Capítulo 6 – "Avassalador" - Narrado por Wander
Aquilo Que Dá No Coração (Lenine)
Aquilo que dá no coração
E nos joga nessa sinuca
Que faz perder o ar e a razão
E arrepia o pêlo da nuca
Aquilo reage em cadeia
Incendeia o corpo inteiro
Faísca, risca, trisca, arrodeia
Dispara o rito certeiro
Avassalador
Chega sem avisar
Toma de assalto, atropela
Vela de incendiar
Arrebatador
Vem de qualquer lugar
Chega, nem pede licença
Avança sem ponderar
Aquilo bate, ilumina
Invade a retina
Retém no olhar
O lance que laça na hora
Aqui e agora,
Futuro não há
Aquilo se pega de jeito
Te dá um sacode
Pra lá de além
O mundo muda, estremece
O caos acontece
Não poupa ninguém
Avassalador
Chega sem avisar
Toma de assalto, atropela
Vela de incendiar
Arrebatador
Vem de qualquer lugar
Chega, nem pede licença
Avança sem ponderar
Avassalador
Chega sem avisar
Arrebatador
Vem de qualquer lugar
Aquilo que dá no coração
Que faz perder o ar e a razão
Aquilo reage em cadeia
Incendeia http://letras.mus.br/lenine/E eu falei para Mayara, a mãe de Danilo, que me contratou para ser uma espécie de Namorado de Aluguel do seu filho: “Aceito! No que depender de mim a senhora alcançará seus objetivos. Eu serei o melhor namorado que seu filho já teve. Ele irá se apaixonar por mim novamente e em breve ele estará comendo nas suas mãos”.
Dona Mayara foi às nuvens e sinceramente eu não entendi o que ela pretendia com esse plano, parecia algo bem maléfico, eu pensava “bem feito pro Danilo! Cada um tem a mãe que merece”. Como eu estava precisando de dinheiro urgentemente ela me deu um cheque no valor de dez mil, no intuito de eu ir preparando-me para o serviço. Eu agradeci imensamente.
Eu saí de lá bem satisfeito e quando estava no jardim esperando o táxi que me levaria para casa, fui abordado por um rapaz estranho, que tinha uma certa aparência com o Danilo “Quem é você? O que é que você está fazendo aqui?”.
“Eu sou Wanderley, meu pai era amigo da família, vim apenas falar com Dona Mayara sobre um trabalho, já estou de saída, só estou aguardando um táxi que vem me buscar”. Falei estendendo à mão e tentando parecer simpático. Ele não correspondeu e fitou-me muito sério.
“Eu pensei que a Mayara tratava de trabalho na empresa, e não aqui em casa. Irei falar com ela sobre isso”. Ele falava com uma falta de cortesia enorme e só não me deixei abater por causa de minha altivez.
“Desculpe, mas eu posso saber quem você é?”, perguntei diretamente.
E ele com cara de mau respondeu “Embora o estranho aqui seja você, eu irei lhe dizer. Eu sou Yuri, primo do Danilo. Eu já ouvi falar muito em você nesta casa”.
Eu suspirei e respondi “Desculpe amigo, mas eu não estou entendendo, eu nem frequentava esta casa, vim aqui pouquíssimas vezes com meus pais e quando era pequeno”.
“Eu sei que foi você que humilhou o Danilo e ele só era um garoto. Eu só não fiz nada à época por que você foi embora do país, porém eu não esqueci e agora que você está de volta eu irei ficar de olho em você”.
Ele falava em tom ameaçador e eu tentei acalmar seu ânimo “Cara, de boa, eu não vim arrumar confusão. Só vim aqui por causa de um trabalho e já estou de saída”.
E ele gritou comigo “Fica longe do meu primo cara, senão eu acabo com a tua raça. Sou capaz de qualquer coisa para protegê-lo de vermes como você. Já não basta o que ele sofreu na tua mão e na mão daquele mal caráter?”.
“Eu não estou sabendo de nada. O que foi que aconteceu entre ele e o outro cara?”.
“Não te interessa! Fica longe do Nilo, senão eu acabo com tua vida e eu não estou brincando. Agora vaza daqui e vai esperar o táxi fora da casa”. Ele deu às costas e entrou.
Não sou de me sentir ameaçado, mas não pude deixar de ficar com receio daquele cara, que falava como se me odiasse. Seu olhar pra mim saía faísca de raiva e indignação. Finalmente chegou o táxi e eu saí dali com várias dúvidas na minha cabeça.
