No domingo eu acordei com uma sensação estranha, um estrangulamento, como se alguém que eu gostasse muito passasse por um processo cirúrgico e eu estive angustiado a espera de noticias, as horas se arrastaram, por mais tarde que eu tivesse me levantado da cama o Fred não voltava, eu queria falar com ele, ter noticias, queria ele de volta na verdade eu acordei com um sentimento de egoismo algo que até então eu nunca tinha sentido na vida, até porque pra mim, nunca foi problema dividir, quando o Frederico chegou em casa já se passava de três da tarde, ele tinha um olhar distante, parecia e estava muito cansado ao mesmo tempo que trazia consigo um sorriso de contentamento, passou por mim na sala dizendo que iria tomar um banho e que depois queria muito conversar comigo.
Fiquei vendo televisão e esperando por ele, para saber o que de tão importante ele tinha para falar a mim, depois de algum tempo ele volta de bermuda e um camisão, ele adora usar isso em casa, se senta ao meu lado e volta a falar da criança que tinha conhecido, conforme ele falava meu peito doía, e eu sentia um aperto, era algo estranho, difícil de dizer, ele me falou sobre as cicatrizes, o jeito humilde do menino, e o problema de visão, desconfiar que uma criança sofre maus tratos é horrível, parece injusto, depois de me contar toda a historia ele me disse que levaria aquele menino em um oftalmologista e o ajudaria a recuperar a visão, eu fiquei surpreso, por mais bom que eu me considere, acho que não teria a mesma iniciativa dele, não seria bom a esse ponto, decidi então confrontar ele pra ver até onde a boa vontade iria...
– Uma consulta tudo bem, mas e se o problema desse garoto que mal conhece envolver um processo cirúrgico, ou pior que isso uma serie deles? Estaria disposto a abrir mão de capital pra isso!?
– Sim, sem pensar duas vezes, Marcelo se for pra ajudar ao menos uma pessoa, fazer a diferença na vida de alguém eu faria isso sim, ainda mais se for para alguém enxergar o mundo como eu enxergo eu viveria na miséria, mas acordaria todos os dias com sensação de missão cumprida.
Após a resposta dele eu me calei e concordei com ele, disse que na segunda-feira iria junto para conhecer o garoto e acompanha-los ao médico, eu queria sentir o mesmo sentimento que o Frederico sentia, e ainda hoje eu quero ver as coisas como ele vê, não posso mentir... Eu senti muito ciumes do Rodolfo no começo antes de conhece-lo pois mesmo sem fazer parte da nossa vida de forma efetiva eu já disputava a atenção e pensamentos do Frederico com ele, isso me deixava um pouco irritado, era um sentimento podre eu sei, mais que graças a Deus durou pouco tempo na minha vida, passamos um domingo tranquilo em casa, nós dois e meu primo André, assistindo a filmes e sem fazer nada de relevante, eu já estava ansioso para a Segunda-feira chegar logo, queria conhecer o jovem, e resolver tudo para podermos seguir com nossas vidas!
Na segunda pela manhã fomos ao abrigo e chegando lá ficamos em uma recepção esperando pela mãe do garoto que deveria assinar uma autorização nos liberando para levar o menino ao médico, o Frederico e ela entraram em uma sala para conversar sobre os procedimentos e eu fui a parte externa observar as arvores, enquanto andava tinha um menino de costas, encostado em uma arvore estava sozinho e de olhos fechados, fui andando até ele com uma certa curiosidade, ventava de forma calma ao me aproximar dele, ele ainda continuou de olhos fechados, até que abriu e sem me olhar direta, falou...
– Muito cheiroso seu perfume, esta aqui a muito tempo?
– Obrigado, não acabei de chegar na verdade, estava passando e te vi com os olhos fechados o que estava fazendo?
– Brincando, na minha imaginação eu estava voando, bem altão, lá em cima mesmo.
Ele falou isso olhando e apontando o dedo para o céu e abriu um sorriso depois de fazer isso ele levantou, veio onde eu estava e me estendendo a mão me disse que o nome dele era Rodolfo, eu o cumprimentei e inacreditavelmente na hora que apertei a mão dele senti uma ligação como se ele fosse um querido amigo de muitos anos, depois de cumprimentar eu perguntei a ele se poderia brincar de voar com ele, me olhou chegando bem perto e disse...
– Quero sim, mas tem que ser depois que eu voltar do médico, não posso sujar nem ficar suado, o Frederico vai me levar hoje, estou esperando ele, se me esperar eu volto e a gente brinca eu prometo.
– Depois brincamos então, mas eu vou ao médico com você também, sou amigo do Frederico ele me chamou pra ir junto com vocês.
– É Mesmo!? Então é meu amigo também.
Sempre com um sorriso no rosto e respostas sinceras, conversamos mais um pouco e coloquei ele nas costas pra brincarmos de voar sem ele se sujar ou ficar suado, fui andando com ele em minhas costas entre as arvores, enquanto ele ficava de braços abertos e rindo, não foi muito tempo o Frederico veio com a coordenadora da casa e a mãe do Rodolfo, fomos até onde estavam e apenas quando estávamos perto foi que o Rodolfo viu a mãe, o coloquei no chão e ele foi até ela, se despediram e fomos embora, o Fred disse que antes de irmos ao médico iriamos passar no shopping ele queria comprar uma roupa para o Rodolfo, enquanto conversávamos o Rodolfo estava quietinho no banco de trás do carro, fomos ao shopping, e o Frederico foi passando a mão em um monte de roupas e comprando tudo, nem fiquei nervoso, apesar do exagero quando é para o Rodolfo eu nunca falo nada.
