Cheguei em casa e tentei não pensar no que tinha acontecido. Afinal, se eu ficasse mal tbm não poderia ajudá-lo.
Com toda essa confusão acabei nem ouvindo os meninos na radio, liguei pra Marília e contei rapidamente como e onde eu encontrei o Alex, não entrei em detalhes pq ela não sabe da história dele, só disse que ele estava sofrendo de depressão e na hora não deu conta. Ela entendeu e não fez mais perguntas. Perguntei da apresentação e ela disse q nos limites do possível foi até boa, ficamos em 2º lugar e ela e os meninos estavam em uma pizzaria com o pessoal das outras bandas perdedoras comemorando o insucesso.
Já era quase 21h quando o Alex bateu na porta de casa.
Eu o abracei e convidei para entrar.
-Cara, me desculpa...não sei o que deu em mim, sei lá. Você sabe que eu sou doente?
-Vc não “é”, vc está doente. É totalmente diferente.
Ele entrou e se sentou no sofá, eu sentei ao lado dele e perguntei
-Vc ta melhor? Conseguiu se acalmar?
-Sim, acho que sim...foi bobagem tentar voltar a tocar sobre tanta pressão
-Você só queria ajudar- eu disse olhando pro chão.
-Sabe, eu pensei muito no que você disse. Acho que realmente estou bloqueado, mas também pensei que se eu não tentar, ai sim não vou conseguir...eu preciso tentar.
-Sim, vc precisa - eu disse tentando sorrir- Isso pelo menos é um avanço, antes vc não queria nem tentar.
-Me empresta o seu violão?
-Vc quer tentar agora? Olha...não se force, por favor!
-Não vou me forçar...eu parei de tocar pq a música pra mim era emoção, sentimento, sempre me expressei pela música. E quando eu me vi na situação que eu estava, me senti tão sujo...tão nojento...era como se eu não tivesse mais emoção ou sentimento para expressar...só havia vazio.
Mas hoje eu sei que tenho um sentimento, uma emoção maior do que eu, que quero expressar. Foi isso que eu tentei fazer na rádio...mas com tanta cobrança eu não consegui.
Eu olhei nos olhos dele, e estavam marejado de lágrimas. Ele continuou:
-Eu não consegui na rádio...mas talvez eu consiga aqui, só com vc...pq é só pra vc que eu tenho que expressar isso.
Eu não falei mas nada. Fui até o meu quarto, peguei o vilão, dei um rápida afinada e lhe entreguei.
Ele segurou o instrumento por alguns minutos, eu não olhava para ele, meus olhos estavam fixos no teto da sala. Eu fiquei lembrando das aulas de violão que ele me deu, das tardes na casa dele nas quais nos entregávamos um ao outro, foi quando eu ouvi algumas notas...
Ele estava tocando..primeiro algumas notas separadas, depois ele entrou em um ritmo e eu reconheci a melodia...ele estava tocando “More Than Words” . Olhei para ele, mas sua face estava abaixada, eu só via as lágrimas caindo sobre o violão...era como se cada corda fosse de navalha, e cada toque nelas lhe causasse dor profunda. Tocar aquela melodia tão simples era um grande sacrifício para ele...Um sacrifício que ele estava fazendo para me dizer mais uma vez com mais do que palavras, que me Amava... que me Amava muito mais do que conseguia expressar, mas era mais do que isso...a Música tbm era um muito obrigado e um pedido de desculpa pelo incidente da tarde.
Eu fechei meus olhos e pude sentir, cada uma das notas...A música não durou muito...e ao fim ele colocou o vilão de lado rapidamente, como se este estivesse em brasas...eu o abracei, e ele continuava em prantos. “vc conseguiu” eu murmurei...e logo em seguida falei “muito obrigado, eu entendi”....
E nós ficamos abraçados, por vários minutos. Depois eu sentei e ele deitou com a cabeça no meu colo e eu fiquei acariciando seus cabelos. Eu poderia passar a eternidade ali...aquele momento fez esse um dos dias mais especiais da minha vida. Eu sabia que ele não tinha tido uma “grande melhora” nem nada disso...mas ele ter conseguido tocar um pouco que seja, me mostrava que havia esperanças no futuro.
O que ainda me afligia eram os problemas dele com sexo e minha intuição mostrava dificuldades a minha frente!
No dia seguinte acordei quase 11h da manhã, geralmente não durmo tanto assim, mas como era o dia 31 de dezembro precisava estar descansado para passar a virada na desta do bairro.
Liguei para Marília e ela me disse que havia desmarcado a apresentação na festa da árvore das luzes por causa da minha voz. Eu já estava falando normalmente, mas não queria forçar nada, passar um dia com a voz em desgraça me assustou um pouco.