Os dias que se passaram foram de profundas mudanças. Tivemos que mudar com urgência para um apartamento de dois quarto que o Olavo conseguiu com seu sobrinho, tudo muito simples. Eu passei a dividir meu espaço com meu irmão. Minha mãe e minha avó ficaram em outro quarto. Nenhum era suíte. Estávamos sem empregada, sem carro e sem grana. Meu padrinho pagou três meses de aluguel, conseguiu um estágio num escritório jurídico pra mim e eu ganharia um salário mínimo por mês. Estava claro na minha cabeça que eu jamais me conformaria com isso, mas aceitei pra não dá na vista.
Mayara deu-me um carro pra eu dirigir e disse que passaria pro meu nome quando atingíssemos o objetivo, bem como a compra do apartamento. Eu exigi 20% do valor combinado e ela me deu cem mil. Assim, apesar do meu padrão de vida ter caído bruscamente naquelas semanas, eu não fiquei na miséria, conseguia manter minha família com bastante conforto, assumindo-me como chefe da casa e ninguém tinha a ousadia de perguntar como eu estava conseguindo tanto dinheiro.
Eu comecei a ler as cartas de Danilo e a estudar seu jeito, tentando entender sua cabeça. Quanto mais eu estudava, menos entendia. Ele parecia uma pessoa muito diferente das outras, com valores muito próprios, acima do bem e do mal e isso me deixava mais instigado a corrompê-lo, queria ver aquele santo cair do altar. Na universidade eu passei a observá-lo de longe e vi como ele era querido e assediado por homens e mulheres e confesso que isso me angustiava, causando-me ciúmes.
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Um Garoto Especial -
Quando lia suas cartas eu recordava o menino doce e maravilhoso que ele era. Tangerina era o moleque mais especial que tinha na turma, sempre alegre, meigo, gordinho, ajudava todo mundo e mesmo sendo o mais rico de todos nós, não era mimado e muito menos se colocava acima de ninguém, não tinha nenhuma vaidade. Ele era totalmente diferente dos outros mortais.
Ele era lindo, daquele jeito feinho, usava óculos, era rechonchudinho, umas espinhas na cara, usava roupas de nerd e só tirava nota 10. Era amado pelos professores e direção da escola, especialmente por que estava sempre envolvido com algum projeto, de combate às drogas, proteção do meio ambiente, amparo à crianças carentes, atividades culturais, dentro outros. Ele tinha uma liderança incrível para fazer o bem.
Eu só observava e em minha cabeça de adolescente, passei a desenvolver uma rivalidade com ele que só cabia em minha mente carente. Eu, mesmo com tanta beleza e popularidade entre os estudantes, não conseguia chamar sua atenção. Ele não dava a mínima pra mim. Era isso que eu pensava e isso que eu mais odiava nele. Passei então a persegui-lo.
Primeiro coloquei o apelido de Tangerina nele, por causa de algumas espinhas que ele tinha no rosto. O apelido pegou e eu fui transformando a vida dele num inferno: dava rasteiras pra ele cair, escondia suas coisas, colocava porcaria em sua mochila, fui desconfiando de sua sexualidade e espalhei pra todo mundo que ele era gay e disse que provaria isso antes da gente se formar.
Até mesmo os rapazes populares achavam um exagero o que eu fazia com ele, mas como eu era o líder, acabavam fazendo o que eu mandava e ele era sempre a vítima. Puro bullying de meninos mimados, que precisavam humilhar os outros para se sentirem melhor. O mais incrível era que ele não revidava e nem caia em nosso jogo. Continuava com sua meiguice e simplicidade. Era só ele abrir a boca e com certeza conseguiria acabar com nossa festa, mas ele não descia ao nosso nível e isso me deixava ainda mais puto.
No futebol ele não era um bom atacante, as vezes se cansava fácil por ser gordinho, mas como goleiro ele superava a todos nós e nos dias em que ele salvava o time os outros vinham cumprimentá-lo. Alguns garotos populares tinham verdadeira adoração por ele. Batia em meu peito um ciúme doentio, sem eu entender bem o que era aquele sentimento.
Foi justamente num desses dias que descobri minha paixão por ele. Era nosso último jogo e eu precisava transar com ele, eu desejava demais aquele moleque. Nos entregamos à paixão e eu nunca senti tanto prazer em minha vida. Mas por pura idiotice, medo e auto-preconceito eu o humilhei e o feri de morte.
Sempre que eu lembrava dele me vinha um carinho grande, mas também um misto de sentimento de culpa, de raiva, de paixão, uma confusão geral. Eu costumo ser frio e seguro para a maioria das coisas, mas se tratando dele eu não conseguia. E nesse momento eu precisava me aproximar do meu rival e fazê-lo se apaixonar por mim. Agora tudo estava muito difícil. Ele havia mudado muito. Era um homem lindíssimo, cheio de carisma, confortável em ser quem era, e absolutamente especial. Tenho que confessar, sentia-me pequeno perto da pessoa grandiosa que ele tornara-se.
