Entre Livros e Paixões - 48

Um conto erótico de Renato
Categoria: Homossexual
Contém 2623 palavras
Data: 26/11/2013 15:16:44
Assuntos: Gay, Homossexual

Quando cheguei em casa naquela noite não consegui parar de pensar em como algumas escolhas alteram muito nossas vidas, e como pessoas são capazes de interferir ainda mais nela. Eu e o Alex escolhemos magoar o outro antes de nos despedirmos, e as coisas saíram do controle para nós dois. Mas enquanto eu tinha a Marília e o Carlos ao meu lado, ele não tinha ninguém e acabou escolhendo confiar na pessoa errada. Fiquei pensando como a vida dele teria sido diferente se nós dois simplesmente tivéssemos tido a maturidade de dizer “Adeus Meu Amor, Me ligue Todos os dias”. Provavelmente a minha vida não mudaria muito, talvez eu tivesse começado a namorar o Carlos um pouco antes ou um pouco depois,mas esse é o exato tipo de coisa que em qualquer versão do Universo iria acontecer. Quanto ao Alex, provavelmente ele teria chegado nos EUA com toda a sua confiança, marra e alegria; e em pouco tempo seria uma estrela por lá. Aposto que encontraria alguém e se apaixonaria. Nessa versão da vida nossa história seria apenas uma doce e alegre lembrança, “O Primeiro Amor” sempre lembrado com carinho, porém só isso, só uma lembrança.

Depois de algum tempo pensando me ocorreu que eu fazia muito isso, pensar nas possibilidades se as escolhas tivessem sido diferente, se isso ou aquilo não tivesse acontecido.

Acho que foi nesse momento que percebi que esse tipo de pensamento é interessante apenas para entender como o presente se estruturou e não para ficar imaginando possibilidades de como seria a vida agora se o passado tivesse sido diferente, sabem porque?

Porque só o que nós temos é o que é real! Parece algo simples, ou algo que não deveria está aqui nesse conto, mas esse conto é um relato de fatos da minha vida e perceber isso me ajudou muito desse ponto em diante da minha história. Me ajudou por que desse dia em diante parei de me lamentar pelo jeito que a vida não é, e comecei a trabalhar com a vida como ela é, com a realidade.

Quando acordei na manhã seguinte, estava tranqüilo. A reflexão da noite anterior me fez ver que não adiantaria sofrer por tudo o que o Alex passou e pelas coisas que ele fez. Tudo que eu podia fazer, e eu faria, era ajudar ele a superar isso com a minha amizade e com o meu amor, tendo sempre em mente que quando se trata de uma dor tão profunda quanto a depressão nada acontece de um dia para o outro, não existe mágica nesse tipo de recuperação, cada dia é um dia novo de luta e auto-superação!

O telefone tocou, era a Marília

-Adivinha que dia é amanhã?

-Hum...30 de dezembro?

-Não...é o segundo dia de ensaio duro da Banda, o primeiro é hoje! Então corre pra cá!!

-E eu posso saber por que tanto ensaio as vésperas do ano Novo?

-Porque a gente vai tocar 3 Músicas no concurso de bandas “ _______enses”!!

-Esse concurso é na Radio!!

-Eu sei!! E a melhor parte é que a banda vencedora tem uma das três músicas tocada na rádio a 1ª semana do ano novo inteira!!!

-Ah Meu Deus!!! Isso é d mais Marília!!!

-Eu sei...eu te disse que tocar no festival da cidade ia ser um marco na história da Tsubasa!!

-Liga pro pessoal que eu to indo pra garagem de ensaio.

Cara, tocar na rádio ia ser de mais! Precisava compartilhar isso com o Alex. Mandei uma MSG

“Alex, vms tka na rádio no dia 31, toh ind ensaiar c/ o pessoal. Aparec por lá!Bjs”

A galera toda ficou empolga com a noticia...Dava pra imaginar? a nossa bandinha de garagem, que começou literalmente sem-teto, de baixo de uma árvore, na rádio! O festival municipal foi legal, mais tocar na radio era bom d mais!

