DUAS CARAS
Capítulo 19
Bati na porta duas vezes, se abriu e um homem de cabelos grisalhos me recebeu:
- Bom dia, Bruno. O deputado está te esperando. Entre.
- Bom dia. – Respondi.
Entrei. Havia alguns homens todos bem vestidos presente, uma sala com uma mesa de vidro e várias poltronas em volta.
- Bruno! – Exclamou Gabriel. – Sente-se aqui. – Falou indicando a poltrona vaga ao seu lado.
Me dirigi até lá contornando a mesa, e sentei-me ao lado do Gabriel.
- Então companheiros, esse é o Bruno que vos falei. Eu quero que ele participe dessa nossa reunião.
- Seja bem vindo Bruno. – Falou um dos homens sentados a minha frente. Em seguida todos me cumprimentaram e eu os cumprimentei.
Estava perdido, não sabia o porque de estar ali, porque do Gabriel querer minha presença nessa reunião de negócios dele, e a presidente? Procurei por aquela sala.
- Bruno. – Me chamou Gabriel. – Esses são alguns deputados, assim como eu, somos aliados para fazer algumas mudanças na Câmara, são todos amigos. – Disse Gabriel fazendo um sorriso forçado.
- No que vou poder ser útil Deputado? – Perguntei.
- Primeiramente Bruno, o que ouvir aqui, jamais poderá sair daqui. Entendido?
- Sim senhor. – Falei.
- Companheiros, um dia esse garoto aqui poderá ser um de nós, influência minha ele terá. – Riu o Gabriel.
Nisso a porta se abriu, por ela entrou um homem também bem vestido, percebi que não era um homem comum, apesar de baixo, pálido, careca e sem traços marcantes.
- Agora que o Presidente da Câmara chegou, podemos começar. – Falou Gabriel.
- Seja bem vindo vossa excelência. – Disse um dos deputados.
O presidente cumprimentou a todos, inclusive a mim, e se sentou em uma poltrona na ponta daquela imensa mesa de vidro.
- Senhores. Meu tempo é curto hoje, espero que não me venham com mais baboseiras como a do último encontro.
- Pode ficar tranquilo. Já lhe passamos o projeto só queremos a sua palavra de que irá nos ajudar.
- Gabriel! – Exclamou o presidente. – Já disse para não me pressionar sobre como iremos lidar com o rombo que tivemos em nossos cofres. Sabe que estou tentando descobrir quem foi o responsável por isso.
Eu fiquei assustado com a conversa que estava rolando, por que o Gabriel queria que eu presencia-se aquela reunião.
- Senhor presidente. – Levantou Gabriel. – Assim como o senhor, todos nós aqui estamos tentando descobrir. E te ajudar. – Virou-se ficando por de trás de sua poltrona. – Sabes que apoiamos a sua gestão. É ou não é senhores? – Perguntou Gabriel aos demais deputados que concordaram com ele.
- Ótimo. – Disse. – Pois bem, vamos levar o projeto em votação. Simples deputado.
- Não. – Disse Gabriel um pouco assustado voltando a sentar em sua poltrona. – Senhor presidente, você pode fazer isso sem a votação. Você sabe que os outros deputados não irão nos apoiar, ou melhor, ficarão contra a sua gestão.
- Você até que tem razão. – Falou o presidente levantando. – A oposição seria totalmente contra ao projeto.
Eu estava completamente boiando naquela conversa, sobre que projeto conversavam, eu encarava o Gabriel em busca de respostas, e eu não tinha, os deputados conversavam, discutiam e falavam nesse tal projeto. Foram quase uma hora de conversas e discussões, o presidente da Câmara apesar de sua aparência meio acabada, já devia ter visto os mais profundos segredos desse país, ele encarava cada um dos deputados como se os mesmos fossem seus subordinados. O que me fazia pensar, o Gabriel não deve gostar muito disso. Essa reunião acabou e nada entendi do que conversavam, mas no fundo eu sentia que não era coisa boa. O Gabriel se despediu de todos e me chamou para irmos embora. Fomos para o carro e ele não falou uma palavra se quer. Entrei no lado do passageiro, o Gabriel também entrou, colocou a chave na ignição do carro. Segurou o volante com as duas mãos e se virou para mim.
- Você deve ter se perguntado o porquê te levei a essa reunião.
- Não, só fiquei decepcionado que você me enganou, não vi a “presidenta” – Falei fazendo aspas com as mãos, e rimos. – Claro né. Não entendi nada do que disseram e porque me queria lá?
- Primeiro, a “presidenta” só eu conversei. – Ele debochou. – E eu precisava de uma testemunha nessa reunião. – Me encarou. – Por que não alguém confiável como você Bruno.
- Agradeço a confiança. Mas por testemunha? Não entendo.
- Nem queira entender. O dia que eu precisar de sua palavra como testemunha, você estará presente.
- Mas...
- Cale-se Bruno. E quando esse dia chegar, nem tente fugir que eu vou até o inferno pra te procurar.
Fiquei assustado com aquilo, em alguma encrenca o Gabriel me colocou.
