O Mauro apareceu em minha casa e fiquei surpreso. Na verdade, ele me pegou num péssimo clima. Eu estava mal, com a briga que tive com o Alexandre; e o irmão dele, meu futuro namorado, se é que eu poderia chamá-lo assim, estava parado, em minha sala, querendo saber o motivo da minha tristeza.
- Não é nada, Mauro! E o seu irmão não me procurou. Porque motivo o Alexandre iria me procurar? – eu resolvi mentir, para não piorar as coisas. Nem sei se eu estava fazendo o certo.
- Então me fala o que aconteceu! Ontem pela manhã, você estava alegre, e hoje eu te encontro com esta cara. Vim te fazer uma surpresa, e te vejo desse jeito. Quer que eu vá embora? – ele deu um passo para trás.
- Não! Claro que não. Desculpa, é que estou com um pouquinho de dor de cabeça, mas daqui a pouco passa. Você quer alguma coisa?
- Não, obrigado. Já tomei café. Me diz uma coisa... Você divide este lugar com o seu amigo?
- Sim. Por quê?
- Eu acho tão pequeno pra uma pessoa, imagina duas. E este cara? Como ele, o que ele faz?
O Mauro queria saber de mais. Jamais eu poderia dizer que o Igor era garoto de programa.
- Ele também trabalha com vendas externas. – eu disse meio sem jeito, enquanto pegava um suco na geladeira.
- Eu queria saber mais sobre esse trabalho. Você quase não me conta. Sempre com respostas curtas.
- Mauro, venda externa é você vender um serviço a alguém ou empresa. É isso. Que segredos há nesta profissão? – eu tentei não explicar muito, para não piorar as coisas.
- E o seu amigo já foi trabalhar?
- Ele trabalha cedo. – na verdade eu não queria dizer que o Igor sempre voltava para casa no dia seguinte. Ele era melhor do que eu, no quesito dinheiro por sexo. O Igor fazia cerca de doze programas num único dia. E os caras pagavam bem, pois ele é um rapaz muito bonito.
- Que tal irmos para o seu quarto, hein? – o Mauro fez uma cara de malícia.
- Nem vem, que hoje eu não tô pra isso. Talvez mais tarde, a gente poderia dar uma volta. O que você acha?
- Tá me expulsando, é Sandro? – ele me abraçou e mordiscou o meu queixo.
- Claro que não seu bobo. Eu só quero descansar um pouquinho. Mas prometo que mais tarde serei todinho seu. Da cabeça aos pés.
- Hummm... Jura? Olha que eu costumo pegar pesado, quando me oferecem um presente desses.
- Você sabe que eu gosto, quando pegam pesado. – eu sussurrei no ouvido dele, e pude senti o volume que se formava em sua calça. – Você é um tarado!
- E você tem o dom de deixar o meu pau babando. Delícia. – ele chupou minha orelha.
- Para! Assim é covardia, Mauro! Anda, vai logo embora, antes que eu perca a minha cabeça.
- Eu vou. Mas a noite você não me escapa. Seu gostoso.
Ele ainda tentou me agarrar, mas eu consegui me soltar e expulsá-lo de casa. Sentei no sofá e fiquei pesando... Por que eu não fui me apaixonar por ele? Tinha de ser, justo o seu irmão? Por mais que eu quisesse, eu não conseguia esquecer o rosto do Xandi. Tão pouco o sorriso dele. Mas eu tinha de me conformar, que ele não gostava de mim, e agora, eu era o seu inimigo número um.
Fui tomar um banho, pra ver se melhora o meu estado, quando fui surpreendido com a chegada do Igor. Bom, eu tinha de sentar e contar as últimas novidades para ele, inclusive que eu havia desistido da vida nas ruas. Eu estava com medo da reação dele.
- Oi. Chegou cedo. O Renato não te quis para o final de semana?
- Não. Ele ia viajar com a esposa. Aí já viu né? A gente acaba ficando pra escanteio. Mas ele foi generoso desta vez.
O Igor exibiu dos bolsos, um valor de um mil reais.
- Não acredito. – eu babei. – O que você fez desta vez, que o bofe coçou os bolsos?
- Bom, eu fiz muitas loucuras, mas isso não vem ao caso. – ele se sentou na cama. Na verdade, ele me deu este valor, porque iremos ficar vinte dias sem nos vermos. Como ele vai viajar, e eu disse para ele que o meu aluguel iria vencer...
- Aí, como eu sei que o meu amigo não é nada bobo, ele te deu o valor do aluguel mais o valor do programa. Safado! – eu joguei uma almofada na cara dele.
- Temos de ser espertos na vida. Ontem eu só fiz três programas, e minha sorte, foi o Renato ter aparecido. Você acredita que ele me fez usar uma fantasia ridícula? Ai, amigo. Eu paguei um mico. O que eu não faço por dinheiro.
- Quer saber? Eu acho que o Renato te ama; só que ele tem medo de perder este status de pai de família.
- Eu também acho. Mas eu já disse a ele que a minha vida é ganhar dinheiro nas ruas. É lá que é o meu porto seguro.
- Ai, credo. Eu penso diferente. – fiz uma cara de repulsa. – Eu precisava levar um papo com você.
