Entre Livros e Paixões - 43

Um conto erótico de Renato
Categoria: Homossexual
Contém 2140 palavras
Data: 26/11/2013 15:00:41
Assuntos: Gay, Homossexual

Eu Amei essa música Renato!- Ouvi a Marília dizer depois que eu toquei Blind para a banda ouvir mais tarde naquele dia. O restante da banda também curtiu muito e naquela mesma noite estávamos ensaiando para tocá-la na nossa próxima apresentação que seria na véspera de Natal.

Os dias depois daquele se arrastaram, mas eu não me deixei abater pela presença/ausente do Alex no pais, eu aproveitei cada dia das férias com os meus amigos, tocando, assistindo filmes, jogando bola na chuva, lendo algum livro bom ou simplesmente conversando com o pessoal debaixo da árvore das luzes. Eu podia dizer que estava contente com minha vida, porém no fundo do meu peito um sentimento havia despertado e eu sabia que o quanto antes resolvesse minha situação com o Alex melhor seria. A Felicidade total estava a apenas alguns dias de mim...eu podia sentir.

Na véspera de Natal a banda se apresentou em uma lanchonete no shopping, foi bem legal e eles até pagaram a gente!!

Na noite de Natal eu passei a meia-noite na casa do Carlos, com a família deles. Não havia festa, mas a família inteira se reuniu naquele momento tão especial para fazer uma prece por ele, foi um momento muito bonito..talvez um pouco triste,mas mesmo assim foi bom poder abraçar os pais dele e o seu irmão. Nesse dia eu não chorei, eu tinha tanta certeza que ele estava em um lugar maravilhoso e bem melhor que esse plano terrestre que eu simplesmente me concentrei em desejar felicidades a ele e aonde quer que ele estivesse tenho certeza que percebeu minha oração. Desejar minha felicidade foi tudo que ele sempre fez, até o ultimo momento. Portanto desejar felicidade para ele era só o que eu podia fazer. Me despedi da família dele logo após a meia-noite e fui para casa onde mamãe havia preparado uma farta ceia. Aquela realmente foi uma noite feliz para mim, minha família que mora no interior veio passar o natal em casa. Então o lugar estava cheio de crianças e alegria.

Meus amigos passaram por lá para me desejar feliz natal e mamãe fez questão que eu cantasse um pouco.

Aquela foi realmente uma noite feliz, fazia muito tempo que eu não me reunia com toda a minha família, e principalmente sem ter nada a esconder sobre mim. Eles souberam da minha homossexualidade quando o Carlos faleceu, e ali estavam todos me abraçando e me ouvindo tocar na noite de natal. Acho que esse é o verdadeiro significado do natal, famílias unidas onde os indivíduos valorizam uns ao outros pelo o que eles são. O momento com a minha família e a visita a casa do Carlos naquela noite marcaram meu natal.

Eu e meus primos ficamos acordados até o nascer do sol, um inicio de dia glorioso e embora o sol estivesse surgindo no horizonte ainda era possível ver algumas estrelas, meus pensamentos me carregaram para a primeira vez que eu vi o sol nascer a lado do Carlos, e eu estava preste a chorar de saudade quando meu celular vibrou no meu bolso e me trousse de volta ao presente. Eu havia recebido uma msg de um número desconhecido onde simplesmente se lia:

FELIZ NATAL!!!

ASS: ALEX

Meu coração trotou dentro do peito e eu pensei “idiota desgraçado, porque vc faz essas coisas comigo? Vc deveria está aqui agora, não foi para isso que você voltou?”...depois eu sorri e pensei “ quem liga? Ele lembrou de me desejar FELIZ NATAL!”.

Respondi a MSG na mesma hora:

UM FELIZ NATAL P/VOCÊ TBM!

ASS: RENATO

Simples e suficiente, pensei antes de enviar. Não pude deixar de imaginar onde ele estaria e o que estaria fazendo para me mandar MSG aquela hora da manhã. Independente de onde ele estivesse eu não me importava porque aquela simples MSG tornou minha “Noite Feliz” perfeita!

Acordei com minha tia me chamando para tomar café da manhã, haviam muitas frutas e doces sobre a mesa da cozinha e como já eram quase 10:30 eu estava esfomeado, devorei meia mesa em pouco tempo. A Marília veio me visitar logo depois do almoço e eu e ela ficamos conversando bastante no meu quarto mais sem tocar no assunto do Alex. Até que eu puxei o assunto dizendo:

-Amanhã é dia 26 Marília...

