Nem me apresentei poxa, não porque minha vida está quase acabando que eu tenho que esquecer minha educação no útero da minha pobre e submissa mãe, né? Bom, sou a Raquel, vulgo Rake. Sou morena, 1,70, magra, feminina. Quem me visse jamais diria que sou lésbica, mas não posso fazer nada, nasci assim gostando de mulher.
E logo por eu ser assim meu pai me mandou sumir da vida dele e da minha mãe, ficar sentada ali no banco da praça chorando e querendo a morte do meu pai não ia resolver nada.
Renata, sim, vou procurá-la. Pense na situação, eu estava vestida estilo piriquete, entrando em um ônibus público pela primeira vez. Todos olharam para mim quando entrei, o ônibus estava lotado, mal passei pela roleta um velho barrigudo, fedendo um suor desgraçado, chegou por trás de mim me encoxando. Eu olhei para trás o homem devia ter uns 1,95 de altura, pois só vi o peito dele. Olhei para o rosto dele, ele nem me olhou, estava de óculos escuros, barbudo, tatuagem de símbulo satânico no pescoço, cabeludo, enfim o sujeito era roqueiro. Ai meu Deus, se eu falar alguma coisa ai sim é capaz dele me estuprar, só por zuação. O quê eu faço?
Tentei sair dele, dei um passo para o lado, ele ia me acompanhar, mas dei sorte, bem na hora uma senhora iria descer e o lugar dela ficou vago no canto do banco, encostado na janela. O homem ficou fulô da vida, não tinha mais nenhuma mulher em pé para ele tarar. Dois pontos à frente ele desceu.
- Ufa, graças à Deus, inteira. - Falei baixinho.
- Falou comigo?
Olhei para o lado, vi que a companhia de viagem era uma mulher, ou melhor um bofinho.
- Na verdade tava falando sozinha, mas se você quiser posso falar contigo.
Ela viu o lance com o roqueiro, sorriu agora quando eu dei condições para ela.
- Meu nome é, Angela. E o seu, linda?
- Raquel.
Pelo aperto de mão observei, huuum ela tem pegada. Não deu tempo de falar muito, logo chegou no terminal central. Ela estava com pressa pediu meu número, eu ia passar, tinha esquecido que o "General" não deixou ele comigo.
- Estou sem o celular. Me dá seu número...
Angela ficou desconfiada, mas anotou em um papel o número dela e me deu. Despediu com um beijo no canto da boca.
Peguei outro ônibus, parei perto da casa da Renata. Renata mora com a irmã, ia pedir para ficar uns dias na casa dela até arrumar um emprego, poder me sustentar sozinha.
- Renata?
Chamei umas 3 vezes, apareceu uma menina de uns 10 anos.
- Oi, o quê quer?
- Falar com a Renata. Sou uma amiga de faculdade dela.
- Renata está no banho.
- Fala para ela que sou a Rak... A Raquel.
- Espera um pouco.
Dois minutos depois voltou com a chave do cadeado no portão, amarrou o cachorro na corrente, abriu o portão.
A acompanhei até à sala, sentei no sófa, reparei nos móveis, eram bem pobres.
- Raquel! - Renata me abraçou forte, afastando rápido por causa da menina. - Kate vai para seu quarto e não sai até eu dizer que pode, ok?!
- Sim. - Foi.
Renata sentou do meu lado, me deu um selinho, segurou na minha mão.
- Pode dizer. Como foi com seu pai?
- Ele me expulsou de casa.
- Nossa! E, o quê você vai fazer agora?
- Eu nunca pensei que fosse dizer isso antes de abrir minha própria clínica médica, vou ter que trabalhar. Ainda nem tirei minha carteira de trabalho... Ah, não foi isso que vim fazer aqui. Você pode me abrigar por uns dias? Até eu consiguir um emprego e poder ficar sozinha.
- Sinto muito, mas eu mal consigo bancar as contas de duas pessoas. Desde que minha mãe sumiu, deixando eu e minh irmã sozinhas, tenho sofrido para fazer o impossível e ter o mínimo do mínimo.
- Eu pensei que você me amasse... Agora acho que você só me usou, esse tempo todo.
- Eu não posso mandar nos seus sentimentos. Tivemos um lance legal, mas eu nunca quis compromisso.
- Ainda mais agora que eu estou mais pobre que você, né? Admite!
- Sinto muito, Raquel. Se for só isso, pode ir.
- Claro. Vou sim, só não se esqueça, um dia após o outro.
Sai da casa da Renata com uma raiva intensa, fora ela não tinha amigas, por consequencia estava sem ter a quem recorrer.
A não ser....