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Mas o destino me deu um empurrãozinho e num dia, quando saia do faculdade eu vejo Danilo envolvido em uma grande confusão. Ele discutia com uns caras. As pessoas passavam e olhavam e ele começou a enfrentar os três de uma vez. Um cara fortão foi desferindo socos em Danilo e ele conseguia se livrar de todos.
Danilo deu um passe de capoeira e derrubou o sujeito. Os outros dois vieram ao mesmo tempo e ele conseguiu dar um pisão no peito de um, mas o segundo acertou um golpe em seu estômago. Dani urrou de dor. O cara grandão levantou do chão com muita rapidez e desferiu um golpe na cara do Tangerina, que só virou o rosto e o sangue escorreu da boca. Os três foram pra cima dele e o líder puxou um estilete “agora eu vou acabar com esse seu rostinho lindo”.
Aquilo me deixou furioso. Meu peito ardeu e eu disse pra mim mesmo sem pensar “se alguém acha que vai machucá-lo em minha frente está muito enganado”. Corri pra lá e todo mundo estava aflito, parecia coisa de cinema, o clima era de pura tensão. O cara foi pra cima de Danilo, que se movimentava e era ameaçado com a arma branca, tendo que se defender o todo tempo.
Um outro sujeito deu uma rasteira por trás e Danilo caiu. O que estava com o estilete foi pra cima, tentando desferir o golpe. Eu consegui chegar e agir rápido, dando um chute na mão do cara e a arma foi pra bem longe, sendo que felizmente sua amiga Patrícia pegou o objeto cortante e saiu correndo de lá, dizendo que iria chamar Matheus.
Danilo aplicou um golpe no cara, que cambaleou para o lado. Os outros dois seguraram Danilo pro cara bater e eu me meti de vez na briga “Se quiserem bater no Danilo vão ter que bater em mim seus babacas”. Houve uns instantes sem briga e o cara falou “Quem é você? O novo namoradinho dele?”.
“Eu sou amigo dele seu babaca. E pra bater nele vai ter que bater em mim também”. Matheus, amigo de Danilo chegou correndo e disse “Agora é três contra três Cristian, quero ver se vocês são bons de porrada mesmo”.
Danilo gritou “Chegaaaaaa! Quer continuar a briga? Vamos só você e eu Cristian”.
E o cara foi, levando uma surra do Danilo que eu nunca vi em minha vida. Primeiro ele tentou desferir vários murros e não conseguiu acertar nenhum, ele se defendia de todos. Danilo desferiu um chute no rosto que fez o cara ficar atordoado, depois deu vários golpes de karatê com as pontas dos dedos, na região do pescoço e estômago e finalmente o adversário caiu no chão. O herói imobilizou o adversário com as pernas e falou em cima dele que estava caído no chão, saía saliva de sua boca enquanto falava, “Aprende a ser homem Cristian, ninguém consegue nada humilhando os outros e nunca mais pratica nenhum trote na minha frente ou então você vai apanhar de verdade, seu babaca”.
Danilo levantou o cara e jogou em cima dos outros “Agora vão embora daqui seus mauricinhos incubados”. O cara foi mas ainda falou tremendo de ódio “Isso não vai ficar assim Danilo. Você ainda vai pagar muito caro por essa humilhação, eu vou acabar com a tua vida”.
“Tô morrendo de medo”, Dani respondeu gritando.
Eles foram embora e Danilo pegou suas coisas, tremendo de raiva e saindo lentamente. Houve algumas iniciativas de palmas, mas como o clima continuava tenso ninguém teve coragem de prosseguir. Ele foi caminhando e eu gritei pra ele “Você está bem, Danilo?”.
Ele se virou pra mim e disse de maneira séria “Estou sim. Muito obrigado por ter me ajudado, mas não precisava. Eu ia conseguir me livrar deles sozinho. Agora estou te devendo essa”.
Suas palavras ríspidas me deixaram puto e eu disparei “Mas você é muito marrento e mal agradecido mesmo não é Tangerina? Eu deveria era ter deixado você levar uma surra daqueles caras”.
“Ah! Você quer apanhar também Wandeco? Bota pra cima! Eu ainda tenho muita disposição pra bater em enrustidos. E pra seu governo, o Tangerina não existe mais, ele está lá no passado, no nosso último encontro no vestiário, onde você me deixou. Lembra?”. Fiquei impressionado com a resposta dele, que foi saindo lentamente.
Ele foi saindo e eu olhando pra ele, quando Matheus me disse “Aí, Wander, muito obrigado por ter salvo meu amigo e não fica chateado com ele não. Ele só está nervoso”.
“Ele está muito diferente Matheus! E você sabe por que ele se meteu nessa briga? Ele sempre foi de paz”.