-E...

-Amanhã ele volta e a gente vai poder conversar

-Renato eu...eu não quero falar sobre o Alex hoje -ela disse séria

-desculpa eu não queria te...

-Não é isso...você sabe que eu sempre ouço você, mas é que depois que ele voltar e vcs se entenderem ele vai estar na sua mente o tempo todo e eu quero aproveitar os últimos momentos com vc sem a presença dele...ou melhor só com a presença ausente dele

-Marília...isso não é verdade, não vai ser como era antes...isso se chegar a ser alguma coisa. Eu ainda nem falei com ele e pode ser que ele não queira nada comigo...e pode ser que eu não queira nada com ele.

Ela me olhou de um jeito incrédulo e irônico e falou:

-Vc Pode não querer nada com ele?!?! Fala sério Renato!!!- E se levantou para ir embora, mas eu a puxei pelo braço com força de mais e ela caiu em cima de mim. Rolou um clima um pouco estranho, com ela sentada no meu colo e um olhando para o outro. Ela se levantou muito vermelha e aparentemente triste e furiosa:

-Qual o seu problema Renato.

-Qual o meu problema, vc que tah reagindo a tudo como uma louca hoje! O que tah acontecendo com vc!

-Vc quer que eu te diga!!-Ela gritou – Pois eu digo!...EU TE AMO SEU IDIOTA!!!-Ela parou para respirar e com a voz embargada continuou –Mas...mas eu só posso ter a sua amizade e eu achei que era suficiente mas não é Renato – Ela começou a chorar copiosamente e se sentou com força na poltrona do meu quarto.

-Marília me desculpa eu...

- É só isso que vc sempre diz...

-Mas eu não sei o que fazer, eu te amo também mas é de um outro jeito, se eu tentasse te dar o que você quer nós dois seriamos infelizes a gente iria viver uma mentira!

-A culpa não é sua Renato, não é como se vc pudesse escolher...eu é que tenho que pedir desculpa, mas tenta me entender. Se nós vamos continuar com essa amizade vc precisa se tocar que por melhor companheira que eu possa ser dói demais ouvir vc falar do quanto ama um outro cara. Eu já fiz muito isso, mas se vc voltar amanhã com o Alex eu simplesmente não vou agüentar ficar ouvindo os relatos da sua felicidade!!

-Eu prometo que vou tentar me controlar e não falar mais sobre ele com vc- eu disse meio envergonhado.

-E eu prometo que vou sufocar esse sentimento maldito custe o que custar!! Vc está fora de alcance Renato e já passou da hora do meu coração entender isso.

-Infelizmente a gente não pode controlar os sentimento..

-é, infelizmente não...- Ela falou enquanto se levantava e ia em direção a sala. Eu fiquei me sentindo o pior dos amigos, eu era mesmo um estúpido. Mesmo sabendo que ela gostava de mim nunca fiz muita coisa para evitar magoá-la, sempre deixei que ela lidasse com isso sozinha. Já eu sempre corria para o colo dela. Era óbvio que eu não estava me esforçando o suficiente para ajuda-la a me esquecer, mas eu tbm não sabia o que fazer sobre isso.

Eu resolvi ir atrás dela na sala, ela estava sentada com cara de choro no sofá e um dos meus primos (o Daniel) estava ao seu lado.

-Oh primo, eu tava fazendo sala para a sua amiga

-Obrigado Daniel -eu queria que ele sumisse Dalí para que eu e ela pudéssemos nos entender

-hoje mais cedo o Renato contou que vc tocar na banda dele, mas que tbm tem um voz muito bonita.

-ele disse isso mesmo Daniel?-ela falou abrindo um leve sorriso

-ah disse sim, alias se o primo não fosse “chegado” eu pensaria que vc era namorada dele!-ele disse rindo.

-“chegado” é ótimo- eu comentei rindo e sente no sofá menor em frente a Marília

-Sabe, eu queria ouvir vc cantar.

