-Marcello? Ai meu deus – pulei em cima dele, com os olhos marejados e rindo ao mesmo tempo – Tá fazendo o que aqui em Goiânia? – perguntei
-Eu que te pergunto – disse ele rindo e com os olhos marejados também e começou a me abraçar forte como se não quisesse me soltar
-Eu estou fazendo tetro agora, e vim fazer uma peça aqui – disse – mas espera, como você me reconheceu? – perguntei
-Sua boca, pode me chamar de tarado, mas reconheci, e essa lente vermelha bizarra não me engana – disse ele rindo
-Bizarra nada, eu amo minha lente – disse rindo
-Você está tão lindo, pegou um corpo, mudou o cabelo, por até piercing pôs, eu não curto muito, mas ficou bem em você – disse ele com um sorriso
-Obrigado, você também está lindo, mudou muito, ficou com uma ruga aqui, outra ali, mas ainda está no ponto, com aquele corpão, com um sorriso fofo, e deixou a barba crescer – disse rindo
-A parte das rugas não é verdade – disse ele sorrindo
-Eu sei, estou brincando com você – disse rindo
-Mas você está fazendo o que da vida? – perguntei
-Administrador da empresa ***** ******* - disse ele
-Sério isso? Nossa que bom viu, meus parabéns – disse
-Parabéns pra você também – disse ele – quando é sua peça? – perguntou ele
-Na verdade não é minha, eu só sou um personagem – disse rindo
-Não mudou seu comportamento, ainda é aquele menino rebelde que eu conheci – disse ele rindo
-Isso é ruim? – perguntei
-Não. Eu amo isso em você – disse ele
-Ok, voltando – disse meio nervoso com medo de me apaixonar por ele de novo e no fim só dar merda – ela vai ser amanhã as 19:00 no ****** ********** ******* - disse
-Onde que vende ingressos? Quero ver se você é um ator profissional – disse ele rindo
Falei pra ele onde vendia ingressos, ele me fez ir com ele comprar o ingresso, aproveitamos e fomos a uma pizzaria, eu disse a ele que tínhamos acabado de lanchar, mas parece que a idade dele aumentou e a fome aumentou junto. Eu só comi a sobremesa e ele comeu mais que um bicho, achei até fofo e comecei a rir por que ele não parava de comer. Quando fui embora, ele fez questão de me levar em casa, e quando chegamos.
-E aí? Eu venho aqui amanhã pra te levar pra peça? – perguntou
-Uai, não sei, vou pensar – disse
-Por favor por favor por favor – disse ele fazendo carinha manhosa
-Tá bom seu manhoso – disse rindo
Saí do carro, e entrei em casa sorrindo igual a um bobo, estava super feliz de ter reencontrado o Marcello. Dormi como um anjo. No outro dia, fui cantando “Big Girls Don’t Cry” da Fergie até a panificadora, vejo uma mulher brigando com o dono da panificadora, quando ela vem com tudo e eu esbarro nela.
-Ai meu deus, que povo doido – disse a moça e pelo visto de mal humor, e pelo visto eu conseguia reconhecer aquela voz irritante
-Ai meu deus, eu não estou acreditando. – disse
-Ah não, quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece – disse ela
-Ingryd? – perguntei
-Papai Noel que eu não sou – disse ela
-Mas pelo visto tá parecendo a rena do papai Noel. Não...tadinha, a rena é fofinha – disse fazendo uma cara sarcástica
-Muito engraçado você não é Edu, se passou 4 anos e você não mudou nada – disse ela
-Se passaram 5 anos genius – disse
-5? Isso é pior ainda, estou 1 ano mais velha. – disse ela
-E você pelo visto mudou muita coisa – disse sarcasticamente
-Olha aqui Edu... – alguém interrompeu ela dizendo “Mamãe eu quero um algodão doce”
-Até filha você tem? – perguntei rindo
-Não é da sua conta – disse ela
-Pelo menos é lindinha, não puxou a mãe – disse rindo
-Então é linda igual ao pai – disse ela
-Quem foi o coitado? – perguntei
-Diego Diego Diego meu querido – disse ela
Fiquei meio paralisado, engoli seco, mas mantive a pose
-Dois coitados então, mas não vou exagerar, por que pelo menos a filha de você é linda – disse
-Mamãe, eu quero algodão doce, o tio já vai embora e vai levar o algodão doce e... – falava a menina puxando o vestido da mãe
-Para de me encher o saco menina, você sabe que não pode comer o tempo todo, vai ficar com diabetes querendo comer o tempo todo – disse ela gritando
-Você quer de que? – perguntei pra menina
-O rosinha – disse ela sorrindo
-Edu, ela não pode comer doce o tempo todo, você só dá mal exemplo mesmo – disse Ingryd
-Esse rosinha? – perguntei pra menina que confirmou
Comprei um e dei pra ela, que ficou toda sorridente.