“Ele é de paz. Disseram-me que ele se meteu na confusão pra salvar um rapaz que estava sofrendo trote. Falaram que o rapaz estava pra morrer de medo e chegou a passar mal. Esses caras são loucos e com certeza Danilo tomou as dores do garoto”.
“Caramba, quer dizer que pra proteger outra pessoa ele correu esse risco todo? Pow ele tinha mais é que ficar na dele. Cada um com seus problemas. Ele não tem que ficar dando uma de herói”.
Matheus botou pra rir e disse “Você não conhece o Danilo. Ele não tolera humilhação e sempre combate a violência. E olha quem fala? Você também foi ao socorro dele e se arriscou”.
“É. Mas eu tive um bom motivo pra isso. E como foi que ele aprendeu a lutar tão bem assim?”.
“Ele teve um ótimo professor. Coisa do passado, do tempo em que você ficou fora. Mas me diz aí? Que motivo você teve pra ajudar o Danilo? Posso saber?”.
“Esquece! Vou nessa Matheus! E... Obrigado pela força!”. O melhor amigo de Danilo me olhou de maneira estranha, fez um sinal de positivo com a mão e foi embora. Eu fiquei cada vez mais curioso pra saber o que aconteceu com o Tangerina no passado.
Eu vi que meu irmão estava demorando. Fui procurá-lo e nada. Liguei pra minha mãe e ela disse que ele ainda não tinha chegado. Não havia mais ninguém no campus e por isso eu intuí que já tinha voltado pra casa. Fui pra casa em seguida e quando chego minha vozinha estava super preocupada.
“Derley, meu filho (minha família me chamava assim), o que aconteceu com teu irmão? Ele chegou péssimo em casa e está sem falar nada até agora”.
Eu disparei pro nosso quarto e ele estava encolhido num canto. “Léo, o que houve com você? Por que você está assim catatônico?”.
E aos poucos ele me contou tudo o que aconteceu. Ele foi o rapaz que sofreu o trote na faculdade e isso ferveu a minha cabeça “Desgraçados, eles irão pagar caro por isso. Eu vou amolentar aqueles escrotos na porrada”.
“Mano, eu só saí ileso por que um anjo me salvou. Foi um rapaz que me desamarrou e me mandou fugir. Os caras ficaram uma fera com ele, mas eu fiquei com tanto medo que deixei meu protetor sozinho”. Ele chorava como se tivesse com remorso.
Caramba, naquele momento tudo começou a fazer sentido. Mesmo sem saber de nada, Danilo salvou a vida do meu irmão e eu ainda o critiquei por isso. Falei pra ele “Mano, te acalma, eu ajudei o rapaz a se livrar daqueles caras. Quando eu cheguei a coisa estava feia pro lado dele, mas ainda bem que eu ajudei e não se preocupa por que ele é bom de porrada pra caramba”.
“Derley eu não quero mais voltar pra faculdade”.
Tentamos convencer meu irmão mas foi em vão, ele estava decidido, pois se sentia muito humilhado. Ele não foi pra faculdade aqueles dias e tentamos não insistir. Aproveitei o tempo pra estudar coisas sobre o Danilo. Sempre ligava pra Mayara e informava todos os passos do filho dela, que eu observava de longe.
Num final de tarde, eu havia chegado do meu estágio e ouço a campainha tocar, fui atender de supetão. Qual foi surpresa? Danilo estava ali, parado em minha frente.
“Danilo?”. Ele estava mais lindo do que nunca
“Wander! O que é que você está fazendo aqui?”.
Eu só tive a reação de rir e disse “Eu moro aqui. Que eu saiba essa é minha casa”.
“Desculpa. É que eu vim procurar o rapaz do trote e devo ter confundido os endereços, vou nessa”, falou já dando meia volta. Eu segurei em suas mãos e disse “É aqui mesmo! O rapaz que sofreu o trote é meu irmão. Acho que você não lembra dele. Ele se chama Leonel. E agora nós moramos aqui”.
E ele falava meio sem acreditar “É que eu não o reconheci. Da última vez que o vi ele ainda era um garoto. Por isso não percebi que ele era teu irmão”.
“Claro Danilo, as pessoas mudam. Você mesmo mudou pra caramba”.
“Wander eu queria”... “Danilo eu queria”. Falamos aos mesmo tempo. “Fala você cara” disse pra ele.
“Wanderley eu queria te agradecer por ter salvado minha pele aquele dia. Eu fui um idiota. Você me ajudou e ainda fui grosso contigo, é que eu estava super nervoso com o ocorrido”.
“Ah Danilo! Eu é que tenho que te agradecer por ter salvado a vida do meu irmão, sem nem mesmo conhecê-lo. Você sim salvou a vida dele. Eu só te ajudei a se defender e deste uma surra naquele cara”.
