Em algum lugar, … o reencontro...
De volta ao seu lar, o centurião mergulhou seu corpo e sua mente na digna labuta de defender o estandarte romano, pedindo sua baixa da Guarda Pretoriana e voltando ao campo de batalha, lutando em infindáveis batalhas e colhendo vitórias e derrotas. Sua legião de homens dedicados e fiéis ao seu comando lutaram bravamente. Muitos pereceram no campo de batalha e poucos foram aqueles que puderam angariar o fruto de sua pilhagem ou ainda voltar a ver suas famílias. Antônio, por sua vez, sentia-se cansado de tantas lutas e tantos ferimentos que lhe foram impingidos pelos diversos inimigos da grande Roma, mas, por outro lado, sentia uma ferida que ele bem sabia jamais cicatrizaria: a ferida em seu coração e em seu corpo... a ausência da princesa persa que havia lhe tornado a existência muito mais colorida e muito mais frutífera.
A certa altura dos embates, o centurião soube, através de seu superior, que, em breve, enfrentariam o poderoso exército persa em campo aberto. Seria uma batalha sangrenta, cujas baixas poderiam enfraquecer a armada romana, mas que tornara-se inevitável e cuja proximidade se avizinhava de forma ameaçadora. Antônio não sentiu medo... pelo contrário, ansiava pela batalha e pela oportunidade de avançar dentro do território persa e resgatar a sua Léa.
Todavia, a deusa da sorte não mais lhe sorria. O general Cassius veio ter com ele dizendo-lhe sobre sua promoção para comandante da oitava legião e de sua imediata partida para a frente bretã, onde, provavelmente, ele teria que enfrentar os bretões do continente, como também os britânicos da ilha. O Centurião, agora General de Legião, tinha o coração despedaçado pelo infortúnio e pelo desgosto; se partisse para a nova frente de batalha, comandando a oitava legião, sabia muito bem que jamais tornaria e ver a princesa Léa e que a remota possibilidade de tê-la em seus braços seria apenas mais um sonho distante que alimentaria sua alma até o fim de seus dias.
Ele quis resistir, quis negar-se a aceitar a promoção … preferia mil vezes a morte no campo de batalha com os persas do que viajar aos confins do continente para enfrentar um outro inimigo indesejável sem a mínima oportunidade de voltar a ver o rosto e o corpo da sua Léa. Mas, infelizmente, as palavras de Cassius soavam tão impositivas e resolutas que restou a Antônio apenas quedar-se silente, baixando a cabeça e agradecendo pela oportunidade de, mais uma vez, mostrar seu valor para toda a Roma.
Poucos dias se passaram até que o guerreiro iniciasse sua longa viajem até as terras dominadas pelos povos bárbaros do norte: bretões do continente, gálios, saxões e britânicos das ilhas, povos cuja crueldade em batalha, a coragem e a determinação eram velhas conhecidas do exército romano e que agora tornar-se-iam as melhores companhias para o espírito atormentado do general chefe da oitava legião, cuja missão era árdua e dolorosa. Ele precisava resgatar o moral de seus comandados, como também rechaçar as investidas sanguinárias dos bárbaros, cuja principal intenção era a derrota plena e total do império romano.
Assim que chegou, Antônio mal teve tempo de organizar-se e conhecer melhor seus comandados, já que os ataques desferidos pelos inimigos eram constantes como o mau tempo da região e ferozes como o rugir dos trovões que ecoavam dia e noite, assolando almas e corpos dos valorosos combatentes da região do Lácio. Mesmo assim, o romano tinha uma chaga em seu coração que o tornara ainda mais duro e insensível à ameaça de qualquer inimigo. Cada golpe de sua espada, cada estocada de sua lança eram uma forma de amenizar a dor da ausência de sua pequena princesa persa, do calor de seu corpo sinuoso e desejável, dos beijos quentes e molhados que saciavam a sede de seu espírito... cada nova batalha era uma razão para levantar-se pela manhã, comer uma refeição frugal na companhia de seus irmãos de armas e partir para o campo de batalha, encarando o inimigo, olhos nos olhos, até que eles se fechassem ante o poder de um golpe desferido pela espada do centurião de alma vazia e destituída de sensações.
