após a sua saída do quarto, Enzo começa a fazer um pente fino até que encontra a carta lacrada pelo peão. Em seguida sem que ninguém o veja se retira e esconde no meio de suas coisas no roupeiro a carta.
As horas iam passando até que finalmente chega à fazenda Paraíso Dadá no seu carro após longas horas de viagem pela estrada.
O viajante começa a buzinar até que aparece um peão muito atraente diante de si. Dadá retira os seus óculos escuros e olha atentamente para o peão que se apresenta diante de si.
“Em que posso ajudar o senhor.”
“Senhor, boy aqui não tem nenhum senhor. Eu sou muito jovem e ainda nem sequer me casei para ser tratado assim (risos).”
“Deixa eu lhe ajudar com as suas malas.”
Quando Dadá abre o porta-malas, o peão se posiciona logo atrás dele. Ambos ficam sem jeito. O empresário aproveita e elogia os braços do peão. Prontamente são levadas pelo peão a bagagem até a entrada principal da fazenda. Eis que surge Enzo.
“Amigo seja bem vindo.”
“Pelo visto não foi em vão a viagem até aqui.” Falou com um sorriso safado para o peão que lhe ajudara a trazer as malas.
“Agora preciso ir cuidar dos animais.” Despediu-se o peão.
“Amigoooooo... me segura o que foi isso. Que cara é esse amigo.”
“Para com essa coca-cola, Dadá.”
“Que deus grego é esse meu amigo.”
“Outro peão qualquer da fazenda. Pelo visto você ainda gosta de coisas rústicas não é verdade.”
“Rústico não amigo, gosto de cheiro de homem, tem quer homem (risos).”
Seu Fernando aparece e cumprimenta o recém-chegado.
“Este aqui é o meu tio Fernando.”
“Muito prazer, eu sou o Dadá.”
“Você quis dizer Virgílio né.”
“Para de graça, eu sou Dadá seu Fernando, o Enzo sempre gosta de cortar o meu barato.”
“Vamos entrando, vou lhe mostrar o quarto onde você vai ficar.” Disse Enzo.
Continua...