- Celo, você ta bem? Pergunta o Wanderson assustado.
- Não! Acho que torci meu pé.
- Deixa eu ver.
- Me leva pro quarto e chama o meu pai.
- Pra que chamar seu pai? Vamos pro hospital.
- Você sabe qual é meu sorvete favorito, mas não sabe que meu pai é ortopedista.
- É verdade.
- Agora você pode me tirar daqui?
- Claro! Se apóia em mim.
Eu enrolo uma toalha na cintura e com muito sacrifício subo as escadas apoiado no Wanderson.
- Sua madrasta falou que vai avisar a ele.
- Ta vendo, né?! Nós dois mais banheiro igual a desastre. Disse vestindo uma camisa.
- Desculpa! Eu não resisti.
Fiquei deitado com meu pé doendo esperando meu pai chegar. Depois de alguns minutos ele chegou.
- Marcelo, o que aconteceu?
- Eu escorreguei no banheiro e acho que torci o pé.
- Eu tenho certeza. Olha só como ta inchado. Cadê sua mãe? Ele diz pegando meu pé e apertando.
- Ai! Acho que ela foi jantar na casa do namorado ou alguma coisa assim.
- Vai ter que engessar.
- Serio isso?
- Seriíssimo! Você vai ter que ir pro hospital.
- Wanderson, pega meu celular lá embaixo.
- Já volto!
- Vocês se reconciliaram?
- Sim!
- Que bom! Pensei que teria que agüentar outro genro.
- E o bebê da Mel?
- Semana que vem vamos descobrir o sexo.
- Me liga pra avisar.
- Com certeza! E você precisa ir visitar seus irmãos. A Clarinha ta com saudades.
- Eu também to, mas esses dias têm sido muito complicados.
- Sua mãe me falou que você nem saí mais de casa.
- E por que minha mãe fica falando da minha vida pra você?
- Será que é porque eu sou seu pai?
- Bem provável.
- Toma. Diz o Wanderson me entregando o celular.
- Obrigado!
- O que você vai fazer?
- Ligar pra minha mãe. Eu não vou sair de casa, ainda mais ir pro hospital, sem avisar pra ela.
- Vamos no meu carro.
- Eu vou junto. Disse o Wanderson.
- Não precisa.
- Claro que precisa. Logo no dia em que a gente volta, eu faço isso com você.
- Como assim você fez isso com ele? Não tinha sido no banheiro?
- Foi!
- E o Wanderson tava com você no banheiro?
- Tava.
- Agora eu entendi tudo.
- Tudo o que pai?
- Prefiro não comentar. Vamos?
- Espera! Mãe?!
- Fala Marcelo.
- Onde você ta?
- Na casa do Cássio. Por que?
- É que eu to indo pro hospital.
- O que aconteceu, Marcelo? Fala.
- Eu quebrei meu pé e vai ter que engessar. Meu pai vai comigo. Só quis te avisar.
- Que susto! Pensei que tinha acontecido alguma coisa grave.
- Mas isso é grave.
- Ta Marcelo! Já que seu pai vai com você eu vou daqui a pouco pra lá.
- Ta bom!
- Podemos ir agora?
- Podemos. É... Acho que vou precisar de ajuda.
- Eu te ajudo, amor.
Eu vou até o carro apoiado no Wanderson.
- Tem certeza que não quer que eu vá?
- Tenho. Pode ir pra casa.
- Amanhã eu venho. De manhã. Bem cedo.
- Bem cedo não.
- Bem cedo sim. Pra gente terminar... Aquele assunto do banheiro.
- Vocês não vão terminar nada. Pelo estado do seu pé você vai ficar um tempo sem poder se movimentar de mais.
- Tem certeza que é necessário tudo isso?
- É sim.
Meu pai e eu nos despedimos do Wanderson e fomos para o hospital onde ele trabalha.
Cheguei lá, coloquei o gesso e fui pra casa.
Comi e na hora que eu estava me preparando pra dormir o Wanderson me liga.
- E aí? Ta bem?
- To bem, só não posso andar muito.
- Desculpa!
- Você eu desculpo, eu não desculpo aquele sabonete.
- Queria ta aí com você. Depois desse tempo todo eu queria dormir com você.
- Acho que dormir comigo e com meu gesso vai ser difícil.
- E quanto tempo você vai ficar com ele?
- 20 dias.
- Tudo isso?
- É.
- 20 dias sem transar com você.
- Comigo e com ninguém espero.
- Não sei se consigo.
- Não brinca comigo, Wanderson.
- Senti saudades do seu ciúme.
- Eu não. Eu morria de ódio vendo você com a Gaby.
- De todas as pessoas a única que você não deveria ter ciúmes é a Gaby.
- E por que? Ela é linda e...
- Lésbica... Ele me interrompe.
- Serio? Como eu não sabia disso?
- Ela é muito discreta.
- Demais. Ela estuda comigo desde a primeira serie e eu não percebi.
- Eu nem podia ter te contado isso. Vamos mudar de assunto?
- Falar de que? De como eu to lindo com esse gesso?
- Pode ser de como você fica linda de qualquer jeito.
- Isso eu já sei. Acho melhor a gente ir dormir.
- Vamos conversar só mais um pouco.
- Eu to com sono.
- Então ta. Mas amanhã eu vou ir te ver.
- Vem a tarde que eu pretendo dormir muito.
- Não. Eu vou de manhã e cedo. Antes do treino.
- Seu treino é às oito horas da manhã.
- E eu vou passar aí às sete.
- Por favor, não.
- Eu vou e ta acabado. Tchau e beijo!
Ele desligou o celular.
Dormi e às sete horas, como foi dito, o Wanderson me acordou com beijos.
- Acorda, lindo!
- Eu te falei pra não aparecer aqui cedo.
- Não fala nada, só me abraça. Ele diz com a voz um pouco triste.
- O que houve?
- Minha... Minha avó morreu.
- Serio?
- Claro! Ele tava internada desde a semana passada e morreu nessa madrugada. Ele diz deitando do meu lado.
- Eu... Eu não sei o que dizer.
- Não precisa dizer nada. Só fica comigo.
Eu não sabia mesmo o que falar. Eu só me coloquei no lugar dele. Se eu perdesse a minha avó acho que não suportaria. Eu nunca senti isso, porque quando a minha avó por parte de pai morreu, eu era um bebê.
Então eu só fiquei ali, abraçado com ele e acariciando seus cabelos.