Dias se passaram, vieram os meses e seguiram-se os anos. O corpo de Antônio tinha tantos ferimentos e chagas que havia dias em que ele mal conseguia levantar-se da cama. Apenas a ausência sublime de sua princesa persa operava ainda como razão para ele continuar, persistir na derrota do inimigo. E houve um dia, um dia incomum, onde a batalha não perdurou mais que algumas horas com o inimigo rendendo-se ainda com vida. Milhares foram os prisioneiros. Homens robustos, trajando armaduras de couro ou de couro com metal, com escudos de desenhos típicos de animais da região e armas confeccionadas por armeiros excepcionais, mas cujos rostos traziam a pura expressão do desgosto de render-se a um inimigo odiado ao extremo.
Entre eles havia um jovem guerreiro chamado Igor. Ele era nascido na Moldávia e fora trazido para os povos do norte junto com seu pai e seu irmão em busca de ouro e glória, mas encontrara apenas dor e ódio. Os próprios prisioneiros saxões e bretões o desprezavam, … diziam que ele trazia má sorte para o campo de batalha e por várias vezes tentaram assassiná-lo sem, porém, redundarem em qualquer sucesso. Igor era jovem e forte. Alto para os padrões romanos e cuja musculatura bem delineada fazia com que ele se parecesse com um deus romano. Seus longos cabelos loiros e seus olhos de um azul cristalino concediam-lhe um certo ar de nobreza que além de impactar qualquer observador, acendia neles um ódio natural pelo que era, ao mesmo tempo, belo e mortal.
Em pouco tempo, Antônio e Igor tornaram-se próximos e uma noite após comerem sobre a mesma mesa, foram saciar suas mágoas em alguns copos de hidromel (a bebida preferida dos bárbaros e muito conhecida dos romanos), até que a bebida surtiu efeito, fazendo com que o romano despejasse sua amargura pela ausência de sua amada princesa persa. Igor comungou da dor do amigo recém-conquistado e após ouvi-lo atentamente, disse que havia alguém que poderia ajudá-lo a minimizar os efeitos daquela enorme dor. Disse que entre os prisioneiros havia uma guerreira celta de nome Astrid que também era conhecida pelas suas habilidades com a magia e a quiromancia. Explicou-lhe que ela poderia ajudá-lo a saber se, algum dia, ele tornaria a encontrar a sua Léa.
Inicialmente, Antônio demonstrou incredulidade, já que sua mente de guerreiro admitia apenas aquilo que podia ver e sentir com a lâmina de sua espada, mas, aos poucos, com o passar dos dias, a ideia de que houvesse alguém capaz de predizer seu futuro – especialmente seu futuro com Léa – tomou forma e consistência, até que, então, ele ordenou a um tenente que trouxesse a sua presença a tal celta.
Astrid era uma belíssima mulher de corpo delgado e sinuoso, olhar provocador e insinuante e uma aura de magia que parecia envolvê-la em uma espécie de halo misto de medo e curiosidade. Antônio ordenou que a soltassem e ofereceu-lhe comida e vinho. A celta, ainda com o olhar de uma gata desconfiada, apreciou a refeição e o vinho. Depois de algum tempo, Antônio – que não era dado a tergiversações desnecessárias e inócuas – perguntou-lhe a queima-roupa se ela tinha o dom da prestidigitação. Astrid olhou para ele e riu quase de escárnio, respondendo apenas que ela tinha muitos dons.
Antônio aproximou-se dela e fez uma proposta: se ela pudesse responder a uma pergunta dele, e se ele acreditasse nela, Astrid estaria livre para partir de volta ao seu povo, sem ameaças e sem receio … todavia, se ele não acreditasse no que ela viesse a lhe responder, ela morreria na ponta de sua espada. A celta fixou o olhar nos olhos injetados de seu interlocutor e depois de alguns segundos de puro e absoluto silêncio, respondeu apenas que o que importava não era a pergunta ou mesmo a resposta, … apenas se ele acreditaria em si próprio e no que seu coração sinalizasse. Dito isso, Astrid pediu que ele formulasse sua pergunta; Antônio, então, perguntou-lhe sobre a possibilidade de voltar a ver sua princesa.