-Eu não quero que minha filha fique comendo besteiras o tempo todo – disse Ingryd meio furiosa
-Ai Ingryd, deixa de ser ranzinza é só um algodão doce – disse
-Depois, é um chocolate, e depois ela vai ficar obesa, e ela tem que seguir o exemplo da mãe, ficar magra – disse ela
-Ingryd, fala com o chão antes que ele te ignore – disse – como é seu nome? – perguntei a menina
-Larissa – disse ela
-Por que sua mãe não quer te dar algodão doce? – perguntei
-Ela quase não tem dinheiro, e diz que o papai não manda. – disse ela
-O papai não manda? – perguntei olhando pra Ingryd
-Não escuta ela, ela conta mentiras e... – eu a interrompi
-Vamos conversar Ingryd, quero saber disso – disse
Fomos a uma praça próxima, e tinha um parquinho.
-Filha, vai lá brincar vai, eu vou ficar aqui conversando com o tio Edu – disse ela e a menina foi brincar
-O que está acontecendo Ingryd? – disse isso e ela começou a chorar
Ela disse que estava desempregada, e que o Diego estava trabalhando com engenharia, mas não mandava dinheiro pra ela, ela tinha que ir até ele, e ele dava algum agrado, os pais mandaram ela pra fora de casa desde que souberam que ela estava grávida, estava morando de aluguel, e estava devendo um mês.
-Ingryd, me fala onde ele mora, eu vou lá cobrar dele, mas você também tem que me prometer que vai se mexer, e arrumar um emprego, por que dinheiro não cai do céu. – disse
-Jura? – disse ela fazendo uma cara
-Você quer o que? – perguntei
-Não sei, mas trabalhar é difícil. – disse ela
-Querida, se tudo fácil, a gente hoje morreria de tédio. Mas tem uma pergunta que não quer calar...por que você estava brigando com o dono da panificadora? – perguntei
Ela começou a chorar, e disse que estava devendo ele, ela tinha pegado uma grana emprestado com ele, e ele vivia cobrando ela.
-Pra você ver. – disse ela
-Quanto você está devendo? – perguntei
-500 reais – disse ela
-Vamos em um restaurante? – disse
-Oba, eu amo restaurante – disse Larissa pulando
-Não sei se vamos querida – disse Ingryd
-Por que não? – perguntei
-Por que eu não gosto de caridades, e eu sei cozinhar – disse ela
-Então eu vou comprar umas coisinhas a mais, e fazemos um almoço – disse
-Tudo bem então – pela primeira vez Ingryd sorriu pra mim
Saí, fui no banco, fiz um saque, fui no mercado e comprei umas coisinhas pro almoço, e algumas coisinhas pra geladeira da Ingryd. Passo na panificadora, e pago o homem que Ingryd estava devendo, ele fez uma cara do tipo “Hum, deve ser namoradinho dela” e eu retribui com uma cara de “Vai tomar no c* bolota dos infernos”. Cheguei na casa dela, e ela estava cortando uma cebola.
-Aqui, algumas coisinhas, inclusive uma caixa de chocolates pra você fofa – disse entragando pra Larissa, que correu e se trancou no quarto pra comer tudo de uma vez
-Vê se não come tudo querida, você já vai almoçar – disse ela
-Deixa ela – disse rindo
-Paguei sua divida lá naquele bolota – disse ela
-É sério Edu, não precisava mesmo – disse ela
-Mas já paguei e ponto final – disse e entreguei um envelope
-O que é isso? – perguntou
-Pra você, pagar o aluguel atrasado, e manter essa casa, até eu achar o Diego pra encher a cara dele de tapas – disse
-Não Edu, você já fez o bastante – disse ela tentando me entregar o envelope
-Ingryd, pega logo, e para de ser fresca, é um presente. – disse
-Obrigado Edu, obrigado mesmo. – disse ela chorando e pela primeira vez, ela me deu um abraço
-O que é isso Ingryd. – disse
Fizemos o almoço, passamos a tarde conversando sobre o que houve em 5 anos. E de noite, eu tive que ir pra peça, eu insisti que ela fosse junto, mas ela não quis. Fui pra casa, me arrumei rapidinho, eram 17:00 e Marcello já estava me esperando. Fomos conversando no caminho, falei sobre a Ingryd, e ele se comoveu. Eram exatamente 19:00 e a peça começou, tudo saiu perfeitamente bem (graças a deus), e no fim, Marcello jogou uma rosa no palco pra mim, eu comecei a rir, peguei a rosa, e as cortinas se fecharam. Tinham pessoas no camarim querendo tirar fotos, estava indo tudo bem, quando alguém me entrega um folheto da peça.
-Oi boa noite – disse
-Boa noite, me dá um autografo – diz o moço
-Qual seu nome? – perguntei
-Coloca assim “pra um velho amigo...Diego” – quando ele diz isso eu olho no fundo dos olhos dele
-Diego?
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