Com o convívio muitas coisas mudam e devo admitir que a grande maioria é para melhor, com o amadurecer do nosso namoro eu parei de arrotar em publico, as rasteiras são minimas, mas continuo do mesmo jeito de sempre, apenas me moldei melhor para não envergonhar o senhor Frederico que ao contrario de mim era todo quieto e cheio de etiqueta, ao voltarmos pra casa naquela tarde com as coisas para o quarto do André eu fui a cozinha tomar refrigerante no bico da garrafa como sempre faço, pouco tempo depois escutei o Fred me gritando da sala, eu já sabia o que era, mais cedo eu tinha comido batata frita na sala, e ele provavelmente tinha encontrado as migalhas e o pacote em baixo da almofada do sofá eu nem fui de encontro a ele ver o que se tratava gritei da cozinha mesmo – Não precisa falar nada eu já vou limpar.
E assim a vida se seguiu, eu sempre bagunçando tudo mesmo sabendo que posteriormente teria que limpar, considerando o fato de eu ter um marido bravo, voltei a minha rotina de trabalho e para minha surpresa os pedidos de cotação de grandes empresas tinham aumentado muito, o que era ótimo, se bem que eu ainda prefiro as contas de médio porte, os contratos dessas empresas geralmente são cumpridos a risca, e a fidelidade dos contratantes é muito maior, já com as multinacionais existe o fantasma da quebra de contrato sem contar que fica sujeito a volatividade de opinião e pode acabar saindo prejudicado caso um dos sócios, executivos ou qualquer pessoa da equipe deles não concorde com a campanha publicitária.
Decidimos assumir uma das contas das multinacionais e eu tomei a frente do projeto para garantir que tudo sairia como eu queria, ou melhor como deveria ser, o que ne sempre era da forma que eu imaginava, sempre que tinha uma ideia ou montava um prospecto eu mostrava e ainda mostro ao Fred para ele dar opinião, pois como ele trabalha usando criatividade sempre tem boas dicas e observações, como tinha assumido o projeto eu fiquei com tempo mais restrito, sendo assim não via o meu namorado todos os dias, mas ainda conseguia um tempo para ligar pra ele, ou ao menos uma mensagem diária eu mandava, minhas viagens se tornaram uma constante e em uma delas para Belo horizonte o Fred me ligou dizendo que a universidade em que ele tinha se formado havia o convidado para dar aulas ao 2º período de Design de Moda, fiquei preocupado, pois tomaria muito tempo, até que ele disse.
– Eu decidi que não vou aceitar, já esta na hora de priorizarmos os seus projetos, e quero te ajudar com o máximo possível para essa conta que esta assumindo a cotação, depois em uma oportunidade futura eu dou aulas a universidade.
– Se quer Môrr tudo bem, com o projeto esta tudo ok, não precisa se sacrificar por isso, eu entendo se quiser pode mesmo, eu entendo.
– Não mesmo já estamos nos vendo pouco se eu tomar frente de um projeto desse ai que não iremos nos ver mesmo, e isso é inaceitável. Seria um namoro a distancia.
Fiquei feliz com a postura dele, sempre achei que ele tinha uma cabeça mais amadurecida que a minha para relacionamento, ele sempre vê as coisas no plural e eu tinha uma certa dificuldade nisso, aprendi muito com ele, e com suas atitudes, fiquei mais uns dias em Belo Horizonte e ele me ligou dizendo que iria almoçar com o Luiz ex-namorado dele e com um rapaz que seria seu novo namorado, fiquei com o pé atras, mas concordei de nada adiantaria eu ser contra, ele provavelmente falaria alguma coisa que teria efeito positivo em mim e eu mudaria de ideia e concordaria com o almoço, e confio muito nele então deixei ele ir, e voltei a focar nas reuniões com o pessoal da empresa e no projeto em geral.
Mesmo que eu tentasse me concentrar eu não conseguia direito ainda remoía na minha cabeça tudo que o Luiz tinha feito ao Frederico e ao contrario dele eu não tinha tanta facilidade em perdoar as coisas e nem esquecer, aproveitei que tinha um compromisso em São Paulo e dei um jeito de ir a tal loja onde o Luiz tinha compro a bolsa ao Frederico e entrei com a intenção de comprar outra, toda vez que via ele usando a bolsa eu me lembrava de tudo que aquele cara tinha feito e só conseguia sentir raiva, pedi a consultora da loja uma bolsa masculina e ela me mostrou varias, escolhi uma delas mesmo sem saber o preço, esse é um grande defeito de marcas famosas nunca tem preço nas etiquetas, acho que é pra não assustar os clientes quando fui pagar eu quase infartei, foram R$ 7.500,00 se eu já sentia raiva do Luiz, aquilo quase virou ódio porque se não fosse ele eu não teria que gastar uma quantia tão alta com uma coisa inútil como aquela.