Ele sorriu e falou “Quem diria Wanderley, que um dia estaríamos do mesmo lado.” sorrimos e demos as mãos um pro outro. Eu olhei em seus olhos e confesso, tive vontade de puxá-lo pra mim e beijar sua boca, mas me contive.
E ele continuou “Na verdade eu vim aqui por que eu fiquei preocupado com o garoto. Ouvi dizer que ele quer trancar a faculdade, deve estar com vergonha de voltar. Por favor, diz pra ele não desistir”.
Caramba aquilo foi um golpe certeiro em meu peito “Que pessoa é essa meu Deus, que tem tanto amor ao próximo e se preocupa tanto com o ser humano?” pensei em meu íntimo.
Eu respondi “Eu acho que você podia falar com ele, quem sabe ele não mude de ideia. Eu já tentei de tudo, mas não consegui fazer com que ele volte a estudar”.
Danilo concordou e eu o levei até nosso quarto. Ele entrou e meu irmão estava lendo. Quando meu irmão percebeu nossa presença arregalou o olho e disse “Você aqui?”.
“E aí rapaz! Estás melhor?”. Ele falava sorrindo e de maneira serena.
Meu irmão parecia triste “Tentando cara. Tá sendo difícil esquecer. Cara, obrigado por ter salvo minha vida. Eu nem sei como te agradecer”.
Danilo sorriu e disse “Mas eu sei como. Volta pra faculdade!”.
“Eu não posso cara. Eu não sei como encarar as pessoas lá. Eu fiquei só de cueca, fui humilhado pra caramba, todo mundo riu de mim. Eu fui um idiota e nem soube me defender”. Ele falava com a voz embargada.
“Léo, a gente só vence os obstáculos tentando, encarando de frente. Nem todo mundo riu de ti. E a gente não pode deixar esses caras vencerem. Se você desistir eles vencem. Assim é a vida, a gente tem que encarar de cabeça erguida, seja qual for o problema e você não está só, tens a mim e o teu irmão. Pode contar comigo sempre”.
Meu irmão deu um forte abraço no Danilo, que retribuiu e disse “Firmeza garoto. Eu sei tudo o que você está passando, mas acredite, tudo passa, e você tem um futuro brilhante”.
Léo fez um gesto afirmativo com a cabeça e eles ficaram conversando por um bom tempo. Eu fui pra sala e contei a novidade pras minhas coroas e elas ficaram maravilhadas, queriam agradecer Danilo por tudo o que ele fez por nossa família.
Eles saíram do quarto. Meu irmão estava com um rosto bem melhor e Vó Clarice foi logo dando um abraço e um beijo em Danilo e disparando a falar asneiras “Menino, como você ficou lindo. Como eu sempre digo, quando o rapaz é feio quando pequeno, fica um homem lindo quando grande”. Danilo retribuiu o carinho, riu e encarou tudo como um elogio.
“Ainda bem que eu melhorei com o tempo né Dona Clarice? Já pensou se eu ficasse mais feio do que eu era? As pessoas iria sair com medo de mim, hahahahah”. Ele era um verdadeiro palhaço.
Minha mãe tentou contornar a situação “Mamãe, contenha-se. Pare de falar bobagens”. Danilo apenas sorria e parecia estar se divertindo.
Minha Vó com sua autenticidade continuou “É verdade, você nunca foi feio, só era gordinho e um pouco esquisito, mas filho, obrigado por ter ajudado meu neto”. Minha mãe estava morrendo de vergonha e eu também. Danilo ria muito de tudo.
E minha mãe mais uma vez tentou contornar “É verdade Danilo, obrigado filho, por ter salvo meu menino. A gente nunca vai poder pagar pelo seu gesto. E não dê ouvidos à mamãe, você sempre foi lindo. Só que agora está ainda mais belo”.
Pronto, quebrado o gelo, eles engataram uma conversa animada e elas queriam saber tudo sobre o 'senhor perfeito'. Como sou ciumento, fiquei com um aperto no coração, especialmente por lembrar que ele tinha o dom de encantar as pessoas. E em pouco tempo todos na minha casa estavam seduzidos por Danilo, inclusive eu.
“Nossa! Você vai ser um médico bem jovem e bonito. Que futuro brilhante. A mulher que casar com você vai tirar a sorte grande”. Falou minha vó.
“Bem, vai ser difícil isso acontecer Dona Clarice, pois meu negócio é outro. Eu gosto de garotos”. Ele falava com tanta naturalidade que era gay que me deixava impressionado.
E minha vozinha continuou com sua torneirinha de asneiras “Uhmmm. Além de lindo é inteligente e esperto. Sabe meu filho, não há nada melhor nesse mundo do que homem. E ainda bem que tem pra todos os gostoso. Quem dera que no meu tempo tivesse toda essa liberalidade, eu nasci no tempo errado”.
