Capitulo 5
Foi o calor que me acordou, estava suando e isso começou a me incomodar. Li ainda estava agarrado a mim e isso era a causa do meu calor. O quarto dele tinha ar-condicionado, mas de nada adiantava se você estava praticamente debaixo de um cara enorme. Tentei soltar os braços dele que estavam em volta da minha cintura, mas o resultado foi o oposto, ele apertou mais forte, suas pernas se prenderam nas minhas, fazendo-me ficar mais perto dele. O sol já estava alto, não conseguia ver o relógio de onde eu estava, mas eu presumi que deveria ser 9 horas no máximo. Estava com fome, podia ser um cara magro, mas eu tinha fome e eu só comi ontem pela tarde quando fui buscar comida para ele. Fome! Será que meus irmãos comeram alguma coisa? Mas fiquei espantado quando a preocupação com os meus irmãos não me fez agir no modo "super proteção" e com um estalo de consciência vi que eu estava mais preocupado com Li do que com eles nesse momento. Mas ainda assim eu estava com calor. Me contorci levemente, com medo que ele acordasse, e tentei sair daquele abraço, mas nada. Serpentei, me contorcendo até que com um milagre consegui sair do seu abraço, Li resmungou alguma coisa no sono, esticou a mão a procura de algo, quando não encontro o que procurava voltou a dormir. Suspirei aliviado, olhei para o seu rosto, ainda estava inchado, principalmente os olhos. Estava com fome e queria tomar banho agora.
Mas eu não gostava de tomar banho e vestir a mesma roupa, principalmente a cueca. Mas essa era a única maneira, fui em direção ao banheiro do quarto de Li. O banheiro também era em branco e cinza, fechei a porta e tirei toda a minha e fui para o box de vidro que rodeava o chuveiro, abri a torneira fixa na parede e deixei o fluxo de agua quente fazer contato com a minha pele. Quase gemi de alivio quando ela desfez os nós no meu corpo causados por ter dormido de mal jeito. Peguei um sabonete verde e passei na minha pele, quase imediatamente o cheiro de limão e alguma coisa doce subiu junto com o vapor da agua. Quando acabei o banho vi uma toalha felpuda cinza pendurada em um gancho perto do espelho da pia, me enrolei nela e senti a sua maciez. Olhei para a minha roupa no chão e não quis usar elas, chutei-as um pouco até elas ficarem no canto esquerdo debaixo da pia. Sai do banheiro enrolado na toalha, quando toquei meu pé descalço no chão frio do quarto quase grito um palavrão. Quase.
Não tinha nada para vestir e não queria ficar apenas de toalha. Virei meu rosto e vi a camisa que Li estava usando ontem jogada no chão, corri até lá, não deixando meus pés tocarem no chão mais do que alguns segundos, peguei ela, estava fria, mas não tanto quanto o chão. Voltei novamente para o banheiro, me agachei onde o meu amontoado de roupa estava e tirei a minha cueca dali. Vesti primeiro o cueca depois a camisa. Sai do banheiro, deixei a toalha no mesmo lugar onde tirei ela. O tecido da camisa farfalhava quando eu andava, a camisa cobria toda a minha bunda e ia até metade da minhas coxas. Li ainda estava dormindo e continuou dormindo quando sai do quarto e fechei a porta.
Estava no corredor, ainda descalço e o chão estava frio ali também, eu acho que a casa é toda refrigerada. Meus pés descalços faziam um som abafado quando tocavam o chão liso, desci as escadas rapidamente, achava legal essas voltas que ela dava. A casa era grande, mas não tinha aquele aspecto só de fachada, mesmo a casa sendo um casarão era uma casa onde pessoas se amavam. "A casa só é uma casa se tiver amor" era o que minha mão dizia, lembrar dela me fez sorrir. Chequei na ilha que era a cozinha, uma mesa de vidro e aço inox e cadeira do mesmo material com estofado era separado da área onde cozinhava por uma bancada de granito e pedra polida preta. A casa era toda nesses tons: Banco, cinza e preto. Fui para parte onde cozinha. Olhei todas os espaços da parte de baixo de outra bancado onde a pia, o fogão e tudo o resto ficava apoiada, na parte de baixo era apenas panelas e mais panelas brilhantes. Então a comida só poderia estar na parte de cima, com um suspiro longo olhei para cima, mesmo eu me esticando eu só conseguia tocar na ponta do armário. As cozinheiras devem ser gigantes, só pode.