No mesmo dia que comprei a bolsa eu já voltei a Goiânia tudo que eu queria era voltar pra casa, cheguei o meu primo André já tinha se instalado na casa do Fred, nos cumprimentamos e fui ao quarto deixar minhas coisas acompanhado pelo Frederico que veio todo sorridente me abraçando e perguntando da minha viagem, entreguei o embrulho quando ele abriu e viu a bolsa deu aquele sorriso tipico do Fred, os olhos quase se fecham e seus dentes brancos ficam quase todos amostra, me olhou todo sorridente, e eu já fui explicando que só dei a bolsa porque tinha raiva da outra que o cara tinha dado, e quase desisti, só segui em frente na compra porque me lembrei dele contando vantagem na entrada do shopping quando viu o Frederico com a bolsa, ainda fiquei a noite toda reclamando, ou melhor, explicando ao Fred que uma bolsa daquele preço era errado, ele e o André ficavam rindo mais eu estava falando serio...
Eu até entendo o Fred ser assim, ele tem todo direito, afinal ele já passou por muita coisa nessa vida, o que me deixa um tanto quanto revoltado, porque o pai dele tem dinheiro, muito por sinal, e basicamente abandonou o filho a própria sorte, depois que ele assumiu que era gay, o Fred disse que muitas vezes ficou com fome para não gastar o dinheiro do ônibus para chegar a faculdade, ainda hoje meu peito doí em pensar nisso, ai depois que ele conseguiu subir sozinho a família volta a enxerga-lo com bons olhos, ele nunca me pediu para pagar nada pra ele, pago porque quero, ele é uma pessoa muito boa, merece tudo de bom que acontece, por isso mesmo eu sempre brigo mas acabo dando o que ele quer.
Naquela noite fomos jantar com o André e vimos o Luiz com seu novo namorado, achei ótimo ver ele com alguém era sinal de que ele estava realmente melhorando, já terminávamos de comer quando o telefone do Frederico toca, era o pai dele ligando dizendo que o irmão do Fred tinha sido preso, era a primeira vez que eu via o pai dele ligando, em pouco tempo de conversa eu vi os olhos do Frederico se encherem d'água, e em uma discreta discussão ele respondendo ao pai, achei lindo ver ele tomando as rédeas da situação, geralmente ele acata tudo sem questionar mais dessa vez ele rebateu, ate porque ele tinha uma certa magoa do pai, mesmo ele afirmando que não.
Nos disse por alto o que tinha ocorrido e falou que não iria fazer nada, que o pai se virasse com o irmão na cadeia, eu concordei e achei realmente que ele não iria fazer nada, não demorou muito ele começou a coçar a cabeça e mudou de ideia, pagamos a conta do OutBack deixamos o André em casa e fomos ao presidio onde o irmão dele se encontrava, o Fred em silencio o tempo todo ele não falava nada e eu para respeitar me mantive calado, quando encontramos o irmão dele deu pra sentir a rispicidade de longe, o cara era um lixo, já veio fazendo piadinha com o Fred mesmo estando naquela situação, e para minha surpresa o Frederico se manteve tranquilo o tempo todo respondendo a tudo com educação e ignorando as piadinhas de mal gosto.
Eu queria voar no pescoço daquele cara e mostrar pra ele como se respeita as pessoas, mas o delegado, nos levou a uma sala onde nos pediu uma propina e disse que pagando isso a acusação seria rasgada e o irmão do Fred estaria liberado para ir embora para casa, o Fred pagou e disse que o delegado soltasse o irmão dele apenas quando os pais o fossem buscar, eu concordei com a atitude, e assim fomos embora para nossa casa, no caminho ele me contou algumas coisas sobre a convivência que os dois tinham em casa e tudo que o irmão dele já tinha feito com ele, o mais surpreendente é que ele não falava disso com raiva nem rancor, apenas contava como algo que tinha ocorrido na vida dele e que serviu de aprendizado, mas algo ainda me incomodava...
– Fred mais porque não deixou seu irmão ficar na sua casa essa noite, e disse ao delegado que o liberasse apenas quando seus pais o fossem buscar?
– Porque ele já me roubou mais de uma vez Marcelo, e fez isso sabendo que eu descobriria que foi ele o ladrão, sem contar que ele é preconceituoso como meu pai e agressivo, eu não tenho que agradar uma pessoa assim.
– Tudo bem Môrr eu te entendo, não queria mesmo que ele ficasse lá, só não sabia o porque de você também não querer isso.
Fomos pra casa e o Frederico estava muito abatido, fiz de tudo para animar ele, e faze-lo esquecer ao menos por alguns momentos o que tinha passado, mas é complicado isso a carga emocional era muito grande, mesmo assim fiz minha parte fomos dormir juntos, e eu como sempre trançando minhas pernas nas dele, gosto de fazer isso me sinto protegido parece bobeira né?! Mas é verdade eu me sinto confortável dormindo assim e tenho certeza que ele também, fomos dormir cedo para ter certeza que aquele dia acabaria logo.
continua...