Danilo ria e ela desandou a contar como eram as coisas no tempo dela. Ele ria e também desandou a contar causos. Entre um bolo, chá e café, eles ficaram horas conversando, numa sintonia inacreditável. Eu não conseguia tirar os olhos dele e algumas vezes ele me olhava também. Meu irmão ficou perto dos dois e também não tirava os olhos do Danilo. Ele foi embora de casa já à noite. Fiquei nas nuvens por termos sido simpáticos um com o outro, isso significava que eu teria abertura para me aproximar e ir tentando chegar junto. Não passou pela minha cabeça que isso seria mais difícil do que eu imaginava.
No outro dia tudo correu bem. Meu irmão voltou pra faculdade, os caras não tentaram nada e ele teve muito apoio de sua turma. Ele vivia falando de Danilo e eu tive dois sentimentos, primeiro ciúme duplo, por meu irmão está tão encantado com o Danilo. Também por seu ídolo agora ser o meu rival.
Comecei a desconfiar que meu irmão era gay e estava apaixonado por Danilo. Outro fato é que eu não conseguia deixar de pensar no Tangerina e em sua mudança, mas também estava disposto a rever o rapaz do quarto escuro, não sabia como iria encontrá-lo, mas ele seria meu de novo e eu esqueceria o Danilo. Como vocês percebem, uma grande confusão pairava sobre mim.
Eu fui encontrar Mayara no início da noite, dessa vez em sua empresa. Ela me recebeu, dispensou seu secretário e ficamos bolando uma maneira para eu me aproximar de seu filho.
“Então Wanderley, como estão as coisas? Já se aproximou do meu filho?”.
“Já sim. Eu o tenho observado. Ele mudou muito, mas sei que eu tenho chance. Mas preciso te falar algo. Seu sobrinho me ameaçou, disse que ficaria na minha cola e acho que isso pode atrapalhar nosso plano, ele está muito desconfiado”.
“Ah, o Yuri? Não se preocupe. Já dei um 'chega pra lá' nele. Não vai mais te aborrecer”.
“Ele pareceu muito decidido. Pode estar fazendo que não vai mais se meter pra te agradar”.
“Já disse, não se preocupe com meu sobrinho. Concentre-se no meu filho”. Falou isso e me deu um monte de papéis.
Tinha tudo o que o Danilo gostava e também o que não gostava. Ela sugeriu que eu descobrisse uma maneira de ficar a sós com o Danilo e conquistasse sua amizade, pois só assim ele olharia pra mim de novo. Ela parecia conhecer muito bem o filho e agia com uma frieza de deixar qualquer um amedrontado.
Eu passei a rastrear todos os passos do Danilo, claro, tudo na surdina para que ele não percebesse. Pude comprovar como ele era desejado por homens e mulheres. Ele era absolutamente livre e com seu carisma conseguia ser o centro das atenções. Isso me impelia a conquistá-lo. Ele agora era um troféu pra mim, mais que isso, era a salvação do meu futuro, pois com uma certa grana eu conseguiria casar bem e aplicar um bom golpe do baú em Deborah, que passou a falar comigo, mostrando-se interessada e disposta a terminar seu namoro com um carinha rico.
Deborah me causava tédio, mas eu precisava me casar com ela pra resolver de vez meu futuro. Passei a flertar escondido com ela, que traia o namorado na maior cara de pau. A vida continuou agitada e eu dividia meu tempo com a faculdade, o estágio, vigiar Danilo e flertar com Deborah.
Num desses dias de observação eu vejo um cara bonitão, negro, todo fortão se engraçando com o Tangerina. Eles riam, olhavam uns papéis e pareciam ter uma química enorme. O cara não tirava os olhos dele e ele também se derretia todo pelo cara. Aquela cena de sorrisos e cumplicidade me causou um ciúme tão grande que eu nem fui pro estágio, fui direto pra casa, alegando que estava com dor de cabeça e realmente sentia isso.
Ao chegar encontro minha vozinha vendo um programa antigo de televisão. Ela ria, pois era uma comédia sobre idosas que passava na TV a cabo, chamava-se 'As Super Gatas'. Minha vó sempre me acalmava, ela era um verdadeiro poço de sabedoria. Eu comecei a falar com ela.
“Estou vendo uma certa tristeza no olhar do meu netinho. Quer desabafar com a vovó?”.
Falei de cabeça baixa “Vó! É possível a gente amar e odiar uma pessoa ao mesmo tempo?”.
Ela sorriu e falou “Sabe o que é Derley. É que o amor e o ódio são sentimentos antagônicos, mas muito parecidos, chegam a se confundir. As vezes você acha que odeia, mas ama. As vezes você pensa que ama e não ama. As vezes os sentimentos se entrelaçam de uma tal maneira que é difícil ver com clareza o que realmente sentimos”.