Eu e ela estávamos pensando onde passaríamos a virada do ano. Não havia praias na nossa cidade, e viajar até a cidade com praia mais próxima (1h e 30min) de viagem estava fora de cogitação. Mamãe iria para uma festa do Trabalho dela e queria me levar, mas eu insisti que gostaria de passar o ano novo com meus amigos.
Haveriam duas grandes festas perto da gente. Uma na árvore das luzes e a outra no estacionamento do shopping perto do nosso bairro.Mas a gente já estava cansado dessas festas de criança. O Matheus soube por um amigo que em um parque que havia no bairro vizinho haveria uma festa meio clandestina, mas que já era tradicional. Todo mundo resolveu ir pra essa “virada na Mata”, como era chamada a festa. Fiquei um pouco temeroso logo que me disseram que era clandestina, mas os meninos disseram que não tinha bronca e o Maximo que poderia acontecer era a policia parar a festa.
Seria uma aventura de ano novo, acabei topando e ainda chamei o Alex. Ele estava meio sem graça de encontrar o pessoal depois de ter saído correndo na véspera. Mas quando nos encontramos na casa da Marília com o restante do pessoal ninguém fez nenhum comentário e ele logo ficou tranqüilo.
Nossos pais juravam e atestavam que nós estávamos indo para a festa no “playground” do shopping. (hehehe) (Crianças...não façam isso!!! Mentir para os pais para ir a uma festa é feio!)
Chegamos no tal parque as 22:30 quase em ponto, levamos um susto pq o lugar era meio assustador...a entrada do parque era escura e talz, mas não demoramos a achar uma galera que estava saindo da trilha escura para encontrar a festa. Foi mais fácil do que pensamos...o lugar onde a festa estava acontecendo estava bastante iluminado, (na verdade tenho quase certeza que a policia ganhava alguma coisa com aquela festa...era praticamente impossível não acha-lá).
A festa estava bombando, a maior parte das pessoas ali parecia ter entre 17 e 25 anos, as músicas estavam perfeitas pra dançar. Todo mundo se animou, dancei bastante com a Marília e com a Alê. Confesso, que não dancei com o Alex, nem com nenhum dos meninos...sei lá, acho estranho dançar com outro homem (vai entender minha cabeça!?!?!...) Na verdade, pensando bem acho que o único homem com quem dancei foi o Carlos.
Lá pelas tantas...Alguém pagou umas cervejas pra Marília, e ela que nunca havia bebido ficou meio “alta”. Já era quase meia noite, e eu queria passar junto com o Alex, mas não o vi por perto. Imaginei que ele tivesse ido comprar alguma bebida com os meninos. Comecei a procurar por ele (sem largar da mão da Marília que estava mais pra lá do que pra cá), foi ai que percebi que todos nós tínhamos nos separado naquela festa cheia de gente, e não tínhamos marcado nenhum ponto de encontro. Nesse momento eu percebi que ia dá cagada. Mas a Marília interrompeu meus pensamentos falando:
-já é quase Ano Novo! \o/- Tadinha... “tava doida do rabo dela”.
-é sim, já é quase Ano Novo e vc vai começar ele de porre!
-ah relaxa!!! Vc tah muito sério hoje...quer um pouco –ela disse me oferecendo o copo de caipirinha que sabe Deus onde ela arranjou pq eu juro que ela estava sem copo nenhum quando a encontrei.
Não tive como não rir da coisa toda...sabe, ela tava certa...o que eu queria? Dar um beijo no Alex a meia-noite? Fala sério...Sonhos de fada não existem, e nós só temos o que é real! O importante é que eu ia virar o ano com ele dentro do meu peito. Além disso, ele devia está com os meninos ou me procurando do outro lado da festa.
-Quer saber...quando vc vê razão nas palavras de uma bêbada é pq tah na hora de beber!
Peguei o copo de caipirinha e bebi.
O Dj colocou um forró, e eu joguei o copo longe e puxei a Marília pra dançar, mas depois dessa música ele parou o som e iniciou a contagem regressiva...eu abracei a Marília e a gente contou: – “Feliz Ano Novo” estrondou um coro entre as arvores do parque.
Depois disso bebi mais um pouco...descobri que era mais resistente a bebida do que pensava, mas não exagerei, afinal não queria dar mais um motivo pra mamãe arrancar meu coro quando eu chegasse em casa. Depois de muitas músicas reencontrei o Matheus e o Claudio que disseram que estavam com o Alex até alguns minutos antes, porém eles não faziam idéia de onde a Carlinha, Cecilia e Alê tinham se enfiado...nem para onde o Alex tinha ido. Já era 1h da manhã e nada desse pessoal aparecer, combinei com os meninos de nos encontrarmos naquele mesmo local as 2h para voltarmos pro nosso bairro e amanhecer na festa do Árvore das Luzes. Até lá deveríamos procurar o resto do pessoal e mostrar o ponto de encontro.
