Não troquei uma palavra com meu pai desde o momento que ele fez referência ao Alisson ser filho de traficante. Ainda bem que ele não fez pergunta alguma, pensei que iria me interrogar sobre como conheci ele ou quantas vezes o tinha visto. Aparentemente ele deve ter imaginado que aquela era a primeira vez que eu via o Alisson, que foi um encontro furtivo e não algo que vinha se repetindo. Imagino o que ele não faria se soubesse que no momento em que nos viu, eu ainda estava com o gosto do sêmen do Alisson na boca e pensando sobre um pedido em namoro que ele tinha feito minutos atrás.
Fiquei assustado com o que soube, mas nunca tinha achado o Alisson de modo algum ameaçador, mas eu tinha cometido um erro idiota, devia ter pego o número do celular dele, tínhamos feito sexo e provavelmente iríamos namorar, estava mais do que na hora de dar um passo a mais nos nossos meios de contato, marcar encontros na beira do lago era um pouco ultrapassado. Como era o que eu tinha para o momento, me decidi a ir lá no dia seguinte a tarde.
O dia seguinte na escola foi um saco. O Júlio tentou puxar assunto comigo normalmente e ainda tentou me inserir em um jogo de futebol com os demais garotos. Algumas pessoas realmente surpreendem pela cara-de-pau. Evitei ele e evitei a Lene também, estava com abuso da cara dela desde que me deixou falando a sós com o Júlio, se aquela rapariga fosse uma amiga mais fiel, talvez eu não tivesse passado pela experiência de quase ser beijado pelo Júlio e quem sabe exposto perante a escola inteira.
Alisson devia ter tido a mesma idéia que eu. Tão logo chegou nas cercanias do riacho, o observei na beira da ponte com seu barquinho. Ele tinha terminado todo o casco e faltava fazer a parte exterior, estava mesmo ficando muito bonito. Meu coração bateu forte quando ele deu um largo sorriso ao me ver. Esqueceu o barquinho por uns instantes e levantou-se para falar comigo.
- Imaginei que ia vir aqui hoje dar a minha resposta.
Ele me pegou completamente de surpresa, eu nem tinha pensado tanto na resposta que daria a ele. Minha mente havia sido invadida por pensamentos tormentosos sobre o envolvimento dele em crimes. Meu pai era um homem muito apegado a seu trabalho e sério. Se ele havia dito que o Alisson era filho de traficante, provavelmente havia algum indício, ele nunca havia implicado com amigos meus assim.
- Na verdade, achei tempo muito pouco pra pensar. - Falei meio envergonhado e na mesma hora seu sorriso murchou.
- Então não está a afim de mim né? - Indagou baixando-se para pegar o barquinho.
- Calma, eu não disse isso. É porque, teve aquele lance com o meu pai, porque ele foi tão grosso com a gente quando nos viu juntos. Você tem alguma idéia? - Perguntei tentando sondá-lo
- Ele não te disse nada? - Perguntou ele em tom de quem não está convencido de que eu esteja sendo sincero.
- Disse umas coisas.
- Sobre minha mãe?
- Mãe? - Indaguei surpreso.
- É. Pensei que ele te diria alguma coisa sobre minha mãe.
- Ele disse que você é filho de traficante. Ai pensei que seu pai...
- Eu não tenho pai. - Respondeu ele seco.
- Desculpa. Você não tinha falado. Na verdade, não sei quase nada de você. E tipo, eu to afim de você sim, mas queria que meu namorado fosse palguém familiar, não algum estranho.
- Então você está me dispensando porque não me conhece direito? Devia ter pensado nisso antes de transar comigo não é? - O tom dele era acusador.
- Calma Alex. Cuidado com seu tom que você pode acabar me ofendendo. - Indaguei elevando um pouco o tom de voz. Ele estava muito nervoso pro meu gosto. - Eu só disse que antes de aceitar eu quero conhecer você melhor. O que quer da vida, onde mora. Eu não sei nem o que você pretende exatamente comigo. Até ontem eu era virgem.
Quando ouviu minhas palavras notei a expressão dele suavizar um pouco. Acho que ele foi até ali esperando uma resposta negativa para o pedido de namoro e estava achando que eu estava enrolando para dar a resposta dele. Quando notou que eu apenas queria conhecê-lo melhor, ficou mais tranquilo. Segurando se barquinho e algumas ferramentas, notei ele abrir aquele sorriso que eu tanto gostava novamente, saiu da ponte e se aproximou de mim.
- Vamos então resolver isso, né? - Me indagou sorridente.
- Resolver como?
- Você não quer me conhecer melhor?
- Quero.
- Vamos na minha casa, eu disse a minha mãe ontem que ia te levar para conhecer ela se você aceitasse o pedido de namoro. - Falou ele fazendo meu queixo cair completamente.
Continua
E chegamos a metade da história. Sem palavras para agradecer o carinho de todos vocês. Talvez ainda hoje já saia o 7, a partir dele já se inicia o climax para o fim no cap. 12.