E eu fui tirando minhas dúvidas com minha ela “ Vó é possível você pensar em alguém, procurar por outra pessoa e ao menos tempo não saber quem é quem?”. Eu estava falando de Danilo e o rapaz do quarto escuro.
“Bom agora você conseguiu confundir a cabeça da velha, mas é possível sim você gostar de uma pessoa e se encantar por outra, os casamentos se desfazem por conta disso. Você está apaixonado não é meu filho?”.
“Não Vó, nada a ver. Só estou perguntando por curiosidade”.
“Wanderley você pode enganar a sua mãe, mas não a mim. Fui eu quem criou você, enquanto sua mãe vivia envolvida com futilidades. Por isso eu te conheço muito bem. Faz tempo que eu te observo, só não falei nada por que estava esperando você me procurar”.
“Ah, Vó! Só a nossa situação que mudou e isso mexe com a minha cabeça, só isso. Eu estou de olho numa garota aí e pretendo me casar com ela em breve”.
“Não tente me enganar meu neto. Você está apaixonado pelo Danilo não é mesmo? Eu vi como você o olhava todo encantado quando ele veio aqui em casa”.
Eu comecei a gritar de raiva “Vó a senhora está ficando caduca. Eu apaixonado por outro homem? Eu sou espada, eu gosto é de mulher, era só o que me faltava, minha própria vó me chamando de viado!”.
Ela alterou a voz e foi disparando “Olha o respeito comigo seu moleque! Seja homem, você já está na idade de crescer e tomar sua vida nas mãos. Não tem nada de errado em você amar o Danilo. Ele é um rapaz maravilhoso, e é a pessoa certa pra você”.
Eu fiquei atônito com as palavras dela, que continuou,
Ele falava gritando “Eu estou torcendo muito para você entender o que está se passando contigo e se transforme num homem de verdade Wanderley. Um homem autêntico, que corre atrás da sua felicidade. Agora a 'Velha Gagá' vai dar uma caminhada, pois eu não aguento mais olhar pra essa sua cara de bunda”..
Quando ela já ia saindo, virou-se e ainda falou diretamente pra mim “Não pense que eu engoli a desculpa de que é o Olavo que está sustentando essa casa, pois sei que esse não é o perfil dele. Ainda estamos vivendo com muita folga e muito luxo. Eu espero que você não esteja fazendo nada de errado, nada que você venha a se arrepender depois, pois é melhor ser pobre e viver com dignidade, do que um rico que não vale nada”.
Naquele momento eu realmente fiquei com muita dor de cabeça, minha vó despejou tudo em mim, como se fosse um tratamento de choque. Eu tomei uns comprimidos pra dormir e apaguei, acordando só no outro dia. De manhã eu não conseguia tirar as palavras de Vó Clarice da minha cabeça, mesmo assim fui pra faculdade. Dei de cara com o Danilo que me cumprimentou com simpatia “Oi Wander, tudo bem cara?”. Eu idiotamente respondi “Vai pro inferno”.
Ele não revidou, somente foi embora, sempre rodeado de amigos e fãs. Não sei se cheguei a ofendê-lo. Parecia que Danilo tinha tomado um antídoto em relação a mim e nada do que eu fazia parecia abalá-lo. Na saída da faculdade eu o vi de novo com outro carinha “filho da puta, galinha, não pode ver um carinha bonito que já arrasta as asas”. Eu fiquei cego de ciúmes.
Eles como sempre foram para o vestiário e eu fui atrás. Chegando lá eles riam e conversavam na maior animação, eu cheguei e já fui falando “Danilo eu preciso falar com você a sós”, disse olhando pro cara. O garoto falou “Vai ficar tudo bem Dani?”. Ele respondeu “Pode deixar Maurício, o moço aqui não me mete medo, não consegue fazer mal a uma mosca, ele não é páreo pra mim”.
O rapaz foi embora e as palavras de Danilo me deixaram emputecido. Ficamos frente a frente e ele disse com muita segurança “ E então WANDECO, o que você tem pra falar de tão importante?”.
Eu estava fora de mim e muito irado de ciúmes, desandei a falar idiotices com muita ira “Eu quero dizer que você não passa de um galinha Danilo. Você não passa de um puto”.
Ele não esboçou nenhuma reação e respondeu “Cara, na boa, você tá doido? Eu nem sei que você existe. Não te devo nenhuma satisfação da minha vida. Mas eu não vou aceitar tua provocação. Eu gosto muito da tua família, especialmente da tua avó e do teu irmão, por isso, eu vou fingir que não escutei essas merdas que você está falando. Agora vou nessa, tchau”.