Nos separamos mais uma vez e eu levei a Marília a tira colo.
Andamos até o outro lado da festa, até onde estava a mesa do DJs!..Atrás dele havia algumas pedras bem grandes, contornamos as pedras e eu sentei a Marília em uma rocha mas lisa que ficava um pouco afastada do barulho, ali as árvores já eram mais próximas e o barulho da festa era menor... Eu percebi que ela não tava bem
-Ai rê...me ajuda...eu não toh legal!!!
-calma...e da bebida...vai passar...
-Sei lá...toh muito...tonta, enjoada...toh muito preocupada...eu fiz besteira e agora toh assim
-Ei, que isso? Eu sentei do lado dela e passei a mão no seu ombro... –Vc não fez nada d mais, só bebeu um pouco além da conta...
-Não é isso...eu acho que esse enjôo não é normal
-Claro que não é normal...é culpada vodka misturada com a cerveja!
-Seu estúpido -ela disse chorando...Isso é sua culpa
-Não sei como pode ser – eu disse bebendo mais um gole da minha cerveja
-eu acho que to grávida!
GrUUUPPPP!!!! Eu cuspi a cerveja que me engasgou...
-Grávida!!?! Oq?? Como??? De quem!!!! – Eu falei horrorizado
Ela fungou fundo e disse:
-Do seu primo, o Dani!!! Eu perdi a virgindade com ele logo depois do natal e agora toh enjoada...só posso tah grávida!!! É Tudo culpa Sua!!! Eu só fiz o que fiz por sua causa!!!
Sabe quando o tempo parece que congela....foi isso que eu senti...- Como assim ela transou com meu primo depois do Natal e não me contou isso???? E Como isso era minha culpa...e como...ei espera...
-Marília, vc não pode tah enjoada por causa de uma gravidez! Acorda...ainda não faz nem uma semana do Natal! É impossível vc tah grávida...
-Vc não me entende!!! – ela disse isso e saiu correndo pro meio do mato
Juro a vcs que a pior coisa é tomar conta de bêbado, ainda por cima bêbada paranóica! Respirei fundo e fui atrás dela, afinal era perigoso andar sozinha na mata, imagina no escuro e bêbada. Se ela não estivesse grávida do meu primo certamente ficaria grávida de algum estuprador!
Liguei a lanterna do meu celular e comecei a procurar por ela que tinha sumido, eu não iria muito longe, se não a encontrasse logo ia ligar pra policia mesmo que isso acabasse com a festa, só não poderia deixar a minha amiga perdida naquele parque.
Eu havia entrado uns 50 metros no mato quando ouvi uns sons estranhos que pareciam gemidos, fiquei preocupado que ela tivesse caído e se machucado, mas quando a luz do meu celular bateu na fonte dos gemidos meu mundo parou de girar, e meu coração foi arrancado do peito e partido em milhares de fragmentos...acho que nunca me senti tão ferido em toda a minha vida. Aquele segundo de flagra pareceu durar toda uma eternidade, e pra ser sincero até hoje nunca esqueci essa cena.
Diante de mim iluminado por um feixe de luz branca havia um garoto de uns 16 anos no Maximo que estava sem calça e sem cueca (essas estavam jogadas no chão ao lado dele), as duas mão estavam apoiadas em uma árvore. Ele estava de pé com as pernas meio afastadas, pênis duríssimo e a bunda empinada, cravado nele estava o Alex que ainda bombou duas ou três vezes até perceber a luz e me reconhecer.
Ele levou um susto tão grande que empurrou o garoto pro chão e tentando guardar o pênis ainda duro e com camisinha dentro das calças veio em minha direção e eu só consegui gritar
-Não me toca!!
-Renato...eu não...eu não sei....
-Cala boca Alex, vc não tem q me dizer nada...nós não temos nada...somos só amigos- Meu rosto estava queimando de raiva..as lágrimas que saiam eram de ódio! Ódio! Se ele desse mais um passo eu juro que quebrava a cara dele.
Enquanto isso o cara que ele empurrou no chão estava tentando colocar a cueca
-Não se apressa não mano...eu já toh indo embora e ele vai termina de te comer!
-Rênato...escuta... Eu sou um cara doente!!! – Ele gritou
-E Parece que vc gosta disso!
ele se jogou no chão e começou a chorar
-Não chora não...volta para aquilo que vc tava fazendo!!- eu gritei!
Me virei e disse sem olhar para ele – Não se atreva a me procurar, nem aqui nem em lugar nenhum.