Astrid ficou imóvel por alguns instantes, fitando o rosto e o olhar perdido de seu anfitrião para, logo em seguida, levantar-se e caminhar até a porta do alojamento. Olhou para o firmamento e em poucos segundos uma coruja tigre pousou sobre um de seus braços. Antônio ficou estupefato com aquela cena insólita; a ave noturna de asas enormes fincou as garras sobre o braço da celta sem, porém, causar-lhe qualquer mal. Astrid acariciou a coruja e depois arrancou-lhe uma pena. Feito isso, a ave partiu da mesma forma que chegou.
A celta caminhou até onde Antônio estava sentado e ajoelhando-se entre suas pernas, tomou um de seus braços e com um movimento rápido usou a ponta da pena como uma lâmina causando um pequeno corte na parte interior do pulso que imediatamente sangrou um pequeno filete de sangue. Astrid, cuidadosamente, colheu uma gota com a ponta de pena para, na sequência, levá-la até seus lábios sorvendo-a com sofreguidão.
A celta levantou-se novamente e despiu-se de sua armadura de couro, ficando nua na frente do guerreiro romano. Ela inclinou seu rosto até próximo do dele e aproximando seus lábios de sua orelha pronunciou apenas uma frase.
-Léa está aqui … sempre esteve e sempre estará, … dentro de você, … junto de você … quando você precisar dela … e creia, vai precisar, ela virá para te salvar... – assim que terminou de falar, Astrid pareceu entrar em uma espécie de transe e começou a dançar na frente do romano. Antônio não sabia o que estava acontecendo, mas os movimentos sensuais e cadenciados da celta lembravam exatamente os meneios corporais da sua princesa. Ademais, ela disse “Léa” quando ele apenas havia perguntado sobre sua princesa.
Repentinamente, Astrid cessou a dança e com um movimento quase felino fincou a ponta da pena no ombro de Antônio que gritou de dor, reagindo de forma instintiva – natural de um guerreiro – e jogando a jovem ao chão longe dele. Ela olhou para ele como um felino acuado e pronto para o ataque e disse: -Creia, quando chegar a hora esse ferimento vai sangrar e trazer Léa para você.
Na manhã do dia seguinte, ninguém entendeu quando o General ordenou a libertação da celta, mandando-lhe fornecer um cavalo e restituindo suas armas. Astrid montou e altiva como é característica das guerreiras celtas, olhou em volta para, logo em seguida, açoitar o animal disparando em cavalgada frenética. E enquanto ela se afastava, Antônio tocava o ferimento no ombro pensando se tudo aquilo fora verdade ou apenas o coração falando mais alto que a razão.
Nos dias que se seguiram as batalhas foram ainda mais cruéis e sanguinárias. Milhares de baixas sucederam-se em ambos os lados da luta que seguia encarniçada, rebelde e despropositadamente mortal. E foi em uma tarde no início do inverno que Antônio conheceu seu mais terrível oponente. Seu nome era Egberto e seus companheiros o conheciam como “O Senhor do Machado Longo”. Era um saxão enorme de peito largo e repleto de cicatrizes profundas, cujo rosto também repleto de marcas era duro e agressivo, enegrecido por uma barba mediana que parecia ser muito bem cuidada, contrastando com o conjunto da obra. Trajava apenas uma calça feita de couro e botas altas de pele de antílope. Trazia braceletes metálicos em ambos os braços e carregava em uma das mãos a arma que lhe dava o nome: o machado saxão de lâmina longa, com entalhes forjados nos beirais e o gume protegido por gordura animal para não enferrujar. Não era uma arma nobre, muito menos precisa como a espada. Porém, a rudeza de sua eficiência já havia sido comprovada por vários legionários romanos que haviam perdido partes de seu corpo ou a própria vida ao enfrentá-lo.
