Meu irmão desligou o telefone, com uma cara séria, mas daquelas que é confortável de observar. Chegou perto de Renan e colocou a mão em seu ombro, "Sabe Renan, nunca imaginaria isso de você...", ele disse se afastando dele e colocando o telefone no lugar dele. Nesse momento pensei que Rafael iria criticá-lo por ser gay e isso me enfureceu, estava quase me levantando quando ele se sentou em frente à Renan e segurou sua mão. "Nunca imaginei porque isso nunca me interessou. Eu te conheço desde sempre, lembro de quando nós três brincávamos quando éramos crianças. A gente ainda guarda nossas fotos em vários álbuns aqui, não é Lucas?", eu apenas confirmei com a cabeça, impressionado com o que Rafa era capaz de fazer com as palavras.
"Eu não sou o tipo de pessoa que fala que ama alguém só por falar, e eu te amo Renan, você é um dos meus melhores amigos. Nunca iria me importar se você fosse hétero, gay, bi, nem se você gostasse de pegar plantas...", "O que???", eu perguntei estranhando isso e vi o riso no rosto de Rafael, que contaminou Renan, ele já estava sorrindo entre as lágrimas. "Não importa o que aconteça, nós sempre vamos estar ao seu lado. Estou muito feliz que você tenha me contado isso e me desculpa se alguma vez dei a entender que desaprovaria o que você é", meu irmão falou o abraçando e beijando sua cabeça.
Renan chorava muito, mas dessa vez eu podia sentir felicidade, alívio no choro. Deve ter sido tão importante para ele encontrar apoio nesse momento, e nós não o deixaríamos de lado nunca. O abracei também, mas logo Rafael pediu a pizza, porque minha barriga estava roncando muito alto. Depois de horas conversando resolvemos dormir, meu irmão arrumou o quarto de visitas para Renan e fomos para o nosso, mas eu não conseguia dormir, sabia que algo estava faltando, e Rafael sentia o mesmo.
Ele olhou para mim rindo e juntos, sem falar nada juntamos nossas camas e fomos para o quarto de visitas. Lá Renan olhava para a janela, já deitado, mas sem conseguir dormir. Entramos rapidamente, o dando um susto seguido de cócegas, nós o levamos para o nosso quarto, deitamos nas camas unidas, com Renan entre nós dois e passamos a noite rindo e conversando. Não lembro quando dormimos, mas acordei abraçando meu amigo, o que Rafael também fazia. Depois de tanta felicidade lembrei do nome dele na lista da viagem com Roger, aquilo não podia estar acontecendo. Como seria a reunião dele com o diretor e o professor que o violentou de tal forma?
Não poderia deixar isso acontecer com ele, não poderia deixá-lo mais um segundo perto daquele canalha, por mim Roger sumiria e nunca mais o veria de novo. Mas aí ele fugiria impune. Não era justo, porém, o que eu pudia fazer? Se eu me manifestasse colocaria em risco minha promessa e Renan sofreria tanto. Mas algo eu tinha que fazer, algo que não chamasse atenção, sutil e secreto, mas suficiente para fazer Roger lembrar do que ele fez e se arrepender para o resto da vida. Comecei a sentir ódio dele, uma raiva que provavelmente estava estampada na minha cara, mas que eu devia retirar, já que em breve eles acordariam. Desci para comer, tentar me acalmar, enquanto pensava que tudo que eu fizesse atingiria Renan, talvez fosse melhor não fazer nada.
O celular do meu amigo tocou, era uma mensagem, pelo número, sabia que era do diretor. Então era o reunião sobre a viagem, fui no quarto e o acordei, tomando cuidado para deixar Rafael dormindo. O levei até a sala e o sentei no sofá. "Renan, eu tenho que te contar algumas coisas...", ele olhava para mim ainda com sono, "Você vai ser chamado para uma reunião no colégio hoje, assim como eu fui ontem...", "Como você sabe, Lucas?", olhei para ele sem me preocupar muito, "Isso não importa, vai ser a mesma reunião que eu tive, sinto estragar sua surpresa, mas vai ser melhor assim. A reunião é para te convencer a ir num projeto da escola, uma viagem de uma semana nos Estados Unidos...", "Sério?", ele perguntou sorrindo, isso partiu meu coração, mas mesmo assim não parei de falar, "É, mais detalhes do projeto você vai receber lá, eu aceitei porque vai ser só um teste agora, depois poderemos passar mais tempo. Enfim, eu quero que você saiba que nessa reunião vão estar você, o diretor do colégio e o professor que te indicou para o mesmo, quem me indicou foi Lúcio, mas no seu caso... Foi Roger.", quando falei esse nome seu rosto tomou um pavor enorme, ele se retraiu no sofá, com cara de choro, então o abracei.
"Eu não vou.", "Renan, eu sei que estou te pedindo demais, mas eu quero que você vá, é uma oportunidade imensa, não pode perder isso só por causa dele. E eu vou estar com você, sempre vou estar do seu lado, não precisa se preocupar, também vou para essa reunião.", ele chorava, mas aceitou. Entreguei o celular para ele e a reunião foi marcada para às 10 horas, eram oito no momento. Acordei Rafael, expliquei da reunião, falando da viagem."Vou sentir muita falta de você, sério, mas tudo bem, fico feliz pela sua oportunidade. Aliás, me orgulho de você, tão inteligente.", ele falou alisando meu rosto, com admiração, o abracei muito forte.
Comemos e nos arrumamos, fui com Renan para o colégio, chegando seguimos para a sala de professores, mas encontramos com Roger no caminho. Ele segurou meu amigo pelo braço e falou com cara de medo, "Preciso falar com você, vem", o puxando. Renan segurou forte minha mão, me levando com ele, "O que você está fazendo aqui?", o professor perguntou me olhando com raiva, "Você sabe, não se passe por idiota.", eu respondi com raiva, olhando em seus olhos. "Não vou permitir que você entre na reunião", ele falou enquanto indicava que desistia de levar Renan, "Você pode tentar o que quiser, mas nós dois sabemos quem tem mais nome aqui, o diretor...".
Ouvir o que veio a seguir me fez levar um susto enorme, o sangue sumiu do meu rosto e eu estava completamente pálido, percebi que Roger e Renan também estavam, ficamos imóveis, olhando um para o outro. Possivelmente eu havia acabado de por tudo a perder, de ter acabado com a vida de Roger e Renan, para sempre.