- Em que encrenca você me colocou Gabriel? – Perguntei já desesperado. – Poxa, eu não queria isso, eu... Eu, só queria ter uma vida melhor, não quero me envolver com suas coisas, eu não quero. – Comecei a chorar.
- Calma Bruno. – Falou me abraçando. – Não é encrenca. Não vou deixar nada te acontecer.
- Me solta. – Falei empurrando-o. – Eu não consigo te entender Gabriel, você parece mentir para mim, eu tenho medo de você, tenho medo do que possa fazer.
- Bruno. – Falou segurando meu rosto. – Escuta aqui. Nada vai te acontecer, nada vai sobrar pra você. – Soltou meu rosto. – Sei que peguei pesado na brincadeira de te procurar até no inferno pra testemunhar. Foi brincadeira. Aliás. – Aumentou a voz. – Isso nem será preciso.
Nada respondi, o que me disse nada me acalmou, estava nervoso, irritado, com medo do que poderia sobrar pra mim por esse “testemunho” que nem eu sabia do quê. “Testemunhar o quê?” – Eu me perguntava.
- Olha Bruno, eu tenho meus planos, nessa vida política não quero apenas ser um deputado, o jogo político sempre envolve essas coisas, desesperos, discussões, ameaças e etc. – Voltou a me olhar. – Você está ou não do meu lado? – Perguntou-me. – Eu preciso de pessoas que me ajudem, e que não queiram me destruir.
- Sim. – Respondi cabisbaixo.
- Ótimo. Você não vai se arrepender. – Disse dando partida no carro.
***
* Faculdade *
Eu estava muito tenso, não conseguia prestar atenção na aula, àquela reunião à tarde com o Gabriel me deixou preocupado, até que ponto eu estaria me envolvendo. Não acreditei muito nesse papo de testemunha, eu iria a fundo descobrir o que ele queria comigo.
- Cara você tá bem? – Perguntou Diogo me cutucando.
- Hã? Sei lá, acho que sim. – Falei sem olhar pra ele. Ainda afundado em meus pensamentos.
- Parece que está tão longe. Eu to falando com você faz tempo e não me responde.
- Me desculpa, só estou cansado.
- Os dois podem parar de conversa? Acham que a matéria é brincadeira pra não prestarem atenção? – Disse insuportavelmente o Júlio Cesar.
Ficamos quietos e ele voltou a dar aula, sinceramente não via a hora da aula acabar e ir embora. Entre aula e intervalo, passaram-se duas horas, e finalmente aquele inferno acabou, pelo menos por aquele dia. Fui saindo conversando com a Jennifer.
- Muito mala esse Júlio César, não fui com a cara dele. – Falou ela.
- E eu muito menos.
- Bruno, você tá muito calado hoje, tá estranho. – Falou Jennifer me encarando.
- Impressão sua, estou cansado apenas.
- Desculpe me meter. – Falou parando e ficando de frente a mim. – Mas seu olhar não é de cansaço, é de preocupação.
- Como tem certeza? – Perguntei um pouco espantado.
- Não tenho. Mas conheço as pessoas só pelo olhar.
- Pensou em ser juíza? – Ri.
- Estou pensando seriamente nisso. – Falou rindo também. – Mas sabe Bruno, pode contar comigo para o que precisar. – Falou abrindo um sorriso encantador, destacando seu belo par de olhos azuis.
- Obrigado Jenni. – Disse e abracei.
- Não precisa agradecer.
Nisso a Stephanie chegou, o Diogo não o vi, ele havia saído da sala bem antes de nós. As meninas se despediram de mim e foram até o ponto de ônibus. E eu fui caminhando para fora do Campus. Um carro se aproximou e parou, era o do Diogo.
- Por que não me esperou Bruno?
- Eu pensei que você já tinha ido embora.
- Não. Tive que atender uma ligação urgente. Entra aí no carro.
- Não precisa. – Falei.
- Não seja teimoso, você sabe que é caminho para mim a sua casa.
Entrei no carro, ele acelerou e saímos do Campus da Faculdade.
- Eu vi aquele abraço com a Jennifer. Vai pegar? – Perguntou Diogo.
- Não. Foi só de despedida. – Desconversei.
- Uhum, sei. – Me encarou. – Ela é bem gostosinha, e pelo jeito está na tua viu?
- Não posso. – Falei mostrando minha aliança.
- Tua namorada não precisa saber disso. – Disse ele rindo.
- Mas eu saberia, sou fiel. – Falei tentando terminar o assunto. Ele percebeu minha irritação e se calou, não tocou mais no assunto.
- Cara, admiro sua fidelidade. Sempre tive problemas com isso. Não sei se é culpa minha ou das namoradas que namorei.
- Que culpa te suas namoradas?
- Sei lá. Tive namoradas que me negavam sexo, namoradas que não me davam atenção. Foda viu.
- Seu GPS pra achar namorada que preste deve estar quebrado. – Falei.
- Olha que deve estar mesmo. – Ele riu. – Cara, eu queria sair um pouco agora, num barzinho, vamos comigo?
Continua...