-Eu não sei se é um bom momento Dani - ela falou mas ele interrompeu dizendo

-Péra ai que eu vou buscar o violão do Renato- ele se levantou em um salto e foi para o meu quarto

-Desculpa o meu primo, eu vou pedir para ele parar de te perturbar e a gente vai poder terminar aquela conversa.

-a nossa conversa já terminou...e ah...ai esta ele com o violão.

Realmente o Daniel tinha acabado de voltar do meu quarto trazendo meu violão, e parecia bem feliz, feliz até de mais pro meu gosto.

-Tah aqui

-ah brigado,mas eu não sei nem oq tocar

-Porque você não toca uma música dedicada a mim- Ele deixou escapar como quem não quer nada.

-hum...acho que vou tocar uma pro seu primo Dani, depois toco uma pra vc

-Beleza, mas depois toca a minha...

-claro

Ela começou a tocar uma música que eu logo reconheci e entendi o recado.

Out Of Reach

Conhecia os sinais

Não estavam certos

Eu fui idiota por um tempo

Varrida por você

E agora eu me sinto como uma estupida

Tão confusa,

Meu coração está machucado

Sera que eu já fui amada por você?

Fora de alcance, tão distante

Eu nunca tive o seu coração

Fora de alcance,

não conseguia ver

Não era mesmo pra sermos

Me tiro

Do desespero

Eu poderia me afogar

se eu ficasse aqui

Me mantendo ocupada todo dia

Eu sei que eu ficarei OK

Mas agora eu estou

Tão confusa,

meu coração está machucado

Sera que eu já fui amada por você?

Fora de alcance, tão distante

Eu nunca tive o seu coração

Fora de alcance,

não conseguia ver

Não era mesmo

pra sermos

Tanto sofrimento

tanta dor

Leva um tempo

pra repor

O que está perdido por dentro

E eu espero que em tempo

Você esteja fora da minha mente

E eu tenha te superado

Mas agora eu estou

Tão confusa,

meu coração está machucado

Será que eu já fui amada por você?

Fora de alcance,

tão distante

Eu nunca tive o seu coração

Fora de alcance,

não conseguia ver

Não era mesmo

pra sermos

Fora de alcance,

tão distante

Você nunca deu seu coração

Ao meu alcance, posso ver

Há uma vida lá fora esperando

por mim

__

Meu primo não entedia uma palavra de inglês por isso não entendeu o que a Marília quis dizer com aquela música e simplesmente aplaudiu quando ela terminou, eu porém, entendi o recado magoado dela. Mas a culpa não era minha, ela precisava resolver seus sentimentos e até lá eu não tocaria no assunto Alex com ela.

Depois disso meu primo ficou conversando com ela por um bom tempo, a verdade é que ele estava cheio de segundas intenções, e a Marília também percebeu isso e em outras circunstâncias o assedio dele talvez fosse bem vindo, afinal ele era uma cara bem bonito e simpático. Mas ela estava magoada e triste e por isso não se demorou a ir embora, mas eu reparei que ela deu o seu telefone pro Dani.

Naquele dia eu dormi cedo, logo depois que o restante da família foi embora me recolhi ao meu quarto e apaguei, cansado pela noite não dormida na véspera.

Quando acordei já eram quase 10 horas, tomei um banho, comi umas torradas no café da manhã e sai para andar de bicicleta. Não pude deixar de olhar para a mureta do vizinho vazia quando abri a porta. Montei na minha bike e pedalando sem rumo me vi diante da casa do Alex que ainda parecia vazia...e era óbvio que eles ainda não tinham chegado, continuei pedalando e me perrdi em pensamentos e quando vi tinha pedalado até a praça dos Ipês, um lugar ao qual eu não voltara desde o desencarne do Carlos.

O lugar estava calmo como sempre, e as folhas amarelas estavam caídas nas calçadas e a grama verde estava maior que o habitual. O movimento que nunca fora muito grande naquelas paragens praticamente acabou depois dos acontecimentos daquela triste madrugada, por isso o lugar estava mais vazio que nunca. Desci da bicicleta e fiquei um tempinho sentado no mesmo banco no qual eu estive com o Carlos pela ultima vez. Eu evitei aquela praça por meses e de repente naquele dia me vi parado alí. Foi uma experiência diferente por que eu não conseguia sentir a paz que aquele lugar costumava me dar, contudo também não senti o pavor de reviver os últimos momentos do Carlos.

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