Eu não o deixei sair, segurei sua mão e disse “Desculpe, desculpe é que a minha vida tá uma confusão e você é a única pessoa que consegue me surpreender, me tirar do sério”.
E ele olhou-me seriamente “Na boa Wanderley, eu não tenho nada que ver com a tua vida cara, muito menos com teus problemas. Nem amigos nós somos. Te cuida aí tá!”.
Ele queria ir embora, mas eu não larguei sua mão, pelo contrário, entrelacei nas minhas, o puxei pro meu corpo e disse com os olhos cheios de lágrimas “Será que você não vê que eu estou louco por você?”.
Segurei seu rosto e dei um beijo de cinema. Ele correspondeu me abraçando e foi o melhor beijo e o mais maravilhoso de toda a minha vida... Continua...
“Avassalador
Chega sem avisar
Toma de assalto, atropela
Vela de incendiar
Arrebatador
Vem de qualquer lugar
Chega, nem pede licença
Avança sem ponderar”.
Dedico esse capítulo a todas as pessoas que acreditam na paixão, no amor que chega e surpreende, que torna nossa vida mais saborosa!
Dialogando com o Manu!!!!!
Thiago Silva amado entendo sua indignação, mas posso afirmar e eu conheço histórias assim, em que os pais não aceitam seus filhos e causam sofrimento, Mayara é exatamente isso, controladora ao extremoFabi26 - Frahhn e diiegoh', não posso deixar de registrar meu agradecimento pelo carinho de vocês, isso me estimula a continuar.
---- Derick amado essa história só está começando, ainda teremos muitas surpresas. Valeu pelo apoio meu príncipeGeo Mateus amado não vamos ofender as vacas, pois elas nos dão leite,já a mãe dele não merece nenhuma consideração, kkkkkEdu19>Edu15 a única coisa que adianto é que as coisas não serão fáceis, Danilo é um mocinho não convencional, ele é duro na queda, por isso a mãe dele está tentando de tudo para dominá-loRafael Guimarães amado que bom que moras no mesmo lugar. Se quiseres conhecer o escritor é só dizer, será uma honra pra mim... Também gosto do Wandeco, acho-o uma pessoa interessante, cheia de nuances, como disse ele é um anti-herói, não um vilãoSonhadora meu amor, você é tão inteligente e adoro seus comentários, pode escrever a vontade que eu adooooooooro, kkkk. Quanto ao Cristian, ele terá um grande destaque na história e em breve vocês saberão o por queTay Cris existe sim algo que motiva a mãe de Danilo e mais pra frente a gente vai saber (esperto você ein!)... Um beijo!!!!
---- Guga05 eu sei que você tem um espírito justiceiro e isso é algo que eu admiro muito, kkkkk. Um beijo pra você meu Matheus Loiro (e mais magro), kkkkkkJhoen Jhol - A mãe de Danilo não quer somente que ele assuma os negócios da família, quer que ele seja sua imagem e semelhança. Há sempre uma motivação a mais pra ela agir desse jeito. Sobre a relação de Wander e Danilo, a história mostrará os caminhos para os dois, só posso dizer que não será fácil para ambos... Os pares românticos irão começar no capítulo 7, assim como os erês que tentarão atrapalhar.
Lipe 31 - O detalhe existe. o romance anterior tem uma ligação com esse, acredito que por volta do capítulo 7 ou 8 vocês começarão a perceber melhor. Eu já dei várias dicas, kkkkk. Uma coisa você tem razão, o trote tem que ver com o romance dos dois. Beijos meu amado e obrigado pelo carinhoPerley isso tudo o que você está intuindo vai acabar acontecendo, de uma maneira misteriosa, quanto a mãe do Danilo, ela perece ser unanimidade no ódio de todos né? Kkkkkkk. Que vilã fabulosa. Um abraço e obrigado pelo apoio amado.
-----Sem querer ser maniqueísta, quem chama mais atenção? O mocinho não convencional ou o anti-herói? Ou eles têm o mesmo carisma e importância? O que vocês acham? ---- Continuo fazendo o desafio: há um detalhe nessa história que está relacionada ao romance anterior, quem já sacou qual é? Quem descobrir primeiro eu mando uma lembrança aqui da minha terrinha, seja pra qualquer lugar do mundo (viu Gugão?).
Se alguém quiser bater um papo ou até trazer alguma sugestão ou crítica, ou até mesmo conhecer melhor o autor e a inspiração desta saga romântica podem me adicionar no skype, que é manucosta_5@outlook.com. Ou emanuelscosta10@gmail.com.
Agradeço a todos e todas, valeu pelo carinho e não me deixem só, hahahahah! Um beijo e fiquem com Deus!!!!
Com carinho do Manu Costa (Manolo Fernandes).