Nos voltamos juntos para casa, eu vim andando ao lado dele e guiando minha bike, nós falamos muito pouco no caminho. Ele fez algumas perguntas sobre a banda e sobre minha mãe. Nos despedimos com um aperto de mão em frente a casa dele e eu segui para o meu lar com muitas coisas na cabeça.
Guardei a bicicleta no quartinho da garagem, entrei em casa pela porta da cozinha e fui para o meu quarto e comecei a pensar no Alex.
Aquele garoto que eu encontrei a pouco na praça doa Ipês era igualzinho a ele por fora, talvez até mais bonito do que eu me lembrava, mas não era o mesmo Alex que eu amei e ainda amava. Alguma coisa tinha acontecido com ele e o fez mudar.
Me deitei na cama e olhei para as estrelas do teto e me ocorreu que naquele momento o Alex não estava em condições de viver uma relação amorosa, ele estava muito frágil e não era o mesmo. No entanto eu o Amava, e o amor me fez ver que assim como ele me resgatou da solidão e da invisibilidade no passado, depois da mudança que o Carlos operou na minha vida eu estava em condições de ajudá-lo e resgatá-lo do abismo da depressão no qual ele se encontrava! Eu iria usar o meu amor para trazer o Alex que eu amava de volta, mas para isso eu precisava envolver meu sentimento no véu da amizade sincera. Somente quando eu me torna-se novamente um grande amigo do Alex eu poderia ajudá-lo. E era isso que eu ia fazer, Não importava quanto temo demorasse.
“ALEX, EU VOU TE TRAZER DE VOLTA!!!”
No dia seguinte eu iria dar inicio a “operação recomeço”, eu pensei em procurá-lo ainda naquele dia, mas eu sabia que nós dois já havíamos tido emoções demais para um único dia e se eu queria ajudá-lo não poderia ter pressa, tudo iria acontecer quando tivesse que acontecer.
Assim, na manhã seguinte eu liguei para a casa dele o convidei para participar do ensaio da banda. Eu realmente queria ouvi-lo tocar e cantar de novo e além disso eu queria mostrar que tudo que eu disse na véspera era verdadeiro e que não havia magoa entre nós.
O ensaio começou as 15h mais ele não apareceu, e eu não pude evitar uma pequena decepção afinal ouvi-lo tocar de novo seria muito bom. Nós ensaiamos a tarde toda, e eu queria continuar até um pouco mais tarde porém a minha garganta começou a doer e preferi não forçar mais a voz. A Marília disse que sorvete era bom para soltar a voz e por isso fomos todos para a árvore da Luzes . Aproveite e mandei uma msg para o Alex pedindo que ele fosse conosco.
Nós chegamos na sorveteria e não havia mais mesas vagas, então sentamos no gramado debaixo da árvore no mesmo lugar onde a banda começou. Eu já estava achando que o Alex não apareceria quando eu o vi parado perto do senhor Erasmo. Foi a Marília quem o chamou e fez sinal para que ele se reunisse a nós. Ele se aproximou com as mãos no bolso e com um meio sorriso cumprimentou o pessoal levantando as sobrancelhas.
-Alex, a quanto tempo- Alê cumprimentou
-é, já faz um tempinho
-senta ai cara- Eu disse sorrindo
Eu percebi que todos olharam pra mim estranhando minha reação...foi então que lembrei que da ultima vez que eles viram o Alex nós dois estávamos brigando no meio da rua...fingi que nada estava acontecendo e disse de novo “senta ai”
-Ei cara, conta ai...como é a sua nova escola lá nos EUA
-Normal...mas e vcs...como é que está o sucesso
-A cara, nem me fala...a gente ficou tão popular na cidade que até parece que ficamos famosos- O Claudio falou.
-Famosos no bairro com certeza- A Alê completou
-Que nada...mas ter o trabalho reconhecido é legal..a propósito, eu sou Cecilia a Guitarrista
-Prazer Cecilia
-Olha substituir vc não foi tarefa fácil!!...eu vi vc tocando com a Banda no primeiro show, aqui mesmo na àrvore da Luzes. Vc é ótimo cara, e tbm cantava muito
-Eu tenho que concordar com ela Alex, vc tem muito talento...aposto que deve ter entrad em alguma banda por lá- marília comentou
-Na verdade eu não toco mais
-Não toca mais!?! Eu exclamei...como assim cara...Vc era incrível e amava tocar...pq parou
-Eu só parei...-Ele disse se levantando e continuou- Olha...foi bom ver vcs mais eu realmente tenho que ir.
-Espera Alex eu vou com vc -eu disse me levantando- já esta mesmo na minha hora, e tomar sorvete não ajudou com a minha garganta- eu disse olhando pros meninos.
Eu tive que praticamente sair correndo atrás dele pq ele não esperou eu terminar de falar para ir embora.
Quando eu o alcancei eu perguntei
-Vc realmente parou de tocar?
-Renato...eu não quero falar sobre isso
-Então sobre oq vc quer falar? Por favor me fala porque vc vai embora de novo daqui a alguns dias e eu realmente gostaria de aproveitar meu melhor amigo enquanto ele está por perto.
-Melhor amigo?
-Sim, Melhor senhor Alexande..era isso que nós éramos antes de mais nada...o melhor amigo um do outro...