O Clamor da batalha rugia por todo o campo de combate e quando o saxão levantou-se por sobre uma pilha de corpos destroçados, Antônio teve a certeza de que eles iriam digladiar-se até a morte. O romano, então, sacou sua espada longa e posicionou-se para enfrentar o campeão dos saxões, alertando seus homens que aquela era uma luta pessoal e que ninguém deveria interferir em seu resultado, pois o vencedor poderia submeter o exército do vencido – essa era a tradição saxônica que Antônio já conhecia de tanto lutar com aqueles bárbaros guerreiros – e a partir daquele momento só haviam ele e seu oponente no campo de batalha.
Egberto aproximou-se de seu desafiante e após um grito gutural, ele convocou os monges druidas para que dele se aproximassem e finalizassem os preparativos do combate. Foi então que dois homens nus destacaram-se da turba de guerreiros, avançando na direção onde Antônio e Egberto confrontavam-se. Eram feiticeiros celtas chamados também de druidas e que pertenciam a diversas e diferentes tribos da região. Aqueles, no caso, eram druidas bretões que foram submetidos aos saxões, servindo a eles enquanto isso fosse do seu interesse. Estavam cobertos por estrume de vaca, o que lhe concedia uma coloração estranha e entoavam cânticos em sua língua ancestral dançando em torno dos rivais sem encará-los diretamente.
Quando terminaram, um deles aproximou-se do romano e depois de tirar da sacola que carregava uma pequena ave já morta, colocou-a entre os dentes, mordendo até rasgar sua pele. O sangue vermelho escuro e de cheiro quase pútrido jorrou e, imediatamente, o druida o cuspiu sobre o peitoral do centurião, pronunciando algumas palavras em seu dialeto. Antônio permaneceu imóvel e quando olhou para Egberto ele tinha um olhar metálico fixado na armadura do seu oponente.
Assim que os druidas afastaram-se, posicionando-se ao lado dos combatentes, foi Egberto que deu início à contenda, levantando seu machado e partindo para cima do romano que por duas vezes seguidas, conseguiu esquivar-se dos golpes de seu oponente, fintando para um lado e depois para o outro. Antônio sabia que a maior habilidade do saxão não estava na agilidade, mas sim na potência de seus golpes e evitá-los era o melhor a fazer até o momento em que pudesse encontrar a oportunidade de golpeá-lo com precisão.
A luta prosseguiu, feroz, brutal e sanguinária. Por duas vezes, Antônio conseguiu esquivar-se de um golpe direto, porém, sofreu os efeitos secundários quando Egberto tornou a levantar seu machado em diagonal, provocando dois cortes profundos no romano: um no ombro onde Astrid havia fincado a pena de coruja e outro no quadril esquerdo, sendo que este último foi mais profundo, tornando Antônio lento no contra-ataque.
Na mesma sequência, o centurião foi capaz de impingir algum sofrimento ao saxão, ferindo-lhe o antebraço direito e a coxa esquerda com sua espada e cravando sua ponta no calcanhar direito do campeão que, neste último, sentiu o peso de seu corpo cair em direção ao joelho oposto, obrigando-o a ficar meio agachado, apoiando-se apenas na perna ainda forte. Antônio sentiu que aquela era a oportunidade de findar a contenda, vencendo seu oponente sem, no entanto, causar sua morte.
Aproximou-se com a rapidez de que dispunha naquele momento e, levantando sua espada em diagonal oposta ao do combatente saxão, saltou com o intuito de desferir-lhe um golpe curto e preciso de sua lâmina por sobre o ombro de Egberto, o que poria o campeão fora de combate. Todavia, Egberto também havia antecipado o golpe e assim que o romano veio em queda na sua direção, ele levantou rapidamente o contraforte de seu machado, acertando em cheio o peitoral do romano que, quase desacordado, caiu por sobre ele beijando a terra e desfalecendo ante a fúria do golpe quase mortal.
A luta estava terminada. O saxão havia vencido, e os seus pares urraram em um brado tão potente, que os legionários romanos sentiram o sangue congelar em suas veias. O segundo em comando da legião não esperou para ordenar um ataque massivo contra os oponentes bárbaros e o que se viu a seguir foi um verdadeiro banho de sangue. Os saxões, acostumados à luta corpo a corpo, formaram uma extensa parede de escudos e avançando em carga ligeira vieram de encontro aos legionários que, mesmo em formação de lança não foram oponentes suficientemente capazes de deter a ameaça saxã que como uma onda furiosa, rompeu a formação romana, passando a golpear impiedosamente os guerreiros romanos dizimando-os em poucas horas.
