- Você não gosta do Mauro. Porque insistir?
- Você tem razão. Eu não amo o seu irmão. Eu amo você. É de você, que eu gosto de verdade.
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Ambos ficaram se encarando. O silêncio tomou conta do ambiente. O Sandro estava em pedaços, não pela dor do soco que recebera, mas sim, por sentir o seu coração esfarelado. Ele nunca havia se apaixonado por ninguém na vida. Esta, foi muito cruel com ele, arrancando a força, as suas chances de ser feliz. Ele teve que começar cedo, a sobreviver contra os desafios que o mundo lhe propusera.
Alexandre olhava dentro dos olhos dele, como se quisesse ler a sua mente. Realmente eram dois universos diferentes, que estavam frente a frente. O Alexandre jamais se envolveu ou se viu numa situação com outro homem; e o Sandro, nutriu por ele, um sentimento que foi brotando aos poucos... Ele gostava muito do Mauro, mas admitia pra si mesmo, que o seu amor, estava ali, na sua frente.
- Não comece com este assunto de que...
- Eu juro pra você que eu tentei não querer este sentimento. O dia em que você dormiu em minha casa, e eu acordei na madrugada... – eu comecei a chorar. – Eu fiquei te observando dormir, num desejo incontrolável de tocar em seu rosto, no seu cabelo, de poder te dizer: conta comigo, você não está sozinho. Eu te amo. É mais forte do que eu. E quando decidi namorar o teu irmão, foi para dar uma chance ao meu coração... Eu não sou uma pessoa ruim, e tão pouco marginal.
- Sandro, eu... Não sei o que dizer. Às vezes me sinto tão confuso. Muitos pensamentos ao mesmo tempo. Coisas que eu não queria sentir. A única coisa que posso te dizer agora é para que você se afaste do Mauro. Eu conheço o meu irmão. Ele tem aquele jeito de machão, mas quando ele se apaixona, mergulha de cabeça. Ele se entrega. Como pode querer ficar com ele, se você nem o ama?
- Eu não farei mais programa. E estou disposto a arriscar. Eu sei que posso e vou amar o seu irmão. Você me viu aqui, mas na verdade, eu só vim entregar um bilhete do Igor, ao cara com quem ele sai há mais de três anos. Eu sei ser honesto comigo e com os outros. Jamais namoraria alguém e me entregaria para outros caras.
- Você e o Mauro não vão dar certo juntos. Eu te peço, por favor, desista dessa ideia maluca. Além do mais, do que você vai sobreviver? Quando eu te ofereci um emprego, você rejeitou. Como vai ganhar dinheiro agora?
- Não precisa se preocupar comigo. Eu me viro. E quanto ao meu envolvimento com o Mauro, deixa que ele decida o que é melhor para ele. – nossos tons de vozes eram cautelosos. Minha vontade louca de beijar a boca dele era segurada por minha razão.
- Ok. Eu não vou insistir mais. Ah, outra coisa! Seja sincero e verdadeiro com ele. Conte toda a verdade, pois eu não quero vê-lo sofrer.
- Pode deixar. Eu serei verdadeiro. Bom, agora tenho de ir pra casa. Estou com fome, e preciso tomar um banho quente.
A minha cara era de um abatimento terrível. Nunca me senti tão vazio por dentro. As palavras mal saíam da minha boca. Ele estava tão sério quanto eu. Eu precisava esquecê-lo de qualquer forma. E mais do que isso, eu precisava dar um rumo para minha vida.
- Eu te levo pra casa. – disse ele num tom seco.
- Não precisa. Ainda é cedo, e daqui a pouco passa o ônibus.
- Entra no carro. – ele quase que me empurrou para dentro do veículo, com o seu tom de voz.
Eu aceitei a carona, e o percurso foi feito no mais puro silêncio. Eu ia com a cabeça encostada no vidro da janela, e por diversos momentos, eu via que ele me observava.
