UMA SEMANA DEPOIS...
- Eu não acredito que você transou com o irmão do bofe rico. – dizia o Igor, estarrecido.
- Transei e não me arrependo. O Mauro é um homem espetacular! E sei o quanto é difícil encontrar homens como ele.
- E por acaso você contou ao Mauro o que você faz?
- Igor! Qual é a tua hein? Ao invés de me apoiar, fica pondo água fria nas coisas.
- Não se esqueça Sandro, que a sua família...
- Eu não tenho família! Chega desse assunto!
- Não adianta você fugir. O seu tio outro dia te procurou.
- Eu já te falei mais de mil vezes... Os meus pais morreram e eu não tenho mais ninguém! Fui claro? Que SACO!
Eu saí da sala antes que a gente brigasse. Eu odiava falar do meu passado, por mais que ele me perseguia todas as noites, pra mim era insuportável tocar no assunto. O que eu fiz, foi inevitável! Eu precisava ter feito. Eu sei que o caminho ao qual escolhi para minha vida, talvez não tivesse mais volta... Mas ter o carinho das pessoas me fazia bem. Fazia eu me sentir menos sozinho no mundo.
Antes que eu entrasse para o banheiro e me preparar para mais um dia na calçada da vida, o meu celular tocou. Era número desconhecido e eu achei estranho, pois a maioria dos meus clientes, eram registrados no meu telefone.
- Alô! – resolvi atender.
- Nossa, que voz mais gostosa de ouvir.
- Quem está falando?
- Advinha?
- Eu não tenho bola de cristal e detesto adivinhações. Vou desligar o telefone.
- É o seu admirador secreto.
- Ok. Não vai falar quem é, vou desligar.
- Calma! É o Mauro. – ele se apressou em dizer quem era.
- O que você quer comigo? – no fundo, eu adorei ele ter ligado. Eu já estava com saudades dele, e mais ainda do Alexandre, que depois do beijo forçado que lhe dei, nunca mais me procurou.
- Lembra do tempo?
- Que tempo? – eu quis saber.
- Você disse que me daria um tempo para pensar no meu pedido. O tempo demorou demais e eu quero saber agora, se você aceita ou não, namorar comigo.
- Eu...
- Não adianta me enrolar. Aceita ou não, ser meu?
Era uma proposta tentadora. Mesmo que eu não o amasse, ele me fazia bem, e eu acho que isso era o mais importante.
- Você é um cara bacana. Safado, muito safado. – eu ri. – Mas mesmo assim, eu gosto de você. Eu aceito o pedido com uma condição.
- E qual a condição. – ele já estava animado do outro lado da linha. Mauro já namorou vários caras na Inglaterra e a única pessoa que sabia disso, era o seu irmão. Os pais dele, jamais imaginavam que o filho fosse bissexual.
- Promete manter segredo? Ninguém pode saber que eu e você temos um caso, nem mesmo o Alexandre.
- Prometo. Agora... Vamos marcar de se encontrar, pois eu to louco para dar um beijo nessa tua boca gostosa.
- Mais uma coisa Mauro... Você sabe que eu não sou rico e nem ganho bem.
- Eu sei que vendedor externo, não ganha o melhor salário.
- Vendedor externo?
- Foi você quem me disse que trabalhava disso. Já mudou de emprego?
- Claro! – eu nem me lembrava mais da tal mentira. – Não, eu continuo nesta profissão.
Achei melhor não dizer o que eu fazia de verdade. Mas pera aí. Como eu ia ficar com ele, se eu transava com outros para me sustentar? Meu Deus... Eu não posso fazer isso.
- Sandro, eu queria dizer que estou cada dia mais gamado em você. E quero que saiba, que eu estarei sempre do seu lado para o que você precisar.
A voz dele foi tão meiga e generosa que eu não tive coragem de acabar o que mal havia começado. Eu iria arriscar. A minha vida sempre foi assim e não seria diferente agora. Mesmo eu sendo apaixonado pelo irmão dele, daria uma chance ao meu coração e a minha razão. Eu precisava entender que o Xandi ,era um homem casado e que jamais se interessaria por mim.
- Você é um anjo, sabia? Eu quero te ver logo. Estou sentindo a sua falta. – eu disse pra ele.
- Eu também delicinha. Eu quero te morder todinho. Vamos combinar de sair hoje.
- Hoje não vai dar. Mas amanhã, quem sabe.
- Amanhã você não me escapa Sandro. Beijo gostoso na bunda.
- Você é sempre assim? Tarado?
- Eu já nasci com o pinto duro.
- Kkkkkkkk... Você é demais! Beijos.