Nós já estávamos ensaiando a 1h quando o Alex chegou. Fiquei muito feliz de velo ali. Ele cumprimentou o pessoal, e ficou sentado no canto vendo a gente tocar. No começo fiquei triste pq em outros tempos ele teria pegado um violão ou uma guitarra e já estaria liderando o ensaio, afinal ele era o músico com mais talento que eu conhecia. Mas eu não podia deixar as lembranças do que ele foi interferir na minha forma de olhar para ele agora, eu iria trazer a música que havia nele pra fora, mas precisava respeitar o tempo dele.

Lembrei de uma música que minha mãe ouvia de vez em quando e achei que seria legal cantar-la ali.

-Marília,vamos tocar Collide do howie Day?

-Ah, adoro essa música.

Ela repassou pra banda a cifra e as partituras.

__

A madrugada está acabando

Uma luz está brilhando

Você mal acordou

E eu estou enroscado em você

Sim

Eu estou aberto, você está fechada

Por onde eu for, você irá

Me preocupa se verei ou não seu rosto

Se iluminar novamente

Até mesmo o melhor cai algumas vezes

Até mesmo as palavras erradas parecem rimar

Fora da dúvida que enche minha mente

Eu acho de alguma maneira, você e eu colidimos

Eu sou quieto, você sabe

Você deixa uma primeira impressão

Eu acho que me assustei por saber

Que sempre estou em seus pensamentos

Até mesmo o melhor cai algumas vezes

Até mesmo as estrelas se recusam brilhar

Fora o passado, você caiu a tempo.

De alguma maneira eu acho, você e eu colidimos

Não pare aqui

Eu perdi meu lugar

Eu estou logo atrás

Até mesmo o melhor cai algumas vezes

Até mesmo as palavras erradas parecem rimar

Fora da dúvida que enche minha mente

Você finalmente achará que, você e eu colidimos

Você finalmente percebeu

Você e eu colidimos

Você finalmente percebeu

Você e eu colidimos

__

Depois dessa música minha garganta começou a arder, mais continuei ensaiando. E tive uma grande felicidade quando vi os pés do Alex batendo no ritmo da música, me empolguei e comecei a pedir os clássicos que a gente tocava no começo da banda. Logo ele já estava mexendo a cabeça e os ombros e abrindo um lindo sorriso. Nem sei explicar o quanto essas coisas simples me encheram de alegria. Quando estava se aproximando a hora do almoço minha voz começou a falhar nas notas mais altas.

-Renato, tem algo de errado com a sua voz

-Eu já percebi, Marília

-Talvez seja melhor vc descansar um pouco a voz – Me surpreendi quando vi o Alex falando isso

-Mas a gente precisa ensaiar!

-Se vc perder a voz vamos ter de parar de vez, deixa que por hora a gente ensaia as músicas que eu canto e vc só toca

-Beleza então.

Depois de mais uma hora, paramos o ensaio para irmos almoçar. Acompanhei o Alex até a casa dele e nós fomos conversando

-Cara, fiquei preocupado com a sua garganta

-ah , ela tah ardendo um pouco já faz alguns dias, não sei o que tah acontecendo, achei que era só um resfriado mal curado, mas agora estou meio-preocupado.

- Porque você não vai em um otorrino hoje a tarde, marca uma consulta e toma logo uma medicação.

-Boa idéia cara!

Fizemos uma breve pausa na conversa e quando chegamos em frente a sua casa, ele pois uma mão em meu ombro e eu senti meu corpo todo tremer reagindo àquele toque, me olhou nos olhos e disse:

-dessa vez, não vou te avisar só depois que vc estiver envolvido de mais

-não ...não sei do que vc tah falando...

-Eu vou voltar no dia 2 para os EUA, papai saiu de casa para comprar ás passagem hoje de manhã....

-Mais já....achei que vc fosse ficar mais um tempo...até o inicio das aulas pelo menos..-Eu falei isso com ar triste, é claro que eu sabia que ele não ia demorar...só não imaginei que fosse ser tão rápido.