Ele sorriu, um sorriso sincero...o sorriso do qual eu me lembrava.
-Vc lembra...eu e vc, o garoto novo na cidade porém instantaneamente popular e o menino invisível...os dois melhores amigos.
-Eu nunca entendi direito porque vc era tão sozinho
-Vc sabe que eu pensei bastante nisso depois que fiz amigos...e cheguei a conclusão de que eu simplesmente afastava as pessoas pq no fundo sempre me senti diferente.
-Se senti diferente...Sabe...naquela maldita escola onde eu estudo eu sou diferente de todo mundo e as pessoas jogam isso na minha cara o tempo todo...mas eu não quero falar sobre isso, não com vcs que sempre foram bons amigos, aonde eu não preciso pensar nisso.
-então não nos afaste, não cometa o mesmo erro que eu. Se vc não quiser falar nada, tudo bem...mas de uma chance pra mim e pro pessoal de aproveitar a sua companhia enquanto vc ta aqui!
Ele parou de andar e então eu percebi que já estávamos em frente a casa dele, ele me olhou nos olhos e haviam lágrimas prestes a cair das suas pálpebras...ele botou uma mão no meu ombro e disse:
-Obrigado Renato! Por me dizer essas coisas...por se preocupar comigo
Eu peguei a mão dele e botei sobre o meu coração e disse:
-Aqui vc sempre vai ter um amigo!
Ele me puxou e me abraçou forte...e pela primeira vez em anos eu senti novamente aquele cheiro inebriante do pescoço dele...ele ainda me hipnotizava.
Nos afastamos e ele falou
-aparece aqui em casa amanhã, pra gente conversar um pouco
-é claro!
Ele entrou em casa e acenou com um sorriso antes de fechar a porta.
E eu continuei andando até em casa e mais uma vez sentei na mureta do vizinho e pensei no pequeno avanço que eu conquistei naquele dia.
Não demorei muito do lado de fora pq minha garganta realmente estava incomodando. Amanheci sem voz no dia seguinte, e tossindo um pouco...mas a voz melhorou ao longo do dia.
Depois do almoço, eu peguei meu violão e sai rumo a casa do Alex. Toquei a campainha e quem a abril a porta foi o pai dele. Porém ele não abril passagem para eu entrar ao contrário, saiu e fechou a porta atrás dele. E foi logo dizendo
-Eu nunca pensei que fosse dizer isso mas eu estou realmente feliz de te ver aqui Renato
-hum...?-eu abri a boca com um interrogação mais só saiu esse som
-Sério, o Alex não voltou bem...ele não gosta muito de falar mais eu sei que aconteceu muita coisa com ele por lá...e ele estava muito sozinho desde de que voltou, passa o dia trancado no quarto e não toca mais nem um nota...estou muito preocupado
-O senhor não é psicólogo ?
-Olha aqui rapaz, vc acha q eu não sei que ele está com depressão? Pro seu governo ele faz terapia e toma 2 anti-depressivos por dia.
-Eu não..não sabia disso
-pois antes de entrar é bom q vc saiba...É sério...eu acho q vc pode ajudar ele mais do que qualquer terapeuta...pq..bom, pq ele ainda te ama.
Ele não disse mais nada e abriu a porta para eu entrar e disse: “ele esta no quarto, boa sorte”.
Entrar naquela casa era como invadir uma memória, o lugar estava quase igual a ultima vez que eu estivera ali, a única diferença era uma especa camada de poeira cobrindo a guitarra do Alex, que estava no tripé de sempre. Me lembrei que em épocas mais felizes o pai do Alex brigava com ele para que ele guardasse o instrumento e o seu tripé de apoio no quarto, porém depois de muita insistência ele acabou desistindo e o objeto passou a ter dupla função : Instrumento musical e bibelô de decoração da sala.
Aquele abando visível do instrumento já indicava que havia algo errado com o seu dono, mas outra coisa era mais perturbadora, o silêncio absoluto que contrastava com aquele ambiente porque todas as outras vezes que eu estivera ali a música sempre estava espalhada pela casa, interpretada e tocada pelo Alex ou através do som das várias bandas que ele amava. Silêncio e Alex eram duas coisas que não combinavam, porque para mim ele era música, a mas bela das melodias que tocou minha alma, invadiu meu mundo vazio e o encheu de vida e alegria.
Segui pelo corredor até o seu quarto, a porta estava entreaberta e eu espie dentro antes de abrir suavemente. Olhando dentro do cômodo silencioso vi que as malas estavam abertas no chão e havia várias peças de roupas espalhadas por vários lugares, roupa suja, roupa limpa..tudo misturado. Nas prateleiras antigamente repletas de livros agora reinava o pó, e as janelas fechas além de manter o ambiente na penumbra intensificava um cheiro de mofo que exalava do lugar.
Deitado na cama, por cima de papeis velhos e roupas sujas estava o Alex olhando fixamente para o teto onde uma mancha de infiltração que não estava ali anos antes parecia exercer sobre ele estranho fascínio.
Aquele garoto sobre a cama era uma cópia fiel e mais bonita do Alex, porém não podia ser ele! O Alex que eu amei sempre foi um apaixonado pela organização, chegava até a ser chato...e as prateleiras vazias??!!! Onde estavam os vários livros que embalaram nosso amor?...