Antônio, que depois de algum tempo, havia recobrado parcialmente sua consciência, somente pôde testemunhar a derrota de sua legião, vendo com dor e sofrimento na alma, corpos de seus companheiros de luta sendo decepados ou partidos ao meio pelos golpes de machado e espada dos saxões sedentos de sangue e morte. E quando a tarde chegou, trazendo consigo o frio vento do norte, o campo de luta estava forrado de pedaços sangrentos de romanos dizimados. Apenas ele, Antônio, havia sobrado, inclusive por intervenção direta de Egberto que vez por outra gritava aos companheiros de armas que aquele valente romano deveria ser poupado. Quando o campeão saxônico viu-se cercado de seus irmãos de armas, levantou seu machado emitindo um grito de vitória que foi acompanhado por milhares de vozes que com ele desfrutavam daquele momento único.
A última visão de Antônio antes de perder os sentidos, foi a de Egberto caminhando em sua direção e dizendo: “lutou bem, romano, … por isso não vai morrer nem aqui, nem agora …”.
Por duas vezes, o centurião recobrou parcialmente seus sentidos, mas em ambas o cansaço e a dor foram mais fortes, fazendo com que ele desmaiasse mais uma vez. Ouvia vozes, pessoas próximas comentando e rindo com escárnio, e algumas vezes viu vultos movimentando-se acerca dele … todavia tudo isso parecia distante. Ele perdera por completo a noção de tempo e espaço, … pensava que estava morto, ou meio-morto, algo como um estágio intermediário entre a vida e o Hades – o limbo – onde ele penaria por mais tempo do que podia imaginar até descer ao reino de Hefestos a fim de receber sua punição pela derrota sofrida.
Subitamente, o cheiro acre de sangue apodrecido invadiu as narinas do romano, forçando-o a um despertar repleto de dor e de humilhação. O ambiente estava escurecido pelas sombras da noite, muito embora pequenos raios prateados do sol da manhã banhassem o teto do que Antônio supunha ser uma cela ou calabouço, mas que brevemente revelou-se ser apenas uma gaiola de metal coberta por uma pequena paliçada de juncos e estrategicamente apoiada sobre uma parede de rocha, fincada nas laterais por cravos de ferro presos a argolas. O Romano estava nu, sentia frio, fome e sede. Seu corpo doía com se todo ele fosse uma enorme ferida. Havia hematomas enegrecidos, pequenos tumores inchados e diversos cortes que teimavam em não cicatrizar completamente.
Ele não sabia exatamente quanto tempo havia se passado desde a batalha com os saxões, muito menos que lugar era aquele onde se encontrava e porque ainda permanecia vivo mesmo depois de sua legião ter sido totalmente aniquilada. Mesmo sem forças para buscar respostas, Antônio precisava delas para sobreviver à ausência de sua Léa, … sua princesa persa distante e perdida de seus braços, de seus beijos e do seu desejo. E quando o dia finalmente chegou, o romano viu-se no meio de uma fortificação que pertencera ao seu exército e que, agora, era o centro da pequena comunidade saxônica em terras do norte.
Antônio não tinha forças para mais nada e sua alma clamava pela brevidade da morte. Ele ansiava pela libertação que ela proporcionaria não apenas ao seu corpo como também à sua alma amargurada pela falta do corpo doce e sensual da sua Léa. E apenas por um breve momento ele pensou que era ela que caminhava na direção de sua prisão. De início pareceu apenas um vulto escondido por entre luz e sombras que, pouco a pouco, foi tomando a forma de uma silhueta de curvas generosas e andar gracioso. Apenas quando ela ajoelhou-se a sua frente e o delicioso odor de lavanda e jasmim penetrou nas narinas sufocadas do romano, ele teve certeza de que a morte vinha abraçá-lo em definitivo. Somente aquela voz suave e reconfortante amenizou sua certeza, concedendo-lhe o benefício da dúvida.