Não queria arrastar nenhuma daquelas cadeiras de metal, Li poderia acordar. Apoiei minhas mãos na bancada e dei impulso, sentando primeiro, depois ficando de pé. Abri o armário que estava mais perto de mim, só enlatados. Andei por toda extensão da bancada até achar onde estava a aveia, o mel e desci de cima da bancada. Levei tudo para cima da bancada que era a divisória da cozinha, andei até a geladeira e abri, procurei por todos os espaços até achar morangos, bananas e mamão. Também coloquei na bancada. Já tinha tirado uma panela brilhante e enchido com agua, o grande problema foi aprender a ligar o fogão. Eu estava procurando uma alavanca giratória, mas não encontrei nada, apenas uma superfície lisa e brilhosa perto das bocas do fogão. Toquei na parte brilhosa e ela ficou azul brilhoso. Ri do meu ataque de pobre quando eu descobri isso, manejar aquele fogão era igual a mexer em um celular. Coloquei a panela sobre as chamas dançantes e esperei a agua ferver.
Quando a agua já estava borbulhando eu coloquei a aveia, mexi para que ela não grudasse no fundo. Quando o liquido ficou grosso eu toquei na tela brilhosa e o fogo apagou. Peguei no cabo da panela com cuidado, me virei e vi Li parado ali na entrada, apenas de calça, calça essa que pendia perigosamente baixa na sua cintura.
- Pensei que você tinha ido embora - Foi a primeira coisa que ele falou, sua voz estava rouca e grave, me ariscava dizer até mais do que a minha. Ele caminhou até mim, lentamente e perguntou - O que você esta fazendo?
- Café da manha - Respondi e levantei a panela fumegante, caminhei a resto do caminho e coloquei a panela na bancada, já tinha picado as frutas e também tinha encontrado dois pratos fundos de vidro. Despejei o liquido nos pratos joguei fruta por cima e por ultimo derramei mel - Você não comeu nada ontem, então reforcei no hoje.
- Você também não comeu nada ontem - Ele já estava sentado em um dos bancos que ficavam perto da bancada que separava, puxou um prato para perto de si e olhou fixamente para mim, desviei o olhar e dei a volta, indo sentar do lado dele.
- Não se importe comigo, coma - Falei e ele fez um ruído entre uma risada em um grunhido.
- Chris, essa é a primeira coisa que eu faço - Falou, empurrou meu prato um pouco mais para perto de mim e continuou - Você que tem que se preocupar um pouco consigo mesmo.
Não respondi, peguei uma colherada do mingal e levei a boca, ele já estava ficando frio. Li também começou a comer também, ele não tirava os olhos de mim e eu sempre desviava o olhar primeiro. Quando faltava uma colherada para eu acabar com tudo ele empurrou meu prato para longe, pegou meus braços e me colocou no seu colo. A cena parecia ter sido agressiva, mas foi o contrario disso, cada toque dele era gentil e preciso. Ele enterrou a cabeça no meu ombro e ficou assim, me abraçou forte e eu começei a fazer carinho nos seus cabelos lisos que estavam uma bagunça.
- Você tem que trabalhar hoje, Chris? - Ele perguntou ainda com a cabeça no meu ombro, senti quando os seus lábios roçaram a minha pele quando ele falava e isso era bom.
- Tenho - Falei e seu corpo se retesou, por isso me apressei logo a disser - Mas só a noite. Na pizzaria.
- E isso deveria me tranquilizar - O sarcasmo na voz dele era palpável, ele deu uma risada e comentou - Agora sei o quanto você é baixo, minha camisa parece um vestido em você.
- É por que eu não sou um viciado em academia - Disse.
- Você não é viciado em nada - Não ouvi nenhum vestígio de alegria em sua voz - A não ser dependência total aos irmãos conte como vicio.
- Não quero falar sobre isso, Li.
- Nem eu.