A única coisa que o Rodolfo disse e que ele nem tinha onde guardar tanta roupa, e que os meninos acabariam tomando dele, porque ele não enxerga direito para poder esconder, falou e baixou a cabeça, eu disse a ele que isso nunca mais aconteceria, pois ele voltaria a ficar bom da visão, ele riu e fomos ao médico, na consulta o diagnostico foi simples, ele tinha uma especie de machucado nos olhos que cicatrizaram e criaram uma casca e por isso a visão embaçou, o procedimento era simples, pagamos o procedimento que seria no outro dia, após a consulta ele nos contou o que tinha acontecido, o pai havia jogado água quente no rosto dele, por pura ignorância e maldade, ainda bem que não tinha queimado o rosto dele, levamos ele pra comer no shopping e durante todo o tempo ele de mãos dadas com o Fred, eu olhava os dois, e tinha a certeza que de alguma forma eles deveriam ficar juntos, e o Rodolfo já parecia meu também.
No abrigo o Frederico informou da cirurgia que seria no outro dia, e por fim a diretora nos deixou levar o Rodolfo pra casa conosco quando demos a noticia ele deu uma risada e disse – Pensei que fossem me devolver e eu não veria mais vocês, que bom que vou dormir na casa de vocês, queria que minha mãe pudesse ir, mas meu pai não deixa. O Fred abraçou ele e fomos para casa, chegamos o Fred preparou o quarto de costura para o Rodolfo dormir e depois fomos conversar eu sabia que ele iria querer decorar quarto, comprar um monte coisas para o menino, mas ainda nem sabíamos se poderíamos ficar com ele morando conosco eu mas uma vez fui tentar explicar pra ele que não pode gastar assim, e blá blá blá, mas ele acabou me convencendo a comprar algumas coisas, eu disse que apenas um guarda-roupas, ele queria até videogame, o que era mais um dos exageros do Frederico.
Com a entrada do Rodolfo na nossa vida eu tinha ate me esquecido da festa a fantasia que iriamos, então levei o Fred ao quarto para mostrar a ele as minhas opções, ele ficou bravo com uma de gladiador mais gostou da de super sayajin, acabamos em sexo mais uma vez, só que com bastante cuidado para o Rodolfo não acordar, bem que todos falam que filhos alteram a rotina do casal, essa é uma verdade incontestável, mas muito boa também, depois de brincarmos fomos a sala assistir TV, e um tempinho depois o Rodolfo se juntou a gente na sala, abraçando o Frederico e ficando deitado ao lado dele no sofá, estávamos distraídos quando ele disse que queria comer pipoca de micro-ondas que nunca tinha comido, só que eu já tinha comido todas da casa, levantei no pulo e disse que iriamos ao mercado, eles se levantaram e fomos nós três.
No caminho fui contando pra ele do meu trabalho, o que eu fazia, e outras coisas, e ele sempre atento a tudo que eu falava a ele, sempre admirei isso nele, ele demonstra interesse a tudo que lhe é apresentado e ele sente que pode aproveitar de forma positiva, e considerando tudo que ele já passou se manter otimista é uma excelente virtude. Ele sempre disse que tinha um senhor que ficava com ele quando algo muito ruim acontecia, e que esse mesmo senhor dizia que um dia apareceria na vida dele pessoas que o ajudariam e o guiaria na direção certa, e que por isso ele sempre esperou isso acontecer, e quando nos conheceu ele sabia que era a gente, não sei se é um amigo imaginário, espirito de luz ou anjo, mas agradeço muito a esse senhor que o ajudou nos momentos de solidão.
Quando chegamos ao mercado fomos juntos comprar as coisas e deixamos o Frederico pra trás, coloquei ele no carrinho e fui empurrando ele, enquanto conversávamos, peguei morangos, leite condensado, e uma serie de besteiras, logico que não me esqueci da pipoca dele, que era o pedido que ele tinha me feito, voltamos ao caixa e eu liguei ao Fred para nos encontrar, ele estava na sala de espera lendo uma revista, ele já foi chegando e brigando comigo, por conta das besteiras, disse que tinha que ter compro mais frutas e não epenas morangos e leite condensado, eu caia na risada que ouvisse ele falando na fila saberia logo que eramos um casal, e que o Rodolfo era nosso filho minha desculpa sempre foi...
– Môrr, você sabe muito bem que eu não sei comprar frutas e legumes, depois você vem ao Mercado e compra.
O Rodolfo segurou o Fred para chamar a atenção dele e perguntou se eramos marido e mulher, porque eu tinha chamado o Fred de amor, e isso é o que os casais fazem, mas uma vez meu menino tinha prestado atenção em tudo, ficamos pálidos com aquela cara de interrogação sem saber qual resposta dar a ele, que nos olhava atento aguardando um posicionamento...
continua...