-Acalma-te, meu amo e senhor, … sossega teu espírito que do teu corpo cuido eu … – Antônio queria sorrir, queria falar, queria abraçar sua Léa, mas não tinha forças. E quando os doces lábios dela tocaram os dele houve a certeza de que poderia morrer em paz. Cerrou os olhos e imaginando que aquela seria sua última vez adormeceu para nunca mais acordar.
O Centurião foi acordado pelo carinho morno e doce das mãos femininas que banhavam sua pele com água de rosas e bálsamo. Entreabriu os olhos pensando que veria uma ninfa cuidando dele, mas os olhos faiscantes da princesa persa fitavam-no com um brilho de desejo eterno que foi satisfeito apenas naquele momento. Antônio abraçou-a e apertou seu corpo contra o dele. Sentia-se revigorado, sem saber se havia sido curado de seus diversos ferimentos, ou se a simples presença da princesa persa foi a panaceia de todos os seus males. Os lábios sedentos e vazios dele encontraram os dela num beijo quente, úmido e demorado, enquanto as mãos dele passeavam ao longo da pele desnuda de sua amada.
Ele fez menção de levantar-se de onde estava, mas rapidamente percebeu que ainda estava com suas forças eivadas pela dureza do campo de batalha. Léa segurou-o pelos ombros suplicando que ele permanecesse onde estava.
-Meu amo precisa descansar e repousar, … fique tranquilo, pois eu estarei aqui, ao seu lado … – ouvindo essas palavras, o romano adormeceu mais uma vez, mas com a certeza de que aquilo não era um sonho e que, finalmente, ele havia reencontrado a razão de sua existência.
Muitos dias se passaram até que Antônio tivesse forças para levantar-se e caminhar. Saiu da tenda onde passara os últimos tempos e vislumbrou o oásis onde estavam estacionados. Era uma caravana e tanto, com mercadores de tecidos, de especiarias e de peças artesanais vindas não apenas da Pérsia, mas também de outras regiões do Oriente. Ele estava ali, fitando o horizonte feito de areia e céu vasto, quando sentiu o abraço carinhoso. Voltou-se e viu a princesa persa que sorria feliz a satisfeita pela plena recuperação do romano.
Ele voltou-se para ela e fitou-a nos olhos com um brilho profundo para, em seguida, sentir o doce sabor de seus lábios e a deliciosa umidade de sua boca. Quis saber como ela o havia encontrado e como fizera para resgatá-lo das hordas saxãs. Léa retribuiu o olhar com outro repleto de docilidade, e depois de respirar profundamente, contou-lhe que uma jovem fora ao seu encontro dizendo que tinha notícias dele. Pela descrição dada pela persa, Antônio não tardou e descobrir que a tal jovem fosse Astrid.
Léa, então, criou coragem, vendeu alguns pertences de valor e embarcou junto com aquela caravana que ia para as terras do norte negociar peles e especiarias. Não foi muito difícil obter notícias sobre o comandante romano que fora aprisionado pelo campeão tribal, após uma luta honrada e sangrenta. Descobrindo, finalmente, o lugar do cativeiro de seu amado, a princesa foi ter com Egberto, o guerreiro saxão, pretendendo negociar a liberdade do seu amado.
Contou, por fim, que o saxão ficou encantado com a determinação dela e após uma breve negociação que lhe custou duas escravas númidas, Léa obteve o resgate do seu amado, retornando de volta para as terras áridas do deserto.
Outra vez beijaram-se ardentemente e não tardou para que Antônio denunciasse que sua recuperação havia sido plena. Tomou a persa pelas mãos e conduziu-a de volta para o interior da tenda. Lentamente, ele a despiu, sorvendo cada precioso momento em que ele revelava o corpo da mulher a quem desejara por muito tempo. Tomou os seios dela em suas mãos e depois de acariciá-los sugou e chupou os mamilos entumescidos com a sofreguidão de quem deseja saciar sua fome de desejo. Léa, por sua vez, livrou o corpo de seu amado das vestes que o protegiam sentindo-lhe a pele quente e firme, enquanto acariciava seus cabelos que haviam sido cortados e lavados e agora estavam sedosos e macios.