Nos despedimos e eu me joguei na cama. Eu nunca havia namorado sério um homem. Confesso que o medo rondou minha mente, mas quem está na chuva é para se molhar.
**************
- E aí mano? Beleza? Chegou cedo do trabalho. – disse o Mauro, com o rosto alegre.
- Pois é... Eu não consegui me concentrar direito. Não sei o que está acontecendo comigo. Tô meio confuso...
- Poxa Xandi, não fica assim cara. A Amanda continua te ligando?
- O dia inteiro! A minha mãe disse que ela tentou entrar aqui, e você já sabe como é né?
- Essa mulher tem que ser internada. Ainda bem que você se livrou dela e daquela sogra asquerosa.
- Eu nem tenho tanta certeza disso. Mas mudando de assunto, que cara é essa de alegria?
- Eu não sei se te conto...
- Ah, vai ficar de segredinho é? Não confia mais no seu irmão?
- Vou contar, porque confio em você. Sabe o teu amigo? O Sandro?
- Ele não é meu amigo. É um conhecido.
- Pois agora não será mais. – ele disse com brilho nos olhos.
- Como assim, Mauro? O que está acontecendo?
- Cara, eu tô namorando o Sandro e acho que tô apaixonado por ele.
O Alexandre quase teve um treco. Ele não acreditou no que ouvia. Uma mistura de sensações percorreu seu cérebro. Naquele momento criou um ódio mortal do Sandro. É claro que ele estava tentando se aproveitar, para arrancar dinheiro do irmão dele. – ele pensou.
- Eu preciso sair. Tchau!
- Calma cara. O que houve com você.
- Eu me lembrei de uma coisa muito importante que preciso resolver. Tchau, Mauro!
Ele saiu feito um furacão. Tirou o carro da garagem e partiu, rumo à casa do Sandro. Nem precisou ir muito além, pois o avistou, com uma calça bem justa, flertando com um homem boa pinta. Parou o carro num canto e atravessou a rua, se atirando sobre os carros, até chegar ao outro lado.
- É pra isso que você resolveu fazer de trouxa o meu irmão? Hein, seu filho da puta? – ele deu um soco no rosto do Sandro.
O homem que estava dentro do carro, saiu imediatamente.
- O que você está fazendo aqui? – eu me levantei, e o encarei.
- Que papo ridículo é esse, que você é o meu irmão estão juntos?
- Você não acha que ele é grandinho demais para precisar de uma baba?
- Você não é homem para o Mauro! Eu pensei que você fosse um cara legal, mesmo sendo isso aí que você é.
- Isso aí o quê? FALA! – eu perdi o meu controle. – Você sabe o que é ter passado fome na vida? Sabe o que é ter sido humilhado, espancado e rejeitado pela própria família? Me diz? Não sabe né? Claro! Você é rico, nasceu em berço de ouro. Eu não quis namorar o seu irmão, mais ele insistiu.
- Você ainda tem a cara de pau, de dizer que está com ele, sem ao menos sentir nada? Você não presta! Pervertido!
Eu comecei a chorar por tudo que ele me dizia. Era muito difícil para alguém, ser humilhado pela pessoa que gostamos.
- Se afaste do Mauro! Fica longe dele.
- Você não manda em mim.
- Eu quero ver esse namoro engrenar, depois que eu contar a ele o que você faz.
- Você acha mesmo, que eu sou um aproveitador não é? Se você soubesse o que eu passei em minha vida...
- Só em pensar que eu ainda tive a coragem de te dar dinheiro.
- Eu não quis aceitar. Foi você que insistiu. – eu chorava muito e ele era imparcial.
- Como eu pude querer uma amizade, de alguém como você?
- Para! Por favor, para! Você está me ofendendo.
- Então se afaste do meu irmão. O Mauro tem um futuro brilhante pela frente, e não tente estragar isso.
- Aquele Alexandre doce e meigo que eu conheci, morreu? O cara que tinha a voz branda, o jeito nobre e humilde... Cadê ele?
O Alexandre sentiu que pegou pesado, e por um momento se sentiu culpado por ter dito algumas palavras.
- Por que você está fazendo isso, hein Sandro? O que você quer da minha família?
- Eu não quero nada. Eu só achei que, eu pudesse ter o direito de ser feliz. De me sentir acarinhado e protegido por alguém. Tudo bem Alexandre! Eu vou me afastar do seu irmão.
- Você não gosta do Mauro. Porque insistir?
- Você tem razão. Eu não amo o seu irmão. Eu amo você. É de você, que eu gosto de verdade.
CONTINUA...