- Eu quero te pedir uma coisa, antes que você namore o meu irmão.
- Fique a vontade. – ele quebrou o silêncio.
Na verdade, o olhar do Alexandre era meio estranho. A sua seriedade estava além do sue perfil.
- Eu quero pagar para ir para cama com você. – ele falou sério.
- Hã? Do que você está falando. – eu fiquei pasmo e chocado ao mesmo tempo. Bastava olhar para minha cara.
- Isso mesmo que você ouviu. Eu quero ter a sensação de experimentar, uma noite com outro homem. Existe algum absurdo nisso?
- Você está querendo brincar comigo, não é? Onde está querendo chegar?
- Eu quero pagar por um programa seu. O seu último programa. – ele continuava com o olhar sério.
- Eu não vou pra cama com você, nesta condição!
- Vai rejeitar um cliente? Eu pago bem.
- Chega! Para de palhaçada comigo. Você é louco Alexandre. Quer me humilhar ainda mais?
Eu gritava no meio da avenida. Eu o amava e queria ser dele, mais com amor, e não por simples prazer ou raiva. E era isso que ele estava querendo. Me usar, por raiva da situação.
- Como você mesmo disse, vai deixar esta vida de prostituição e dar outro rumo em sua vida. Pois bem, se lembra do dia em que te levei para o motel para conversarmos?
- O que isso tem haver?
- Você insistiu para transar comigo, mas eu neguei por eu ser hétero. Agora eu quero ter a sensação de transar com outro cara, e quero você.
- Eu estaria traindo o teu irmão.
- Não Sandro. Estaria sendo profissional.
- Você pirou? Ainda a pouco, me condenava e criticava, por eu ser quem eu sou, e com medo de eu decepcionar o Mauro... Agora está querendo me levar pra cama? O que está havendo com você?
- Não é disso que você gosta? De caras ricos e que pagam bem? De babacas que caem na tua lábia?
- Eu já entendi qual é a tua. Você estava querendo me humilhar e me usar, para carregar o triunfo de que eu não presto. Vai embora daqui. – eu criei uma raiva profunda dele naquele momento. Eu gritava, e os meus olhos latejavam de dor. Eu tenho nojo de você!
- Sou eu que tenho! Você é decepcionante!
Ele partiu dali, e o Sandro ficou arrasado. Não acreditava no que estava acontecendo. Jamais imaginava conhecer o outro lado do Alexandre. Talvez, ele não estivesse errado. Mas o Sandro precisava ser forte, se quisesse reverter esta situação, e provar que, sexo não tinha nada a ver com personalidade.
Ele chegou em casa e se atirou no sofá. Lágrimas ainda insistiam em cair, mas se manteve firme. A sua mãe sempre lhe ensinou a nunca fraquejar diante das piores situações, e ele carregava este lema consigo.
- Se ele soubesse meu Deus, que eu não escolhi esta vida pra mim. Como eu queria poder contar toda a verdade da minha vida. – ele dizia pra si mesmo.
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Eu acordei com dor de cabeça. As lembranças da noite anterior me atormentaram por toda a noite. E pra variar, a campainha não parava de tocar.
- Já vou. – a minha voz saiu fraca. Abri a porta e me deparei com o Mauro, alegre e sorridente.
- Oi meu anjo. Não suportei a saudade do meu mais novo namorado, e vim até ele.
- Oi. – eu não estava empolgado como ele.
- O que aconteceu? Que cara é essa?
Pensei em contar toda a verdade, mas me segurei de última hora.
- Não foi nada. Mauro, hoje eu não estou no meu melhor dia.
- Poxa, eu pensei que ficaria feliz em me ver.
- Eu estou. Juro! É que... Estou com dor de cabeça, e queria dormir um pouco mais.
- Foi o meu irmão, não foi?
- Como assim?
- Eu sei que ele veio te procurar. Eu quero saber o que ele te disse, pra te deixar desse jeito.
CONTINUA...