Antônio estava por demais ansioso e não demorou muito em deitar sua amada na cama rudimentar feita de tecidos, peles de animais e almofadas de linho, cobrindo-a com seu corpo nu e sentindo seu calor e seu desejo que apenas correspondiam ao dele. Foram beijos sôfregos, carícias sutis, olhares lânguidos até que, por fim, Antônio a penetrou com a pujança de um macho revigorado pelo desvelo de sua amada. Foi uma penetração incomum, como se fosse a primeira de ambos, e mesmo que não fosse, concedia a eles o benefício da sensação única e excepcionalmente excitante de reproduzir o que estava há muito represado.
Antônio estocava a vagina de sua amada com o mesmo vigor da primeira vez, beijava-lhe os mamilos, acariciava seu rosto e apreciava o sorriso plácido daquela mulher que fora concebida nas estrelas para ser exclusivamente dele. Léa gozou, intensamente, e não apenas uma, mas várias vezes, gemendo, sussurrando súplicas de prazer no ouvido de seu amado que persistia na cópula. Parecia sentir-se renovado, um outro homem, forte, viril e cheio de desejo.
Eles copularam por horas a fio, sem hesitações ou outros pensamentos que não fossem aqueles destinados à plena satisfação da carne e do espírito. Antônio não queria que aquele momento tivesse fim e exatamente por isso, tirou seu mastro do interior de sua amada para sorver em sua boca o líquido cristalino que escorria de sua vagina imundada de tesão e de prazer. Chupou e lambeu a vagina de Léa fazendo com que ela gemesse ainda mais, enquanto suas mãos acariciavam os cabelos dele. Antônio não queria nunca mais perder aquele corpo e por isso mesmo chupava aquela vagina como se fosse a última vez, mesmo desejando que fosse apenas a primeira. Léa gozou intensamente por várias vezes e quando ela supôs que ele havia se cansado, foi manuseada pelas mãos hábeis do romano fazendo com que ela girasse seu corpo sobre a cama revelando sua bunda deliciosamente desenhada pela deusa Afrodite.
O romano não perdeu tempo e imediatamente mergulhou seu rosto no vale formado pelas nádegas firmes e generosas de sua preciosidade, passeando sua língua marota em torno do orifício pelo qual sua rola pulsava de maneira quase insana. Léa gemia e sibilava, louca de tesão, desejando que seu macho não deixasse de cuidar de sua bunda sedenta de língua e outras coisas mais.
-Ai, meu senhor, … meu buraquinho clama pelo seu pinto! Vem, sem demora, … me faz tua outra vez, me faz tua para sempre! – a excitação da persa não era maior que a do romano que em poucos segundos fez com que sua língua penetrasse a entrada do ânus provocando um espasmo descontrolado no corpo de sua parceira cuja pele fremia e a respiração arfava. Antônio viu que era chegada a hora e puxando o corpo de sua princesa, fez com que ela ficasse de quatro para ele e sem perda de tempo, o romano apontou seu membro grosso e de cabeça inchada e pulsante na direção do cuzinho de sua amada, penetrando a glande com uma única e precisa estocada.
Léa gemeu alto e, em seguida, gritou para que ele continuasse sem piedade, pois ela queria sentir seu mastro enterrado nas entranhas quentes e úmidas dela. Antônio avançou sem temor com estocadas cada vez mais lentas e profundas, até sentir que toda a sua rola estava aconchegada no interior de sua princesa. Léa gemia, e algumas vezes balbuciava palavras repletas de tesão e de desejo. E eles copularam como dois insanos, esquecendo-se do tempo e do espaço, pois naquele momento haviam apenas um macho excitado possuindo uma fêmea cuja beleza e sensualidade ultrapassavam os limites da terra para chegar ao cosmos.
Repentinamente, Léa buscou alguma coisa debaixo de uma almofada. Tomou nas mãos um artefato de marfim que tinha o exato formato e dimensões de um pênis. Exibiu-o para seu parceiro, e depois de chupá-lo com a intenção de deixá-lo devidamente lubrificado, estendeu-o para Antônio suplicando que ele o enfiasse em sua vagina.
-Faz de mim sua duas vezes, meu senhor … faz de minha vagina seu brinquedo de obscenidade e pecado … rompe as barreiras do físico e toma meu seu como seu instrumento lúdico de plena satisfação.