-Olha...vc é um grande amigo e foi...tah sendo na verdade...incrível poder ficar perto de você de novo, ver como vc cresceu e se tornou alguém admirável...quero seguir seu exemplo e me fortalecer com a dor e não me entregar a ela...renato eu...

- Alex...não continua...Eu vou continuar vindo aqui, te chamando pra sair e conversar nesses poucos dias que te restam no Brasil...e Ah..dessa vez vou estar no Aeroporto quando vc estiver partindo e espero que vc me ligue ou mande e-mails dessa vez, e claro...quando vc voltar daqui a seis meses eu vou estar te esperando no aeroporto pra te dar Boas Vindas.

Ele sorriu, e foi um sorriso verdadeiro e iluminado...e disse:

-Como vc consegue?

Eu retribui o sorriso, mas o dele já havia se apagado, e olhando para o chão ele me perguntou

-Como vc consegue querer ficar perto de mim, depois de tudo que eu te contei...

-Acho que vc sabe a resposta.

Dei as costas para ele e comecei a caminhar rumo a minha casa, quando estava no meio da rua eu me virei e dei um tchau para ele que continuava parado na porta, mas agora ele estava sorrindo novamente.

Quando cheguei em casa marquei um otorrino para aquele mesmo dia, ás 18:30 d outro lado da cidade. Depois do almoço fiquei em casa pra descansar a voz e simplesmente treinei violão.

Na hora agendada eu cheguei ao consultório do Dr. Marcondes. Sentei naquela cadeira e ele se aproximou de mim com aquela luz de otorrino na testa e iniciou um laringoscopia com espelhinho. Segundo ele não havia nada de errado com a minha faringe o problema, até mesmo pela história que eu contei parecia ser mesmo nas cordas vocais. Ele marcou um exame para o dia seguinte pela manhã, me explicou que é um exame muito tranquilo feito com uma fibra ótica que entra pela narina e vai até lá em baixo, na laringe para filmar minhas cordas vocais...e até o exame do dia seguinte eu precisava descansar minha voz.

Cheguei em casa arrasado por ele não ter me dado um diagnóstico e por não ter prescrito nada além de silencio. O pior é que eu não podia nem ficar me lamentando pra pessoas porque eu tinha que ficar em silêncio.

No dia seguinte convidei o Alex pra ir comigo ao médico, afinal, era do outro lado da cidade e a gente teria um bom tempo pra conversar no ônibus. Ele aceitou meu convite, mas não deixou eu falar por causa da minha voz, e como ele não andava o cara mais falante do mundo nós fomos simplesmente ouvindo meu MP4 até o médico. Mesmo assim foi bom tê-lo ao meu lado.

O exame realmente era simples e quase nada incomodo, mas o resultado me assustou. Eu estava com nódulos vocais. Segundo o médico esses são os famosos “calos de corda” segundo ele essa é uma patologia comum em cantores e pessoas que falam gritando. O problema é que só regride com repouso, corticóides e em casos mais extremos cirurgia. Eu tive que admitir que já vinha sentindo algo estranho a alguns meses, mas só agora afetou minha voz.

-Dr. Marcondes, só tem um problema...minha banda vai tocar na rádio amanhã. Eu posso cantar?

-Olha, o ideal seria vc ficar repousando a voz. Ou seja, nada de cantar por pelo menos um mês. Agora, como essa apresentação parece ser importante, vc pode tentar cantar...mas do jeito que tah sua laringe hoje...duvido que sua voz agüente mais que uma música rápida sem ficar rouca.

Para tudo!!!

Meu Mundo caiu quando ele disse isso!!! Como eu iria dizer pros meninos que não ia cantar? A Marília tbm canta, mas eu sou o vocalista principal...nossas músicas mais conhecidas no bairro sou eu que canto, e a Marília não tava nem pensando em cantar na rádio...Droga, isso fudeu tudo!!