- Fala aí.
- Igor, eu... Na verdade nem sei por onde começar.
- Do começo.
- Igor, eu vou direto ao ponto. – eu respirei fundo. – Eu decidi largar a minha vida de prostituição.
- Como assim? – ele fez uma cara, como se eu tivesse falado uma frase em árabe.
- Eu estou namorando o irmão do Alexandre, e achei justo deixar esta vida. Eu vou tentar um emprego.
- Você ficou louco? Cara, eu te falei mil vezes, pra não se aproximar, se deixar envolver. Tu beijou na boca desse cara?
- Claro. Na verdade eu fui pra cama com ele, sem ele saber o que eu era.
- Tá vendo? Eu não acredito! Tá, e me diz? Quando ele souber a verdade? Você acha que ele vai te perdoar e vocês serão felizes para sempre, como no conto de fadas? Porra Sandro! Tu é macaco velho porra!
- O Mauro me ama. A gente pode dá certo juntos. Eu cansei dessa vida. De me sentir usado, explorado. Às vezes eu tenho até nojo, quando alguém encostava em mim.
- Eu também tenho cara. Mas é questão de sobreviver ou morrer!Que vacilo, que vacilo. – o Igor mordia os lábios, inconformado.
- Eu vou conseguir outro emprego.
- Como? – ele gritou. Tu não sabe fazer porra de nada! Como tu vai conseguir outro emprego? E quem vai me ajudar a pagar o aluguel? Pensou nisso?
- Igor, você só está vendo o teu lado.
- Eu estou vendo o óbvio! Cara, como você foi fazer isso comigo? Como? – ele socou a porta do quarto.
- Eu não sou como você. Eu não gosto do que faço. Sei que tive de passar por tudo que eu passei, afinal, é o meu destino. Mas quando surgem as mudanças, precisamos agarrá-las.
- Agarrar é o caralho! Você mesmo sabe, o que teu tio Alberto, junto com aquela tia que você tem, são capazes de fazer. Eles prejudicaram seus pais e vão fazer o mesmo com você.
- Eu cansei de viver com medo. Eu não sou bicho pra viver escondido. Eu tenho que lutar por minha felicidade. Eu prometi isso a minha mãe.
- Se você deixar as ruas, por uma simples aventura idiota... Eu ponho outra pessoa aqui no teu lugar.
- Você está me expulsando de casa?
- Eu não posso confiar na tua loucura. E sei que você não dará certo em outro emprego. Você nunca fez nada de diferente na vida.
- Eu tenho estudo. Não sou analfabeto. Jamais pensei que você, o meu melhor amigo, fosse capaz de me expulsar como se eu fosse um lixo.
- Você que sabe. Se desistir desta ideia ridícula de namoro, você pode ficar.
- Eu já tenho minha decisão tomada. Não volto atrás. – eu me mantive firme. O Igor não podia controlar o meu futuro e nem a minha vida.
- Então, pode pegar tuas coisas e ir embora. Hoje mesmo, colocarei outro cara pra dividir comigo o apartamento.
Eu comecei a chorar. Jamais pensei que ele, justo ele, fosse capaz de fazer aquilo comigo. Era uma facada no meu peito. Eu considerava o Igor um grande amigo. Eu esperava apoio da parte dele, mas não; tive uma decepção enorme.
Ele tomou banho, se arrumou e saiu de casa. Quase derrubando a porta. Eu não sabia o que fazer direito. Pensei em ligar para o Mauro várias vezes, até que resolvi ligar e contar tudo. Marcamos de nos encontrarmos num barzinho, e muito fofo que o Mauro é, me ajudou em tudo.
- Meu amorzinho, fica tranquilo que tu vai ficar na minha casa. Meus pais são legais e vão aceitar que você fique lá por um tempo.
- Eu não posso. Seria abuso da minha parte. E eu tenho medo que seus pais descubram alguma coisa.
- E se descobri? Um dia eles terão de saber mesmo.
- Não, não dá! Tem o seu irmão. Esqueceu-se do Alexandre? Ele está lá agora.
- O Xandi é tranquilo. E afinal de contas, vocês não são amigos? Acho que ele vai curtir a ideia.
Só em pensar, de ter que dividir o mesmo teto que os dois... Seria um verdadeiro inferno na minha vida. Do jeito que o Alexandre estava, no mínimo, me mataria afogado na piscina. E ele nunca me aceitaria na casa de seus pais.
- Acho melhor eu pensar em outro jeito.
- Quer parar de ser teimoso? Vou resolver isso agora. – o Mauro pegou o celular do bolso e discou um número. Conversou com alguém, que eu deduzir ser o seu pai. Ficaram trocando palavras por quase meia hora.
- Viu só? Não te falei? Eles aceitaram que você fique lá em casa o tempo que quiser. Minha casa é grande e tem quarto sobrando. Se bem que, eu queria você no meu quarto. – ele riu.
- Seu bobo. Tá bom. Você me convenceu.
Eu não estava com bom pressentimento. Algo me dizia que os dias que estavam por vim, prometiam fortes abalos. Como eu iria agir diante do Mauro e do Alexandre? Morando junto com ambos?
CONTINUA...