Antônio tomou o ornato com uma das mãos para, em seguida, introduzi-lo na vagina de sua parceira que gemeu ainda mais alto, sentido o doce sabor da dupla penetração. E enquanto estocava o ânus dela com seu mastro, o romano imitava os movimentos de vai e vem na vagina com o instrumento lúdico que proporcionava uma dupla penetração.
Léa, a princesa dominada, jogava seu traseiro para trás buscando não perder a intensidade e a cadência das estocadas viris e másculas de Antônio que, por sua vez, suava aos borbotões, mas não cedia ao esforço corporal, pois em cada avanço e retrocesso de sua rola, ele sentia-se mais potente e mais determinado a impedir que aquela cópula acabasse … era como se ele quisesse recuperar o tempo perdido longe da sua princesa persa, … queria que ela fosse dele não apenas ali e agora, mas em qualquer momento, … e para sempre!
Quando, finalmente, o romano sentiu seu corpo fraquejar, denunciando que o orgasmo estava por vir, ele anunciou para sua parceira que ia despejar seu sêmen quente e viscoso dentro dela, e para isso, tirou o artefato de sua vagina afim de tornar mais intensos os movimentos pélvicos contra o traseiro de sua princesa. Léa empurrou seus quadris para trás com tanta violência que Antônio pensou que ia cair, e buscou recuperar-se o mais depressa possível.
-Não! Quero teu jorro esparramado pela minha pele, … quero sentir o calor do seu desejo e do seu tesão tomando conta de todos os meus poros, meu amo e senhor … goza quando quiseres, … mas goza sobre mim e não dentro de mim, pois dentro de mim já sou tua há muito tempo! – as palavras sinceras e repletas de desejo da princesa invadiram o subconsciente do romano que viu-se dominado por uma energia primal que jamais ele sentira em toda a sua vida. Ele urrava como uma fera no cio, enquanto intensificava seus movimentos de vai e vem, impingindo um doce castigo ao ânus de sua amada e sentindo o orgasmo brotar de suas entranhas e avançar na direção de seu ureter.
E deu-se o momento mágico em que o romano retirou seu mastro de dentro de sua amada ejaculando com um vigor e uma pujança indescritíveis. Os jatos saltavam altos e longos, e a enorme carga de sêmen lambuzou as nádegas, as costas e os cabelos de sua amada que ainda teve tempo de virar-se de frente para ele, oferecendo sua boca como receptáculo do doce sabor do orgasmo do seu macho.
Aos poucos os corpos de ambos cederam à imperiosidade do cansaço que os fez quedar-se sobre a cama, adormecendo logo em seguida. Dormiram abraçados por tanto tempo que o dia foi sucedido pela noite que, por sua vez, deu lugar a um novo dia. Léa acordou de sobressalto quando percebeu que seu amado não estava ao seu lado e procurando por ele dentro da tenda, viu o romano em pé, nu, olhando para o horizonte vermelho dourado que prenunciava o novo dia que chegava.
Ela se levantou e correu para abraçá-lo pelas costas suplicando que ele voltasse para o leito e que jamais saísse de perto dela. Antônio voltou-se para Léa e abraçou-a fortemente, enquanto lhe enviava um olhar terno e repleto de carinho.
-Não se preocupe minha pequena persa, … faz muito tempo que tu roubastes o meu coração, minha alma e meu corpo. Sou teu hoje, amanhã e sempre! – Antônio sorria carinhoso querendo deixar claro que não se tratavam apenas de mais palavras ditas ao vento.
-Mas, e Roma meu amado, o que será dela, o que será de ti? Não quero e não posso te perder outra vez!
-Me perder! Jamais, minha princesa, de perto de ti jamais me arredarei, … e mesmo que o tempo passe e que as areias mudem de lugar eu sempre estarei contigo.
Os dois se abraçaram e fitaram o horizonte. Um novo dia nascia e uma nova existência se construía. O romano jamais voltaria para casa, pois a partir daquele dia ele compreendeu que seu lugar era onde a princesa persa estivesse.
(Fim da terceira parte)