O alex me olhou com uma cara estranha e disse:

-Eu conheço esse olhar, faz tempo que eu não via ele. E ele me diz q vc quer fazer uma besteira

-Não é besteira, eu só não vou falar nada pros meninos...alias eu não vou falar mais nada a partir de agora, até a hora do show amanhã. Eu tenho que agüentar pelo menos duas músicas.

-Cara...isso não vai...bom...vc que sabe tbm!

E nós dois voltamos calados até a minha casa. Ele entrou e disse:

-Ah, tem uma coisa que eu não faço a muito tempo e acho q podemos fazer juntos. E vc não vai precisar dizer uma palavra...hehehe

Foi ai que ele puxou dois blocos de papel branco da mochila e algumas lapiseiras...Nossa passamos o resto da manhã e o inicio da tarde desenhando, e eu escrevendo nos papeis as coisas que queria dizer...Foi bem divertido, e me lembrou os velhos tempos. Quando o Alex abaixava a cabeça pra desenhar eu ficava olhando seus cabelos caírem um pouco sobre o rosto. Ele realmente tinha ficado mais bonito do que antes.

Quando a Marília ligou perguntando pq eu não tava no ensaio o Alex falou com ele pelo telefone e disse que o médico sugeriu que eu ficasse descansando a voz, ele não deu maiores detalhes e disse pra ela não se preocupar que eu ia cantar mas eu ouvi ele sugerindo a ela que ensaia-se uma música pra cantar afinal ele tbm era uma das vocalistas da banda.

Esse meu dia de silêncio foi muito bom, já pro final do dia o Alex estava entendo cada vez melhor meus gestos, e ele começou a não falar tbm pra dar mais graça a coisas toda. Minha mãe chegou no inicio da noite e olhou meio torto pro Alex, mas a gente ignorou.

Nós nos despedimos com um abraço gostoso e apertado, nossa como o cheiro dele me hipnotizava. Naquela noite eu não pude falar, mas gemi um pouco batendo uma me lembrando da ultima vez que eu e ele transamos e d’quele cheiro de pescoço.

Era quase 10h do dia 30 de dezembro quando eu acordei, eu havia tido um sonho muito bonito, mas não conseguia me lembrar direito. Fiquei rolando na cama por quase meia hora tentando me lembrar do que me deixou tão feliz naquele sonho. Eu precisava criar coragem para levantar da cama e iniciar meu dia, o dia que seria um dos mais especiais da minha vida.

Porém eu estava sem coragem de testar a minha voz, decidir ficar em silêncio pelo Maximo de tempo possível, mas uma dor estranha na garganta me dava um mal pressentimento.

Levantei da cama e fui olhar minha prateleira de mangás. Meus olhos se fixaram automaticamente em um certo volume do Ynuiasha e eu revi em câmera acelerada o dia no qual eu conheci o Alex, quantas coisas mudaram desde então, quantas coisas aconteceram, o quanto eu mudei! Acredito que a minha mudança foi pra melhor, só de lembrar que eu corava e ficava vermelho como uma pimenta sempre que ele sorria ou chegava perto de mais me deu vontade de rir. Lembrei-me da nossa primeira conversa, quando ele me disse “nesse mundo não existem coincidências”... e eu completei a frase : “só existe Hitzusem”. Hoje alguns anos depois não posso deixar de acreditar cada vez mais nisso. Não que eu acredite que o destino esteja escrito, não, isso não. Eu acredito que cada um faz seu destino usando de Livre-Arbitrio, porém existem alguns encontros especiais, algumas experiências que precisam ser vividas, e essas experiências não acontecem por “acaso” só existe algo maior que coordena nossas vidas.

Eu sentei na minha poltrona e pensei na minha situação, como eu pude perder a voz logo no dia em que a banda ia tocar na rádio, e me ocorreu que talvez isso tbm não tivesse acontecido ao acaso.

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Comentários

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*-* eu li todos os capítulos que você publicou hj de uma vez só...e realmente estava com saudades dessa linda história. Ela abriu meus olhos pra alguns problemas que eu tô passando...obrigado por partilhar esse conto

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