Depois não falamos mais nada. Li continuou com a cabeça no meu ombro e eu continuei a fazer carinho nos seus cabelos. Estava esperando Li cair na real e perceber que tinha um garoto alisando ele e que ele estava abraçando esse garoto. Mas segundos, minutos, horas se passaram e ele não me soltou. Me assustei quando Li deixou um beijo bem na junção do ombro com o pescoço, arrepios desceram pelo o meu corpo. Ele levantou o rosto e me encarou e dessa vez eu olhei ele fixamente, foi se aproximando até seu nariz tocar no meu.
- Estou com calor - Falou, como ele poderia ficar com calor com a casa parecendo um frízer? Levei minha mão até a sua testa e senti meu dedos fazerem contato com a pele macia dele.
- Você só pode estar doente.
- Quero tomar banho de piscina - Seus olhos brilharam, uma centelha daquela alegria que eu conhecia. Não aquele poço de tristeza de ontem - E você vai comigo.
- Sem chance.
- Por que não?
- Eu não trouxe roupas - Falei e para demonstrar a veracidade das minhas palavras puxei a camisa dele.
- Você pode usar roupas minhas.
- E parecer um pateta?... Não - Ele deu uma risada fraca, um eco mal feito da verdadeira risada dele - Além do mais eu não tenho cueca sobressalente.
- Você pode usar uma das minhas.
- Não, obrigado - Dei uma risadinha e senti meus rosto queimar de vergonha, minha mente trabalhou a todo vapor montando imagens de Li de cuecas, tratei logo de elimina-las.
- Vamos, Chris - Ele se levantou me levando junto, dei um grito rouco quando ele levantou, mas ele não me deixou cair, não me soltou e seus toques eram extremamente gentis - Você vai gostar.
E saiu correndo comigo em seus braços, seus pés fazendo mais barulho do que o meu quando fazem contato com o chão, ele passa correndo pela grande sala e vai para uma porta de vidro de correr que ficava na parede ao lado, quando nós saímos o calor solar foi tanto um alivio quanto um sofrimento para a minha pele gelada. Em momento algum ele me colocou no chão. A piscina parecia um lago artificial feito no fundo da casa, a borda era de madeira talhada em lascas diagonais, a agua ondulava calmamente, azul e verde. Brilhava quando os raios do sol batiam nela, era linda em toda a sua extravagancia. Tinha um golfinho que soltava agua pela boca todo em pedra preta polida, a peça apenas incrementava o cenário.
- É lindo, Li - Sussurrei.
- Eu sei - Falou e me colocou no chão, ele pegou na minha mão e me puxou, travei quando estávamos metros de chegar a piscina. Tinha três coisas que eu nunca contei a ninguém. A primeira: Eu não sabia andar de bicicleta. A segunda: Tinha ex-melhores amigos famosos e a ultima: Não sabia nadar - Vamos Chris.
- Não - Consegui disser, minha garganta estava inchada de medo, mas baixo ainda sussurrei - Não sei nadar.
- O que? - Ele chegou um pouco mais perto de mim - Repeti.
- Não sei nadar.
- Não acredito - Ele parecia verdadeiramente surpreso. Ele soltou a minha mão apenas para tirar a calça e ficar apenas de cueca. Taquicardia pode matar? Meu coração batia loucamente enquanto eu olhava aquele cara espetacular ficar só de cueca na minha frente, ele pegou a minha mão novamente - Eu te ensino, Chris.
- Não é preciso, Li - Tentei soltar a minha mão da sua, mas ele apertou mais forte.
- Sim, eu insisto - Falou - Você confia em mim?
Você confia em mim? As mesmas palavras que meu pai me disse quando tentou me ensinar a andar de bicicleta, a nadar, a deixarem me aplicar injeção. Meu pai foi a pessoa que eu depositei toda a minha confiança desde quando eu era pequeno, mas quando ele morreu meu estoque de confiança morreu junto com ele. Passei a confiar em mim mesmo, achei super desleal do meu pai quando ele morreu. Eu confiei nele, como eu podia ter feito aquilo comigo? Depois não depositei minha confiança em mais ninguém, assim ninguém fazia como o meu pai. Mas aqui, agora, olhando para aquele cara dos olhos puxados não sei o que aconteceu, simplesmente estendi minha mão e enrolei na dele e falei:
- Eu confio.